tag:blogger.com,1999:blog-10924033235808335552024-03-19T16:19:07.307-07:00SecretUm diário virtualAmyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.comBlogger32125tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-23640945729100649552010-02-09T11:49:00.000-08:002010-02-09T11:49:15.297-08:00O Real Imaginário<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5u2ZLxiU8LrEVOCw4SCw5st1GuRBBSlVRGPnMOa1Zqk5yVYJXG6B1OQxWUsj6CmybmldLUW0JaJWAxAZH5KDK8VNcRyvYIQKEMPVy_St_JtuDk3q0AVPP_473-zNXU6sWsfHMYpD9cIhr/s1600-h/Arvore-seca_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" kt="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5u2ZLxiU8LrEVOCw4SCw5st1GuRBBSlVRGPnMOa1Zqk5yVYJXG6B1OQxWUsj6CmybmldLUW0JaJWAxAZH5KDK8VNcRyvYIQKEMPVy_St_JtuDk3q0AVPP_473-zNXU6sWsfHMYpD9cIhr/s400/Arvore-seca_.jpg" width="400" /></a></div>Quando me recordo do que houve, a primeira coisa que me vem à memória é isto.<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O primeiro indício de tudo é esse começo. Este incoerente e confuso começo.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O quarto estava completamente empestado de moscas. Eu abanava minhas mãos contra o alto, depois de sentir algumas pousarem em minhas pálpebras. Irritei-me com o zumbido alto e contínuo que elas faziam, enquanto aquelas minúsculas criaturas barulhentas roubavam meu sono.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ergui-me da cama, olhando a estante e a porta que levava até o corredor. As cortinas balançavam com o ritmo calmo do vento da madrugada, enquanto o clarão da lua penetrava o tecido e me deixava na penumbra.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">As moscas continuaram a me rondar, agora muito mais pentelhas do que antes. Tentei espalmar alguma, as mais próximas de mim, porém, aquilo era tão complicado! O zumbido delas ferrava dentro da minha cabeça...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Suspirei, e enfim tentei ver se minha prima Beth estava acordada. Talvez, com mais alguém desperto, eu poderia confessar toda a minha exasperação e pegar no sono novamente. Beth morava naquele fim de mundo há tanto tempo, quem sabe até me daria dicas de como manter as malditas moscas afastadas, bem longe de mim, uma garota da cidade grande.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Olhei para sua cama no canto do quarto, bem onde o clarão da lua era mais forte e então percebi que ela não estava lá. A principio, até esqueci o zumbido das moscas, pensando no motivo de não encontrá-la onde ela deveria estar. Se estivesse no banheiro, a luz fugiria por baixo da porta e o quarto realmente ficaria muito iluminado. Não precisava descer para tomar água, pois eu mesma havia deixado uma jarra e um copo em cima do criado mudo, já que era assustador andar naquela casa a noite.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Então... Onde Beth poderia estar? </div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Estava com aquela sensação estranha a me afligir. Não era dor, não cansaço, não era nada parecido com alguma coisa eu já havia sentido. Era como uma sensação de descontrole, como se eu estivesse prestes a perder a mim mesma. Não entendia, não compreendia o motivo de aquilo me deixar quase em pânico.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">As moscas sumiram por alguns segundos. Sentei na beira da cama e finquei meus olhos na porta. À espera de algo... À espera de oxigênio. Passei a mão no rosto... Como estava ficando quente ali! Não! Como era quente ali! Eu não havia me dado conta. Pensei que poderia estar em meu quarto refrigerado, curtindo uma noite sem moscas, bem alto, no vigésimo andar de um prédio. </div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Mas eu estava ali. Numa cidade que nem ao menos existia no mapa. No lugar onde Judas perdera não somente as botas, mas as calças, as meias, a sua própria identidade. Aquele lugar era uma grande vergonha para a raça humana. E eu o detestei muito naquele momento. Sim. O detestei por que eu tinha medo. Eu morria de medo dele.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Esperei.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ao menos pensei ter esperado por no máximo alguns segundos. Era ridículo, mas havia percebido que aquela aflição toda sempre me pegava durante à noite. Acreditava ser a péssima condição em que me encontrava, depois de todo o estresse por que passara antes de minhas “adoradas” férias no interior. Eu me sentia mal, tanto física, quanto mentalmente. Sentia meu peito esmorecer apertado. Sabia, mais uma péssima idéia que me ocorrera inconsequentemente.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Dakota começou a choramingar.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ela era uma cadela, filhote de Border Collie, que dormia embaixo do assoalho da casa. Sempre dócil e esperançosa por atenção, podia ouvi-la uivar. Não me veio na cabeça o motivo, afinal, havíamos alimentado-a e brincamos com ela durante toda a tarde. </div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Estaria acontecendo alguma coisa do lado de fora? </div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">... </div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Beth não aparecia. Olhei novamente os lençóis bagunçados de sua cama e respirei fundo. A Dakota continuou a chorar; porém, antes que eu tentasse voltar ao meu sono e esquecer o início da sensação de medo, ouvi o que parecia ser um assobio. Um longo e alto assobio que vinha do lado de fora da casa.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Levantei-me, enquanto pensava se era mesmo uma boa idéia espiar o que estava acontecendo. O vento aumentou, fazendo as cortinas dançarem muito próximas de mim, quase a ponto de tapar minha visão. Eu então caminhei com sutileza e encostei meu rosto na lateral da janela, onde eu não pudesse ser vista.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Apesar de estar no segundo andar da casa, pude ver Dakota encolhida, um pouco abaixo da minha janela. Estava voltada para os arbustos extensos, que levavam até a floresta. Não havia mais assobio, ao invés disso, enquanto o vento chacoalhava a copa das arvores e sacudia todos os galhos dos arbustos, numa proeminência de chuva, pude ver o que pareceu ser uma pessoa.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Estava escuro, mas eu podia enxergá-la. Entre as folhas e a vegetação, ela estava parada, estática, com uma esvoaçante e longa túnica branca, a olhar para minha janela. A olhar para mim. Não sei dizer se era uma moça, ou uma velha senhora... mas ela estava lá. As moscas voltaram a me atormentar, agora o zumbido era alto, contínuo, parecido com o guinchar de milhares de ratos. Sua petulância também mudara, e era como se ao invés de asinhas pequenas, elas passassem a ter mãos quentes e teimosas. Mãos que estranhamente pegavam em meus braços.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu olhava para a penumbra, olhava ao redor, mas não via nada, não poderia ter nada ali. As moscas então se multiplicaram, enquanto eu me sentia desaparecer, cair, despencar de algum lugar alto. Sem um pingo de oxigênio, em pânico.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Amanda...? O quê, você tomou sonífero de novo, foi? Vamos, se levante dessa cama...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Depois de um flash incrivelmente rápido de luz e adrenalina, pude ver Beth debruçada sobre a minha cama, com seu rosto sorridente, me puxando pelos braços. Havia um sol lindo que burlava a janela e os pássaros cantavam alegres uma manhã morna.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- O quê, já amanheceu? – eu me sentei.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Há horas... – Beth estalou os dedos. – minha mãe disse que era pra deixar você dormir, mas eu já estava cansada de te ver babar – ela riu.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Passei a mão no rosto. Então era isso, eu estava sonhando. Sim... Um daqueles sonhos que pareciam reais...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Mas...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Beth... – hesitei.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ela parou para me ouvir.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Você saiu do quarto esta madrugada?</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ela riu.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Claro que não. Por que tá perguntando isso?</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Abanei a cabeça.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Nada... – tentei sorrir. – não é nada... </div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Você provavelmente não sabe quem sou eu e o que estou fazendo aqui. Podemos dizer que eu gostaria de compartilhar o que aconteceu comigo durante minhas últimas férias. Pretendo ocupar algumas páginas deste diário (que me foi emprestado, aliás) e tentar transpassar a quem estiver lendo, tudo o que aconteceu. </div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A princípio, naquela noite estranha em que eu vagava desnorteada rente a uma estrada semi-habitada, me perguntava se eu tinha ou não culpa em tudo aquilo. Eu estava quase nua, coberta por aquela túnica suja e empoeirada que conseguira roubar. Apesar de eu saber que ainda poderia estar em perigo, tinha os passos tão exaustos... O cheiro de alguma coisa entorpecente vagava dentro do meu cérebro. O cheiro do éter no algodão.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Percebia que havia um mundo vivo ao meu redor, mas os restos daquele assustador universo que suspirava dentro de mim havia usurpado os meus primordiais sentidos. Eu mal conseguia erguer o meu corpo.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Quando a luz dos faróis acertaram meus olhos e o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pajero </i>desacelerou, tentei me proteger do medo com um brusco e trêmulo levantar de mãos. Só queria encobrir meus olhos e não ser devorada pelo brilho ofuscante do meu torpor. Queria pedir que não, que tivessem um pouco de compaixão da minha vida, mas não podia... Havia esquecido como falar.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O carro parou e uma garota de olhar assustado me fitou. Ela era branca e tinha os lábios avermelhados, como se sentisse frio. Consegui prestar atenção nela, por que era como se ela soubesse exatamente do quê e por quê eu estava fugindo. Ao volante, havia também um rapaz, de aparência um pouco mais velha que a garota, que me olhava inexpressivo com um olhar azulado e interrogativo.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A garota abriu a porta do carro com rapidez.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Tentei apressar meus passos, mas eu não tinha muito controle sobre eles, então caí. Agarrei a túnica ao meu corpo para que não sentisse ainda mais vergonha e percebi que eu nada poderia fazer por mim. Ela então se abaixou e fez um esforço enorme para me levantar. Suas mãos eram geladas e ela tinha cheiro de morango.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Amanda... você se chama Amanda?</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Foi quando eu conheci a Amy.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ela me disse algo sobre um grande perigo. Me abraçou pelos ombros e me convenceu – sem muito esforço – a entrar no carro. O rapaz nada falou, mas percebi que olhava cada movimento que fazíamos. Analisava tudo e formulava alguma idéia que eu não imaginava como poderia ser.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Deitei na parte de trás e tentei manter os olhos fixos no teto. Hora e outra via a garota de aspecto assustado olhar para mim com uma curiosa e preocupada fala em seus olhos.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">As imagens da fogueira ardiam em minhas pálpebras. Depois senti a sensação de medo, que eu sabia ser um grande e pavoroso medo a me cercar. Rondar-me a dançar... Quando meu coração palpitou com força, percebi que podia respirar sem amarras. Percebi que talvez eu pudesse ter alguma outra chance. Estava dentro do carro de pessoas que logo estenderiam a mão para mim.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">E como...? Por que? De que maneira?</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu descobriria.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Respostas para uma segunda página... Não acham?</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">... </div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-77936599746961254572010-01-27T11:14:00.000-08:002010-01-27T11:14:38.377-08:00Entrevista no Espaço Hugo =D<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim-nIaKEyk56CqO9_xC-u-3RROkreorO5IOuMZdiYZse-hR1GECBtDM6kpWsPvbaD-NfCHa267JnhFpyqTEDQoadEVxjo3uSaFU2xq18wj2QzrDXmFNZU4dcrmIc_QTSQHhzX6zM0xOET5/s1600-h/reflexao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" mt="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim-nIaKEyk56CqO9_xC-u-3RROkreorO5IOuMZdiYZse-hR1GECBtDM6kpWsPvbaD-NfCHa267JnhFpyqTEDQoadEVxjo3uSaFU2xq18wj2QzrDXmFNZU4dcrmIc_QTSQHhzX6zM0xOET5/s400/reflexao.jpg" width="280" /></a><br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Oii povo!! Eu tenho andando meio down esses dias (ruim mesmo, pode crer) e o andamento da minha minha história foi afetado -.-' Eu sei que é phoda, mas já já eu conserto essa situação toda. Eu sempre dou um jeito =D<br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Na verdade, eu não vim aqui pra ficar falando do meu estado de saúde - que afinal não é tao interessante e nem tão alarmante - Queria mesmo falar sobre a entrevista que o Hugo de castro fez comigo.<br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Primeiro eu quero dizer que foi demais. Sério, eu me senti a própria escritora com as perguntas e tudo mais. O Hugo também se deu bem como entrevistador e acho que e o resultado ficou interessante.<br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Como todo mundo já deve ter percebido, O Espaço Hugo é parceiro aqui do Secret e tem e contribuido em muitas das minhas empreitadas.<br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Espero que curtam, de vero.<br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Daqui apouco eu volto pra te assustar<br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">....<br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">E dessa vez eu vou pegar pesado.... Eu acho...<br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">...<br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">...<br />
</div><div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://espacohugo.blogspot.com/2010/01/entrevista-com-jessica-rocha.html">Ler entrevista =D</a><br />
