O mundo tem dentes e pode te morder sempre que quiser....
Seja bem vindo

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Isso nao foi um roubo, ta??
Mas eu adorei os peixinhos do seu aquário
:D
rsrsrs

EEII
Cuidados com seus peixinhos Hugo,
Meus carnívoros podem devorá-los....

......

hehehehe

Capítulo XIII – Neblina

Era domingo.
E naquela manhã, não houve realmente nada que me tirasse da cama. Nem a sensação de dejá-vù que me cercava.
Sentia-me totalmente esfacelada. Era como se tivesse dormindo dentro de um triturador de carne. Estava frio. Lembro de olhar no relógio e ver os ponteiros denunciarem as sete e meia da manhã.
A casa inteira dormia. Ou então se prostrava de olhos e coração fechados. Deitada em minha cama, podia imaginar o corredor claro, e uma neblina pousar sobre ele. Como um tipo de praga, um gás venenoso e mortífero.
Se eu olhasse com mais atenção para a porta fechada, com certeza veria a fumaça esbranquiçada entrar por baixo da madeira. Tinha medo de não conseguir controlar os pés e caminhar até ela, encher meus pulmões dela e finalmente fazer parar a dor.
Finalmente acabar com aquilo.
Ser vencida pela adulante e cruel covardia.
...
Cobri-me totalmente com o lençol. Ficaria jogada ali até que pudesse fugir pra algum outro lugar.
Quando eu tivesse vitalidade pra isso.
...
Três horas e quinze minutos depois, lá estava eu, pisando leve e saindo sorrateiramente pela porta dos fundos. Minha avó estava sentada na cozinha, mas tenho plena certeza que ela nem se deu conta de que eu passava bem ao seu lado, com a feição aflita.
Tinha medo de encontrar meu pai, e ser vítima de seus punhos outra vez.
Levar um empurrão violento de suas perturbações.
...
Poderia xingá-lo de cavalo, mas o que isso adiantaria?
...
Eu só queria escapar dali. Ficar sozinha e quieta em algum lugar aquecido do bairro da Vitória, bem escondida entre as ruas lamacentas da cidade de Serra do Campo.
Num andar hesitante e assustado, consegui chegar ao portão. Imaginei se meu pai me procurasse no quarto... Mesmo que aquilo pudesse ocasionar uma tragédia, estava quase convicta de que minha ausência não faria a mínima diferença para ele.
Agora éramos tão distantes...
Não fazia diferença alguma ficarmos afastados.
...
Dentro de meu casaco marrom, eu me encolhia e andava apressada, com a cabeça voltada para baixo e os olhos quase presos à terra batida do chão. Eu nem sabia para onde estava indo, só sabia que precisava estar longe o bastante dali.
Deles.
Pensei mudar o caminho e entrar em uma das trilhas do bosque, nos arredores da estrada de terra, mas não o fiz. Havia silêncio demais por entre as árvores.
Continuei meu percurso, muda e apreensiva.
...
Algo estalou levemente bem atrás de mim.
Eu logo pensei em correr e não esperar que me alcançasse.
Mas eu nem tive tempo para isso... Nem ousadia suficiente.
...
Permaneci alheia.
Era só um garotinho mirrado e franzino.
Andava devagar, mas olhava pra frente, sério e apático. Estava sem camisa, descalço, exibindo um peitoral magro e queimado de sol.
Sol?
Sim, sol.
Nossa! Mas estava tão frio...
Observei-o com o canto do olho, não disse uma só palavra, mas me perguntei se ele talvez precisasse de ajuda, quem sabe estivesse perdido ou precisasse de algo maior para se proteger das rajadas friorentas do vento.
Ouvi-o tossir.
Vi-o tropeçar.
Repensei...
...
Eu era realmente tão mesquinha a ponto de ignorá-lo?
Bem, eu não poderia ser.
...
Tentei manter um tom de voz amigável depois de tomar um pouco de coragem.
- Você tá perdido, é?
Por alguns segundos curtos, o menino olhou pra mim.
- Não...
Engoli a seco. Mas ainda não havia me dado por satisfeita.
- Não está com frio...?
O olhar que ele me lançou fora muito constrangedor. Pelo menos pra mim. Percebi o leve arquear de uma de suas sobrancelhas, seguida de uma furtiva idéia que bombeou em minha cabeça. O menino me olhava como se eu fosse uma louca. Eu parecia uma?
- Não estou com frio.
Fiquei calada. Mas como... Estava com certeza muito frio.
Imaginei que ele pudesse estar acanhado comigo, uma completa desconhecida errante sobre uma estrada inóspita. Talvez, se estivesse em seu lugar, também não conversasse muito com estranhos mexeriqueiros. Nem lhe confessasse estar congelando e abrir uma brecha para algum tipo de favor...
Mas bem, eu não tinha nenhuma má intenção.
Foi isso que me fez continuar as perguntas.
...
- Você mora por aqui?
Agora o menino estava exatamente ao meu lado, andando ao mesmo passo que eu. Ainda muito reservado e sério, não parecia assustado ou afoito. Por alguns segundos achei que estivesse me fazendo companhia e que todas as minhas suposições eram infundadas e sem noção lógica.
- Moro.
- Engraçado, – forcei um sorriso para ver se recebia outro – Não sabia que tinha vizinhos...
O menino não sorriu.
- Moro com minha mãe em uma cabana.
Tudo bem.
- É perto daqui?
O menino apontou com o dedo para o lado esquerdo da estrada de terra, perto de algumas castanheiras.
- Fica em uma clareira, para lá...
Assenti com a cabeça. Não sabia que morava gente naquelas bandas. Quis formular outra pergunta pra matar o tempo, mas estava difícil pensar com aquele vento gelado no rosto.
Calei.
...
Havia saído de casa a exatos vinte minutos. Foi só o que me veio na mente.
Depois já estávamos perto da rua principal, enquanto me perguntava para onde eu ia.
Uma mão me levaria ao lado populoso do Santos Dumont, onde havia prédios, casas e lojas de roupas caras; poderia achar um botequim aberto por lá e finalmente encher a cara, ou talvez pudesse ir visitar o museu e esquecer um pouco da atualidade que estava vivendo. A outra opção era seguir pela mão contrária, indo em direção ao bairro da Vitória, catar alguém paciente e enchê-lo com a história de que estava perdida e que não sabia voltar pra casa; quem sabe assim eu pudesse ganhar uma cama quente e um copo de leite, seguido de algumas promessas de que uma jovenzinha tão doce e meiga não ficaria sem lar por muito tempo.
Era só fazer uma cara de vítima.
Suspirei.
...
O que haveria de bom na Vitória?
Casas de tijolos cozidos e um cemitério cheio de más recordações.
Senti algo como um soco no estômago.
Parei e respirei.
...
Não. Qualquer outra coisa era melhor. Eu poderia caminhar pelo Santos Dumont e encontrar um lugar para enfim desabar com mais delicadeza, mas calma. Sim. Claro que sim.
...
O menino não disse mais nada. Parei no meio fio e esperei uma despedida singela.
Ia dizer até logo e virar as costas, antes que eu me sentisse bem mais infantil que ele. Porém, quando o disse e não ouvi resposta, tive o impulso de confessar meu nome e perguntar o dele, de supetão.
- Ah propósito, me chamo Amy... Qual é o seu nome?
O menino olhou para os carros que seguiam até o bairro da Vitória. Num balbucio sem vontade ouvi-o responder:
- Daniel.
Diria qualquer outra coisa, no curto intervalo de tempo em que baixei meus olhos. No entanto, foi engraçado e irônico não perceber que ele havia me dado as costas sem hesitação. Ainda mexi a boca para soltar uma palavra qualquer enquanto o via ir para longe, mas após me sentir uma idiota, me enfiei melhor no casaco e segui para o lado habitado do bairro em que morava.
Ao menos ele me dissera seu nome. Não precisávamos de mais nada.
...
Lá estava eu.
Feito uma barata tonta em uma rua pouco movimentada do Santos Dumont.
Onze em ponto.
Ainda confusa e precisando de um teto seguro.
Pra onde eu ia? Onde eu poderia respirar todo o fôlego que me sufocava?
Queria me acalmar e arregalar os olhos, apertar o meu coração e obrigá-lo a agir mais racionalmente. Sim!!
Mas até quando?
...
Meus olhos aflitos acharam uma porta aberta. Uma grande e chamativa porta escancarada.
Não enxerguei as poucas pessoas que andavam na calçada, só o que fiz foi obstinar os passos e entrar. Por entre os bancos vazios e polidos da gigantesca igreja, senti-me pequena e abraçada. Ainda perdi uns passos, estava tão mais à vontade pra gemer a agonia do meu peito... Era só fechar os olhos e deixar sair.
Mas não. Seria patético demais.
Esfreguei as mãos e procurei um lugar para me sentar.
...
Estava tudo muito vazio por lá, mas dava pra ouvir uma música baixa e sem muito timbre entoar ao fundo. Imaginei haver alguém na sacristia ou no confessionário, sei lá, algo do tipo. Fechei meus olhos e pedi que não me expulsassem dali com a desculpa de que a missa já terminara.
Respirei fundo...
Tinha os cabelos soltos, numa tentativa de esconder ambos os lados do rosto. Temia alguém perceber o meu hematoma, um dos que eu tinha gravados no corpo. Não. Eu não estava forte o suficiente para responder tais perguntas. Poderiam deixar-me um pouco em paz?
Eu responderia isso.
...
Baixei a cabeça e refleti praticamente nada.
Havia olhado pouco ao redor, mesmo notando a claridade no centro do altar. Pensei em fazer uma oração, ia até juntar as mãos e lamuriar alguma coisa, mas senti alguém passar por trás de mim.
Ah não...
Eu deveria me levantar e fugir?
Talvez. Mas não tive força pra me levantar. Seria melhor acabar comigo de uma vez por todas. Ali mesmo, se possível.
...
Fosse quem fosse, era morno. Podia sentir seu calor sentar-se bem ao lado.
“Droga! Tanto lugar pra sentar... Tinha que ser do meu lado?!”
Não me movi. Não respirei.
Mas ouvi nitidamente a voz baixa e calma do sujeito ao meu lado, próxima ao meu ouvido.
- Chegou atrasada pra missa.
Raios e trovões!
Eu conhecia aquela voz.
...
Justin não me fez levantar a cabeça ou dar qualquer tipo de sinal de vida.
Eu devia?
Nós tínhamos obrigações um com o outro?
Acho que não.
Continuei sem olhá-lo. Mesmo assim, tinha quase a certeza de haver um sorriso torto impresso em seus lábios.
Ele era assim.
...
- Que tal olhar pra mim...?
Pergunta importuna pra uma voz mansa.
- Que tal você ir embora? – respondi enquanto girava a cabeça e escorava um lado do rosto nas costas de um dos bancos. Ainda sem encará-lo, tentei achar oxigênio pra respirar.
Justin se calou por alguns segundos. Haveria se ofendido?
Não havia.
- Quero ficar aqui.
“Que ótimo”. Irônica.
Ele poderia rir de mim e ir embora. Convenhamos: era melhor e mais prático.
Suspirei alto.
- Como você me achou aqui?
Por incrível que pareça, ele ouviu o meu sibilar.
- Moro na casa em frente... Vi você entrar e...
E...
Eu já sabia o que vinha depois do E...
...
Ficamos em silêncio.
Não diria nada que pudesse me deixar constrangida ou mortalmente comprometida na cena seguinte. Depois que estivesse um pouco melhor.
...
Ergui o corpo e olhei reto. Não girei a cabeça nem por alguns centímetros para ver a expressão do rosto dele. Eu não queria criar absolutamente vínculo nenhum com aquele cara. Jamais.
Ia apertar os olhos quando senti sua mão tocar em meus cabelos. Tive um leve espasmo e o máximo que consegui fazer foi afastar-me, virar a minha cabeça para o outro lado.
Era tarde demais...
- Ele machucou você, não foi?
Quem era ele?
Pergunta tola. Eu sabia quem era.
- Percebi que seu pai estava estranho... Meio fora de si. Perguntei por você e ele me disse que você havia ido à escola... – Justin forçou um sorriso – era sábado, ninguém vai à escola no sábado... – Ficou pensativo – Aí vi você na janela...
Tudo começou a fazer sentido. Um vago e abstrato sentido.
Não soube o que responder. Achei melhor dizer o que pensara antes.
- Me deixe em paz.
- Isso é estar em paz?
Não me contive e olhei firme para seu rosto.
- Por que você foi à minha casa? Por quê está aqui fazendo parecer que realmente se importa? – quase falei alto. – Por que não pára de tentar jogar comigo?!
- Você já pensou na possibilidade de eu querer te ajudar?
Voltei meu rosto para frente novamente. Irritada.
- Não vejo motivos lógicos pra isso.
- Talvez não exista uma lógica. – percebi-o desviar os olhos furtivamente para o chão e soerguê-los com pressa.
Abanei a cabeça. Que papo furado. Que mer...
- Eu não tenho certeza de nada quanto a sua vida. Eu também não conheço você direito, mas... Sei que tem algo que não te deixa dormir à noite – Justin olhou certeiro para mim – que faz você sentir um muito, muito medo... Algo que tem machucado você... Foi isso que aconteceu com seu pai, não foi?
Não consegui evitar que meus olhos concordassem com ele. Meu rosto se apertava e eu tentava não começar a chorar.
Justin continuou:
- Deixe-me ajudá-la – ele chegou mais perto e quase sussurrou – Confie em mim...
...
Não imagino o que Justin faria após aquelas palavras. A única coisa que fiz foi me levantar num pulo e tomar o caminho da rua. Estava paralisada, confusa e angustiada.
Mais um pouco e...
E...?
Eu quase acreditaria nele. Eu quase saberia dizer que cheiro ele tinha.
Justin continuou sentado no banco vazio da solitária igreja. Sentia o seu olhar perfurar a minha nuca, e cruelmente me pregar um beijo na face machucada.
Um beijo doce e artificial. Um beijo de pena e consolo.
Um psicodélico jogo de mentiras e piadas particulares.
Era isso que ele insistia em tentar comigo?
...
A volta para casa foi sem surpresas.
Permaneci sozinha todo o caminho, pensando e buscando algum tipo de iluminação no meu juízo. Acreditava ou não? Era mentira ou verdade? Que outras chances eu teria?
Contra exatamente o quê eu lutava e apanhava?
Muitas vozes gritavam na minha cabeça. Todas assustadas, os meus ecos obscuros.
Após entrar escondida pela garagem e engolir as escadas com os pés leves e os olhos em alerta, me tranquei no quarto e esperei ver o dia ir embora.
Sem remédios...
Sem choro.
Vi o céu se escurecer e algumas estrelas lapidadas estacionarem entre as nuvens.
Tudo ia pra longe de mim enquanto eu continuava parada... Observando-me estática e entorpecida no canto do quarto.
Sugando a neblina que entrava por baixo da porta...
Num desesperador e irreal pesadelo.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Capítulo XII – O castigo da ladra

