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terça-feira, 7 de julho de 2009

Capítulo VII - De volta à escola


Acabaram as férias.
E segunda eu fui à escola.
A maldita escola.
Não cortei caminho pelo bosque, dessa vez enfrentei a estrada de terra e o cheiro de poeira. Saí bem cedo de casa. Antes que meu pai tomasse café da manhã. Talvez ele não me oferecesse carona. Eu também não aceitaria.
Fui ao quarto de minha avó para ver se ela estava bem, logo em seguida fiz algumas panquecas para que os dois comessem. Senti ternura ao vê-la de olhos fechados... Sua fisionomia enrugada ainda era tão parecida com a da mamãe...
Foi uma noite perturbadora.
Só pra constar, passei o domingo inteiro de cama. O dia e a noite.
Apesar de sentir ter sonhado, acho que fiquei mesmo o tempo todo desperta.
..........................
E eu me sentia indisposta. Meus olhos ardiam, estava em farrapos. Com certeza, eu deveria estar sem um pingo de cor nas maçãs do rosto.
...
Encontrei Lucy há uma quadra da escola. Ela, pelo contrário, sorria e tinha um ar saudável. De fato, sua estadia na casa da tia deveria ter sido boa.
Foi só me ver que pareceu lembrar de alguma coisa.
- Ammy... O que houve com você?
Preferi não entrar em detalhes.
- Dormi mal.
Ela uniu as sobrancelhas. Fosse o que fosse, Lucy ignorou a preocupação e as supostas perguntas.
Puxou um clichê.
- E como foi a sua semana? Curtiu as férias?
Quis vomitar quando ela perguntou. Eu me sentia tão mal que desejei empurrá-la e ir embora.
Não respondi. Baixei os olhos e continuei andando. Já havia alguns alunos caminhando ao nosso lado. Transformei-me numa interrogação.
Percebi que Lucy mordia o lábio inferior. Ou seja, ela queria falar outra coisa. Deveria perguntar algo relacionada àquilo. A eles.
- Não gosto de te ver com essa cara de enterro. – brincou.
Não entrei na brincadeira.
- Você não precisa gostar de nada.
- Ainda tá bolada quanto aquilo? – a pergunta saiu de supetão. Não soou compreensível ou amigável. Era mais como se ela falasse de algo ridículo. Uma tolice de criança.
Encarei-a ofendida.
- Defina “aquilo”.
- Aquela parada no cemitério... Tipo...
- Eu juro que não consigo acreditar, Lucy! Juro que não.
- Eu sei que foi assustador, ta legal?! Mas já faz quase um mês, Ammy! Um mês! E era só uma brincadeira de mau gosto. A vadia da Natasha pegou a gente de jeito, foi só isso, não tem nada real naquilo...
- Foi real, Lucy. Foi real. – sibilei, olhei fixamente para ela, não podia ser mais explícita, tinha gente demais olhando.
Ela esperou um pouco antes de retrucar.
- Você ainda tem pesadelos, é isso? Ainda tá impressionada?
Apertei o rosto com desaprovação. Neguei com a cabeça, sabia que meus olhos deveriam estar cheios de medo.
Lucy estampou uma feição de anseio. Ela estava acreditando em mim? Me perguntei enquanto arrumava as lembranças dos dias anteriores.
- A gente não deveria ter ido. – ela ajeitou os cabelos com impaciência – agora você tá com medo.
...
Não respirei.
- Tá acontecendo... É real.
Minha voz foi como um decreto. Sim, eu fui muito, muito convicta. E com certeza, eu a deixei em alerta. Aquilo era sincero o suficiente.
- O que te faz acreditar que aquilo foi real?
Olhei bem fundo em seus olhos.
- Eles estão atrás de mim agora.
............................
Nossa conversa foi cortada.
O carro da Natasha e seus amiguinhos arruaceiros cantou pneu. Não consigo entender como eles conseguem fazer isso logo de manhã cedo. Ela vinha com as mãos para fora do carro, naquele seu riso debochado e vulgar. Fui idiota em querer pertencer aquele grupo mesquinho. Só agora eu percebo a minha burrice.
O grupo dos bonitinhos, dos arrumadinhos, dos cheia da grana. Ah, e claro, o grupo do poder. Se alguém quiser ser importante na escola, tem que ser de lá. O que se ganha com isso? Bem, digamos que você cria valor, acostuma o fígado a se afogar em álcool e se prende a uma infinidade de libertinagens em festinhas barulhentas.
Mas, como você compreenderia devidamente o resto dos fatos se eu não os catalogar?