</div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-43084892000961002962010-01-06T11:10:00.000-08:002010-01-06T11:10:19.059-08:00Vou assustar vcs de novo... Posso...?? XD<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkDACDG-mlFQ2xyf8FTncYV-brv2XJBehVu443ZU_5aZxVAQ2GGuhaztwbUeMzy6Qxsmfd0WIhwfvcap2f5VDwTXu45MrcqYGQ0b9xtM0H1_ak9m2BkZnx_cZLjarFNuViTBvaDK3MQVF2/s1600-h/dia-das-bruxas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ps="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkDACDG-mlFQ2xyf8FTncYV-brv2XJBehVu443ZU_5aZxVAQ2GGuhaztwbUeMzy6Qxsmfd0WIhwfvcap2f5VDwTXu45MrcqYGQ0b9xtM0H1_ak9m2BkZnx_cZLjarFNuViTBvaDK3MQVF2/s320/dia-das-bruxas.jpg" /></a><br />
</div>Ano novo, tudo novo!! - Mentira, só o ano é novo, quase tudo continua velho do mesmo jeito. Rsrsrs!! Tá bom, não vou comer muito o tempo de quem estiver lendo, tô passando só pra avisar que apesar de tudo continuar velho, o diário vai mudar!!<br />
AEEEEE!!<br />
A Amy me fez ter um trabalho adorável, amei escrever a história dela e tudo mais - talvez eu dê continuação futuramente - Mas achei que seria muito interessante enganjar um novo projeto. Andei tendo uns sonhos estranhos, ouvindo "causos" sem explicação e por sorte, as idéias parecem simpatizar comigo =D.<br />
Pensei em colocar tudo separadamente, sem construir enredo nem nada, falar das minhas experiências (pq na verdade eu tenho muitas) e depois retomar a Amy e seus dramas, mas parei pra pensar.........<br />
Eu prefiro ter mais trabalho :)<br />
...<br />
Posso adiantar muitos sustos, um delicioso suspense e terríveis calafrios!<br />
...<br />
Então é isso, daqui há alguns dias eu posto o primeiro capítulo da minha nova história.... Depende muito do nível de tormento que me vier à inspiração.......<br />
Enquanto isso...<br />
...<br />
Tenham ótimos sonhos.<br />
<br />
<br />
......Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-42227331577852816112009-12-30T11:40:00.000-08:002009-12-30T11:40:18.115-08:00Enquanto isso....<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQCyXQyop-3l_kHwJT97vKGv2J11Czp7ratOJGwcm9Jsqsm_CK_bJ0kYW_1ISSGOYZdSAZrCA7Lrd9cUAU-IluJwoXp62Nt6TL-3Ypgur2F59vt7IsRyyqfSfKSDWVtzYyqoQsEDVJb3Uo/s1600-h/going8.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ps="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQCyXQyop-3l_kHwJT97vKGv2J11Czp7ratOJGwcm9Jsqsm_CK_bJ0kYW_1ISSGOYZdSAZrCA7Lrd9cUAU-IluJwoXp62Nt6TL-3Ypgur2F59vt7IsRyyqfSfKSDWVtzYyqoQsEDVJb3Uo/s400/going8.bmp" /></a><br />
</div><div style="text-align: center;">Tocava aquela música que era a nossa cara<br />
Quis saber como você estava<br />
Senti a sua falta<br />
Bem que você podia me ligar<br />
</div><div style="text-align: center;">Como vai? O que tem feito?<br />
Disfarçaria para não dar nenhuma bandeira<br />
Pra fingir que tá tudo certo<br />
Que a minha vida continua da mesma maneira<br />
</div><div style="text-align: center;">Mas o tempo que era tão pouco<br />
Com você por perto<br />
E agora um deserto<br />
Já sei que as flores de plástico não vivem<br />
</div><div style="text-align: center;">Deixava aquela música invadir a sala<br />
Pra preencher o espaço que você deixou<br />
Quem sabe você volta<br />
Até a música parar<br />
</div><div style="text-align: center;">Como vai? O que tem feito?<br />
Disfarçaria para não dar nenhuma bandeira<br />
Pra fingir que tá tudo certo<br />
Que a minha vida continua da mesma maneira<br />
</div><div style="text-align: center;">Mas o tempo que era tão pouco<br />
Com você por perto<br />
E agora um deserto<br />
Já sei que as flores de plástico não vivem<br />
</div><div style="text-align: center;">...<br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
<br />
</div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-4492045011932722972009-12-28T10:14:00.000-08:002009-12-28T10:14:19.100-08:00*Posfácio*<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB2RPEc04g5YaM-Th-alW6AXCaI8ITiv4o2WJovApXulk0J3yA_IcquItp8lFlzBl6_W-l3ZhYqnJtLAmaQjh4bOUJHqwBzvM8ZIVoP0e7G794rXe2rV0F9dNEy1kyoZ5CcUnglQ5wvjgm/s1600-h/O_MIST~1.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ps="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB2RPEc04g5YaM-Th-alW6AXCaI8ITiv4o2WJovApXulk0J3yA_IcquItp8lFlzBl6_W-l3ZhYqnJtLAmaQjh4bOUJHqwBzvM8ZIVoP0e7G794rXe2rV0F9dNEy1kyoZ5CcUnglQ5wvjgm/s400/O_MIST~1.JPG" /></a><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Primeiro, antes de mais nada, eu queria agradecer a todo mundo que visitou meu blog, ao povo que comentou e que teve a paciência de chegar até o final. O Hugo de Castro, com o Espaço Hugo, meu parceirão nessa doideira, e que foi o responsável por eu não ter excluído tudo. ¬¬ >>> Ah, e ao João Bosco também, nino que aturou comigo o segundo ano no Adelaide Tavares (lá é tipo um hospício) e que me deu dicas sinceras e práticas pro blog.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Devo muito a vocês, meus caros =D<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Valeu mesmo.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Bom, esse deveria ser o capítulo XXI, mas eu não queria que o diário tivesse vinte e um capítulos. Sei lá, não queria. E também me sinto meio cansada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Foi ótimo poder compartilhar as minhas experiências escabrosas com algumas poucas pessoas, me senti bem melhor depois de salgar e queimar os ossos do Ben.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Quando fomos embora, ainda tinha a sensação de medo em meu corpo, mas agora era diferente. Eu me sentia diferente. Ajudei Justin a caminhar, pois ele estava dolorido e havia um corte superficial em sua barriga. Não demoramos a encontrar a trilha que nos levava de volta à minha casa, mas agora nos sentíamos livres de um tipo de peso. Olhei meu pulso e percebi que quase não havia marca. Só uns rabiscos marrons e levemente sombreados. <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Chegamos em frente a minha casa, sendo tocados pelos raios do sol. Era um dia quente e ensolarado, como há muito tempo não víamos. Nos olhamos, com um sorriso de vitória nos lábios, esperando encontrar palavras para definir nossa satisfação. Não havia nada. Nada que pudéssemos falar.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Meu pai apareceu na porta, passando a mão na cabeça com uma expressão de dor. Nos olhou meio perdido, mas do jeito que MEU pai, aquele que eu sabia ser bom e inofensivo, olhava. Uniu as sobrancelhas.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Meu Deus, o que houve com vocês?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin sorriu e olhou para mim. Agora eu sabia exatamente o que ele estava pensando.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Você viu? Nós vencemos...”.</i> Sim, nós vencemos Justin. Ele sabia ler os meus olhos.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Olhei minha roupa e percebi que estava completamente imunda. Justin também não estava lá muito apresentável, mas tentava manter um ar de que estava realmente tudo bem. Caminhamos aliviados até meu pai e entramos.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Nenhuma pergunta foi respondida, nenhuma outra foi feita. Por mais silenciosos e satisfeitos que estivéssemos, compartilhávamos todos de uma mesma verdade. Meu pai se manteve quieto em sua poltrona na sala, observando os cacos de vidro no chão, o ponteiro do relógio parado, apontando três horas. Seus olhos estavam molhados, havia culpa neles, enfim, ele me olhou e derramou a primeira lágrima. Ele estava lembrando tudo?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Tudo bem, pai. – eu sorri.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Sentamos na sala de estar, apreciando a calma de não precisar fugir ou manter cautela.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Quem aqui está com fome?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">As coisas na minha casa melhoraram. Meu pai voltou a ser MEU pai, a escola é de novo a escola, e Justin... Bom, agora somos amigos. Ele ficou bem machucado naquele dia no bosque, por isso meu pai achou melhor levá-lo até um hospital. A Natasha não acreditou que seu irmão havia se metido numa briga de rua (nem eu acreditaria) por isso disse que se empenharia em descobrir o que havia acontecido de fato. Ela voltou a me encarar com aquela cara pintada e aqueles soberbos olhos azulados, mas até fiquei feliz por ela voltar a ser a chata e implicante Natasha. A linda e mais popular garota da escola, na sua habitual e costumeira versão de sempre, sem possessões!!<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O Hugo de Castro me perguntou como é que eu postava se estava sem monitor e aqui vai a resposta: Eu usava o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">note book</i> do Justin. Depois daquele dia, muita coisa mudou. Não o vejo mais como um idiota metido da escola. Claro que às vezes ele é chato, fica enchendo o saco – brincando – mas descobri que ele também é bem companheiro. Não houve facada nas costas e eu não virei piada na escola... Como ele é da minha turma – e incrivelmente manda super bem em física, matéria que eu sou pior que péssima – a gente se juntou pra fazer trabalhos. Contei sobre o blog e sobre o diário que ainda não tinha terminado, então ele me deu liberdade pra fazer tudo da casa dele.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">... <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Meu pai mandou comprar vidros novos, e como num pedido de desculpas (bem descabido, aliás) disse que compraria um monitor novo pra mim.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A marca em pulso enfim desapareceu. Mal pude acreditar quando vi meu pulso voltar a cor e a textura de origem! Depois de poder respirar aliviada, parei pra pensar em Daniel e no quanto ele foi importante para a solução de todo aquele enlace. Tive vontade de vê-lo e agradecer, coisa que eu não tinha feito.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Aliás, por falar em nosso pequeno ajudante, Justin e eu descobrimos algo sobre ele.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Daniel Freitas de Almeida.<br />
</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Nascido em quinze de agosto de mil novecentos e oitenta e oito. Família pobre, filho único, com uma saúde frágil e melindrosa. Natural de Recife, morou lá até seus oito anos, após uma tentativa frustrada de melhoria de vida, conviveu com a pobreza na inóspita cidade de Serra do Campo, indo morar num casebre, no coração de um bosque. Numa noite, dizem que o menino simplesmente sumiu de sua cama. Deram-no como desaparecido, até, depois de alguns poucos dias, acharem seu corpo caído perto de um puteal. <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A causa da morte de fato nunca foi descoberta, alguns dizem que congelou até a morte, outros, ao olharem a expressão e os olhos abertos do menino, concluem que morreu mesmo foi de susto.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Após aquele terrível incidente, decidiram encher o bosque de trilhas e placas. Uma criança perdida no bosque poderia mesmo morrer... Descobriram isso tarde demais.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu sei, isso é horripilante, quase inacreditável, mas é a mais pura verdade. Justin pesquisou nos jornais, na Internet, até achou o casebre onde a família do menino morou, mas este estava abandonado há bastante tempo. Sua morte foi realmente estranha, mas não conseguimos achar um ponto de ligação entre ela e aos espíritos que planejavam a Minha Morte.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Seu corpo morto ao lado do puteal terá sido uma terrível coincidência?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Bom, Daniel nunca mais foi visto, e com sua ausência, a pergunta continuará sem resposta.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Mas eu ainda gostaria de agradecê-lo...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin, a princípio, ficou em choque.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu vi esse menino...Mal posso acreditar. </i>– O tempo todo, era ele o quarto espírito.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Sim, era ele.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Me perguntaram – e eu não vou dizer quem foi, afinal, é óbvio – Por que salgar e queimar os ossos do Ben consertou toda a minha situação, já que havia mais dois espíritos. Eu agradeço a pergunta, por que eu mesma a fiz pra mim e conseqüentemente para o Justin. A resposta é bem mais simples do que parece:<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O centro de tudo era o Ben. Ele não chegou a tocar em mim ou a deixar explicito todo o seu desejo de sangue. Não. Mas foi por culpa dele que a Sofia e a Elisa morreram. Os espíritos delas estavam cheios de ódio e sedentos de vingança por culpa dele (ou da força que roubou o juízo dele). É como um círculo vicioso e sem fim. Alguém as evoca, elas – cegas pela negatividade de suas almas – Enxergam em qualquer um, o rosto de seu próprio assassino.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Salgar e queimar os ossos de Ben, é o mesmo que dar o alívio a corações cansados e pesados de raiva. Foi a chave para destrancar o cadeado das correntes.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">É por isso que eu me salvei =D.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Agora eu não tenho muito sobre o que me queixar. Nem sobre meu pai ou sobre minha vida social. Encontrei a Lucy na escola, ela acabou puxando o assunto do cemitério e eu disse a ela que eu havia surtado temporariamente, mas que agora já estava melhor. <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Você me assustou com aquela história de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">É real...” – </i>ela riu.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Sei que não posso contar a verdade – por que Lucy também não acreditaria em mim – ou sutilmente confessar a ela todo o terror que vivi. Não desejo a ninguém as coisas que passei e prefiro que minha melhor amiga não conheça o que acabei conhecendo...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu tento esquecer e sei que um dia consigo.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin me chamou para ir ao cinema. Eu acho que vou... Será?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Meu pai disse que eu tenho que me divertir um pouco. Desconfio que ele esteja saindo com alguém... Talvez a Célia, sua secretária e cão de guarda. Quem sabe eu o obedeça... Ou espere um pouco mais.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Não sei.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Também, não posso deixar minha avó sozinha, ela está tão velhinha... Doente.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ainda mais agora que ela anda conversando sozinha. Agora que ela fica sem sono e caminha perdida pela casa...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Não posso deixá-la sozinha...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ou posso?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Minha avó.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ela continua sentada em sua cozinha, olhando pela janela, o mesmo puteal abandonado. Um daqueles no bosque... Tudo parece igual.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Igual...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A não ser pela vivacidade estranha que brotou em seu olhar.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A não ser por isso...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Inté?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">ò.Ó<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Abração =D<br />
