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terça-feira, 14 de julho de 2009

Capítulo X - Vazia

“- Você tá amaldiçoada...”. Era isso que Justin havia dito pra mim ao ver meu pulso.Não tive coragem de escrever isso no capítulo passado, na verdade eu tive certo receio de digitar essa palavra. Amaldiçoada. Quase morri ao ouvir aquilo.Mas agora eu criei um pouco mais de coragem. Também deveria, afinal, a diretora apareceu e levou a gente pra diretoria. Deveria ao menos preparar uma ótima e convincente mentira, e depois ter coragem de falar sem tremer a cara.E justin?Bem, ele manteve as mãos nos bolso e o semblante sério.Tirando o rosto avermelhado da diretora, poderíamos mesmo aparentar apatia, e sem hesitar, fazer a maior cara de inocentes. Até que consegui controlar tudo que eu estava sentindo, até mesmo o medo do que estava por vir.“Você está amaldiçoada Ammy. Amaldiçoada”.Quis correr e me esconder debaixo da cama. Porém, todos sabem que seria inútil, pois a marca continuaria pregada em meu pulso.Eu deveria achar uma saída bem rápido...............Entramos na sala da diretora. Depois dos muitos olhares de riso sobre nossas caras. Os outros alunos cochichavam alto o suficiente pra nos sentirmos os maiores idiotas do mundo.Sentamos em cadeiras postas uma ao lado da outra, na frente da mesa da diretora Silvia, olhando certeiramente para ela. Logo enfrentaríamos o interrogatório e a sentença.Ela respirou fundo. Eu apertei as mãos. Justin fungou, desinteressado....- Acho que vocês bem conhecem as regras da nossa instituição, não conhecem?Assentimos com a cabeça.- É restritamente proibido permanecer fora da sala de aula, no horário em que houver professor na sala. Mas pelo que eu pude ver, os dois infligiram uma norma.- Me desculpe... – Justin se ajeitou na cadeira e se pronunciou – Sabemos que o que fizemos foi errado, mas nós temos uma boa explicação... – Justin olhou pra mim – Não temos, Ammy...?Gaguejei.- Temos, temos sim... – nós tínhamos?!, indaguei mentalmente.Silvia cruzou os braços.- Eu adoraria ouvi-la.Respirei fundo. As mentiras voaram da minha cabeça como se um espanador acabasse de varrê-las de mim. O que eu falaria?Olhei para Justin, meu deus, ele não poderia contar a história da marca pra diretora! Era loucura, carnificina!Ele calmamente tomou o controle da situação, diplomático e inacreditavelmente cínico.- Na verdade, tudo isso se deve a uma dúvida crucial.- Adoraria saber qual seria. – Silvia ironizou.Justin não se acanhou. Palmas pra ele, seu rosto foi muito convincente.- Claro. – ele sorriu. – O que eu queria dizer é que, bom, Ammy disse que o muro ao lado da quadra possui três metros de altura, sem medir a grade por cima. – Ele não hesitou – Eu não concordava com ela, pois como todos sabemos, o muro tem dois metros e cinqüenta e cinco centímetros, tirando, logicamente, os dois metros de grade – Não sei de onde tirou esses números.A diretora fez cara de desconfiança.Ele prosseguiu.- A senhora bem sabe como é terrível ficar com uma dúvida dessas na cabeça, ainda mais quando se sabe que tem toda a razão. – sorriu gentilmente. – então Ammy e eu decidimos terminar com isso, mesmo eu tendo certeza que venceria a aposta.Silvia começou a ceder.- Prepotente da sua parte.Confesso ter gostado do comentário.Me mantive na mesma e esperei que ele continuasse.- Bem, foi por isso que estávamos fora da sala. Precisávamos muito saber quem estava certo... Claro que foi um erro terrível não assistir à aula, mas é que precisávamos muito resolver a situação. Além de tudo, isso também foi bom pro nosso desenvolvimento visual fotográfico, tipo, saber calcular, não precisamente, mas ter uma noção de quanto mede algo, alguma coisa... O muro foi uma ótima experiência. Acho que tiramos algo pedagógico desta atividade... Extracurricular.Prendi o riso. Fazia tempo que eu não ouvia tanta abobrinha junta! Ao menos, se aquelas lorotas não nos livrassem de uma suspensão, seriam o único motivo de eu ter sorrido no mês inteiro. Haveria outra oportunidade?Ele tinha a obrigação de se sentir ridículo, mas se caso sentisse isso, estava disfarçando perfeitamente bem! Como ele conseguia ser tão frio?!Por favor, ache-o idiota junto comigo.Bem, talvez ele não seja... Mas.......No entanto, o que pode surpreendê-lo (e que me deixou de queixo caído) foi o fato de a diretora ter acreditado na história, e ter proposto uma atividade parecida com a que Justin tinha inventado, com base naquelas porcarias ditas. Desenvolvimento visual fotográfico? Por que ela não pensou na hipótese de nós dois estarmos prestes a pular por cima da grade?Com isso, nossa ida à diretoria terminou com a Silvia sorrindo, toda boba, apertando a mão de Justin e me mandando estudar um pouco de física....Era a hora de voltarmos ao andar de cima, e assistir a lunática da professora de filosofia encher o saco. Fora a minha sensação medonha no estômago, a vista zonza e o pulso em brasa, eu poderia aparentar a minha insolidez de todos os dias.Saímos da sala da diretora, sem trocar uma só palavra. Justin manteve a postura de sempre, enquanto eu procurava uma forma de me esquivar sem que me apanhassem ou descobrissem as minhas pragas. Eu deveria agradecê-lo?Era cedo demais pra tirar conclusões. Ainda não sabia quem ele era....Sorte nossa a professora ter recebido uma ligação e ter corrido da escola. Estávamos livres do quinto tempo de aula. Ainda estava na escada quando alguém da nossa turma nos deu o recado. Depois que o comboio nos ultrapassou, Justin me puxou pro andar de cima, indo na direção contrária ao que os outros alunos iam. Estranhei, mas não tive como me livrar de suas mãos.Quando estávamos perto de um corredor vazio, ele começou:- Sua resposta é sim?Me fiz de desentendida.