Eu preciso explicar bem as coisas a partir de agora.
E acho que a que devo mais, é o motivo por que eu não postei durante esses dias.
Poderia simplificar tudo e passar por cima, mas prefiro mesmo caminhar lentamente sobre isso.
Foi o meu pai. Por culpa dele.
...
Era precisamente cinco e trinta e seis da manhã. Depois que tomei as pílulas avermelhadas e cochilei, foi quase como um despertador ouvir os passos dele no carpete do corredor. Não sei direito por quanto tempo eu apaguei, mas tenho certeza de que foi pouco, pelo menos pra mim. Juro que adoraria dormir dias e dias.
Meu pai pisava fundo. E eram passos muito hesitantes, quase que raivosos.
Como se quisesse esmagar milimetricamente alguma coisa no chão. Uma coisa asquerosa e horrenda.
Eu estava deitada sobre a cama, com os olhos semi abertos na penumbra. Meu corpo doía, a marca no pulso coçava. A do antebraço parecia não existir. Confesso não entender bem isso. Só não doía. Estava lá, mas não doía. Quis me levantar e abrir a porta, mas e se ele visse o monitor em cima da escrivaninha? E se entrasse em meu quarto para se esconder do o que atormentava?
Era uma burrice estender a mão, afinal, eu não conseguia proteger a mim mesma!
Meu pai não dormia à noite. Ou dormia muito mal.
Eu não via motivos práticos pra entendê-lo. Poderia contar alguns, mas não eram muitos, não eram suficientemente perturbadores. Psicóticos como os meus. Assustadores e violentos como os que eu cultivava.
Talvez fosse minha avó. Sim. Ela gemia tanto! Tanto quanto qualquer coisa que se lamenta e geme durante a noite. Sua cama inóspita no quartinho do andar de baixo... Era incrível como ela conseguia fazer ranger as molas de seu colchão. Alto. Alto. Ainda sim mais baixo que seu grunhido noturno.
O medo agora era como uma corda que me amarrava. Não poderia me soltar e descer para lhe fazer um mísero agrado.
Havia também a estranheza de seu fôlego. Meu pai. Ou o zumbi que tomara posse do corpo dele. A forma grotesca de seu movimentar de olhos, do seu soltar de palavras... Tinha algo ruim que o deixava avulso e perdido. Algo que o tomava e digeria.
Mas o que era?!
Depois os meus olhos estavam arregalados. Senti-me tão impotente!
Tão vazia, tão inútil!
Virei-me de lado e agarrei-me ao lençol. Quis colocar o travesseiro em meu rosto e gritar o mal alto que pudesse, mas de forma alguma, não sairia nada.
Ele continuou andando de um lado para o outro, como um dos “meus” fantasmas. O máximo que consegui fazer foi fechar os olhos com força e pensar em coisas doces, como flocos de chocolate num rio de sangue e ópio.
Minha cabeça jorrava trevas.
...
Algo cutucou meu pé.
Gelado e úmido.
Logo cedo... Meu deus, logo cedo?!
Não abri os olhos. Não respirei.
Algo voltou a cutucar meu pé. Com mais delicadeza agora.
Ainda era úmido e gelado.
Cruelmente eu senti cócegas. E uma vontade imensa de chorar de medo.
Depois um pigarro. Vinha de alguma outra parte do quarto. Do canto.
Batidas. Batidas leves na parede do meu quarto. Depois do pigarro vieram as batidas.
Algo ainda cutucava meu pé.
Frio e úmido.
As batidas foram ficando mais rápidas e fortes.
O toque com delicadeza se tornava áspero e grosseiro.
Meus olhos queriam fugir, minhas pálpebras desejavam se rasgar e gritar, mas se eu fizesse isso, com o quê me assustaria?!
Não pude me conter...
Num movimento ligeiro abracei meus joelhos e colei as costas na cabeceira da cama. Eu estava erguida, e via as mãos da Sofia entre as grades da ponta da cama, com os dedos longos e as unhas roxas, cavoucar o lençol e sujá-lo de sangue.
Sorrindo... Bruxuleante, ela sorria.
Aí as batidas violentas e furiosas sobre a parede.
Sim, girei meus olhos e ele estava lá, no canto do quarto, perto do meu closet. Com suas roupas pretas envelhecidas e o seu chapéu poeirento. Com os braços rijos, lançado a testa na dureza da parede, insanamente ele batia sua cabeça nela. E Sofia se movia para perto, enquanto meus ouvidos zumbiam e os sons se distanciavam. Perto de ver o rosto deformado do homem no canto do quarto e o gracejo assassino da menina do banheiro, consegui me encolher e gritar ininterruptamente.
Foi tempo bastante. Foi alto o suficiente para me projetar para fora e contemplar os meus olhos mariscados de água. Choro. Havia algo quebrado e sangrando dentro do meu espírito. Um tipo de trauma, uma facada violenta na sanidade e na sensatez. Um golpe covarde do sobrenatural e do medo.
Eu era o medo. Eu era isso.
Percebi que tremia. Minhas mãos tremiam enquanto eu abraçava o lençol e chorava. O quarto estava todo claro e não havia mais ninguém nele, ninguém além de mim.
...
Mas eu estava apavorada! Por que estava acontecendo aquilo? Como, eu estava acordada, estava dormindo?!
Olhei no relógio, dez e meia da manhã... COMO????
A pouco não era nem seis horas... O que estava havendo comigo?
...
Confusão consternada e insólita. Um vago e inescrupuloso decair de pensamentos.
Ora indo, ora voltando, mas ainda parado na mesma posição ridícula. Com a cabeça em baixo da guilhotina afiada, sem reação pra fugir ou achar motivos claros pra aceitar a própria condenação.
Uma espécie de estupor invadiu o meu corpo.
Eu deveria aceitar aquilo?
Aquela morte horrível?
O.O
Metáfora assustadora.
...
Estava calor. E dentro da minha cabeça dançavam imagens.
A da Sofia, primeiro. Como ela era perversa... Deixava-me enjoada de tanto medo.
Depois a dele... Ben. Ben. O homem no vão da escada, de costas. O homem no canto do quarto, batendo a cabeça na parede, estarrecido e perturbado.
...
Aí, Eu. A presa patética e fácil.
...
Passou-se então uma hora.
Comia sentada na mesa da cozinha, com cara de dúvida. Envolta em uma camisa de mangas longas, com os cabelos desgrenhados e os olhos caídos. Não ousei encarar meu pai.
Era raro vê-lo naqueles trajes leves, de dia de folga. Ele estava em casa, ausente também. Paralisado e apático em seu silêncio. Sentado reto em sua poltrona, sem fazer som algum, apenas olhando a tela hipnótica da televisão. Dava pra vê-lo de onde eu estava.
Minha avó ainda dormia. Ou voltara a dormir, eu não sabia ao certo.
Só pensava em como eu voltaria para o meu quarto. Em como eu diria aquilo em alguma postagem. Aquelas coisas assustadoras que eu sentia...
Terminei de comer.
Levantei-me da mesa e fui até a janela. Meu pai também se levantou da poltrona.
Não o olhei, não queria olhá-lo. Talvez eu ficasse em pânico com isso.
Tinha que parecer calma.
...
Suava dentro da camisa... Estava quente demais...
Motivo pequeno para tirá-la e exibir a linda marca da mão da Sofia em meu antebraço.
...
Suspirei.
Ia para o quarto.
Tomei o caminho da escada, em passos relativamente calmos. Subi o segundo degrau, logo em seguida senti uma pressão horrível em meu couro cabeludo, seguida da voz grossa e severa de meu pai, parado e raivoso atrás de mim.
O puxão de cabelo me sugou, fazendo-me recuar instantaneamente. Meu pai abriu espaço para que eu caísse no chão, de costas e desprotegida. Logo que bati a costa na madeira do piso, arregalei os olhos e fitei seu semblante sério sobre mim, pisando-me com o olhar.
Eu era asquerosa e horrenda para aqueles olhos.
- Levante-se!
A voz foi muito convicta, seu grito grave fez com que eu me apressasse, e num movimento muito rápido, me erguesse e encostasse as costas na parede. Juntei os braços, enrijeci todos os músculos. De algum jeito eu sabia: haveria mais dor.
Esperei.
...
Ele apertou os punhos e cambaleou a cabeça, confuso, alterado e furioso.
Eu o persegui com meus olhos, tive medo. Outra vez.
O que ele faria comigo?
Ele perdeu alguns passos inúteis. Foi pra frente, foi pra trás... Mas ainda estava perto. Apertava os dedos contra as pálpebras fechadas. O rosto se contraia numa careta de dor e raiva.
Ele voava e caia quando planava. Insandecidamente.
Vi uma brecha para escapar...
Ia correr.
No primeiro movimento de fuga, quando eu voltei a pisar no degrau, meu pai puxou minha camisa e me prendeu na parede. Imprensou-me contra ela com força e quase encostou o rosto no meu.
Foi a primeira vez em muito tempo que pude olhar bem os seus olhos...
Estavam estranhos e obscuros. Fora de controle.
Ele quase riu do meu pavor. Enquanto machucava meus braços e as minhas costas.
Meu pavor ficava cada vez mais forte e viscoso.
- Pai... Papai...
Não sei por que aquele balbucio pulou de mim. Quando percebi, ele já havia ganhado a gravidade e afundava como um peso morto entre o pouco espaço entre nós.
Meu pai fechou o rosto. Odiou aquelas palavras a ponto de fazer seu nojo por elas ficar explicito. Afastou-se de mim e ficou de costas enquanto sua mente perturbada lhe dizia coisas...
Ele abanava o ar e respondia com outros murmúrios.
Quase pude ouvir as lamúrias.
Quase.
...
Eu tinha que entender o motivo daquela raiva.
Havia feito algo errado?!
Me pronunciei. Ou melhor, tentei me pronunciar.
- O que aconteceu...?
Eu nem pude terminar a frase. Ele se virou para mim e esbravejou:
- O que aconteceu?! Você é cínica o bastante pra perguntar?!
Encolhi os ombros.
- Maldita. – ele veio para mais perto de mim – maldita!
Estava compondo minha feição de pânico quando sua mão esbofeteou o lado esquerdo do meu rosto. Foi a coisa mais dura e agressiva que alguém já fizera comigo. A dor foi terrível, o impacto me fez cair por cima dos degraus da escada. Quase desmaiei.
Meu pai ainda se agachou e puxou meu cabelo de novo, gritando feito um louco:
- Ladra! Ladra Maldita!
Eu não tive reação. Recebi tudo sem muita coisa a fazer.
Estava fraca e assustada.
Ele continuou puxando meu cabelo...
...
Aí parou.
Parou.
...
Seus olhos se alertaram. E era como se tivesse algo no andar de cima, chamando-o.
Respirei oscilante, quase sem fôlego.
Seu último movimento foi mexer a mão com rapidez e fazer minha cabeça bater na parede.
Depois ele subiu e tudo ficou silêncio.
Silêncio.
...
...
Eu fiquei caída na escada, chorando, sentindo um aperto dentro do peito.
Logo em seguida veio o susto:
O som ruidoso de algo despencando. Caindo direto no gramado do lado de fora.
Coloquei a mão sobre a boca.
Era aquilo que eu pensava?
...
Meu pai pisoteou os degraus em sua descida. Quase pisa em mim.
Eu me encolhi.
- Desobediente.
Sua voz foi baixa. Ou então eu estava desmaiando de novo e os sons estavam sumindo como de costume. Sei que ele não olhou mais para mim. Seguiu até a sala, ligou a tevê e sentou-se em sua poltrona.
Imóvel e manso.
Aparentemente inofensivo.
...
Imagine como eu estava. Por dentro e por fora.
Um lixo.
Um pano de chão.
Ai sim eu quis morrer.
Mas ainda sabia que tinha culpa naquilo.
As vozes que o atormentavam foram despertadas por mim.
Por mim.
Entendi.
...
Subi a escada me arrastando. Chorando.
Sagrando.
...
Ao chegar em meu quarto, minhas dúvidas se desfizeram.
Fui até a janela e olhei para baixo... Lá estava meu monitor, despedaçado entre a grama e as pedras.
Suspirei.
Estava toda dolorida.
Fui até o banheiro jogar água na cara. Olhei-me no espelho... Havia um hematoma no lado esquerdo do meu rosto. Junto com as olheiras e os olhos inchados, contemplei um cadáver vivo, resfolegado e atônito.
Eu.
Uma voz masculina chamou meu nome. Na parte de baixo... lá fora.
Não me importei, mas fui olhar quem era. Morosamente, cheguei aos vidros da janela e vi Justin.
Ele olhava para a varanda, pude ouvir meu pai dizer que eu não estava em casa.
...
Não tive ação para descer e falar com Justin. O aquele mentiroso queria comigo? Por que havia aparecido naquela hora, justo quando eu adoraria encontrar alguém e confessar todo o meu pânico? Quando eu adoraria receber um abraço quente e consolador?
Era covarde oferecer água envenenada a uma morta de sede.
...
Estava cansada. Escorei a testa no vidro e observei-o. Com os olhos semi abertos.
O vi assentir com a cabeça a resposta dada por meu pai e quase que por magnetismo, dirigir seus olhos azulados até mim. Justin ficou parado ali por quase dez segundos, enquanto nos examinávamos e pensávamos nos motivos de fazermos aquilo.
Talvez ele achasse que eu havia dito ao pai para dispensá-lo, ou se perguntasse por que meu pai não me avisara sobre sua visita.
Ainda não sabia.
Eu só me questionava sobre as razões de ele simplesmente não esquecer a história da maldição. Desistir de mim.
Seria realmente bom brincar comigo e com os meus problemas?
Era engraçado zombar e tramar contra uma coisa insignificante e piedosa como eu?
...
O final do dia é típico.
Tomei as pílulas e dormi no tapete do quarto.
...
...
...