</div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-68283865735313058732009-12-22T10:04:00.000-08:002009-12-22T10:04:14.223-08:00Atividade Paranormal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie0Tsxa8Mtt8i0Jdiyq2IDIYO3mZxoSO_hwurOggU5W21nsrtliZSfsBvXXrR50DnRXLQ2MfISipRWE0cAAeTgUgIPXeCor_akIuV1s9odJDQdAT5d2RdD9o32mN6nquo0bjQjnYpDhSPJ/s1600-h/credo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ps="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie0Tsxa8Mtt8i0Jdiyq2IDIYO3mZxoSO_hwurOggU5W21nsrtliZSfsBvXXrR50DnRXLQ2MfISipRWE0cAAeTgUgIPXeCor_akIuV1s9odJDQdAT5d2RdD9o32mN6nquo0bjQjnYpDhSPJ/s640/credo.jpg" /></a><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu e alguns amiguinhos meio loucos, passamos por uma experiência incrivelmente assustadora!! Não, nós não vimos nenhum espírito e nem evocados tais entidades, nós simplesmente fomos assistir Atividade Paranormal no cinema.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Foi engraçado no início, a gente riu das piadas, achou algumas partes meio sem graça, até pensou em ir embora, mas depois... Meu Deus e que DEPOIS!!!<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Todo mundo que tava na sala do cinema com gente gritou, um amigo meu abaixou a cabeça e fechou os olhos, quase chorou e um outro se encolheu e berrou que nem um louco.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Foi incrível mesmo, nossa, quase indescritível!<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Quando saímos da sala, uma amiga minha mal conseguia falar. Estava assustada, andava olhando para os lados e tals... eu cheguei com ela na boa e perguntei se ela estava com medo. Coitada... Medo era pouco. <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Todo mundo que tava com a gente ficou diferente depois do filme. Praticamente todo mundo não dormiu naquela noite, ou disse ter ficado traumatizado.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu adorei o filme, tô recomendando pro povo que curte filmes assim.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Atividade paranormal é realmente perturbador!!!<br />
</div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-47996832917196316972009-12-17T11:02:00.000-08:002009-12-17T11:02:02.213-08:00Capítulo XX – Final?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi62iAcxpacATUtrDTy__pUzT5kc8nYm2fDNg2cxGA3b_aPmgqGtD4oO4KlndGFz8Nl6VX_gWnMjd6JZWF21lx7qhV_x_v-oIubk1G275wDKs2-000I0SqNay1a0P-aYNdleIDAwQPU0Pt3/s1600-h/fim2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ps="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi62iAcxpacATUtrDTy__pUzT5kc8nYm2fDNg2cxGA3b_aPmgqGtD4oO4KlndGFz8Nl6VX_gWnMjd6JZWF21lx7qhV_x_v-oIubk1G275wDKs2-000I0SqNay1a0P-aYNdleIDAwQPU0Pt3/s200/fim2.jpg" /></a><br />
</div><br />
<span style="font-size: 13pt;">O tempo não precisava mais passar, ou então não existir mais. Eu não me importava. Continuamos sentados em silêncio por quase uma hora, ambos capturados por seus próprios anseios. Como sempre, eu nunca consegui adivinhar o que Justin pensava, mas me sentia péssima. Era como perceber a morte sentada bem ao seu lado, esperando o momento certo de te abater e gentilmente roubar a sua alma. Não tinha medo de morrer, tinha medo da dor que eu poderia sentir e das últimas coisas que eu por acaso veria.<br />
</span> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">A Natasha havia acabado de ser possuída por um espírito, e a maior culpada de tudo aquilo era eu. A derrota se apoiava em meu ombro e sussurrava <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Vamos, se entregue... Pare de lutar. Não adianta, minha cara”.</i> Tive vontade de desistir.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Suspirei.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Tenho que ir embora.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Justin contraiu a mandíbula.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Sua casa é perigosa.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Eu sei – sibilei – Mas não posso passar a noite aqui...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Ele respirou fundo.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Vou te levar pra casa. Quem sabe o quarto espírito tenta se comunicar de novo...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Então você acha que o quarto espírito quer nos ajudar?<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- ... Não custa nada tentar, não é?<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Mordi o lábio.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Onde Ben estará enterrado?<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Justin e eu saímos depois de levar Natasha até seu quarto. Ela ressonava com um ar cansado e continuava um pouco pálida. Não pude fazer muita coisa, a não ser rezar para que aquilo não acontecesse novamente. Ela era ruim, mas eu era a maior culpada.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Antes de irmos, ele pediu que eu o esperasse apanhar algumas coisas na garagem. Voltou com uma enorme mochila pesada.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Pegamos um táxi e fomos até minha casa.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Estava morrendo de medo, afinal, havia acabado de ver uma garota possuída por um espírito enraivecido e que desejava a minha morte. O pior era saber que esse mesmo espírito, mais alguns outros, havia escolhido minha casa para fazer morada. Temi o que encontraria quando chegasse e se conseguiria preservar minha vida até clarear. <br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Pensei também em meu pai, então o meu medo só aumentou. <br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Justin continuou preso em seus pensamentos, tentando passar uma calma que eu sabia não existir mais. Fechei meu rosto com dor de cabeça, começando a imaginar como tudo aconteceria. Como eu morreria.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Chegamos. O táxi nos deixou a poucos metros da porta principal. Justin pagou e disse ao taxista que já poderia ir embora. Estranhei.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Você... Como você vai embora depois?<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Não vou embora.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Preferi não perguntar mais nada. Na verdade eu me sentia melhor sabendo disso.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Trocávamos olhares semelhantes, como se perguntássemos um ao outro se tínhamos coragem o bastante para prosseguir. Enfim, quando ele deu o primeiro passo, decidi fazer das tripas, coração.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Entramos, a porta estava destrancada e as luzes todas apagadas. O cheiro gelado dos móveis me dava calafrios, mas não tanto como antes. <br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Andávamos com leveza, enquanto vagarosamente acendíamos todas as luzes. Mal pude acreditar no estado de organização em que minha casa se encontrava, numa aparente calma, como resultado de um cotidiano normal e sem muitas surpresas. Mas eu sabia... Estava tudo muito errado. Era como se nossas vidas estivessem prestes a serem roubadas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Vasculhamos todos os cômodos, nos deparando com uma enorme sensação de estupidez. Meu quarto estava do mesmo jeito, não havia mancha em lugar nenhum e as lâmpadas funcionavam perfeitamente. Nos empenhamos em achar meu pai, caído ou perturbado em algum lugar, mas ele havia desaparecido. Pensei então em minha avó, mas ela dormia serenamente em seu quartinho escuro. <br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Acha que eles se foram? – perguntei.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Justin caminhava ao meu lado no corredor.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Querem que você fique sozinha. Por isso estão tão calados.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Peguei o pingente do cordão.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Eu estou protegida...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Justin olhou de soslaio para mim.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Talvez não o suficiente.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Estremeci.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Segui Justin até a sala. Nos sentamos sem muitas palavras.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Estava cansada, tanto que depois da primeira hora, minhas pálpebras ficaram pesadas como pedras. Justin vislumbrava o nada, alternando olhares preocupados para o meu silêncio. Havia sentado longe novamente, mas era como estivesse no lugar exato para ficar próximo. Encostei minha cabeça no sofá e fechei os olhos.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Você parece cansada...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Não posso dormir... – sibilei ainda de olhos fechados.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Justin então não falou mais nada, pelo menos até eu perder a consciência.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Tive um sonho estranho... Tão estranho que parecia real. Abria um pouco os olhos, e via meu pai ao lado de Justin, ambos sentados no sofá. Os dois olhavam para mim, como se vigiassem meu sono. Sim, eu estava dormindo. Então abri melhor os olhos e percebi que apenas Justin me olhava. Tentei me sentar no sofá, mas ele me advertiu.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Não se preocupe. Pode voltar a dormir.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Ainda abri os lábios para negar, porém, meus olhos pesaram novamente.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Acordei ofegante às três da manhã, até perceber que havia caído do sofá.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Olhei ao redor e me dei conta de que estava sozinha.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">O ar era realmente muito frio e meus dentes começaram a ranger. A casa parecia mais escura e tudo havia emudecido. Onde estaria Justin? Me levantei e pensei em esperá-lo. Apertei o pingente do cordão e ouvi algo bater no andar de cima.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Justin?<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">A batida continuou.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Justin, você está aí em cima? – sentia o medo me apunhalar pelas costas!<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">As batidas continuaram, mas mudaram de direção. Sabia... Elas se direcionavam para a escada, e conseqüentemente para o andar de baixo. Pensei em fugir, mas onde estaria Justin? O que aconteceria com ele? O pingente do cordão começou a pinicar meu pescoço. A marca em meu pulso começou a queimar e o meu coração acelerou, a medida que o incômodo aumentava. Tive vontade de gritar, mas então eu me entregaria finalmente. Decidi suportar aquilo calada e encontrar meu amigo.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Fui em direção às escadas, mas algo um pouco disforme surgiu no vão, em baixo da fluorescente. Como estava um pouco escuro, não identifiquei quem era.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Justin...?<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">A Sofia abraçava o Ted, com os olhos sujos de sangue. Ela surgiu na penumbra, precedida de um homem com o rosto deformado, envolto num casacão preto, em baixo de um chapéu. A batida havia parado, enquanto seus passos suaves desciam os degraus, sem pressa, me fazendo tremer.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Quando pensei que enfim eles me matariam, os dois simplesmente pararam. Imóveis e assustadores, com suas fisionomias destruídas e comidas por vermes. Olhando-me sem piedade, sem ânimo, com aquela dor ensurdecedora a gritar nos meus ouvidos.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Algo se mexeu na cozinha.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Eu estava parada, pronta a correr a inúmeras direções inúteis, até minha visão periférica acusar a presença de mais alguém. Pensei em não dar atenção, mas não podia, não conseguia! Caminhei de costas e sutilmente, quase sem tirar os olhos dos dois espíritos parados na minha frente. Mal pude acreditar...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Aquele vestido, aquele cabelo, aquele cheiro... Quantas noites eu esperei por ela? Por algum vestígio da presença dela? E agora eu podia senti-la... Podia vê-la. Não sem cor e cansada num caixão, mas sim como eu me lembrava dela.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Minha mãe.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Escondia-se um pouco no escuro, mas eu quase enxergava seu rosto. Meus olhos se encheram de água, mas era felicidade, não sabia se podia, mas sentia. Ela abriu seus braços para mim, para me proteger... Era ela, o quarto espírito?<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Mamãe...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Sofia e Ben desapareceram. Não havia me dado conta de absolutamente nada. Enquanto eu andava até minha mãe, percebi que o cordão queimava minha pele, a deixava seca, áspera e cheia de escamas. Roubava meu fôlego e pesava demais. Ainda hesitei, mas o puxei com toda a força do meu pescoço.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Filha...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Ela ainda tinha os braços abertos para mim. A marca em meu pulso estava quente. Muito quente. O cordão ficou caído no chão. Senti-me culpada por isso, mas não conseguia mais suportá-lo.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Estiquei as mãos para tocá-la, até que o rosto cadavérico de outra mulher me tirou a calma.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Venha para a mamãe.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Aquele deveria ser o rosto de Elisa. Eu havia me enganado. Não. Não! Não era o quarto espírito! Minha mãe nunca esteve lá. Nunca. Aquela voz fina e praguejante assombrava meus tímpanos, suas mãos frias e escabrosas tocaram meu braço, até eu me lançar para fora da cozinha. <br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Corri desesperada, e então esbarrei em meu pai.