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domingo, 12 de julho de 2009

Capítulo IX – Fuga frustrada

Esse capítulo é pra falar sobre a sexta feira.
Ah, sobre algumas coisas importantes que aconteceram durante este dia.
Coisas muito, muito importantes. E ainda mais desesperadoras.
Mas... Vocês ainda lembram da Lucy?
Eu tenho evitado ela.
Mesmo tendo dito que ela era minha única e melhor amiga, achei melhor não manter mais contato com ela. Talvez pelo fato de todas as pessoas que estão ao meu redor e que mantém contato comigo estejam ficando estranhas. Definhando.
Eu não quero isso pra Lucy. E também por que percebi que estamos em sintonias diferentes agora. Enquanto eu suspiro atormentada, ela ri sobre a última fofoca do dia.
Ainda bem que não somos da mesma classe. Antes eu reclamava por isso, mas hoje percebo que foi o mais prudente que já fizeram por mim.
Não sei que tipo de sensação eu despertei na Lucy quando contei a ela o que estava havendo comigo. Quem sabe eu tenha desejado que alguém que eu confiasse me estendesse a mão e me guiasse até a porta de saída.
Bem, ela não acreditou em mim.
...................
Mas ainda quero falar sobre a sexta feira.
O meu pulso está piorando.
E na sexta eu enxerguei um tipo de arranhão no vermelho do que parecia pele queimada. O arranhão forma um desenho.
Estava assistindo o penúltimo tempo de aula quando a marca começou a queimar. Ardia e fazia meu coração palpitar ferozmente. Comecei a suar frio, e a me sentir tonta. Os outros alunos pareciam imagens deformadas e assustadoras. Suas vozes eram como guinchos de ratos. Deixavam-me nauseada.
Comecei a sentir pânico.
Tentei me manter firme, tinha que suportar aquilo por mais alguns minutos. Porém, sabia que não conseguiria esperar todo aquele tempo.
Levantei a mão e pedi ao professor (forçando minha voz a sair) para tomar um pouco de água no térreo. Ele me olhou por cima dos óculos e após ver o quanto eu estava pálida, me deixou descer.
Saí voando da sala, com a mochila nas costas e meu grosso livro de literatura nas mãos. Estava tão atônita que desci as escadarias sem olhar os degraus, e acabei tombando em alguém que subia.
Só ouvi a voz:
- Cuidado mocinha...
Levantei a cabeça. Meus olhos deveriam estar transparentes de perturbação. Era justin.
- Desculpe-me... – balbuciei tomando de volta os degraus da escada.
Ele sorriu com o canto da boca, depois eu não olhei mais, já estava perto da cantina.
Respirei fundo, me entupi de água gelada.
Fui até o banheiro, molhei o rosto e pulso. Para minha surpresa, a água chiou ao tocar a marca em minha pele.
Ia me perguntar por que, mas ouvi alguém chorar dentro do banheiro.
Todas as portas estavam abertas, só uma parecia trancada. Calei.
Ainda suava frio. A sensação de medo estava latejando dentro do meu peito.
.....
Agachei-me e resolvi olhar por baixo da porta. Fosse quem fosse, tomaria um grande susto comigo e pararia com aquele choro irritante.
Não sei que tipo de tolice me afetou naquele instante.
...
Agachei e olhei...
A Sofia estava jogada no chão do banheiro, no lado de dentro, olhando pra mim. Tinha sangue em seu rosto branco.
...
Caí pra trás com o susto. Como, que espécie de fantasma maldito era aquele?! E por que ela estava se arrastando para mais perto de mim? Por que seus olhos sangravam tanto?
Eu me desesperei. Se gritasse, o que fariam comigo?
Minhas pernas não queriam me erguer. Mas eu tinha que fugir!
Tomei um impulso gigantesco e me lancei pra fora dali.
A Sofia ficou no chão. Morta.