O grupo da Natasha tem sete membros.
Primeiro duas garotas: Natasha, lógico. Ela é a líder, qualifico-a como a mente diabólica e pervertida da equipe. A outra é a Karen, candidata à cópia da outra, o que a define como um peso morto.
O resto são garotos. Fúteis e gays. A única diferença é que eles não gostam realmente de outros garotos.
Serei sucinta.
O primeiro é o David, o musculoso e retardado; Aí vem o Christofer, o metido a inteligente; Depois o Naytan, mentiroso e trapaceiro. Contamos três. Logo em seguida temos o Eric, que puxa briga com todo mundo e só vive de boné. Por último, mas não menos pior, encontramos o Justin, que é irmão da Natasha. Poderia classificá-lo como um cara de aparências. Você o olha, acha que ele tem conteúdo, pensa que há algo realmente interessante por trás dos misteriosos olhos azuis, quando na verdade, ele é vazio. Um adolescente de dezessete anos, gentil e cruel em suas atitudes.
Eu odeio admitir, mas eu já fui fã desse cara.
Agora eu o via chegar com a sua turminha. Permaneci olhando enquanto ele saía do carro, dentro de suas roupas de marca e a sua fisionomia instigante. Um zero a esquerda, convenhamos.
Nós nunca trocamos uma palavra. Mas eu o detestava. Sim, eu devia isso a ele.
Uma menininha de treze anos tem o direito de detestar quem a despreza, não tem?
Pode rir. Sei que foi ridículo.
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Mas eu continuava abatida. E com a presença daqueles vândalos, eu me sentiria pior.
Antes de Natasha sair do carro com sua trupe, apressei o passo em direção ao laboratório de química. Ela com certeza faria uma brincadeirinha estúpida, todos iam achar engraçado e Natasha sairia por cima. Preferi definhar longe daquele olhar maldoso e soberbo.
Eu não suportaria mais aquilo.
Ainda vi Lucy me procurar, mas virei as costas e continuei andando. Estava longe o suficiente para fingir não ter percebido nada.
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Foi um dia difícil. Como sempre.
Lucy foi para sua classe, no térreo da escola. Subi as escadas para chegar até a minha no segundo andar. Justin vinha logo atrás, lento e rastejante.
Eu só queria que o dia terminasse logo. Logo.
E que todo o resto também.
Já estava saindo da sala quando um garoto passou correndo e esbarrou em mim. Estava tão aérea que acabei deixando meu livro de história cair no chão. Ninguém parou para me ajudar, agachei-me e fiz eu mesma a gentileza. Além dos papéis incontáveis que surgiram, descobri também, algo estranho na minha pele.
Franzi a testa.
Era como um tipo de queimadura. Estava vermelho, mas não doía nem queimava. Localizava-se precisamente no meu pulso, e tinha quase quatro centímetros, (medi com a régua). Não possuía formato, quer dizer, eu não enxergava coisa nenhuma naquilo. Pensei... Quando eu havia me machucado?
SE eu havia me machucado.
...
Respirei fundo. Não precisava de preocupações a mais.
Decidi não dar atenção àquilo, logo estaria sarado, fosse o que fosse.
Cheguei em casa já era quase meio dia.
Entrei pelo portão e vi algo estranho no meio da grama. Fui mais perto, mexi com o pé... Era o Ted.
Você ainda lembra dele?
Estava no meio de folhas secas.
Não o toquei, na verdade ele me dava nojo!
Mas como ele fora parar no quintal?
: o
Pensei, olhava para os arbustos perto da varanda. Achei mais sensato deixá-lo ali mesmo.
O urso inútil.
Acho que vou queimá-lo...
O que você acha?

.......
Adoro seus comentários Hugo :)
Obrigado pela companhia

Um comentário:

Hugo Castro disse...

Eu adoro cometar o que leio... Falando nisso, vc jah leu o meu* blog alguma vez? C leu, deixe 1 comentário tbm, pelomenos um "legal" ou "ñ gostei". Eu sei o quanto isso é inportante para melhorar as histórias. graças ao seu blog estou pensando em por histórias de terror no meu...

C vc kiser, pode keimar o Ted, mas tenha um bole de água benta por perto, casa aconteça algo estranho...

A históriaestá ficando muito legal;D

* o meu blog eh esse: http://www.espacohugo.blogspot.com

Beijão pra vc