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Ele tinha o olhar frio.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Pai? Pai... – eu o abracei – me ajude pai, preciso sair daqui, preciso fugir!!<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Ele segurou meus braços com força.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Você não vai a lugar algum.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Olhei bem em seus olhos, achando-os enrijecidos por uma espécie de ira. Ele me abraçou apertado por trás, machucando meu corpo e me deixando imobilizada. Me arrastou até a garagem, enquanto grunhia e balbuciava palavras sem sentido. Sua aparência estava horrível, ele parecia um lunático conversando com sua própria sombra. A medida que as coisas avançavam, eu tinha mais certeza de que ele acabaria com a minha vida.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">O tempo não precisava mais passar, ou então não existir mais. Mas agora eu me importava. Me sentia plenamente viva, lúcida, com o sangue quente pulsando em minhas veias. Imaginei meu cruel e triste destino, morta pelo próprio pai, sem piedade, culpada também pela morte de um jovem que nada tinha a ver com nada. Era isso. Justin deveria estar morto.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Meu pai me atirou contra a parede. Bati a cabeça e caí sem forças no chão. Minha vista ficou meio turva, mas ainda consegui ver que não estávamos sozinhos. No canto da garagem, perto da caixa de ferramentas, Justin jazia inconsciente no chão. Ele ainda respirava, mas sua cabeça estava sangrando. Perguntei-me se realmente sonhara quando o vi sentando ao lado de meu pai... O que poderia ter acontecido? Eu já imaginava.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Meu pai me puxou pelos cabelos.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Agora você vai pagar... Sua malcriada... – Ele me obrigou a sentar em uma cadeira.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Pai, não... Não... – Comecei a chorar – Não dê ouvidos a eles... Por favor... Não me faça mal...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Minha garganta estava quase fechada. De nervoso, de pânico! Estranhei meu pai começar a chorar, vendo uma piedade fulgurar em seus olhos secos.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Eu tenho que ser um bom pai, não tenho – acariciou meu rosto – Tenho que educar minha filha... – Eu não o conhecia. Não à sua perversidade.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Por favor... – implorei.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Ele esbofeteou meu rosto. <br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Cale a boca. – gritou.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Eu estava tremendo. Foi então que percebi que meu pai tinha uma corda em suas mãos. Não... era aquilo, era assim que ficaria? Virei meu pescoço para não vê-lo me amarrar, as lágrimas haviam se apossado dos meus olhos tão rapidamente! Tentei não soluçar alto. Me sentia cada vez mais cansada. Pensei estar tendo alguma alucinação quando vi Justin se movimentar, acordando de um violento nocaute. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>De algum jeito, porém, sentia que era tarde demais.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">As cordas estavam muito apertadas e eu não sabia o que esperar. Meu pai veio para perto e beijou minha testa.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Eu te amo.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Suas mãos frias envolveram meu pescoço sem muito esforço. O toque sem vontade se solidificou, até explodir em ódio. Enquanto meu próprio pai me matava enforcada, podia ver sombras nos rodearem. Alguns sorrisos disformes, alguns olhos sujos de linfa, enquanto eu tentava me libertar das cordas e escapar das mãos dele.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 13pt;">“Vamos, se entregue... Pare de lutar. Não adianta, minha cara”.</span></i><span style="font-size: 13pt;"> Aquela voz queria roubar o resto das minhas forças e me forçar a dormir entre a dor do sufocamento. Ao lado dele, aquele rosto ruim a me olhar e a se deliciar. Sussurrando aquelas vontades em seus ouvidos... Aquela mulher maldita. Elisa. Minha vista começou a enegrecer. Quis implorar novamente por minha vida, mas ela estava deslizando para fora de mim.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Com os olhos arregalados de desespero, eu o contemplei me encarar. Sim. Essa seria a última coisa que eu veria. O medo, a raiva, o ódio do meu pai. Seus olhos de bicho a me morderem. A vivacidade, enquanto tudo dentro de mim se apagava.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Não sabia o que pensar. Não lembrei minha vida e nem nada. Só encontrei sombras. Sombras. E aquela sombra não foi diferente das outras que vagavam perto de mim. Mas aquela sombra tinha olhos azuis e um ar diferente, até eu perceber que ela também possuía força. A força que abateu o meu suposto assassino. Os olhos de ódio perderam o brilho devagar, até as mãos soltarem meu pescoço e eu saber de novo o que era oxigênio.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Ainda entre aquele pesadelo e a realidade, Justin se apressou em desamarrar as cordas que me prendiam. Eu ofegava, sentindo uma dor enorme despedaçar a minha cabeça. <br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Amy? Amy, tá tudo bem?!<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Eu mal podia falar.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Tá... – meu rosto se contorceu. – ele ia... – minha voz era rouca.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Ia sim. Mas não vai mais. – Justin estava nervoso. Era a primeira vez que o via daquele jeito. – Foi um erro virmos para cá, precisamos ir embora agora!<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Eu estava livre. Justin me ajudou a caminhar, pois ainda me sentia tonta, então alcançamos a porta que levava até a parte de trás da cozinha. O sangue em sua cabeça havia secado. Saímos, sendo envolvidos por vozes e batidas violentas no andar de cima. Os espíritos deveriam estar furiosos conosco, podíamos sentir a atmosfera pesar sobre nossos ombros.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Justin catou o cordão com o crucifixo no chão e o entregou a mim. <br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Isso incomoda por causa da maldição... Não tire de novo ou tudo ficará pior.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Calei e recoloquei o cordão em meu pescoço. Ele formigou e fez meu coração bater mais rápido novamente. Justin pegou sua mochila e nós dois nos dirigimos até a porta.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Amy! – ouvimos meu pai gritar. Sua silhueta saía desengonçada detrás da porta da cozinha.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Ainda pensei em ver o que aconteceria, mas ele havia acabado de tentar me matar, então nós dois corremos para fora. As vozes e as batidas aumentaram, enquanto um vento gelado e aparentemente forte jogava areia em nossos olhos. O dia estava quase amanhecendo e o céu vermelho dava um ar assustador à minha obscura casa. Olhei para o vidro da janela do meu quarto e avistei Sofia. Ela parecia uma nuvem de fumaça, mas ao abrir a boca, soltou um grito altíssimo que me fez tapar os ouvidos. As folhas das árvores se eriçaram, balançando de lado para o outro como se quisessem escapar. A porta da frente tremia, enquanto que vidros se quebravam bruscamente. Podíamos sentir a força negativa daqueles seres a tentarem nos aprisionar. Uma sensação de cansaço e peso quase nos fez ceder.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Meu pai abriu a porta com voracidade, tendo nas mãos, uma faca enorme e lustrosa. Vinha meio cambaleante em nossa direção.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- E agora, o que faremos? – perguntei caminhando para trás.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Justin respirava rápido.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Não sei, não sei!<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Senti uma mão gelada tocar aflita na minha. Algo que vinha por trás.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Amy, por favor, precisa vir comigo. <br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Ainda estava apavorada com o susto, mas dei atenção ao pequeno Daniel.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- O que houve? É perigoso ficar aqui. – alternava os olhares para ele e para a figura tonta de meu pai que se aproximava.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Eu sei, eu sei – ele parecia angustiado. – É por isso que você precisa vir comigo... Precisa!<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Eu mal conseguia ouvir sua voz. A areia em nossos olhos também não deixava que nos víssemos melhor. Ele então pegou em minha mão e saiu me puxando para o bosque. Tive tempo de olhar Justin e tentar pedir que viesse conosco, mas ele virou o rosto e correu em direção ao meu pai. Por mais idiota que ele me parecesse, agora agia com uma coragem desconcertante.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Daniel tinha força, apesar de ficar cada vez mais gelado. Quando os primeiros raios de sol iluminaram a trilha, ele me puxou para o lado esquerdo, no meio de espinhos e plantas viscosas, escorregamos num declive de folhas lisas e terra preta. Eu estava ficando assustada, pois não sabia onde exatamente ele estava me levando e muito menos por que. Então, quando eu já ofegava e temia o que estaria acontecendo com Justin e meu pai, Daniel me mostrou uma clareira. Era um lugar amplo, um pouco escuro pela abóbada da copa das árvores e de aparência funesta. Ele parou de caminhar e centralizou o olhar para um puteal meio apodrecido. Parecia bastante com aquele atrás da cozinha da minha casa, mas eu não entendia. Havia mais espalhados pelo bosque?<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Parei de caminhar, e Daniel sutilmente soltou minha mão. Com o olhar estranhamente pousado sobre aquela espécie de poço, ficamos em silêncio por um longo tempo. De alguma forma, me senti muito sozinha por estar ali. Por mais que o menino estivesse ao meu lado, era como se não houvesse mais ninguém. O medo e o silêncio de seus olhos me fizeram entender... Eu deveria fazer aquilo. Fosse o que fosse.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Respirei fundo e caminhei em direção ao puteal. A terra era fofa no meio da clareira e quase não havia luz do sol. Segui hesitante, até virar o pescoço para ver Daniel. Para minha surpresa, ele havia desaparecido. Agora eu realmente estava sozinha. Cheguei mais perto e senti um cheiro horrível escapar pelas frestas. Por mais que eu tivesse medo, sabia que ali estava a chave de todo o mistério.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">- Mas... Como?<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Não precisava perguntar ou buscar explicações lógicas. Com a pouca força que tinha, empurrei o enorme bloco de concreto que tapava a o puteal. Depois de muito esforço, consegui movê-lo até a metade, então parei e recuperei o fôlego. Alguns pássaros passaram assustados por sobre a minha cabeça. Recomecei.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">O lume do bosque, ferroado pelo fedor que saia lá de dentro, me fizeram saber o que havia lá.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Uma ossada.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Tapei a boca o nariz com as mãos. E agora, o que eu faria? Meu coração acelerou. Algo se mexeu entre os arbusto ao redor da clareira. Eles estavam ali para enfim acabar comigo.<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">...<br />
</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Justin sangrava. A principio ele sorriu para mim, mas eu sabia que ele estava ferido. Corri em sua direção, enquanto ele encolhia o tronco, ajeitando a mochila nas costas.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">- Meu Deus, tá tudo bem?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Ele esticou a mão para que eu me afastasse.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">- Seu pai é forte, mas não é dois. – ele riu.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">- Como você chegou até aqui? – silvei.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Justin caminhou com dificuldade para perto do puteal.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">- Um menino... Ele disse que você estava me esperando.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Mordi o lábio.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Justin olhou os ossos dentro do vão.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">- Então era aqui que dormia o nosso amiguinho?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Sorri com alívio.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">- Tomara mesmo...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Percebi algo se mover entre os galhos. Sombras... Ouvimos gemidos.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">- Justin... – implorei. Ele tinha que ter uma solução prática. Os espíritos haviam chegado.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Seu rosto ficou sério. Forçando-se a caminhar mais rápido, ele tirou da bolsa que trazia consigo, um vidro médio e uma enorme garrafa, cheia de um liquido amarelado. Enquanto ele se apressava em despejar o sal sobre a ossada, percebi que a clareira ia diminuindo. As sombras iam se adensando, nos prendendo num tipo de armadilha.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">- Rápido Justin!!!<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Ele destampou a garrafa e jogou toda a gasolina sobre o sal. Quando então as sombras espessas estavam prestes a nos devorar, ele ateou fogo nos ossos, fazendo com que os espectros recuassem, em meio a sussurros e gemidos de dor. Olhamos para as árvores ao redor da clareira, e avistamos Sofia, Ben e Elisa a se consumirem pelas chamas. O bosque ficou em silêncio depois que todos os animais se encolheram de medo.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">- Estamos salvos?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Justin expirou.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">- Eu espero que sim.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">...<br />