sábado, 25 de julho de 2009

Capítulo XI – Sótão

Obs: Agora tudo parece ter acabado.
Durante todo o tempo em que eu fiquei sem postar nada.
...
Eu não podia... Desculpe, eu não consegui poder. Você vai entender bem como tudo ocorreu. Como aconteceu. No que findou.
Novamente, perdoe-me por ficar todo esse tempo longe. Desculpe.
É que as coisas foram acontecendo, me submergindo a ponto de eu não poder mais fazer o que havia prometido. Tudo começou a desmoronar, as únicas escolhas que eu tive foram agarrar as oportunidades e ter um pouco de fé.
Não me restou tempo para o diário...
Desculpe.

Mas agora retomemos a história de onde eu parei.
Terminarei o que ficou pendente no capítulo passado, e por seguinte, página por página, eu revelo o final. Esperado e conturbado final.
Tudo agora ficará melhor.
Tudo.
Ao gosto dos que esperaram ouvir meus sustos. As minhas detalhadas surpresas
...
O capitulo passado ficou enorme não foi?
Talvez esse seja bem maior.
...
Comecemos com uma breve história. Dentro desta mesmo, acho que posso iniciar.
...
Eu era menininha ainda quando o ganhei. Ele era limpo, cheiroso e macio.
O Ted.
Sempre estava disposto a brincar, sempre estava onde queria que estivesse. A gente se divertia, ficava junto o tempo todo! J Ele era atencioso, era afável... Meu melhor amigo.
Mas aí veio aquele dia de novembro. As compras no supermercado e o caminhão desgovernado na avenida principal. Penso que talvez mamãe e Christine estivessem rindo. Não imagino um motivo, mas penso que sim.
Ninguém nunca me disse como aconteceu. Ou como poderia ter sido evitado. Mas de algum jeito, eu as perdi por isso. As perdi, e não pude dizer que sentiria muito a falta delas. Eles as roubaram de mim, e acho que nem mereci tamanho castigo.
Aos seis anos, vivenciei a morte de minha mãe e minha irmã mais nova.
Ainda lembro bem desse dia.
Vi meu pai chorando no quarto. A minha avó já adoecera, mas daquela vez ela estava tão apavorada... Eu a vi chorar por não conseguir gritar.
Ai eu olhei pro Ted. E ele sorria pra mim.
Que espécie de amigo sorri ao ver o outro triste?
Bobagem por bobagem, aquilo foi não ofensivo!
Rodopiei em meus campos floridos e açucarados. Boba e tola, eu comecei a sentir que podia cair, me sufocar naquele meio todo.
Foi quando eu entendi. Confesso ter sido a primeira vez que uma coisa ficou tão clara pra mim.
Ted pertencia ao mundo da alegria. Da felicidade imatura da infância.
E eu? Bem, agora eu devia ser mais crescida, pra não deixar minha família se dissipar ainda mais. Percebi que estava na hora de deixar as minhas coisas bobas de lado. Esquecer as birras e os pedidos que seriam consentidos por pena e desatenção.
Poderia aprender a me guiar com os próprios pés, talvez eu caísse bem menos, ou nem caísse mais. Era uma tábua de salvação tão cruel... Mas ao menos eu sentiria firmeza em estar sobre aquilo. Sobre meu corpo pequeno de criança.
...
Tinha um pai e uma avó pra cuidar. Não podia ser tão mesquinha e fazê-los se matar por mim. Não podia.
Eles estavam mais dilacerados do que eu?
Achei que estivessem.
...
Pode até soar algo tolo, de veras, pode ter sido. Mas depois daquele dia, do velório e do enterro, só tive mais certeza de que isso era melhor pra todos nós.
Foi quando abandonei o Ted.
...
Poderia dizer que o fato de ele me meter medo agora, é uma conseqüência defensiva da parte dele, por eu tê-lo largado. Os seus olhos quentes e assustadores, o pêlo sintético e gelado, de alguma maneira estavam ligados aos fatos estranhos que aconteceram na minha casa.
Ted. Ted.
Queria queimá-lo e não deixá-lo largado numa prateleira, ou sobre a minha cama.
Queria vê-lo se consumir.
...
Não se sinta iludido por que eu falei falei sobre meu urso de pelúcia. Ou por que agora as coisas estão ficando particularmente no passado. Não. Mas agora eu terei mais tempo para contar os fatos calmamente. Contar sobre o Ted me faz lembrar parte da minha vida. Partes que eu quase tinha abandonado também.