Morta.
.........
Não conseguia respirar. Não conseguia!
E também não voltaria pra sala de aula. Eu precisava sair dali.
A diretora passeava pelo saguão. Me escondi atrás de um mural abarrotado de cartazes enfeitados para não ser pega. Esperei ela entrar em sua sala e corri para perto da quadra poliesportiva.
Havia um muro ao lado, com algumas grades enferrujadas por cima. Eu pularia por ali, e logo estaria fora da escola.
Caminhava com pressa até o outro lado, ninguém veria minha evasão escolar, pois havia arbustos demais cobrindo as laterais da quadra. Sorte minha não haver gente jogando vôlei nem matando aula naquelas redondezas.
Tentei lembrar a ultima vez que fizera aquele tipo de coisa... Bem, eu devia ter uns doze anos.
Estava fria. Mas sentia que por dentro eu me consumia em nervosismo. Um tipo de brasa me queimava e me machucava. Depois de enfrentar as plantas espinhosas, consegui alcançar a parte abandonada da escola, lá onde dava pra pular o muro. Outra surpresa foi encontrar Justin, de pé, olhando para a mesma grade que eu avançaria.
Hesitei e pensei em ir embora, mas não. Não. Seria covarde demais.
Ele me examinou.
A marca começou a arder novamente. A apertei com a outra mão, cerrando os dentes para não demonstrar minha dor. Também não olhei para Justin. Não comprovaria o meu péssimo estado de espírito. Ele se manteve imóvel, com a mochila nas costas e a fisionomia ígnea.
Ainda esperei alguns segundos antes de dar o primeiro passo.
Justin poderia ir correndo me entregar nas mãos da diretora. Isso seria como um prazer particular. Quase sem sentido ou lógica aparente.
Foi estranho ele quebrar o silêncio.
- Não conto se você não contar.
Eu não tinha o que responder. Eu nem conseguia falar! A imagem da Sofia na minha cabeça, a marca que ardia... Eu precisava sair da frente dele. Apertei mais meu pulso e dei enfim, o primeiro passo em direção à grade.
Ele baixou os olhos, sorria com o canto da boca.
Ainda tinha o livro de literatura nas mãos, não o soltaria.
Tentei subir a grade com ele à tira colo, mas foi impossível. Ainda arrisquei uma última vez, mas acabei roubando uma risada de Justin, seguida de uma frase quase gentil.
- Você precisa de ajuda com isso ai?
Olhei séria pra ele. Minha respiração oscilava.
- Não.
Me agachei e resolvi colocar o livro dentro da mochila. Ia ficar super pesado, mas só assim eu conseguiria pular a grade e ir embora.
Abri o zíper e o guardei.
A marca deu uma pontada violenta, e eu me contorci. Justin veio para mais perto de mim, acho que tentou parecer educado.
- Tudo bem?
Tentei responder, mas estava doendo muito! Só consegui balançar a cabeça, dizendo um sim sem palavras.
Não sei o que deu nele para justamente olhar meu pulso, só lembro de vê-lo com a expressão mais sincera e abismada do mundo. Sua mão macia foi se movendo e seus dedos seguraram meu braço com cuidado.
- Você tá...
Ele só poderia estar louco!
- Claro que não, você ficou doido, foi?! – me levantei ofendida.
Justin parecia um pouco assustado.
- Tá sim... Esse é um símbolo antigo, muito usado por bruxas no século XIX. Marca as pessoas até que um tipo de ciclo que se feche.
Senti vontade de gritar. Ele só poderia estar zombando de mim.
- Sua mãe não te contou que bruxas não existem? – tentei me manter apática – eu me machuquei em casa, foi só isso.
- Olha, você não precisa me dar satisfações ou mentir. Eu só queria...
- Fique fora da minha vida. – encerrei.
Justin se calou, mas agora estava visivelmente inquieto. Retomei minha tentativa de fuga.