</div>CURTAM O POSFÁCIL.Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-51633218308456213002009-12-02T06:36:00.000-08:002009-12-02T06:36:11.356-08:00Capítulo XIX – O quarto espirito<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2aTwVfK7aEcogHb8BEIGs9hmR9gPk61N97mWESrCbcxgdMAEGgfHLG5_EJfyIlvGrcGGQSZ4qbmbuDjYnUsp5HduGbWt4CyBBwNd3ivBJlVcK9YD3HtYnJWdrdVN5sOZeDGQnHpy7FbRU/s1600-h/credo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" er="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2aTwVfK7aEcogHb8BEIGs9hmR9gPk61N97mWESrCbcxgdMAEGgfHLG5_EJfyIlvGrcGGQSZ4qbmbuDjYnUsp5HduGbWt4CyBBwNd3ivBJlVcK9YD3HtYnJWdrdVN5sOZeDGQnHpy7FbRU/s320/credo.jpg" /></a><br />
</div><div style="text-align: justify;">Olhei para a lâmpada amarelada que pendulava acima do rosto de Justin, assistindo-a mover-se num apagar esdrúxulo e oscilante. Contemplamos teto escuro e o breu, seguidos de nossas respirações amedrontadas. Enfim, depois de me inclinar para mais perto dele, as luzes voltaram ao normal.<br />
</div><div style="text-align: justify;">Ouvi-o sibilar enquanto me olhava.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Temos pouco tempo. <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Nos levantamos e pagamos a conta.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- O livro está com você? – perguntei enquanto saíamos apressados do Dik’s.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Tá sim – ele puxou o livreto do sobretudo e voltou a escondê-lo.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Seguimos a pé até chegarmos ao lado movimentado do Santos Dumont. Logo que dobramos uma avenida, ouvimos a buzina de um carro chamar nossa atenção. Nos viramos e Natasha colocou o rosto para fora da janela do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pajero.<br />
</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Vocês têm uma boa explicação pra isso?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Oi pra você também – Justin parou de andar e virou-se irritado para a irmã.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Não me chamaram para o passei por que?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin me abraçou pela cintura.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Não sabia que você gostava de segurar vela...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Natasha ficou vermelha. Eu não me movia, nem respirava, achei muito estranho o que Justin estava fazendo, ao mesmo tempo em que adorava a expressão de raiva que via impressa no rosto daquela garota. Ela me odiava e estava detestando que seu irmão não sentisse o mesmo. No entanto, eu sabia que era só uma encenação.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Mas por que Justin fazia aquilo? Queria deixá-la zangada?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu continuei com minha expressão de inércia.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Tô indo pra casa – ela ficou séria – quer uma carona?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele olhou para mim e concordou.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- A Amy e eu queremos sim.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Natasha bufou.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Entramos no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pajero</i>.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O estofamento ainda tinha o cheiro forte de cigarro. Os vidros escuros nos deixavam invisíveis e quase protegidos. Justin foi na frente, ao lado da irmã, enquanto eu me mantinha muda na traseira. Por que iríamos até sua casa? Ele estava tentando chatear a irmã mais velha? Podia vê-la me furar com os seus olhos azuis furiosos, através do retrovisor. Com certeza me odiava mais.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Chegamos na casa de Justin e Natasha. Passamos pela fachada iluminada por fluorescentes brancas e atravessamos um pátio ornamentado com flores coloridas em inúmeros vasinhos. Natasha nos acompanhou, enquanto Justin não desgrudava de mim. Ela tentava saber o que eu faria lá, mas Justin não respondeu nenhuma de suas perguntas. Depois de não conseguir respostas, enfiou o rabinho entre as pernas e emudeceu.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Chegamos até uma sala linda, decorada com quadros e abajures de vidro delicados. Havia um sofá gigantesco e uma lareira de pedras marrom. Um homem robusto e ressonante dormia numa poltrona no canto da sala.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Passamos por ele e Justin murmurou:<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Esse dorminhoco aí, é meu pai.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Ele não vai se zangar por eu estar aqui?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin riu da minha pergunta.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Não vai não.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Natasha nos abandonou, com cara de pouco amigos. Trancou-se em seu quarto, depois de bater a porta e pisar fundo. Justin não lhe deu a menor atenção.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Enquanto andávamos até o final do corredor, tentei entender por que Justin rira de mim quando perguntei se seu pai se zangaria com a presença de uma garota desconhecida em sua casa. Pensei... Antes de mim, já deveriam ter passado por lá, várias outras.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Mas o meu caso era diferente. <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Chegamos até a porta de seu quarto. Imaginei que poderíamos ficar em algum outro lugar, no escritório no andar de baixo, por exemplo, mas tive receio de dizer isso a Justin. Afinal, ele estava sendo tão bom comigo... Totalmente o contrário do que pensei que era. Senti que poderia confiar nele, o estimava e temia por sua segurança também.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele destrancou a porta e nós entramos.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Me deparei com uma cama perfeitamente arrumada e uma gigantesca estante abarrotada de livros. Havia uma janela de vidros claros, coberta por cortinas azuladas. Era um quarto arrumado e agradável, frio e com cheiro de naftalina.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Pode ficar a vontade. <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin tirou o sobretudo e fechou as cortinas.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Seu quarto é... bem organizado.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele riu torto.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu estava tremendo.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Sentei na beira da cama e me mantive ereta. Justin se prontificou na cadeira da escrivaninha. Estava relativamente longe e eu não entendi por que. Ele ficou calado por algum tempo, olhando as minhas mãos inquietas se moverem sem rumo em meu colo. Depois de suspirar, levantou-se e começou a averiguar um caixa em baixo da cama.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu me inclinei e perguntei.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Quer ajuda?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Não... Obrigado...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Observei-o.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Tinha que falar o que estava pensando. Ou então eu sucumbiria até a falência múltipla de órgãos!<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- A sua irmã ela... Ela me odeia...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Isso é um bom sinal.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não entendi.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Por que?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele olhou pra mim e sorriu.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Por que você não é igual a ela.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Continuei sem entender.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Você parecia irritado com ela... Quando ela apareceu – sibilei.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele continuou a remexer uns papéis amassados dentro da caixa.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Nós somos irmãos, mas eu não aprovo em nada o que ela faz com as pessoas. – Justin observou as letras rabiscadas num papel e voltou a amassá-lo com rapidez. – Pensa que não percebo?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Emudeci. Ele sabia que tinha uma víbora como irmã? – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Nossa! Que babado...<br />
</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Nossa relação se restringe apenas à caronas até a escola, já que tem carro. Só isso, apesar de todos acharem que eu faço parte do grupinho dela... – ele desviou os olhos.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Enrubesci.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Eu achava isso...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin riu.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Achava?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Eu te achava um idiota também.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele parou de remexer dentro da caixa e me fitou sereno por um longo tempo.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Eu já fui um idiota. Há um tempo, com uma certa garota... Quando tive a oportunidade de mostrar a ela que eu não era mais, agarrei-a com força.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Estremeci.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Agarrou a garota ou a oportunidade? – sorri.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele riu e não respondeu. Voltou a vasculhar a caixa.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Quem é a garota? – murmurei.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin voltou a olhar para mim. Seus olhos sorriam, mas ele se deteve.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Novamente não me respondeu.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Tirou da caixa, uma minúscula sacola preta. Desatou um fiozinho branco que a fechava e tirou de lá um cordão incrivelmente bonito. Meus olhos brilharam involuntariamente. Ostentados e cheios.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- É bonito, não é? – ele o colocou na palma da mão. – É todo de prata, e esses cristais aqui no centro da cruz, são todos verdadeiros. – ele o estendeu a mim.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- É realmente lindo... – admirei.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- E agora é seu.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Atônita, perguntei.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Meu? Como assim?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin se levantou e sentou-se ao meu lado.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Gastei cinco meses de mesada nessa peça, cacei-a em lugares inimagináveis até encontrar a verdadeira. É um talismã forte contra espíritos, e no momento, quem mais precisa dele é você.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Meus lábios se entreabriram numa recusa. <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Mantive-me calada.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Eles não poderão tocar num fio de cabelo seu, pelo menos por algum tempo, enquanto achamos o túmulo do Ben.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu não podia negá-lo.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Obrigada. – tentei sorrir. – Espero não ser roubada.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin se ofereceu para colocá-lo em mim.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Tentei dizer que não precisava, mas ele insistiu.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Tá...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele se inclinou para perto do meu rosto e enfiou suas mãos entre os meus cabelos. Enquanto tentava terminar de colocá-lo, olhava para mim de um jeito estranho... senti vontade de beijá-lo, mas me detive por que seria muito ridículo fazer aquilo, naquela altura do campeonato!<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pare com isso, Amy, pare, pare! </i>– berrei dentro da minha cabeça.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ouvi um estalido e senti o peso do pingente.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pronto, já terminou...</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Pensei em respirar aliviada, mas Justin continuou imóvel com o rosto perto do meu. Não entendi por que ele estava fazendo aquilo, tentei me afastar, mas não conseguia, no fundo eu não queria. Poderíamos ficar assim a noite toda...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Suas mãos acariciaram meus cabelos por trás, enquanto ele se aproximava dos meus lábios.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Alguém bateu na porta.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Foi como um tapa na cara. Eu me encolhi e Justin respirou fundo. Levantou-se e foi ver quem era.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>Virei-me<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>em direção à porta, para sutilmente dizer “oi”.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>Estava morrendo de vergonha e conseqüentemente estava com o rosto vermelho.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A Natasha apareceu pálida.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Vocês podem fazer menos barulho? <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Você se drogou muito hoje? – Justin se irritou.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Cala boca! Manda essa garota calar a boca. – gritou.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu não entendi nada, a Natasha tava muito pálida, com a boca roxa e as pupilas dilatadas. E nós, Justin e eu falávamos tão baixo, não teria como ela nos ouvir do seu quarto. Temi o que estava prestes a acontecer.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Me levantei da cama.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Justin... – sussurrei.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A Natasha enfiou as mãos entre seus cabelos, encolhendo o corpo de uma maneira perturbada. <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Calem a boca, parem de gritar!!<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin olhou para mim com uma cara preocupada. Eu estava apavorada.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Meu Deus...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Vi a garota mais popular e prepotente do mundo (o meu) desabar inconsciente. Corri em direção a ela, sem saber o que estava acontecendo. Justin carregou-a até sua cama e saiu para procurar um vidro de álcool no armário do banheiro, pedindo a mim que ficasse de olho em sua irmã.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Sentei-me ao seu lado na cama e procurei seu pulso.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ela não tinha.