Mas não se chateie.
Por favor, não se sinta assim J.
Mas é que eu achei importante, essencial dizer um pouco sobre ele, afinal, nenhum tipo de repulsa é sem motivo. Nenhum tipo. E depois que ele ficou estranho, senti-me livre para revelar algo sobre ele.
Mas basicamente foi isso.
Isso.
...
Ainda é sobre aquela sexta feira que quero falar. Foi nesse dia que tudo começou a andar mais rápido. E mais desgovernadamente para um tipo de abismo.
...
Bem, você lembra que a Lucy esteve na minha casa, não lembra?
Pois é, deve lembrar também que ela foi embora depois de me encontrar ausente.
Pois continuemos daí. Após a parte em que eu entrei em casa, decidida a queimar o Ted.
...
Com certeza eu jogaria álcool em seu pêlo e depois tocaria fogo. Fogo.
A casa estava barulhenta quando entrei. Sabe, minha avó martelava alguma coisa na cozinha, mas não me permitir ir ver o que era, não queria, tinha medo de ela trocar o alvo e martelar a minha cabeça.
Mas aquele barulho!
Barulho!
Começou devagar, enquanto eu caminhava pelo corredor na parte de cima. Depois pareceu ter se multiplicado e era como se minha avó martelasse duas coisas ao mesmo tempo, com uma força absurdamente incrível! O som devorava meus ouvidos. Comia os meus tímpanos.
Apressei mais os passos, até finalmente parar diante da porta do sótão. Catei a chave certa no molho, e destranquei a fechadura. Por baixo da porta pude sentir que estava frio do lado de dentro.
Aí girei a maçaneta e puxei.
Não houve movimento.
...
Tudo bem.
Tentei outra vez, afinal, era uma porta velha, poderia emperrar.
Mas ela nem ao menos se moveu.
Na terceira percebi que havia algo errado.
Muito errado.
Usei toda a força que tinha para puxar a porta. Não empurrei, só puxei.
Ela continuou solidamente inerte.
Respirei fundo, dei dois passos para trás, sem deixar de olhar o semblante vazio do pedaço de madeira de cidra à minha frente. Como era escuro naquela parte do corredor... Escuro e frio.
Desistir? Pensei nisso.
Mas o Ted estava lá, e eu precisava muito vê-lo carbonizado. Como uma vingança particular.
Foi nesse instante que me enchi de coragem e voltei a forçar a porta, com toda a determinação e raiva que eu estava sentindo. Em meus movimentos desesperados, não percebi quando ela subitamente se lançou para cima de mim. A porrada foi violenta, tanto que tive o corpo lançado para trás e o rosto machucado.
Senti a dor e o sangue escorrer da testa. Enquanto eu estava jogada no chão, passei a mão no corte e olhei para o que a porta deixara oculto. Já não mais havia um sótão cheio de lembranças e brinquedos de criança, mas sim uma garotinha de olhos brancos e pele pálida, agarrada infantilmente ao que um dia fora meu urso de pelúcia.
As marteladas de minha avó continuaram no andar de baixo e por isso as culpo por mais ninguém ouvir o grito estarrecedor que Sofia deu ao me ver.
Foi horrível.
Horrível.
Eu estava tremendo, mal conseguia tirar os olhos de cima dela, da garota e do meu urso. Não conseguia mover o meu corpo para cima e sentia que estava prestes a ser devorada pelo meu próprio medo.
O que havia acontecido com minhas pernas?! Por que elas não me obedeciam?
Comecei a respirar involuntariamente quando Sofia deu o primeiro passo até mim. O estupor que invadia meu corpo simplesmente aumentava e me deixava desprotegida. Nem conseguia me arrastar para longe ou dar um grito agudo e ensurdecedor.
Não saia nada. Nada.
Sofia continuou vindo. Abraçada ao Ted, com o braço erguido e os olhos espichados para mim. Meu deus, meu deus! Eu estava tão perto dela, tão próxima do seu ódio! Como eu sairia viva?! Como eu fugiria?! Como eu os faria parar?
O.O
O sangue da testa escorreu para dentro de um dos meus olhos. Mas eu continuava com os dois abertos, vendo-a chegar mais perto. Sentia o pânico me prender a um peso imensurável, jogando-me num lago profundo e turvo. A mão dela estava próxima ao meu rosto, próxima demais. Só pude me cobrir com as mãos e os braços, tinha que evitar aquele toque. Eu precisava.
Foi a coisa mais gelada e apavorante do mundo.
Os seus dedos frios agarraram meu braço com força e se dispuseram a apertá-lo por alguns segundos, até meu ar acabar e eu deixar de ouvir as marteladas. Tive três segundos para olhá-la, e perceber que minha vista se escurecia.
...
Foi como estar dentro de uma sala de espera abandonada. Não havia luz, só o ar gelado e os bancos solitários. Enquanto eu gritava dentro de mim para despertar, as paredes tremiam e o teto se jogava para baixo. Estava dentro de algum lugar que eu realmente não sabia existir naquele meio termo. Não sabia se havia saído de dentro do meu próprio corpo.
...
Abri os olhos e quase fiquei cega com a claridade. Meu quarto estava muito iluminado, todas as cortinas estavam abertas e os abajures amarelados se encontravam acesos. Percebi que estava deitada sobre a cama ainda feita.
Deitada... O quê, eu estava dormindo?!
De novo a sensação estranha. O pulso voltou a arder.
Apalpei o que achei estar machucado em meu corpo, até passar a mão na testa e ver que não havia corte nenhum lá. Meu coração até bateu mais devagar. Cansado, de nunca ter certeza e sempre despencar de suas crenças.
A munhequeira preta escondeu de mim a feiúra em que se achava meu pulso, mas definitivamente não me ocultou a horrenda marca impressa em meu antebraço.
Era exatamente a marca de uma mão. Não uma mão grande, deveria ser de alguém menor, uma criança, por exemplo.
A lembrança da Sofia me assombrou.
Pisquei os olhos com força e continuei examinando a marca. Ela era fria e muito, muito roxa.
Eu, branca do jeito que era e sou, não conseguiria esconder aquilo dos outros.
Devia achar uma forma de controlar tudo, para finalmente por um fim.
...
Seria realmente difícil fazer aquilo sozinha. Eu devia buscar ajuda em algum outro lugar, fora da minha casa e do meu quarto.
Encolhi-me na cama, abracei meus joelhos e pensei. Em tudo, tudo.
Primeiro na Sofia. Ela e o meu ursinho... Agora fazia tanto sentido!
Ela o tomara para si, não era? Agora Ted pertencia a ela, não pertencia?
E as duas marcas em meu corpo. A da maldição e a da mão de um espírito enraivecido.
Como eu esconderia aquilo?
Por QUÊ eu esconderia aquilo?!
O.O
Havia uma menininha para brincar com o Ted. Havia ódio suficiente para dar vida a ele.
...
Puxei para mim o crucifixo em cima do criado mudo. Agarrei-me a ele e respirei fundo.
Tinha certeza de duas coisas:
A primeira: Eu tinha que começar a agir. Precisava achar uma forma de consertar tudo, sem precisar do Justin. Não acreditava que ele poderia ser útil naquilo. Não. Ele era inútil e mentiroso.
A segunda: Havia mais dois espíritos que deveriam (obs: mas não estavam) me assombrar.
Só a Sofia fazia o trabalho sujo. Só ela me perseguia por enquanto...
...
O quarto ficou frio.
Seriam eles?
...
Estava silêncio.
Quando eles começariam com a tortura?
...............................
...............................

O resto daquele dia eu nem sei.
Fui ao banheiro e tomei as pílulas avermelhadas.
Eu precisava dormir...
...........................
:x

.........................

terça-feira, 14 de julho de 2009

Capítulo X - Vazia

“- Você tá amaldiçoada...”. Era isso que Justin havia dito pra mim ao ver meu pulso.Não tive coragem de escrever isso no capítulo passado, na verdade eu tive certo receio de digitar essa palavra. Amaldiçoada. Quase morri ao ouvir aquilo.Mas agora eu criei um pouco mais de coragem. Também deveria, afinal, a diretora apareceu e levou a gente pra diretoria. Deveria ao menos preparar uma ótima e convincente mentira, e depois ter coragem de falar sem tremer a cara.E justin?Bem, ele manteve as mãos nos bolso e o semblante sério.Tirando o rosto avermelhado da diretora, poderíamos mesmo aparentar apatia, e sem hesitar, fazer a maior cara de inocentes. Até que consegui controlar tudo que eu estava sentindo, até mesmo o medo do que estava por vir.“Você está amaldiçoada Ammy. Amaldiçoada”.Quis correr e me esconder debaixo da cama. Porém, todos sabem que seria inútil, pois a marca continuaria pregada em meu pulso.Eu deveria achar uma saída bem rápido...............Entramos na sala da diretora. Depois dos muitos olhares de riso sobre nossas caras. Os outros alunos cochichavam alto o suficiente pra nos sentirmos os maiores idiotas do mundo.Sentamos em cadeiras postas uma ao lado da outra, na frente da mesa da diretora Silvia, olhando certeiramente para ela. Logo enfrentaríamos o interrogatório e a sentença.Ela respirou fundo. Eu apertei as mãos. Justin fungou, desinteressado....- Acho que vocês bem conhecem as regras da nossa instituição, não conhecem?Assentimos com a cabeça.- É restritamente proibido permanecer fora da sala de aula, no horário em que houver professor na sala. Mas pelo que eu pude ver, os dois infligiram uma norma.- Me desculpe... – Justin se ajeitou na cadeira e se pronunciou – Sabemos que o que fizemos foi errado, mas nós temos uma boa explicação... – Justin olhou pra mim – Não temos, Ammy...?Gaguejei.- Temos, temos sim... – nós tínhamos?!, indaguei mentalmente.Silvia cruzou os braços.- Eu adoraria ouvi-la.Respirei fundo. As mentiras voaram da minha cabeça como se um espanador acabasse de varrê-las de mim. O que eu falaria?Olhei para Justin, meu deus, ele não poderia contar a história da marca pra diretora! Era loucura, carnificina!Ele calmamente tomou o controle da situação, diplomático e inacreditavelmente cínico.- Na verdade, tudo isso se deve a uma dúvida crucial.- Adoraria saber qual seria. – Silvia ironizou.Justin não se acanhou. Palmas pra ele, seu rosto foi muito convincente.- Claro. – ele sorriu. – O que eu queria dizer é que, bom, Ammy disse que o muro ao lado da quadra possui três metros de altura, sem medir a grade por cima. – Ele não hesitou – Eu não concordava com ela, pois como todos sabemos, o muro tem dois metros e cinqüenta e cinco centímetros, tirando, logicamente, os dois metros de grade – Não sei de onde tirou esses números.A diretora fez cara de desconfiança.Ele prosseguiu.- A senhora bem sabe como é terrível ficar com uma dúvida dessas na cabeça, ainda mais quando se sabe que tem toda a razão. – sorriu gentilmente. – então Ammy e eu decidimos terminar com isso, mesmo eu tendo certeza que venceria a aposta.Silvia começou a ceder.- Prepotente da sua parte.Confesso ter gostado do comentário.Me mantive na mesma e esperei que ele continuasse.- Bem, foi por isso que estávamos fora da sala. Precisávamos muito saber quem estava certo... Claro que foi um erro terrível não assistir à aula, mas é que precisávamos muito resolver a situação. Além de tudo, isso também foi bom pro nosso desenvolvimento visual fotográfico, tipo, saber calcular, não precisamente, mas ter uma noção de quanto mede algo, alguma coisa... O muro foi uma ótima experiência. Acho que tiramos algo pedagógico desta atividade... Extracurricular.Prendi o riso. Fazia tempo que eu não ouvia tanta abobrinha junta! Ao menos, se aquelas lorotas não nos livrassem de uma suspensão, seriam o único motivo de eu ter sorrido no mês inteiro. Haveria outra oportunidade?Ele tinha a obrigação de se sentir ridículo, mas se caso sentisse isso, estava disfarçando perfeitamente bem! Como ele conseguia ser tão frio?!Por favor, ache-o idiota junto comigo.Bem, talvez ele não seja... Mas.......No entanto, o que pode surpreendê-lo (e que me deixou de queixo caído) foi o fato de a diretora ter acreditado na história, e ter proposto uma atividade parecida com a que Justin tinha inventado, com base naquelas porcarias ditas. Desenvolvimento visual fotográfico? Por que ela não pensou na hipótese de nós dois estarmos prestes a pular por cima da grade?Com isso, nossa ida à diretoria terminou com a Silvia sorrindo, toda boba, apertando a mão de Justin e me mandando estudar um pouco de física....Era a hora de voltarmos ao andar de cima, e assistir a lunática da professora de filosofia encher o saco. Fora a minha sensação medonha no estômago, a vista zonza e o pulso em brasa, eu poderia aparentar a minha insolidez de todos os dias.Saímos da sala da diretora, sem trocar uma só palavra. Justin manteve a postura de sempre, enquanto eu procurava uma forma de me esquivar sem que me apanhassem ou descobrissem as minhas pragas. Eu deveria agradecê-lo?Era cedo demais pra tirar conclusões. Ainda não sabia quem ele era....Sorte nossa a professora ter recebido uma ligação e ter corrido da escola. Estávamos livres do quinto tempo de aula. Ainda estava na escada quando alguém da nossa turma nos deu o recado. Depois que o comboio nos ultrapassou, Justin me puxou pro andar de cima, indo na direção contrária ao que os outros alunos iam. Estranhei, mas não tive como me livrar de suas mãos.Quando estávamos perto de um corredor vazio, ele começou:- Sua resposta é sim?Me fiz de desentendida.- Sim, o quê?Ele revirou os olhos.- Quer minha ajuda ou não?Por medo, eu diria sim. Sim, gritaria sim! Mas havia ainda um senso crítico em mim, e ele falava alto demais. O depois me assombrava, a Natasha, sua árvore genealógica... Eu poderia esperar uma violenta facada nas costas! Aí, mais problemas, mais dor, mais medo! Perderia meu respeito, meu resquício de orgulho, por que ele parecia fora de sua redoma de prepotência?Não, eu não perderia nada por uma expressão aparentemente bondosa.- Me deixe em paz, cara.Saí correndo, desci as escadas com toda a pressa. Olhei de canto de olho e percebi que Justin ainda estava no mesmo lugar, parado, vendo-me engolir os degraus. Virei levemente o pescoço, pude vê-lo dizer:- Não demore a mudar de idéia.Sibilei uns palavrões horríveis a ele. Melhor não dizer quais foram....Cheguei em casa bufando, bati a porta do quarto e me sentei no canto da parede, perto da janela. Estava escuro em meu quarto, as cortinas tapavam o sol do meio dia, mesmo que ainda estivesse gelado por dentro. Escondi o rosto, para não deixar cair no chão as minhas angústias, deveria ter ao menos algo dentro de mim. Pra vagar, pra me encher.Involuntariamente, percebi que estava chorando. Doía respirar. O pulso também queimava.Não sei por que eu olhei pra debaixo da cama....Talvez tenha sido sem propósito. Eu só olhei enquanto lagrimava.Droga, droga!A porcaria daquele urso. A merda daquele urso maldito!O peguei com todo o pavor que sentia. No seu pêlo áspero, cravejado de folhas secas, olhei nos olhos cálidos com certa cautela. Sim, eles fumegavam.Mas como ele aparecera ali?Como?!...Agora eu me sentia uma presa absolutamente fácil. Talvez não suculenta, mas muito previsível. E aquela coisa nas minhas mãos, machucando meus dedos... O urso, aquela droga de urso, eu tinha que acabar com aquele medo. Eu tinha de destruí-lo.Foi quando ouvi uma voz gritando meu nome, no andar de baixo.Tudo bem, não era a Sofia.Era Lucy....Estava com Ted entre os dedos. A única maneira de prendê-lo até que eu voltasse era trancá-lo em algum quarto. Pensei... Desceria, falaria com Lucy, depois retornaria para enfim queimá-lo.Faria com muito, muito gosto.Botei a cara na janela e pedi que esperasse. Dava pra ver o portão dos vidros, esse era um ponto forte do meu quarto, eu sempre podia ver quem chegava, sem precisar descer. Só não dava pra abrir a janela com freqüência, ela está emperrada desde os meus cinco anos.Antes de ir, escondi a marca com uma munhequeira.Saí do quarto e fui até o sótão.Ele não ficava muito longe, era só um cômodo minúsculo perto do quarto de despejo.Você pode até achar que é a mesma coisa, mas posso lhe afirmar que não é.A diferença entre o quarto de despejo e o sótão, é que no primeiro, a gente coloca móveis velhos, cobertos por lençóis brancos e poeirentos. Já o sótão não. Lá é o lugar onde papai guarda todas as coisas da mamãe e os brinquedos que foram da Christine. Ele acha isso certo, é como se preservasse a lembrança delas. O sótão é pequeno, meio apertado, e a porta abre pra frente, como as casa do Japão, as quais a gente não gira a maçaneta e empurra, mas sim puxa pra frente.Bem, isso é o básico....Cheguei na porta do sótão, com o urso e o molho de chaves na mão. Não pensei, só destranquei a porta e joguei o Ted lá dentro, sem dó nem piedade....Depois fui ver o que a Lucy queria....Bem, ela falou sobre tudo que eu não estava interessada em ouvir.Das provas que ela tirou zero, das que ela faltou e das festas que foi.Lucy falava ininterruptamente, e era como se estivesse desesperada por um pouco de atenção minha. Seus olhos se arregalavam, ela movia as mãos como se elas falassem, mas Lucy sabia que eu não estava nem aí para suas histórias.Por fim, ela cansou de mendigar meus ouvidos. Encolheu os ombros e se foi.Confesso não ter sentido muita coisa com sua partida......É bem o que se espera de uma garota vazia, sozinha e portadora de uma maldição...........................Depois da dica, eu usei o polvedine* sim. Tinha no armário do meu banheiro.Agradeço a preocupação Hugo, mas não ajudou muito... A marca está ficando pior.Pior.
E agora eu não sei o que fazer....
O que voce faria se soubesse que um espírito vingativo marcou o seu corpo? E se a pessoa menos confiável no mundo aparentasse ser a única que pudesse te ajudar?!
...........