Ele fez o favor de se pronunciar novamente, e dessa vez me deixou estremecida.
- Não são só as bruxas que utilizam esse sinal, sabia? Espíritos vingativos marcam dessa forma, as pessoas que atiçaram sua ira. Assim eles amaldiçoam a vida de alguém...
Parei de escalar a grade. Não tinha força pra continuar.
Que tipo de dor penetrou em meu peito?
Eu não sei dizer até agora. Só tive vontade de me encolher e pedir consolo. Junto com a sensação mórbida, veio também uma vergonha, eu nunca tinha sido tão patética até aquele devido instante.
Desisti de subir. Voltei ao chão, sentando-me desoladamente num canto do muro. Sabia que minhas preocupações estavam pregadas em meu rosto. Continuei muda, mas permitindo que ele falasse ou que risse, eu já não sabia realmente pra onde as coisas iam e me levavam.
Justin chegou mais perto.
- Com o que você andou brincando...?
Se ele não estivesse com o semblante preocupado, eu com certeza daria um chute no joelho dele. Tão estranho Justin disfarçar sua inquietude com aquele tom leve.
Por que isso estava acontecendo comigo?
Não respondi a pergunta que ele fez. Depois mesmo de pensar o que escrevi acima e olhá-lo por cerca de cinco segundos, deixei só em mim as respostas. Me mantive arisca. De qualquer jeito, eu nunca confiei em ninguém mesmo.
Ele sentou ao meu lado.
Ficamos em silêncio por um longo tempo, até novamente ouvi-lo falar.
- Você pode até ter se machucado em casa, mas seria realmente ótimo se você procurasse ajuda.
Talvez eu devesse tentar a sorte. Olhei para justin e contei parte da verdade, tentando enxergar se poderia continuar com ela.
- Na verdade, eu não me machuquei em casa... – evitei encará-lo.
Ele assentiu com a cabeça e arqueou as sobrancelhas.
- O início da história... E lá se foi a primeira mentira. – sorriu.
Eu não ri. Não havia nada de engraçado naquilo.
- E quê mais? – ele prosseguiu.
Não gostei da cara que ele fez. Justin não usaria ironia comigo naquele momento crítico da minha vida.
- Não tem mais, melhor ir embora. – tentei me reerguer, mas ele segurou meu braço.
- Você é orgulhosa demais pra aceitar ajuda?
Olhei séria e fixamente para ele, disfarcei a pontada no pulso.
- Quem me ajudaria?
- Eu.
Quis rir.
- Você?!
- Sim, eu posso ajudar você. – seu rosto era brando. – Mas acho que só posso fazer alguma coisa, se você quiser que eu faça.
Hesitei meus olhos. Claro que eu precisava de ajuda! Mas se eu aceitasse, quem sabe o que justin faria depois? Espalharia pra escola inteira a minha má sorte, inventaria piadinhas pra zombar de mim, ou jogaria aquele favor na minha cara o resto da minha vida?
Eu não poderia estar enganada quanto aos meus julgamentos. Não. Aquele era um cara perigoso, ele estava no lado mal da coisa! Natasha, Natasha e seu bando, era só nisso que eu deveria pensar. Justin fazia parte da galera do mal.
Neguei com a cabeça e fiquei de frente para o muro.
Ele chegou mais, tocou em meu braço e ameaçou falar algo...
Só não falou por que a diretora apareceu no meio dos arbustos e exclamou:
- Os dois, pra diretoria agora!
Que tal continuar no capítulo seguinte?
.......................

Um comentário:

Hugo Castro disse...

C eu fosse vc tbm fikaria desconfiado de confiar no Justin, mas vc deveria ir à diretoria para pedir para ir embora. Sebem que para deixar algum aluno sair antes a direção liga para a casa dele e soh deixa ir se os pais autorizarem, e sua avó estava sozinha e eu acho q ela ñ a ajudaria. Deve ter sido melhor assim.

Continue logo.
Abraço ;D