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Estava tão fria...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Meu Deus...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Passei a mão na testa.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ela estava morta... Morta... Tínhamos que procurar socorro rápido!<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Meu Deus...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">De repente, senti sua mão fria apertar meu braço.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Deus está morto!<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Foi um susto horrível, enquanto eu puxava meu corpo para longe daquele ser horrendo. A garota linda e egocêntrica que eu me acostumara a ver, havia se tornado um tipo de demônio. Seus olhos azuis eram agora esferas pretas, secas, sem vida alguma. Sua pele bem tratada estava sem brilho, tal como a pele de um cadáver.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ela se ergueu enquanto eu me afastava. Em pânico...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Lembra de mim, Amy... – eu conhecia aquela voz, ouvira ainda naquela noite, enquanto fugia pela estrada de terra.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Meu Deus... – meus olhos se encheram de medo.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Deus está morto! – ela esbravejou.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin correu até o quarto. Achou minha cara assustada e sua irmã, com um macabro olhar assassino.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Natasha...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Esse é o nome da dona desse corpo? – a garota começou a se arranhar e a gritar.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin correu até a escrivaninha e procurou uma garrafa transparente.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Abriu-a e jogou em cima do corpo da irmã, que se debatia e se auto-flagelava.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O líquido chiou quando tocou a pele de Natasha, mas ela não se incomodou em nada.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- A água benta não tá funcionando...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Meu Deus...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin teve outra idéia.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Correu até o sobretudo e pegou o livreto. Caçou uma página e iniciou o que parecia ser um mantra. Eu estava paralisada no canto do quarto. <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin falava em latim.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Natasha parou de se contorcer depois da terceira frase. Imobilizada sobre a cama bagunçada, tinha os olhos parados em mim. Ofegava, com um sorriso mal em seus lábios pálidos.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Eu vou pegar você...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Me encolhi e desviei os olhos.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ela ainda se contorceu um pouco antes de voltar a si. Fazia uns sons estranhos e parecia embriagada. Suspirou cansada e adormeceu.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Levei minha mão até a boca, enquanto uma lágrima rolava de um dos meus olhos.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin parou de entoar o mantra e fechou o livreto atordoado. Foi para perto da irmã e verificou sua temperatura. Ela estava voltando ao normal.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- O que foi isso? – murmurei.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele procurou seu pulso.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Alguma coisa possuiu o corpo dela.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Um... um demônio? – uni a sobrancelhas.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Não... – Justin não olhava para mim – Um demônio não sairia assim tão fácil... Foi um espírito.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Eles podem fazer esse tipo de coisa? – caminhei para perto da cama.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Podem. Mas isso depende da pessoa em questão. – Justin ajeitou os braços de sua irmã para que ela não ficasse desconfortável. – Minha irmãzinha aqui tem sido má ultimamente... Um coração mal atrai o mal.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ofeguei.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Ela vai ficar bem, não vai?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin ficou em silêncio. Parou o que estava fazendo e respirou fundo.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Olhou pra mim.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Agora ela vai.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Agarrei a cruz pesada do cordão e fechei os olhos devagar. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu era culpada?<br />
</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Sentamos no chão, sem saber o que falar um ao outro.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Era como se tudo ao redor, o oxigênio, o raciocínio, nossas tolas palavras, tudo estivesse se quebrando. Olhei no relógio de cabeceira, dez e cinqüenta e cinco. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O que eu faria da minha vida? Para onde eu iria? Como tudo terminaria?</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Deixei meus olhos caírem no chão.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- O colar protegeu você... – Justin quebrou o silêncio. – Não te machucaram.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Toquei no colar e sorri.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- É...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Você faz idéia de quem era? O espírito...?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Não sei... Quer dizer... Não tenho muita certeza...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Nomes...?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Acho que foi a Elisa.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- A mulher?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Sim... – olhei para Justin – Acho que ela está me seguindo desde a estrada de terra.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele suspirou e ficou em silêncio.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Era ela, então, sentada no meio fio, com a respiração calma e os olhinhos pretos?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Mas a voz parecia diferente... Não era Elisa. Ouvira sua voz fina e praguejante enquanto corria assustada e podia até sentir suas unhas cravadas em minhas costas. Ela era tão má... Meu Deus. Havia mais algum espírito que eu não conhecia?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A silhueta que falara comigo no meio-fio, possuía uma voz mansa e fraca. Não havia tentado se aproximar de mim ou me fazer mal, e olha que era bem fácil. Se eu estivesse um pouco mais calma...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Não era Elisa... Ela havia me perseguido, tinha certeza! Mas não foi sua voz que me disse aquelas duas frases. <br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eram dois espíritos diferentes.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Ben, Sofia, Elisa... – sibilei – existe um quarto espírito, Justin.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- O quê? – ele se ergueu.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Existe mais um.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Não sei exatamente por que não contei a Justin que vira uma sombra e ouvira sua voz depois de cair na estrada de terra. Fosse isso, talvez, pelo nervosismo e apreensão que eu me encontrava, ou pelo fato de eu não ter dado devida atenção ao fato. Eu não sabia. Mas depois disso, tudo parecia tão bem definido, as vozes, tão diferentes...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Contei tudo a ele.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Mas, não poderia ser a Sofia? – questionou.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- A Sofia não tem um vocabulário tão extenso, e mesmo assim, a voz ainda era diferente.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- E o Ben? – continuou.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Não acredito que seja ele... Era como uma voz de criança...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Você não imagina quem seja?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Não... – passei a mão na testa – Eu já ouvi essa voz em algum lugar, mas não sei de quem é...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin coçou a cabeça.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Isso é mal...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu não tinha tanta certeza quanto a isso, mas parei para analisar.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- O que essa tal voz te disse mesmo?<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Você não deveria fugir. A saída está perto de casa”.</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Se eu não estivesse tão apavorada, poderia ter estudado melhor toda a situação. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O que aquilo significava? Era uma espécie de ajuda?<br />
</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Mais um espírito pro time – Justin riu. Sabia que estava preocupado demais para demonstrar.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Meu Deus... Aquilo não poderia piorar...<br />
</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">...<br />
</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">...<br />
</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">...<br />
</i><br />
</div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-68796287277566211622009-11-25T12:49:00.000-08:002009-11-25T12:49:00.940-08:00Capítulo XVIII – O livreto<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifCM2M1Lt8GTdB9RhL11bz9LrF9nlPf_aUhXtWc9pdlLip856dQHo8CnIT8Mi6h6nt_1gqrzIDb6pvVpMXYVVerTSmK4X4yMCQbJhsXEy4QtjJzqCDOdZ9hUO76aWIqypcgu5iWWDpjtWE/s1600/livreto.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifCM2M1Lt8GTdB9RhL11bz9LrF9nlPf_aUhXtWc9pdlLip856dQHo8CnIT8Mi6h6nt_1gqrzIDb6pvVpMXYVVerTSmK4X4yMCQbJhsXEy4QtjJzqCDOdZ9hUO76aWIqypcgu5iWWDpjtWE/s320/livreto.jpg" yr="true" /></a><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Amy?<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>O que houve?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O meu fôlego fugiu de mim. Meus olhos descansaram e eu consegui destravar os meus músculos.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Era a voz de Justin.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Virei para olhá-lo, agora eu me sentia menos perdida.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Não contive o meu alivio, e quando dei por mim já havia colado o meu rosto em seu ombro, com os braços envoltos em seu tronco e os olhos molhando seu sobretudo escuro. Ele demorou cerca de dois segundos para retribuir e me abraçar ternamente. Percebi que ele não esperava algo como aquilo vindo de mim. Eu o havia surpreendido.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- O que aconteceu...?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Sua voz era mansa e preocupada, enquanto eu tentava parar de chorar e soltá-lo, sutilmente.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Não havia o que responder, se tentasse, as palavras surgiriam como pontas soltas, sem rumo, sem motivos. Nenhum dos dois conseguiria entender absolutamente nada e eu ainda ficaria com a maior cara de idiota depois.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Consegui tirar os meus braços de seu corpo, agora me mantendo encolhida, com a cabeça baixa e os olhos caídos no asfalto. Justin continuou perto, olhando para mim em busca de respostas. Além da vergonha, eu estava tonta. Zonza. Aos trapos.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele chegou perto do meu rosto e sussurrou:<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Vamos, vou te levar pra um lugar seguro.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin me fez sentar na calçada enquanto chamava um táxi pelo celular. Eu evitava olhar para ele, mas podia vê-lo me observar oscilante, desviando os olhos para a rua e para mim.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Sabia que o deixava muito mais aflito com o meu silêncio, mas não tinha ânimo e nem energia para contar aquelas coisas a ele. De algum jeito eu devia me manter muda, para não jogar palavras em vão. <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O frio penetrava em meus ossos. Me agarrei ao casaco e olhei para o céu.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Menos de três segundos.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">siena</i> branco surgiu na rua, Justin fez sinal e ele parou. Depois de cumprimentar o taxista com um aceno de cabeça, Justin foi para perto de mim e se agachou.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Olhou para mim por algum tempo, enquanto eu levantava os olhos para ele.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Foi só um sorriso. Um sorriso consolador a uma garota assustada.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele me ergueu a mão e eu a peguei, após hesitar um pouco.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Estávamos dentro do táxi, vendo as figuras se distorcerem enquanto passávamos em alta velocidade. Me mantive com a cabeça baixa, sentindo meus cabelos aquecerem minha nuca. Justin olhava para mim, com os olhos fixos e indecifráveis. Talvez esperasse que eu sibilasse algo esclarecedor, que não o fizesse imaginar que a idéia do sal fora uma grande idiotice da sua parte. Talvez ele se sentisse culpado e não conseguisse esperar que eu, enfim, lhe roubasse toda a sensação de culpa, caso estivesse equivocado.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O silêncio instalou-se como uma quarta pessoa.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Perturbador...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O estofado era frio e o taxista olhava para nós dois pelo retrovisor interno do veículo. Levemente aturdido, tentando descobrir por que tipo de apuros nós dois estávamos passando. Acredito que milhares de hipóteses surgiram em sua cabeça, olhando tão de perto uma garota abatida, achada numa calçada fria sendo acompanhada por um garoto preocupado.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Suspirei.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O taxista ajeitou o retrovisor.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Vocês são irmãos?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Olhei furtivamente para Justin, logo depois baixei os olhos e respirei fundo. Era a primeira tentativa de saciar curiosidades. Esperei que meu parceiro de assento nos livrasse de mais perguntas.