Não sei o que fazer... Ainda não sei.

domingo, 12 de julho de 2009

Capítulo IX – Fuga frustrada

Esse capítulo é pra falar sobre a sexta feira.
Ah, sobre algumas coisas importantes que aconteceram durante este dia.
Coisas muito, muito importantes. E ainda mais desesperadoras.
Mas... Vocês ainda lembram da Lucy?
Eu tenho evitado ela.
Mesmo tendo dito que ela era minha única e melhor amiga, achei melhor não manter mais contato com ela. Talvez pelo fato de todas as pessoas que estão ao meu redor e que mantém contato comigo estejam ficando estranhas. Definhando.
Eu não quero isso pra Lucy. E também por que percebi que estamos em sintonias diferentes agora. Enquanto eu suspiro atormentada, ela ri sobre a última fofoca do dia.
Ainda bem que não somos da mesma classe. Antes eu reclamava por isso, mas hoje percebo que foi o mais prudente que já fizeram por mim.
Não sei que tipo de sensação eu despertei na Lucy quando contei a ela o que estava havendo comigo. Quem sabe eu tenha desejado que alguém que eu confiasse me estendesse a mão e me guiasse até a porta de saída.
Bem, ela não acreditou em mim.
...................
Mas ainda quero falar sobre a sexta feira.
O meu pulso está piorando.
E na sexta eu enxerguei um tipo de arranhão no vermelho do que parecia pele queimada. O arranhão forma um desenho.
Estava assistindo o penúltimo tempo de aula quando a marca começou a queimar. Ardia e fazia meu coração palpitar ferozmente. Comecei a suar frio, e a me sentir tonta. Os outros alunos pareciam imagens deformadas e assustadoras. Suas vozes eram como guinchos de ratos. Deixavam-me nauseada.
Comecei a sentir pânico.
Tentei me manter firme, tinha que suportar aquilo por mais alguns minutos. Porém, sabia que não conseguiria esperar todo aquele tempo.
Levantei a mão e pedi ao professor (forçando minha voz a sair) para tomar um pouco de água no térreo. Ele me olhou por cima dos óculos e após ver o quanto eu estava pálida, me deixou descer.
Saí voando da sala, com a mochila nas costas e meu grosso livro de literatura nas mãos. Estava tão atônita que desci as escadarias sem olhar os degraus, e acabei tombando em alguém que subia.
Só ouvi a voz:
- Cuidado mocinha...
Levantei a cabeça. Meus olhos deveriam estar transparentes de perturbação. Era justin.
- Desculpe-me... – balbuciei tomando de volta os degraus da escada.
Ele sorriu com o canto da boca, depois eu não olhei mais, já estava perto da cantina.
Respirei fundo, me entupi de água gelada.
Fui até o banheiro, molhei o rosto e pulso. Para minha surpresa, a água chiou ao tocar a marca em minha pele.
Ia me perguntar por que, mas ouvi alguém chorar dentro do banheiro.
Todas as portas estavam abertas, só uma parecia trancada. Calei.
Ainda suava frio. A sensação de medo estava latejando dentro do meu peito.
.....
Agachei-me e resolvi olhar por baixo da porta. Fosse quem fosse, tomaria um grande susto comigo e pararia com aquele choro irritante.
Não sei que tipo de tolice me afetou naquele instante.
...
Agachei e olhei...
A Sofia estava jogada no chão do banheiro, no lado de dentro, olhando pra mim. Tinha sangue em seu rosto branco.
...
Caí pra trás com o susto. Como, que espécie de fantasma maldito era aquele?! E por que ela estava se arrastando para mais perto de mim? Por que seus olhos sangravam tanto?
Eu me desesperei. Se gritasse, o que fariam comigo?
Minhas pernas não queriam me erguer. Mas eu tinha que fugir!
Tomei um impulso gigantesco e me lancei pra fora dali.
A Sofia ficou no chão. Morta.
Morta.
.........
Não conseguia respirar. Não conseguia!
E também não voltaria pra sala de aula. Eu precisava sair dali.
A diretora passeava pelo saguão. Me escondi atrás de um mural abarrotado de cartazes enfeitados para não ser pega. Esperei ela entrar em sua sala e corri para perto da quadra poliesportiva.
Havia um muro ao lado, com algumas grades enferrujadas por cima. Eu pularia por ali, e logo estaria fora da escola.
Caminhava com pressa até o outro lado, ninguém veria minha evasão escolar, pois havia arbustos demais cobrindo as laterais da quadra. Sorte minha não haver gente jogando vôlei nem matando aula naquelas redondezas.
Tentei lembrar a ultima vez que fizera aquele tipo de coisa... Bem, eu devia ter uns doze anos.
Estava fria. Mas sentia que por dentro eu me consumia em nervosismo. Um tipo de brasa me queimava e me machucava. Depois de enfrentar as plantas espinhosas, consegui alcançar a parte abandonada da escola, lá onde dava pra pular o muro. Outra surpresa foi encontrar Justin, de pé, olhando para a mesma grade que eu avançaria.
Hesitei e pensei em ir embora, mas não. Não. Seria covarde demais.
Ele me examinou.
A marca começou a arder novamente. A apertei com a outra mão, cerrando os dentes para não demonstrar minha dor. Também não olhei para Justin. Não comprovaria o meu péssimo estado de espírito. Ele se manteve imóvel, com a mochila nas costas e a fisionomia ígnea.
Ainda esperei alguns segundos antes de dar o primeiro passo.
Justin poderia ir correndo me entregar nas mãos da diretora. Isso seria como um prazer particular. Quase sem sentido ou lógica aparente.
Foi estranho ele quebrar o silêncio.
- Não conto se você não contar.
Eu não tinha o que responder. Eu nem conseguia falar! A imagem da Sofia na minha cabeça, a marca que ardia... Eu precisava sair da frente dele. Apertei mais meu pulso e dei enfim, o primeiro passo em direção à grade.
Ele baixou os olhos, sorria com o canto da boca.
Ainda tinha o livro de literatura nas mãos, não o soltaria.
Tentei subir a grade com ele à tira colo, mas foi impossível. Ainda arrisquei uma última vez, mas acabei roubando uma risada de Justin, seguida de uma frase quase gentil.
- Você precisa de ajuda com isso ai?
Olhei séria pra ele. Minha respiração oscilava.
- Não.
Me agachei e resolvi colocar o livro dentro da mochila. Ia ficar super pesado, mas só assim eu conseguiria pular a grade e ir embora.
Abri o zíper e o guardei.
A marca deu uma pontada violenta, e eu me contorci. Justin veio para mais perto de mim, acho que tentou parecer educado.
- Tudo bem?
Tentei responder, mas estava doendo muito! Só consegui balançar a cabeça, dizendo um sim sem palavras.
Não sei o que deu nele para justamente olhar meu pulso, só lembro de vê-lo com a expressão mais sincera e abismada do mundo. Sua mão macia foi se movendo e seus dedos seguraram meu braço com cuidado.
- Você tá...
Ele só poderia estar louco!
- Claro que não, você ficou doido, foi?! – me levantei ofendida.
Justin parecia um pouco assustado.
- Tá sim... Esse é um símbolo antigo, muito usado por bruxas no século XIX. Marca as pessoas até que um tipo de ciclo que se feche.
Senti vontade de gritar. Ele só poderia estar zombando de mim.
- Sua mãe não te contou que bruxas não existem? – tentei me manter apática – eu me machuquei em casa, foi só isso.
- Olha, você não precisa me dar satisfações ou mentir. Eu só queria...
- Fique fora da minha vida. – encerrei.
Justin se calou, mas agora estava visivelmente inquieto. Retomei minha tentativa de fuga.
Ele fez o favor de se pronunciar novamente, e dessa vez me deixou estremecida.
- Não são só as bruxas que utilizam esse sinal, sabia? Espíritos vingativos marcam dessa forma, as pessoas que atiçaram sua ira. Assim eles amaldiçoam a vida de alguém...
Parei de escalar a grade. Não tinha força pra continuar.
Que tipo de dor penetrou em meu peito?
Eu não sei dizer até agora. Só tive vontade de me encolher e pedir consolo. Junto com a sensação mórbida, veio também uma vergonha, eu nunca tinha sido tão patética até aquele devido instante.
Desisti de subir. Voltei ao chão, sentando-me desoladamente num canto do muro. Sabia que minhas preocupações estavam pregadas em meu rosto. Continuei muda, mas permitindo que ele falasse ou que risse, eu já não sabia realmente pra onde as coisas iam e me levavam.
Justin chegou mais perto.
- Com o que você andou brincando...?
Se ele não estivesse com o semblante preocupado, eu com certeza daria um chute no joelho dele. Tão estranho Justin disfarçar sua inquietude com aquele tom leve.
Por que isso estava acontecendo comigo?
Não respondi a pergunta que ele fez. Depois mesmo de pensar o que escrevi acima e olhá-lo por cerca de cinco segundos, deixei só em mim as respostas. Me mantive arisca. De qualquer jeito, eu nunca confiei em ninguém mesmo.
Ele sentou ao meu lado.
Ficamos em silêncio por um longo tempo, até novamente ouvi-lo falar.
- Você pode até ter se machucado em casa, mas seria realmente ótimo se você procurasse ajuda.
Talvez eu devesse tentar a sorte. Olhei para justin e contei parte da verdade, tentando enxergar se poderia continuar com ela.
- Na verdade, eu não me machuquei em casa... – evitei encará-lo.
Ele assentiu com a cabeça e arqueou as sobrancelhas.
- O início da história... E lá se foi a primeira mentira. – sorriu.
Eu não ri. Não havia nada de engraçado naquilo.
- E quê mais? – ele prosseguiu.
Não gostei da cara que ele fez. Justin não usaria ironia comigo naquele momento crítico da minha vida.
- Não tem mais, melhor ir embora. – tentei me reerguer, mas ele segurou meu braço.
- Você é orgulhosa demais pra aceitar ajuda?
Olhei séria e fixamente para ele, disfarcei a pontada no pulso.
- Quem me ajudaria?
- Eu.
Quis rir.
- Você?!
- Sim, eu posso ajudar você. – seu rosto era brando. – Mas acho que só posso fazer alguma coisa, se você quiser que eu faça.
Hesitei meus olhos. Claro que eu precisava de ajuda! Mas se eu aceitasse, quem sabe o que justin faria depois? Espalharia pra escola inteira a minha má sorte, inventaria piadinhas pra zombar de mim, ou jogaria aquele favor na minha cara o resto da minha vida?
Eu não poderia estar enganada quanto aos meus julgamentos. Não. Aquele era um cara perigoso, ele estava no lado mal da coisa! Natasha, Natasha e seu bando, era só nisso que eu deveria pensar. Justin fazia parte da galera do mal.
Neguei com a cabeça e fiquei de frente para o muro.
Ele chegou mais, tocou em meu braço e ameaçou falar algo...
Só não falou por que a diretora apareceu no meio dos arbustos e exclamou:
- Os dois, pra diretoria agora!
Que tal continuar no capítulo seguinte?
.......................

