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segunda-feira, 6 de julho de 2009

CApítulo VI - Pílulas


Isso é o capítulo seis. Você deve ter percebido, não é, caro e único leitor?
Eu só queria repetir isto pra mim mesma. Queria ler essa frase, talvez desse jeito eu achasse alguma coisa boa em todo o resto. Um ponto positivo nessa droga.
Acho que serei longa. Mas não ficarei chateada caso deseje pular algumas partes desse texto.
Eu não ligo...
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Sinto-me enjoada agora. Enjoada de tanta culpa.
É como um soco na boca do estômago. A náusea e a dor. E a falta de ar também.
Ontem eu não postei nada, a verdade é que eu mal consegui sair da cama. O computador estava longe... E dele escorria sangue. Os meus olhos estavam embaçados, como que tapados por escamas grudentas. As coisas giravam ao meu redor. O teto subia e descia.
E dentro da minha cabeça, dançavam lembranças obscuras.
...
Não há liberdade quando você mesmo se acorrenta. Não há luz suficiente quando se é escuridão.
...
Eram nove e meia da manhã quando tomei a primeira pílula. A azeda e minúscula pílula avermelhada. Estranho meu pai não ter me visto entrar em seu quarto, e ainda por cima furtar um frasco de seus calmantes. Ele é sempre tão astuto para isso... Tão ávido a invasões.
Mas ontem ele parecia sugado.
Seu corpo branco mal se cobria com o lençol e sua respiração era funda.
Desfalecido. Como um cadáver.
Olhei para ele, ao abrir a porta. Antes tive que encarar o medo, segurar apertado meu coração entre os dedos.
Só sabia que precisava muito dormir! E teria alguma chance de conseguir este feito, se entrasse novamente naquele quarto.
Havia passado a noite em claro. Em claro, mas ainda sim muito misturada com a própria angústia da noite. Minhas pálpebras eram como espinhos, e elas sempre furavam meus olhos quando tentava fechá-las. O cheiro de bolor reapareceu novamente e com ele surgiu um tipo de presságio, a sensação horrível de estar sendo velada.
Madrugada cinzenta.
Mesmo que eu mantivesse meus olhos fechados e acreditasse que poderia adormecer naturalmente, era bem aquilo que me sondava. A morte se aconchegava ao meu ombro direito, e sua cabeça pesava, fazia minha omoplata doer.
Evitei rolar pela cama, mas era complicado ficar parada. As coisas que me vinham na mente costumavam me atormentar de um jeito cruel!
Tudo. Tudo desde aquele dia.
............
Não quero que pense que desejo enganá-lo, ou obrigá-lo (instigando sua curiosidade) a continuar comigo para saber do que estou falando. Mas eu simplesmente não consigo ter coragem de colocar isso visivelmente.
Eles me olham. Me olham todo o tempo.
Eles também me assustam, e sinto que podem ser piores, caso queiram ser.
Tenho medo de lhe dizer isso. Relembrar e digitar o que houve é pesaroso. Há sombras na minha cabeça, há gritos e pesadelos. Não posso enfraquecer ainda mais nesse momento; apesar de sentir a mão gelada em meu pescoço, eu acredito que posso reverter este quadro horripilante.
..................
Juro lhe dizer tudo, quando eles não estiverem olhando.
Eu juro contar o que aconteceu naquela noite.
Juro.
................
Peguei o frasco. O sol entrava pelo basculante no corredor.
Saí pisando leve, entrei em meu quarto e tomei a primeira pílula.
.................
Passou-se uma hora. Eu continuava sentada na beira da cama, com o crucifixo nas mãos.
Esperei mais quinze minutos antes de tomar mais três.
Caminhei até o banheiro.
Seria um percurso simples, caso a pequena Sofia não estivesse encolhida ao lado da banheira.
A menina do banheiro. A menina no banheiro.
...
Ela realmente me assustou. Oh, meu Deus, ela quase me matou de susto!
Mas não houve voz daquela vez. Eu não vi seu rosto também. Como um vulto, seu corpinho magro e cadavérico desapareceu, ao meu bruto arregalar de olhos. O cheiro ruim persistiu. E o meu rosto apavorado foi se lapidando.
Aí os meus olhos cansaram. Minhas pálpebras começaram a despencar gradativamente.
Olhei-me no espelho, antes de sair. A minha feição era como um esboço. Um desenho inacabado.
Eu queria gritar. Nossa! Como eu quis gritar!!
Mas não sairia grande coisa. Nada mais que um sibilo.
Joguei-me na cama e esperei. Doces sonhos ou mirabolantes pesadelos. Estava meio tonta quando o sol se apagou e a porta se abriu de ímpeto. Não consegui me mover ao enxergar a silhueta parada rente ao corredor, eu dizia a mim mesma que aquilo era um delírio, uma loucura! Afinal, eu havia trancado a porta.
.........
Houve desespero, e algumas outras alucinações.
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Não identifiquei ninguém. A menina não estivera lá.
A inocente Sofia. Vítima e agressora.
Obs.: ela é um deles.
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Você bem lembra do homem na escada, não é?
Eu lembro dele, perfeitamente.
Eu nunca o esqueceria.
.... O homem de costas, no vão da escada. No escuro.
Seria perigoso contar o seu nome?
Ben. Ben.
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Sobrevivi ao domingo...
Mas há outros dias.

Que Deus me proteja.

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