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin tentou descontrair o clima, impondo uma fala mais despojada.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Somos sim. – olhou para mim em busca de aprovação. Permaneci sem olhar para ele, mesmo vendo perifericamente a sua apreensão mascarada. <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O taxista assentiu com a cabeça, um tanto incrédulo. Tamborilou levemente os dedos no volante, desconfiado.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Imaginei que ele fosse ficar em silêncio e não mais falar nada. Justin também, pareceu meio avulso para mentiras, mesmo aquelas mais ridículas e apelativas. Talvez o seu tato estivesse temporariamente inativo. Ele poderia se esforçar e finalmente estragar tudo.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu queria apenas chegar a um consenso comigo mesma. Precisava parar de rodar e rodar em torno dos meus medos. Tinha que achar um equilíbrio entre as coisas que estavam me consumindo.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Respirei fundo e amassei os dedos, dirigindo os olhos para os vidros da janela do carro.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- A mocinha parece assustada...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu realmente me assustei quando a voz do taxista me puxou para fora dos meus próprios pensamentos. Virei a cabeça bruscamente para olhar a feição que deveria me fitar através do retrovisor do veículo. <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin riu amarelo.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Ela foi roubada...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Olhei para o escuro e duvidoso olhar do taxista. Obriguei-o a acreditar em mim.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele assentiu com a cabeça.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Cidade perigosa...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin olhou para mim de soslaio.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- E como.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O homem se calou. Que tipo de pecado terrível nós dois poderíamos ter cometido? Soávamos quase inúteis, quase como esboços de gente. Não tínhamos nenhuma aparência incomum e nem parecíamos perigosos. Justin e eu apenas exalávamos a eloqüente sensação de temor. Perturbação. Qualquer um percebia a nossa aflição.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Não sabia para onde estávamos indo, passamos mais devagar pela frente da igreja, vendo suas portas de vidro colorido fechadas. A princípio, pensei que Justin me levaria para sua casa, mas ele nem ao menos entortou os olhos para vê-la. <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Olhei para meu amigo de assento, o que estaria pensando naquele momento?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Dez minutos e Justin se pronunciou:<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Aqui, amigo...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O táxi parou. Olhei para fora, vendo uma semi-iluminada fachada de algo que parecia um restaurante. Uni a sobrancelhas e tentei lembrar se conhecia aquele estranho lugar.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin pagou o motorista e abriu a porta. Saindo dos meus raciocínios, destravei a porta do veiculo e saí também, ainda ouvindo o leve “boa noite” do taxista.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Parei cerca de vinte metros em frente ao estranho lugar e o observei.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O táxi cantou pneu atrás de mim. Justin estava parado e quieto ao meu lado.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O vento atravessou meu corpo, enquanto nos víamos totalmente sozinhos.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Que lugar é este? – sibilei.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin virou o rosto para mim e sorriu torto.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Meu antro particular.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Não havia graça naquilo que me pareceu uma piada.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Continuei olhando para as luzes avermelhadas que formavam o nome “Dik’s” no alto de um prediozinho. Havia um conjunto de caminhos estreitos e limpos que levavam até a entrada do lugar. Era silencioso e um pouco escuro depois de uma porta de vidro. Ao redor, alguns carros sem nitidez jaziam parados, todos sendo fixados por um lume fraco. Havia algumas árvores encolhidas por cima de um gramado aparado e sombrio. Rodei os olhos e não achei uma alma viva por perto. Por mais contraditório que pareça, eu me senti melhor. Me senti quase inteira.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Podia fazer uma cara de choro e não pagar de idiota.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Antes que você me explique alguma coisa, e você vai me explicar – Justin ficou de frente para mim – A gente vai entrar e você vai comer.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Não respondi. Fiquei olhando para ele, tinha que dizer que não conseguiria comer nada. Não queria comer nada.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Tá legal?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Continuei muda.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin tocou meu ombro, num gesto de cumplicidade.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Tá legal...? – repetiu.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Demorei, mas assenti com a cabeça. <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Caminhamos devagar até a porta, Justin a abriu para que eu entrasse primeiro, mas não tive coragem de encarar o que havia dentro do estabelecimento. Não desejava que as pessoas normais lá dentro se assustassem com a minha fisionomia horrenda, e nem queria me sentir ainda pior com a força violenta de cada olhar. Ele respirou fundo, devia estar me achando muito teimosa por aquele recusa. Por fim, Justin tomou a frente e entrou primeiro. Eu o segui, agarrada ao meu casaco, tentando não parecer tão estarrecida quanto eu já era.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Preparei-me para os cortantes olhares, mas tudo que encontrei foram pessoas acídias e fúnebres como eu, semi-enterradas em cadeiras acolchoadas, sussurrando conversas mornas num burburinho inaudível. Parei e respirei. Ninguém nos enxergou.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A luz fraca, alternando para o vermelho e o marrom, mostravam que quase tudo e todos eram engolidos pelo escuro. O ar frio e ao mesmo tempo acolhedor inebriava com um tipo de sono, puxando corpos cansados a um cantinho reservado e aparentemente seguro. Nunca me senti tão bem num lugar público.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin tirou minha atenção.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Vamos sentar, Amy. <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Nos acomodamos. Ainda tentei achar algo que me mostrasse que aquele lugar era só uma alucinação calma da minha cabeça, mas não encontrei nada que comprovasse a minha tese. Não sei se o som que nos circundava era algum tipo de canção, mesmo sentindo que ele me levava a perceber uma melodia. Ainda que meus temores estivesse pesando dentro do meu corpo magro, era como se todos ali fossem exatamente como eu. <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Respirei o ar gelado e olhei para Justin, com o rosto sério e as mãos cruzadas sobre a mesa.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Que lugar é esse? – inclinei meu corpo para frente.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O lume amarelado de uma lâmpada minúscula que pendulava acima do rosto de meu amigo, o deixava assustadoramente com uma feição madura. Seu olhar apelativo buscava as respostas no meu, pairando ainda meio longe da minha pergunta.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O vi levantar a mão e fazer sinal para uma mulher no canto do estabelecimento. Imaginei que Justin não me responderia, que até mesmo estivesse zangado comigo por algum motivo que eu não sabia. Recuei e me mantive calada. Ele olhava de soslaio um simplório menu no centro da mesa.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A mulher que chegou até nós, era extremamente peculiar. Tanto por sua fisionomia oca, tanto pelas cores fortes e soturnas que escureciam seu olhar esverdeado. Os cabelos de um louro branco a fizeram parecer exatamente mais branca que eu. Quase não acreditei. Ela não tinha expressão nenhuma.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- O que vão querer?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Não falei nada.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin olhou pra mim. Sabia que não esperava nada mais que meu silêncio.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Traga um chocolate quente e alguns biscoitos de mel.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A mulher assentiu com a cabeça e se retirou.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Cruzei os braços. Não comeria aquilo, não estava com fome.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Descobri esse lugar sem querer. – Justin quebrou o gelo – Tinha brigado com meu pai, fiquei andando sem ter pra onde ir... Entrei por curiosidade e acabei gostando.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- É estranho... – demorei pra responder.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin se inclinou para frente.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Pensei que pareceria seguro...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Quis dizer a Justin que parecia realmente muito seguro, mas me mantive calada. Respirava o fôlego cansado dos meus pulmões e olhava seu rosto perante o meu. Ele não desviava os olhos, me dando uma nítida impressão de serenidade.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Vai me contar o que aconteceu?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A voz dele sempre era calma quando me fazia aquelas perguntas difíceis. Enquanto eu tentava não me contorcer ou acreditar que estava sendo espionada por <i style="mso-bidi-font-style: normal;">eles</i>, respirei fundo e me inclinei para a mesa. Minhas mãos começaram a tremer enquanto eu buscava um pouco de indiferença.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Comece do início e tudo fica mais fácil...”.</i><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Aquele consolo medíocre nunca ajudava.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Não sei... Não sei o que aconteceu... – passei a mão na testa – quer dizer, eu sei...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Relaxa Amy...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Olhei pra ele e respirei fundo. <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin ficou muito estranho. Agitado quando eu terminei de contar os fatos do capítulo anterior. A mulher dos olhos verdes trouxe o pedido e ele sibilou:<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Você precisa comer...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">A aparência dos biscoitos era realmente muito boa. Então meu estômago começou a implorar por eles, quase gritando! Olhei, ainda tentei me negar, mas Justin me fitava, e os olhar me dizia para não criar mais problemas.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Acabei comendo.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Não imaginei que chegaríamos a esse ponto. – ele cortou o silêncio – o sal sempre funcionou com espíritos ruins...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Eu acho que eles ficaram mais fortes...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Ou mais furiosos.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Estremeci.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Sou uma burra mesmo... <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- A culpa não é sua, Amy. Se culpar não adianta nada...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Você vai me ajudar não vai? – grunhi.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin se inclinou para a mesa.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Vou dar tudo de mim pra te ajudar.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Me senti melhor. Depois o olhar dele me incomodou.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Como a gente começa isso? – perguntei.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele respirou fundo.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Esse assunto sempre me instigou. Antes de conhecer você eu já lia sobre espíritos, possessões, maldiçoes, coisas do tipo. Sempre imaginei que talvez isso pudesse me servir, ou que eu poderia fazer algo com base no que sabia sobre o assunto. Bom, quando vi a marca no seu pulso, pressupôs dois caminhos pra você: Ou você morreria ou então se livraria da maldição. Mas então, você parecia tão assustada, e eu percebi que você não sabia o que fazer.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ouvia tudo sem piscar.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele continuou.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Foi difícil te convencer, garota. Mas se eu desistisse... Então, depois que você me deixou ajudar, já que isso é o mais importante, fui à biblioteca da escola.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Na biblioteca da escola?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- É... Por incrível que pareça, eles têm muitos livros sobre bruxaria, atividades paranormais e sobrenaturais. Talvez seja para alguma aula de história mal elaborada, não sei dizer. Sabia que tinha visto a marca no seu pulso, em um dos livros de lá, só não lembrava em qual. Passei a tarde pesquisando, até que eu o encontrei. – Justin puxou de dentro do casaco, um pequeno livro, com uma grossa capa de couro envelhecido. Havia rabiscos confusos e biformes na frente, e umas palavras estranhas no verso.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Isso é... Latim?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Algumas palavras sim, mas poucas, consigo entender algumas coisas...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Você sabe latim?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Ele enrubesceu.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Um pouco.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin abriu o livro e pôs-se a vasculhá-lo. Eu o espreitava, sentindo o ar do Dik’s me abraçar friamente. Olhei para o lado e havia um homem trincado, contemplando o vazio. Logo Justin chamou minha atenção.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Aqui está! – ofereceu-o a mim.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Puxei a manga do casaco e comparei os desenhos... eram idênticos.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Então...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- É uma maldição com certeza.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Passei a mão na testa e tentei me manter calma.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Relaxa Amy...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ele não tinha outra frase consoladora?<br />