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Aleluiaaaaaaaaaa

Comentei seu blog Hugoo

:D

conseguiiiiiiii

nao nao, só queria postar isso mesmoo....

rsrsrsrsr

:p

Capítulo VIII – Pulso’s




Passaram-se três dias desde a volta à escola.
As coisas aqui em casa estão paradas. Tenho evitado zanzar por ela. Só vou onde realmente preciso ir. Descobri também que caminhar de olhos fechados pelo corredor diminui a sensação de ser espionada; Secada. Estudo ouvindo música, meus fones de ouvido sempre estão no último volume. Sempre uma música pesada.
Melhor.
Faço isso em meu quarto, lógico, mas tenho freqüentado muito a biblioteca da escola durante a tarde. É preciso dizer os tipos de pessoas que encontro lá, até por que fiquei mais sensível para observar as coisas que me cercam e isso tem me deixado meio pensativa.
Digamos que é como se elas vivessem todas dentro de suas próprias cabeças. Sim, como se boiassem num tipo de néctar, como num macio contentamento e prazer. Às vezes devagar, às vezes rápido. Há também uma coisa diferente nos olhos; não que eu tenho olhado todos, averiguado, visto de perto, mas eu sei que há. Diria que é uma alusão a milhares de cores distintas, que aleatoriamente mudam, de acordo com o que lêem.
Sim, essas pessoas sempre estão lendo.
É essa a essência de um mistério? As fases dos olhos?
..............
Foi a forma mais passiva de me esquivar do pânico. Do meu próprio e incontrolável medo. Pra eu não sair correndo e deixar de responder certas perguntas. As suas e as minhas perguntas. Até que eu saiba onde achar ajuda, se é que eu realmente posso recorrer a algo, ou alguém. Me anular, passivamente. Me distrair e entrar dentro de mim.
..............
Essa postagem não é apenas pra falar sobre minhas idas à biblioteca ou encher o seu saco falando sobre como eu me sinto. Não. Quer dizer, agora não. Até por que as coisas por aqui têm ficado mais calmas. Talvez não calmas, mas mudas. Não há mais som, nem movimentos estranhos, não desde o domingo em claro. A única coisa que está estranha é a marca em meu pulso.
Ah, e claro, o meu pai.
Meu pai...?
..... Não... Aquele ser estarrecido e pálido com certeza não é meu pai. Nem aqueles olhos arroxeados pertencem a quem um dia me contou histórias pra dormir à noite.
É ridículo confessar que sinto que o estou perdendo?
Ou é ainda pior sentir que ele pode me machucar a qualquer momento?
.........................
Isso vai ficar ainda pior. Tenha certeza.
.........................
Bem, agora sou uma intelectual... Imaginem que isso me roubou um riso idiota e desesperado. Me imaginem sorrindo, do jeito que você pensa que eu sou. Por favor, não esqueçam de pensar em meus olhos... Eles sempre estão aflitos. Deixe-os esmorecidos.

A biblioteca. Lá é sossegado, mas há duas coisas que me deixam irritada, sempre que estou enraizada num livro.
Duas coisas tiravam minha paz, além das outras que você já sabe quais são.
A primeira era a coceira no pulso.
Sim, agora incomoda. Coça, irrita, às vezes pinica! É um inferno.
Já passei tudo quanto foi de pomada pra alergia, pra todo o tipo de doença de pele, mas parece que não tá fazendo efeito! É angustiante ver essa coisa no pulso, ainda mais por que parece que tá aumentando, está tipo como uma marca feita em brasa.
Sabe, não quero parecer mais paranóica do que eu já demonstrei ser, mas acho que ela tá formando algum tipo de sinal. Não sei dizer exatamente que símbolo é, até por que eu não sei quase nada sobre esse assunto.
Mas tá em mim, na minha pele!
Será que são eles que estão fazendo isso?
Será?
Ai meu Deus!
Como, eu não me lembro, lembraria se os tivesse visto nesses dias, sei que lembraria!
: x
O que está havendo comigo?! O quê?! O que eles estão fazendo agora?!
...........
Minha avó tem gemido durante a noite.
Eu a escuto antes de tentar dormir.
Talvez ela precise de alguma coisa, mas eu não consigo me levantar da cama pra ajudá-la. Morro de medo do corredor e das portas. Ah, e deles, claro.
Os dois...
Só espero que ELA não apareça.
... Tem mais uma sabia?
Mais uma. Além da Sofia.
..........................................
Agora está calado no lado de fora. Só os sapos coaxam. O tempo tá parado e a tevê faz um zumbido. As luzes do quarto estão acesas, eu estou com os cabelos soltos e com o crucifixo nas mãos. É forma de me sentir protegida...
............
Sabe o Ted?
Eu não o queimei Hugo.
Até ia fazer isso, mas ele sumiu de novo. Desapareceu... Como da primeira vez.
Espero que isso seja uma brincadeira. Outra brincadeira idiota.
: x
Mas quem brincaria comigo?
.....................
Meu pai deve estar chegando.
Ele ainda não descobriu que eu peguei meu monitor de volta...
...Melhor assim.

Só quero ver amanhã... O que vai acontecer. Espero estar lúcida pra escrever o resto.
De algum jeito aquelas pílulas tem me feito relaxar...
Ao menos um pouco eu tenho estado longe.

.....
Ah, sabe a segunda coisa que me deixa irritada quando vou à biblioteca?
Justin sempre está lá. Sério e concentrado.
Droga, droga.
Pior ele parecer que se importa....

Mas isso é assunto para o próximo capítulo.
Tomara que a vovó não gema muito alto esta noite... Eu adoraria dormir no silêncio.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Allooou povo do Blog :)

Queria agradecer a todos que acompanham meu blog e que tem a coragem de continuar.
:)
O doidinhooo do joao bosco :p e tbm o meu mais novo brother de postagem, O hugo de castro.
Sinto muito se nao comentei seu blog, é que na verdade eu nao consegui...
juro que é verdade man, eu tentei um monte de vezes comentar, mas nao consegui.
Prometo tentar mais, afinal, eu tenho muito o que dizer sobre a sua estoria, pois ela é superinteressante e agradavel de ler. É também cheia de aventura, o que é indispensavel em um textooo.
Como voce me dá a honra de acompanhar meu blog, vou ter o maior prazer de acompanhar o seu tbem. :)

Obrigado pela companhia, de verdade.
Só assim eu calo meus proprios fantasmas.....

:x
Vamos ao capítulo VIII?