- Sim, o quê?Ele revirou os olhos.- Quer minha ajuda ou não?Por medo, eu diria sim. Sim, gritaria sim! Mas havia ainda um senso crítico em mim, e ele falava alto demais. O depois me assombrava, a Natasha, sua árvore genealógica... Eu poderia esperar uma violenta facada nas costas! Aí, mais problemas, mais dor, mais medo! Perderia meu respeito, meu resquício de orgulho, por que ele parecia fora de sua redoma de prepotência?Não, eu não perderia nada por uma expressão aparentemente bondosa.- Me deixe em paz, cara.Saí correndo, desci as escadas com toda a pressa. Olhei de canto de olho e percebi que Justin ainda estava no mesmo lugar, parado, vendo-me engolir os degraus. Virei levemente o pescoço, pude vê-lo dizer:- Não demore a mudar de idéia.Sibilei uns palavrões horríveis a ele. Melhor não dizer quais foram....Cheguei em casa bufando, bati a porta do quarto e me sentei no canto da parede, perto da janela. Estava escuro em meu quarto, as cortinas tapavam o sol do meio dia, mesmo que ainda estivesse gelado por dentro. Escondi o rosto, para não deixar cair no chão as minhas angústias, deveria ter ao menos algo dentro de mim. Pra vagar, pra me encher.Involuntariamente, percebi que estava chorando. Doía respirar. O pulso também queimava.Não sei por que eu olhei pra debaixo da cama....Talvez tenha sido sem propósito. Eu só olhei enquanto lagrimava.Droga, droga!A porcaria daquele urso. A merda daquele urso maldito!O peguei com todo o pavor que sentia. No seu pêlo áspero, cravejado de folhas secas, olhei nos olhos cálidos com certa cautela. Sim, eles fumegavam.Mas como ele aparecera ali?Como?!...Agora eu me sentia uma presa absolutamente fácil. Talvez não suculenta, mas muito previsível. E aquela coisa nas minhas mãos, machucando meus dedos... O urso, aquela droga de urso, eu tinha que acabar com aquele medo. Eu tinha de destruí-lo.Foi quando ouvi uma voz gritando meu nome, no andar de baixo.Tudo bem, não era a Sofia.Era Lucy....Estava com Ted entre os dedos. A única maneira de prendê-lo até que eu voltasse era trancá-lo em algum quarto. Pensei... Desceria, falaria com Lucy, depois retornaria para enfim queimá-lo.Faria com muito, muito gosto.Botei a cara na janela e pedi que esperasse. Dava pra ver o portão dos vidros, esse era um ponto forte do meu quarto, eu sempre podia ver quem chegava, sem precisar descer. Só não dava pra abrir a janela com freqüência, ela está emperrada desde os meus cinco anos.Antes de ir, escondi a marca com uma munhequeira.Saí do quarto e fui até o sótão.Ele não ficava muito longe, era só um cômodo minúsculo perto do quarto de despejo.Você pode até achar que é a mesma coisa, mas posso lhe afirmar que não é.A diferença entre o quarto de despejo e o sótão, é que no primeiro, a gente coloca móveis velhos, cobertos por lençóis brancos e poeirentos. Já o sótão não. Lá é o lugar onde papai guarda todas as coisas da mamãe e os brinquedos que foram da Christine. Ele acha isso certo, é como se preservasse a lembrança delas. O sótão é pequeno, meio apertado, e a porta abre pra frente, como as casa do Japão, as quais a gente não gira a maçaneta e empurra, mas sim puxa pra frente.Bem, isso é o básico....Cheguei na porta do sótão, com o urso e o molho de chaves na mão. Não pensei, só destranquei a porta e joguei o Ted lá dentro, sem dó nem piedade....Depois fui ver o que a Lucy queria....Bem, ela falou sobre tudo que eu não estava interessada em ouvir.Das provas que ela tirou zero, das que ela faltou e das festas que foi.Lucy falava ininterruptamente, e era como se estivesse desesperada por um pouco de atenção minha. Seus olhos se arregalavam, ela movia as mãos como se elas falassem, mas Lucy sabia que eu não estava nem aí para suas histórias.Por fim, ela cansou de mendigar meus ouvidos. Encolheu os ombros e se foi.Confesso não ter sentido muita coisa com sua partida......É bem o que se espera de uma garota vazia, sozinha e portadora de uma maldição...........................Depois da dica, eu usei o polvedine* sim. Tinha no armário do meu banheiro.Agradeço a preocupação Hugo, mas não ajudou muito... A marca está ficando pior.Pior.
E agora eu não sei o que fazer....
O que voce faria se soubesse que um espírito vingativo marcou o seu corpo? E se a pessoa menos confiável no mundo aparentasse ser a única que pudesse te ajudar?!
...........


Não sei o que fazer... Ainda não sei.

2 comentários:

Hugo Castro disse...

Sinseramente eu ñ sei o q fazer; confiar no Justim ou continuar sofrendo psicologicamente e físicamente.
Procure ajuda de outros meios. Sei lá, uma igreja...

♦ Júnior Reis ♦ disse...

ei eu ja sou seu seguidor, agora me add também :)
te amull