terça-feira, 7 de julho de 2009

Capítulo VII - De volta à escola


Acabaram as férias.
E segunda eu fui à escola.
A maldita escola.
Não cortei caminho pelo bosque, dessa vez enfrentei a estrada de terra e o cheiro de poeira. Saí bem cedo de casa. Antes que meu pai tomasse café da manhã. Talvez ele não me oferecesse carona. Eu também não aceitaria.
Fui ao quarto de minha avó para ver se ela estava bem, logo em seguida fiz algumas panquecas para que os dois comessem. Senti ternura ao vê-la de olhos fechados... Sua fisionomia enrugada ainda era tão parecida com a da mamãe...
Foi uma noite perturbadora.
Só pra constar, passei o domingo inteiro de cama. O dia e a noite.
Apesar de sentir ter sonhado, acho que fiquei mesmo o tempo todo desperta.
..........................
E eu me sentia indisposta. Meus olhos ardiam, estava em farrapos. Com certeza, eu deveria estar sem um pingo de cor nas maçãs do rosto.
...
Encontrei Lucy há uma quadra da escola. Ela, pelo contrário, sorria e tinha um ar saudável. De fato, sua estadia na casa da tia deveria ter sido boa.
Foi só me ver que pareceu lembrar de alguma coisa.
- Ammy... O que houve com você?
Preferi não entrar em detalhes.
- Dormi mal.
Ela uniu as sobrancelhas. Fosse o que fosse, Lucy ignorou a preocupação e as supostas perguntas.
Puxou um clichê.
- E como foi a sua semana? Curtiu as férias?
Quis vomitar quando ela perguntou. Eu me sentia tão mal que desejei empurrá-la e ir embora.
Não respondi. Baixei os olhos e continuei andando. Já havia alguns alunos caminhando ao nosso lado. Transformei-me numa interrogação.
Percebi que Lucy mordia o lábio inferior. Ou seja, ela queria falar outra coisa. Deveria perguntar algo relacionada àquilo. A eles.
- Não gosto de te ver com essa cara de enterro. – brincou.
Não entrei na brincadeira.
- Você não precisa gostar de nada.
- Ainda tá bolada quanto aquilo? – a pergunta saiu de supetão. Não soou compreensível ou amigável. Era mais como se ela falasse de algo ridículo. Uma tolice de criança.
Encarei-a ofendida.
- Defina “aquilo”.
- Aquela parada no cemitério... Tipo...
- Eu juro que não consigo acreditar, Lucy! Juro que não.
- Eu sei que foi assustador, ta legal?! Mas já faz quase um mês, Ammy! Um mês! E era só uma brincadeira de mau gosto. A vadia da Natasha pegou a gente de jeito, foi só isso, não tem nada real naquilo...
- Foi real, Lucy. Foi real. – sibilei, olhei fixamente para ela, não podia ser mais explícita, tinha gente demais olhando.
Ela esperou um pouco antes de retrucar.
- Você ainda tem pesadelos, é isso? Ainda tá impressionada?
Apertei o rosto com desaprovação. Neguei com a cabeça, sabia que meus olhos deveriam estar cheios de medo.
Lucy estampou uma feição de anseio. Ela estava acreditando em mim? Me perguntei enquanto arrumava as lembranças dos dias anteriores.
- A gente não deveria ter ido. – ela ajeitou os cabelos com impaciência – agora você tá com medo.
...
Não respirei.
- Tá acontecendo... É real.
Minha voz foi como um decreto. Sim, eu fui muito, muito convicta. E com certeza, eu a deixei em alerta. Aquilo era sincero o suficiente.
- O que te faz acreditar que aquilo foi real?
Olhei bem fundo em seus olhos.
- Eles estão atrás de mim agora.
............................
Nossa conversa foi cortada.
O carro da Natasha e seus amiguinhos arruaceiros cantou pneu. Não consigo entender como eles conseguem fazer isso logo de manhã cedo. Ela vinha com as mãos para fora do carro, naquele seu riso debochado e vulgar. Fui idiota em querer pertencer aquele grupo mesquinho. Só agora eu percebo a minha burrice.
O grupo dos bonitinhos, dos arrumadinhos, dos cheia da grana. Ah, e claro, o grupo do poder. Se alguém quiser ser importante na escola, tem que ser de lá. O que se ganha com isso? Bem, digamos que você cria valor, acostuma o fígado a se afogar em álcool e se prende a uma infinidade de libertinagens em festinhas barulhentas.
Mas, como você compreenderia devidamente o resto dos fatos se eu não os catalogar?
O grupo da Natasha tem sete membros.
Primeiro duas garotas: Natasha, lógico. Ela é a líder, qualifico-a como a mente diabólica e pervertida da equipe. A outra é a Karen, candidata à cópia da outra, o que a define como um peso morto.
O resto são garotos. Fúteis e gays. A única diferença é que eles não gostam realmente de outros garotos.
Serei sucinta.
O primeiro é o David, o musculoso e retardado; Aí vem o Christofer, o metido a inteligente; Depois o Naytan, mentiroso e trapaceiro. Contamos três. Logo em seguida temos o Eric, que puxa briga com todo mundo e só vive de boné. Por último, mas não menos pior, encontramos o Justin, que é irmão da Natasha. Poderia classificá-lo como um cara de aparências. Você o olha, acha que ele tem conteúdo, pensa que há algo realmente interessante por trás dos misteriosos olhos azuis, quando na verdade, ele é vazio. Um adolescente de dezessete anos, gentil e cruel em suas atitudes.
Eu odeio admitir, mas eu já fui fã desse cara.
Agora eu o via chegar com a sua turminha. Permaneci olhando enquanto ele saía do carro, dentro de suas roupas de marca e a sua fisionomia instigante. Um zero a esquerda, convenhamos.
Nós nunca trocamos uma palavra. Mas eu o detestava. Sim, eu devia isso a ele.
Uma menininha de treze anos tem o direito de detestar quem a despreza, não tem?
Pode rir. Sei que foi ridículo.
................................
Mas eu continuava abatida. E com a presença daqueles vândalos, eu me sentiria pior.
Antes de Natasha sair do carro com sua trupe, apressei o passo em direção ao laboratório de química. Ela com certeza faria uma brincadeirinha estúpida, todos iam achar engraçado e Natasha sairia por cima. Preferi definhar longe daquele olhar maldoso e soberbo.
Eu não suportaria mais aquilo.
Ainda vi Lucy me procurar, mas virei as costas e continuei andando. Estava longe o suficiente para fingir não ter percebido nada.
................................
Foi um dia difícil. Como sempre.
Lucy foi para sua classe, no térreo da escola. Subi as escadas para chegar até a minha no segundo andar. Justin vinha logo atrás, lento e rastejante.
Eu só queria que o dia terminasse logo. Logo.
E que todo o resto também.
Já estava saindo da sala quando um garoto passou correndo e esbarrou em mim. Estava tão aérea que acabei deixando meu livro de história cair no chão. Ninguém parou para me ajudar, agachei-me e fiz eu mesma a gentileza. Além dos papéis incontáveis que surgiram, descobri também, algo estranho na minha pele.
Franzi a testa.
Era como um tipo de queimadura. Estava vermelho, mas não doía nem queimava. Localizava-se precisamente no meu pulso, e tinha quase quatro centímetros, (medi com a régua). Não possuía formato, quer dizer, eu não enxergava coisa nenhuma naquilo. Pensei... Quando eu havia me machucado?
SE eu havia me machucado.
...
Respirei fundo. Não precisava de preocupações a mais.
Decidi não dar atenção àquilo, logo estaria sarado, fosse o que fosse.
Cheguei em casa já era quase meio dia.
Entrei pelo portão e vi algo estranho no meio da grama. Fui mais perto, mexi com o pé... Era o Ted.
Você ainda lembra dele?
Estava no meio de folhas secas.
Não o toquei, na verdade ele me dava nojo!
Mas como ele fora parar no quintal?
: o
Pensei, olhava para os arbustos perto da varanda. Achei mais sensato deixá-lo ali mesmo.
O urso inútil.
Acho que vou queimá-lo...
O que você acha?

.......
Adoro seus comentários Hugo :)
Obrigado pela companhia

segunda-feira, 6 de julho de 2009

CApítulo VI - Pílulas


Isso é o capítulo seis. Você deve ter percebido, não é, caro e único leitor?
Eu só queria repetir isto pra mim mesma. Queria ler essa frase, talvez desse jeito eu achasse alguma coisa boa em todo o resto. Um ponto positivo nessa droga.
Acho que serei longa. Mas não ficarei chateada caso deseje pular algumas partes desse texto.
Eu não ligo...
..............
Sinto-me enjoada agora. Enjoada de tanta culpa.
É como um soco na boca do estômago. A náusea e a dor. E a falta de ar também.
Ontem eu não postei nada, a verdade é que eu mal consegui sair da cama. O computador estava longe... E dele escorria sangue. Os meus olhos estavam embaçados, como que tapados por escamas grudentas. As coisas giravam ao meu redor. O teto subia e descia.
E dentro da minha cabeça, dançavam lembranças obscuras.
...
Não há liberdade quando você mesmo se acorrenta. Não há luz suficiente quando se é escuridão.
...
Eram nove e meia da manhã quando tomei a primeira pílula. A azeda e minúscula pílula avermelhada. Estranho meu pai não ter me visto entrar em seu quarto, e ainda por cima furtar um frasco de seus calmantes. Ele é sempre tão astuto para isso... Tão ávido a invasões.
Mas ontem ele parecia sugado.
Seu corpo branco mal se cobria com o lençol e sua respiração era funda.
Desfalecido. Como um cadáver.
Olhei para ele, ao abrir a porta. Antes tive que encarar o medo, segurar apertado meu coração entre os dedos.
Só sabia que precisava muito dormir! E teria alguma chance de conseguir este feito, se entrasse novamente naquele quarto.
Havia passado a noite em claro. Em claro, mas ainda sim muito misturada com a própria angústia da noite. Minhas pálpebras eram como espinhos, e elas sempre furavam meus olhos quando tentava fechá-las. O cheiro de bolor reapareceu novamente e com ele surgiu um tipo de presságio, a sensação horrível de estar sendo velada.
Madrugada cinzenta.
Mesmo que eu mantivesse meus olhos fechados e acreditasse que poderia adormecer naturalmente, era bem aquilo que me sondava. A morte se aconchegava ao meu ombro direito, e sua cabeça pesava, fazia minha omoplata doer.
Evitei rolar pela cama, mas era complicado ficar parada. As coisas que me vinham na mente costumavam me atormentar de um jeito cruel!
Tudo. Tudo desde aquele dia.
............
Não quero que pense que desejo enganá-lo, ou obrigá-lo (instigando sua curiosidade) a continuar comigo para saber do que estou falando. Mas eu simplesmente não consigo ter coragem de colocar isso visivelmente.
Eles me olham. Me olham todo o tempo.
Eles também me assustam, e sinto que podem ser piores, caso queiram ser.
Tenho medo de lhe dizer isso. Relembrar e digitar o que houve é pesaroso. Há sombras na minha cabeça, há gritos e pesadelos. Não posso enfraquecer ainda mais nesse momento; apesar de sentir a mão gelada em meu pescoço, eu acredito que posso reverter este quadro horripilante.
..................
Juro lhe dizer tudo, quando eles não estiverem olhando.
Eu juro contar o que aconteceu naquela noite.
Juro.
................
Peguei o frasco. O sol entrava pelo basculante no corredor.
Saí pisando leve, entrei em meu quarto e tomei a primeira pílula.
.................
Passou-se uma hora. Eu continuava sentada na beira da cama, com o crucifixo nas mãos.
Esperei mais quinze minutos antes de tomar mais três.
Caminhei até o banheiro.
Seria um percurso simples, caso a pequena Sofia não estivesse encolhida ao lado da banheira.
A menina do banheiro. A menina no banheiro.
...
Ela realmente me assustou. Oh, meu Deus, ela quase me matou de susto!
Mas não houve voz daquela vez. Eu não vi seu rosto também. Como um vulto, seu corpinho magro e cadavérico desapareceu, ao meu bruto arregalar de olhos. O cheiro ruim persistiu. E o meu rosto apavorado foi se lapidando.
Aí os meus olhos cansaram. Minhas pálpebras começaram a despencar gradativamente.
Olhei-me no espelho, antes de sair. A minha feição era como um esboço. Um desenho inacabado.
Eu queria gritar. Nossa! Como eu quis gritar!!
Mas não sairia grande coisa. Nada mais que um sibilo.
Joguei-me na cama e esperei. Doces sonhos ou mirabolantes pesadelos. Estava meio tonta quando o sol se apagou e a porta se abriu de ímpeto. Não consegui me mover ao enxergar a silhueta parada rente ao corredor, eu dizia a mim mesma que aquilo era um delírio, uma loucura! Afinal, eu havia trancado a porta.
.........
Houve desespero, e algumas outras alucinações.
.......................................
Não identifiquei ninguém. A menina não estivera lá.
A inocente Sofia. Vítima e agressora.
Obs.: ela é um deles.
......................................
Você bem lembra do homem na escada, não é?
Eu lembro dele, perfeitamente.
Eu nunca o esqueceria.
.... O homem de costas, no vão da escada. No escuro.
Seria perigoso contar o seu nome?
Ben. Ben.
.......................
Sobrevivi ao domingo...
Mas há outros dias.

Que Deus me proteja.

sábado, 4 de julho de 2009

Capítulo V - A menina do banheiro



Eu quase perdi a cabeça. De tanto pensar, pensar!!!! Pensar em não transformar isso num drama. É terrível se considerar no fundo do poço. Rídiculo mesmo ter pena si. Olhar o seu próprio rosto em comoção, ver seus olhos rasos e perceber que eles se enchem de água. Ainda mais quando você sabe que alguém mal intencionado pode estar te olhando. Me olhando.
Eu acordei na manhã seguinte, e vaguei pela casa. O dia estava nublado, talvez chovesse mais a tarde. Minha avó parecia melhor, mais viva, andava como se soubesse para onde ia. E mesmo que ela não me confessasse muitos dos seus segredos, eu os sentia bem próximos de mim. Adorava vê-la dentro de seu próprio corpo.
Lúcida.
Ela preparava o almoço. A mesma coisa de sempre.
Eu assistia tevê enquanto comia no sofá da sala, me perguntava o que eu faria no minuto seguinte. Se pudesse adiantar as horas, talvez eu me projetasse para a segunda feira. Eu vestiria o uniforme e iria à escola, lá, ao menos haviam pessoas reais, que falavam, que escutavam! Pessoas normais, com pecados normais.
Droga, Christine poderia estar aqui...
A minha irmã mais nova.
Ou a minha mãe.
Oh meu Deus, eu adoraria tê-las naquele momento.
E agora também.
Suspirava. Há tempos, meu ar era uma continência abafada de sopro. Uma brisa fúnebre. Às vezes era díficil manter o equilíbrio.
Logo algo ruim aconteceria... E eu não saberia como me proteger.
Nem teria como me comunicar.
O que eu faria sem computador?
Como eu me aliviaria sem ele?
A adrenalina agora vive pulsando nas minhas veias. Até mesmo agora, quando eu me tranco no quarto e começo a digitar essas coisas. As minhas coisas. De alguma forma, eles vêem tudo... Sinto seus cheiros bolorentos e seus suspiros furiosos por cima do meu ombro... Não sei ao certo quantos eles são.
Os espíritos que eu evoquei.
............................
Bem, eu continuaria muito pra baixo se não fosse acometida por uma sensação triunfante e patética de coragem.
Sabe quando seu coração dispara e você percebe que a coisa mais fácil do mundo, é fazer algo por si mesmo? Foi assim que eu pensei. Pareceu tão lógico e certo!!!!
Foi uma coisa parecida com isso:
Meu pai não estava completamente fora de si. Algo nele estava errado, mas havia ainda, um pouco de noção.
Morávamos afastados do resto do bairro, bem no fundo de um bosque esquecido.
O que ele faria com um monitor?
1ª hipótese: Ele poderia ter jogado no lixo.
2ª hipótese: Poderia ter doado a alguma entidade (sei lá, ou algo parecido)
3ª hipótese: Havia escondido em algum lugar da casa.
Pulei do sofá.
Ainda vi minha avó paralisada em frente a janela, olhava para o mesmo lugar de sempre: os fundos do nosso quintal, talvez praquele puteal que eu falei num dos capítulo anteriores. Ou então ela pensava...
Não imagino em quê.
Corri para o andar de cima.
Sozinha, odiava ficar sozinha naquele corredor.
Respitei fundo.
Comecei pelo escritório do papai. Saí vasculhando todos os armários, bisbilhotei até os papéis dele! Arrumei tudo, depois que dei com os burros n'água. Não estava lá.
Logo em seguida, foi a vez do quarto de despejo. Quase morri intoxicada com a poeira, os lençóis brancos também me deixaram alerta: Nunca entraria ali durante a noite, ou quando algo parecesse estranho. Nunca.
Meu quarto estava fora de cogitação. Papai estava estranho, e não burro.
Faltava apenas o quarto da vovó (Seria difícil entrar lá...), a garagem e o quarto dele.
Como eu estava em cima, fui para o quarto dele. Se não achasse, desceria e vasculharia o andar de baixo.
Porém, quando já caminhava para la, acabei lembrando da noite anterior... A luz que se acendera sozinha.
Mas que mer....
Estremeci.
Agora eu estava morrendo de medo.
Passei a mão no rosto, continuei andando.
Meu ouvido zumbia.
..........................
Abri a porta, ela rangeu.
Entrei e fiquei no vão da porta por um longo tempo... Olhei sua cama bem feita, os quadros em cima do criado mudo, a roupa pendurada num cabide. Ele era tão organizado... Tive vontade de abraçá-lo. Meu pai...
Bom, mas estava ali dentro apenas para uma coisa.
Entrei de supetão e deixei a porta aberta.
Corri para olhar debaixo da cama.
Seria mais fácil conter o meu medo e o meu susto se a droga da porta não tivesse se fechado bruscamente, e ainda por cima sem ninguém visível tê-la tocado.
Gelei, mas não me detive.
..............
Não havia nada mais que poeira debaixo da cama dele.
Girei meu corpo com pressa, Meu Deus, eu adoraria ir embora dali!!! Até avistar a porta do closet.
- Só pode estar aí dentro!
Corri para ele, o abri com rapidez e saí enfiando a mão no meio das roupas. Depois me agachei e apalpei as caixas de sapato na parte de baixo. Já ia desistir quando minhas mãos tocaram algo parecido com saco plástico. Toquei melhor e reconheci... Era o meu monitor.
Saí arrastando ele para fora do clost eufórica e arfante. Abri a porta com dificuldade e corri pro meu quarto.
Joguei ele em cima da cama e corri para a porta, ia trancá-la, mas percebi que eu era a pior ladra do mundo.
Havia deixados todas a provas do roubo à mostra.
Depois meu pai descobriria sem dificuldades o meu "furto" e aí sim, faria algo pior comigo.
Pensei melhor....
................................
ahhh
.......................
Tirei o monitor do saco plástico preto e catei algo grande e quadrado pelo quarto. Colocaria dentro do saco e devolveria ao quarto dele. Foi super complicado isso, não tinha nada que pudesse me ajudar, o jeito então foi enfiar uma caixas de sapatos velhas dentro do saco. Amarrei tudo, rezando pra que aquele plano idiota funcionasse.
Saí do quarto e entrei no dele, outra vez. Deixei a porta do mesmo jeito, se ela batesse, eu fingiria não ter me assustado.
Abri a porta do closet e enfiei o saco com as caixas no mesmo lugar.
Parei para observar meu feito.... Ah, não havia ficado tão ruim :)
.......................
Foi quando a voz começou.
- Ammy.... Ammy....
Me arrepiei.
A voz vinha de dentro do banheiro do papai. Uma voz de menina, quase doce. Muito apavorante.
Fiquei sem reação, paralisei em frente à porta branca do banheiro, enquanto a voz continuava.
- Ammy....
Depois veio a batida violenta na porta, e o girar de maçaneta.
Ia gritar, mas não tive tempo.
Só pensei em pegar a cópia da chave do meu quarto que estava em cima da mesinha de cabeceira dele. Ergui a mão e a puxei para mim, antes que a menina pudesse sair do banheiro, eu já estava me trancando no quarto. Pálida de medo, com o coração engasgado na garganta.
...............................
Depois que eu parei de tremer, tentei me lembrar se eu havia fechado a porta do closet.
........................................
Graças a Deus, eu havia fechado.
................................................

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Capítulo IV - A luz por debaixo da porta


Ahh meu Deus!!!! Eu nem acredito que acheiiii!!!! :)
Quase não consegui respirar direito.
Antes disso...
Ainda naquele dia em que eu postei pela última vez, meu pai chegou em casa, na hora do jantar. Eu comia na cozinha, minha avó estava sentada ao meu lado, olhando através da janela escura que dava na parte de trás do nosso quintal. Ela e os seus olhos de vidro arranhado. Nos encontravámos apáticas, mudas. Eu em meus pensamentos exaustivos, e ela, no seu raciocinio quase sem lógica. Foi estridente o som da porta batendo, e depois os passos dos sapatos dele no assoalho. Meu pai, com os olhos encondidos pelas lentes dos óculos. Ele caminhou morosamente até a escada, e olhou de relance para minha figura desengonçada sentada à mesa. Olhei-o também, e esperei uma mísera palavra.
Não veio nada.
A porta que levava até a cozinha estava aberta, eu sabia que deveria olhar a sala, sempre que colocava o garfo na boca. Estava pronta para correr e sabia de que forma deveria pular a janela ou girar rapidamente a maçaneta da porta principal. Eu fugiria, e não voltaria, não voltaria para eles.
Mas o que eu faria se estivesse tão longe do meu próprio coração?
Dentro desta casa, ainda estão todas as minhas boas lembranças. E bem, eu nunca as deixaria sem me despedir. Talvez eu voltasse para derramar algumas lágrimas viscosas. Algumas, e finalmente o pavor de ir embora. Acho que posso me esquivar um pouco do que eu falei, e do que eu acordei. Sabe, inocentes não acumulam culpas quando não se dão conta que estão pecando. Existem coisas que caçam enquanto você dorme, e que te espreitam quando você acha estar seguro. Sei que estou no meio do fogo cruzado, mas naquele dia, no cemitério, foi como uma brincadeira, não foi sério! Eu não sabia, eu não imaginava o que aquelas palavras significavam.
Fui pressionada pela minha fraqueza.... pelo meu lado burro.
Odeio a popularidade. :(
Eu ainda estava sentada à mesa.
E minha avó gemia um pouco. Não sei se era a maldita dor nas costas.
Ela ainda olhava pela janela.
Meu pai continuava no segundo andar, e os seus passos eram como os de um gato preto, eu não o ouvia pisar daquela vez. Estranho... Eu sempre o ouvia caminhar... Sempre ouvia. Queria subir e ver o que ele estava fazendo. O chuveiro nao chiava, nem a tevê de seu quarto zunia. Ah, meu Deus! Eu só podia estar paranóica!! Ele deveria estar fazendo qualquer tipo de coisa, poderia até estar dormindo!!!
Meu pai é apenas um homem sorumbático, só está aprisionado em suas preocupações paternais e profissionais.
Havia terminado de mastigar.
De súbito, meu coraçao se enfureceu, claro que eu estava errada!!! Redondamente enganada! Meu pai não tinha motivos aparentes pra me ignorar, ou pra agir daquele jeito. E o seu rosto, a sua forma de ser, tudo estava distorcido!!
Contraí a mandíbula.
Eu tinha culpa naquilo.
Tenho culpa nisto.
Foi quando meus pensamentos se atropelaram. Meu pai desceu as escadas, dentro do seu roupão marron. Foi para a sala, enquanto eu o seguia com os olhos de dúvida. Minha avó que me assustou. Teve um reflexo e bateu em meu prato com uma das mãos, derrubando a porcelana no chão da cozinha. Depois de me recompor, limpei tudo.
- Tá tudo bem, vovó...
Meu pai nem moveu a cabeça para olhar-nos.
Depois fui para o meu quarto. Respirei aliviada, ele havia desistido daquela idéia idiota de me deixar sem computador!! Enfim, algo sensato, algo pra me deixar menos pilhada, até que aquelas coisas parassem.
Obs.: Eu acredito em milagres.
O andar de cima estava claro, parei no corredor para olhar os quadros nas paredes e as portas fechadas. Sob as luzes amareladas das lâmpadas nas arandelas, o papel de parede parecia mais velho. Os recintos vazios tinham as luzes apagadas, só o meu quarto que era a exceção, pois eu nunca desligo a luz. Dava pra ver a iluminação por debaixo da porta. Meu quarto inócuo.
Andei sem muita pressa até bem perto do final do corredor. Passaria muito tempo imergida na banheira, até que sentisse frio o suficiente para dormir com as janelas fechadas. Já ia passar na frente da porta do quarto de meu pai quando uma luz se acendeu lá dentro.
Parei de caminhar e olhei a porta. A luz continuou acesa.
Logo me veio a lembrança dele, sentado em sua poltrona, de cara na tevê, ao lado do sofá vazio.
Sim, não poderia haver ninguém dentro do quarto.
Respirei fundo e apressei o passo. Abri bruscamente a porta de meu quarto e me joguei na cama.Me encolhi e fechei os olhos com força.
Logo que os abri, fitei a escrivaninha...
Estava sem meu monitor.
E o que é um computador sem monitor?
Quis urrar de raiva, de medo, mas não podia. Eu não deveria.
Depois de três horas mergulhada entre sais de banho, me joguei na cama novamente e dormi....
Seriam bons sonhos se eu estivesse realmente de olhos fechados.....
Pra contar como eu achei meu monitor, é melhor iniciarmos outro capítulo, não é?
Vc ainda vai continuar???????
:
Eu espero que sim. :]
Vamos ao capítulo V

quinta-feira, 2 de julho de 2009