</i><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Aqui diz que alguns espíritos, dependendo de sua força psíquica, podem ferir e até matar pessoas. Marcam o corpo de suas vítimas para que elas não se percam ou tenham a possibilidade de fugir. <br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Aí diz o motivo?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- É só cruzar o caminho deles e você já está condenada.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Baixei a cabeça.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin olhou para mim por alguns segundos.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Hei Amy... – olhei para ele – Isso não significa que você seja ruim, ou que mereça morrer... Esses espíritos são movidos por seu ódio cego, onde eles vem em qualquer um o causador de seu sofrimento...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Eu vou morrer, não vou?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin olhou firme pra mim.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Só se for de velhice.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Acabei rindo.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- O sal deveria te manter a salvo deles enquanto eu terminava de pesquisar, mas eles devem estar fortes demais...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- E quanto ao meu pai? O que está havendo com ele?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Mais uma vítima... É bem provável que eles estejam manipulando seu pai. Brincando com as sensações e com as atitudes dele.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Acho que ele quer me matar também.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Ele não quer... Os espíritos que querem.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Ele corre riscos?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Todos correm.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">...<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">O relógio se aproximava das nove e quinze da noite.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Justin tinha os olhos colados no livreto.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Eu tentava pegar algo no ar.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Temos uma chance... – ele sibilou.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Qual? – acendi os olhos.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">- Você sabe onde Ben está enterrado?<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt; text-align: justify;">Congelei. <br />
<br />
</div>As luzes do Dik’s começaram a piscar.<br />
...<br />
...<br />
...Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-92100443313064493802009-11-09T14:12:00.000-08:002009-11-09T14:12:23.341-08:00P.s. do dia... o.O<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3RQG7dmVWPNM4CLks_KPN2_lNTDMsFwpyDtv3_PQwZbb37HTTkLOhbZIdT_7NprWtj5J5n710-v3dRw2X8lVJqKbT86cQK2_XaWUXyLYSGWQ-SrPHmGFGSXDGD2iPTXtWpY6yjGB4RMN0/s1600-h/yu.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" sr="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3RQG7dmVWPNM4CLks_KPN2_lNTDMsFwpyDtv3_PQwZbb37HTTkLOhbZIdT_7NprWtj5J5n710-v3dRw2X8lVJqKbT86cQK2_XaWUXyLYSGWQ-SrPHmGFGSXDGD2iPTXtWpY6yjGB4RMN0/s320/yu.jpg" /></a><br />
</div>Curioso pra saber o final do Diário?<br />
Têm acontecidos coisas realmente estranhas por aqui..... Eu queria muito postar o capítulo seguinte, mas não consigo.....<br />
Quase eu desisto de concluir o Diário, mas vi que me deixar calar por algumas bobagens nao vale a pena.<br />
Ah, o Hugo também tem culpa por eu continuar ^^ Meu amiguinho!!<br />
hehehehehe<br />
Prometo continuar logo, é só o tempo de essas "coisas" aqui pararem de encher o saco. Voltem pros seus túmulos e calem a boca.<br />
XD<br />
<br />
bjs ao povo que continua. E se alguém tiver convite do novo orkut por favor me manda!!!!!!!!!!!!!!!!<br />
<br />
inté galera. Durmam bem...... Se conseguirem dormir.........Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-9964288579363805492009-09-14T07:13:00.000-07:002009-09-14T07:13:37.037-07:00Capítulo XVII – Mancha Negra<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmq3_yUtLjFVLoqCqqsue-4Z1fNWdWC1gBb5PJ9_LevnXT1iKENtbjbu0l6gVmN69Yxv09l-4tfZMJVMv4cwbUkWi7JG9SNYja_L-872KcvQNGMdKyuAiiabsxxMTt6xR_sTZ5bOp0zwoc/s1600-h/AB8BSIPCA5S4ZBACACBSJJJCA0WIHYNCA2GG5F2CA6IJTP6CABF55XFCAQAR7BICAV9GC2NCAX4EZTSCA2QRS64CAUTH7WJCAWBZZF1CA0RYSU5CAN1XPBECA4HVV96CA3NZRMOCA0VB051CASEO4EC.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" mq="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmq3_yUtLjFVLoqCqqsue-4Z1fNWdWC1gBb5PJ9_LevnXT1iKENtbjbu0l6gVmN69Yxv09l-4tfZMJVMv4cwbUkWi7JG9SNYja_L-872KcvQNGMdKyuAiiabsxxMTt6xR_sTZ5bOp0zwoc/s320/AB8BSIPCA5S4ZBACACBSJJJCA0WIHYNCA2GG5F2CA6IJTP6CABF55XFCAQAR7BICAV9GC2NCAX4EZTSCA2QRS64CAUTH7WJCAWBZZF1CA0RYSU5CAN1XPBECA4HVV96CA3NZRMOCA0VB051CASEO4EC.jpg" /></a></div>Não me lembro bem o que me acordou. Mas meus olhos estavam muito secos quando os abri. Eles ardiam. O céu estava escuro e o vento esvoaçava as cortinas perto da cabeceira da minha cama. Eu me sentei e ouvi o som de um carro chegando.<br />
<br />
- Papai...<br />
Queria olhar para ele, ser um pouco gentil. Mesmo que tivesse que sair do quarto, atravessar o corredor e descer. Minha Nossa! Aquilo me deixou em pânico!! Mas a pena... A culpa por sentir que o havia abandonado... Aquilo falou bem mais alto.<br />
Corri para o banheiro e escovei os dentes. Dei umas leves batidinhas nas maçãs da face para me dar um ar mais saudável, molhei o rosto e tentei sorrir.<br />
Que droga... Eu continuei horrível.<br />
Vesti o casaco que deixara jogado no chão e parei, em frente à porta.<br />
Péssima hora para desistir, era como se houvesse uma parte de mim do lado de fora. Ela me chamava, ela precisava de mim para sobreviver. E como eu, ela estava morrendo de medo também.<br />
Respirei fundo e estreitei os olhos. Sem dar nenhum passo a mais, ergui a mão em direção à maçaneta...<br />
As luzes começaram a piscar.<br />
Eu olhei para o teto escuro, para as fluorescentes brancas e sólidas. Implorava para que não se apagassem.<br />
Elas voltaram a piscar novamente, fazendo um tipo de zumbido não muito alto. Irritante.<br />
...<br />
Eu me mantive congelada. Queria me esconder em algum lugar, ligar para alguém e pedir que viesse até mim. Alguém para eu poder olhar e perguntar: “Você viu isso? Ó meu Deus, eu estou morrendo de medo!”<br />
Mas não. Não havia ninguém lá. Ninguém confiável, quero dizer.<br />
... <br />
As luzes piscaram com mais força e rapidez logo em seguida. Apavorada, corri para o criado mudo e peguei o crucifixo, enrolando-o entre os dedos. Meus olhos pediam socorro, mas eu me mantive calada.<br />
Poderia ser um simples problema na fiação da casa, uma queda de energia comum. Mas não... Exatamente não. Não era bobagem nenhuma acreditar que eram eles. Eles. Estariam com raiva por eu ter impedido sua entrada em meu quarto solitário?<br />
...<br />
Apertei a cruz com mais força, meus lábios se mexiam, mas não sei qual oração eu recitava. Só estava lá, falando, congelando.<br />
Ainda de pé, eu olhava a porta, me perguntava se era uma boa idéia sair. <br />
...<br />
As luzes não se decidiram. Continuaram oscilando, ora me deixando no breu, ora me deixando no claro. De qualquer forma, não pude fazer nada. Estava de mãos atadas.<br />
Olhei para a janela de vidro e pensei em como descer por ela.<br />
Depois eu ia até o carro do meu pai, fazia ligação direta e fugia.<br />
...<br />
Fugia? Não, mas para onde?! Aquela era minha casa!!<br />
Fiquei confusa, uma lágrima caiu de um dos meus olhos.<br />
...<br />
Abaixei a cabeça e apertei o rosto.<br />
Uma batida violenta e desproporcionalmente alta soou em minha porta.<br />
Não como a batida que ouvira durante a tarde, agora era realmente mais furiosa e obstinada. Dei um passo para trás e olhei para a madeira. Muda.<br />
A batida se repetiu por cerca de três vezes, enquanto as luzes piscavam e eu tentava não desmaiar de pavor. Após limpar o suor nervoso que escorria por minha testa, ouvi a voz do meu pai do lado de fora.<br />
- Amy... Amy abra a porta Amy...<br />
Eu não respondi, mesmo que as palavras quisessem se atirar da minha boca. Tentei respirar calmamente.<br />
Ele continuou.<br />
- Filha...? Filha você tá aí? – sua voz quase ficou doce. – Ó meu Deus... O que está acontecendo comigo?... Por favor, abra a porta... Ajude-me!<br />
Eu não me movi.<br />
Forcei-me a ignorá-lo.<br />
Ficou silêncio e a batida se fez no andar de baixo, mais precisamente na sala. Não sabia se era meu pai quem realmente pedia socorro, mas consegui caminhar para perto da porta. Queria ouvir ou imaginar o que estava acontecendo no corredor.<br />
Escorei o ouvido na porta e esperei.<br />
...<br />
Havia algo resfolegado. Cansado e com cheiro de bolor. Fiquei ali por cerca de cinco segundos, até a batida violenta e furiosa me lançar para longe da porta.<br />
- Amy! Abra a droga dessa porta!<br />
Era uma voz grotesca.<br />
Tapei a boca para não gritar ou acusar a minha presença, mesmo que fosse bem óbvio eu estar escondida dentro do quarto. Só sentia que não deveria fazer nada estúpido, tinha que esperar aquilo passar, esperar que esquecessem de mim e do sal.<br />
Eles não entrariam...<br />
Entrariam? <br />
...<br />
Justin logo chegaria. Sim, às sete e meia. Secaria os ponteiros do relógio com os olhos, enquanto eles giravam, abandonando aqueles intermináveis segundos. Que não iam.<br />
Olhei para o relógio ao lado da cabeceira da cama... Sete e sete da noite.<br />
Continuei olhando para os ponteiros, queria sentir que meu corpo despencava e que minhas pálpebras se abriam. Enfim, era tudo um terrível pesadelo. Eu estava saindo de um péssimo cochilo.<br />
Não houve nada.<br />
...<br />
Eu ali, com os olhos transportados e maleáveis de tanto implorar, pude sentir o oxigênio ao meu redor cair e quebrar-se no chão. Tudo ficou temporariamente morto por quase um minuto. Não consegui respirar e nem me mover. Tentava gritar de uma vez por todas, mas não, não dava pra puxar fôlego. Era como se estivessem apertando os meus pulmões. Como se estivessem tapando a minha garganta.<br />
Foi quando um arrepio quente me fez contrair os músculos. Um silvo inaudível saiu da minha boca e as minhas pupilas se dilataram. As luzes se mantiveram apagadas por completo, e a lua grande e lustrosa no céu negro iluminaram o quarto como um farol distante.<br />
Era a hora da aurora.<br />
...<br />
Um sopro gelado e cortante soprou entre todos os cômodos da casa. Pude ouvir o seu flutuar fantasmagórico me procurar e gemer o meu nome. Me mantive imóvel, com os olhos na porta. Não. Eu não queria estar certa. Eles não entrariam.<br />
Tudo era relativamente sombra, sem muita cor. Todo o papel de parede alaranjado havia desbotado. Sem mais som, o sopro alcançou o corredor, vindo de encontro à minha porta. À minha proteção.<br />
Foi o meu nome e aquele sopro que sacudiram as partículas de sal, trazendo-as para dentro do quarto, por baixo da porta. Tudo que eu acreditava me deixar mais segura, havia acabado de ser expelido, sem esforço nem problemas. Os grãozinhos minúsculos foram se separando uns dos outros, formando uma desengonçada e esporádica marca branca no carpete. <br />
Dispersa e inútil.<br />
... <br />
As luzes se acenderam com bastante força nesse momento, a do banheiro não suportou a alta carga de energia a acabou por estourar. Tomei um grande susto, girando o corpo para olhar a escuridão sobre os azulejos. Não me fizera ao menos o favor de ter mantido a porta do banheiro fechada.<br />
Meus pés se mexiam num impulso de fuga, mas por eu não saber que tipo de ameaça maligna eu encontraria do lado de fora, segurei-me.<br />
Tentei não tremer nem chorar.<br />
...<br />
Enfim, as lâmpadas voltaram ao normal. Não brilhavam mais num prenúncio de agonia, nem se afligiam em submersão às trevas. Tornaram-se luzes acesas e indiferentes, presas ao teto e ligadas em fiações antigas.<br />
Permaneci na mesma posição. Olhando o escuro do banheiro, esperando que algum deles rastejasse para cima de mim.<br />
A princípio, nada de extraordinário aconteceu. Pelo menos eu achei que não.<br />
Mas aí, eu comecei a observar melhor... <br />
A penumbra do banheiro se tornava mais densa. O escuro ia consumindo os fracos vestígios de claridade. Logo eu uni a sobrancelhas, vendo o escuro tomar a porta e escapar para as bordas das paredes, perto da escrivaninha.<br />
Tapei a boca e fui em direção à porta. Enfrentaria o corredor.<br />
...<br />
As luzes começaram a oscilar novamente, enquanto eu tentava achar coragem para sair dali bem rápido. Olhei para a porta, ouvi o sopro e senti o cheiro horrível de bolor espreitar-me após a espessura da madeira. Não! Não dava pra ir por ali!!<br />
Aí olhei para o banheiro... Incrivelmente, aquele tipo de mancha negra havia recoberto toda a extensão dos meus livros. Toda a parede do lado direito.<br />
Mesmo quando as luzes clareavam, a escuridão se movia e se propagava como uma presença. Não se desfazia e nem parava.<br />
Logo me alcançaria.<br />
... <br />
Estava totalmente cheia de medo, por um momento eu nem senti mais os dedos das mãos. <br />
Meus pés formigavam e minhas pernas tremiam. Tive ímpeto de ficar parada e esperar o castigo, sem nem tentar uma negociação absurda. Porém, lembrei-me da janela e da grade de flores secas e espinhosas que se estendiam até o andar de baixo.<br />
Minha mãe passou como um reflexo na minha cabeça. A lembrança dela sorrindo e arrumando as flores na grade me bateu com um tapa.<br />
Era raro eu lembrar dela daquele jeito, com o rosto tão nitidamente bem desenhado e vivo.<br />
Era diferente, bem diferente de quando eu olhei para sua palidez impressa na face, enquanto ela dormia apertada no estofado do caixão.<br />
...<br />
Nem tive tempo, quando dei por mim já estava correndo até a janela emperrada, forçando com toda as energias, implorando um leve ou brusco movimento de compreensão. Não deixaria de forçá-la, mesmo que a sombra me engolisse e acabasse comigo, eu ainda estaria agarrada ao trinco da janela.<br />
A sombra vinha calma pelo papel de parede, engolindo as minhas fotografias sorridentes de uma família feliz, os porsters do Nirvana e do Linkin Park. E era como se dentro de seu fusco, houvesse um sorriso cruel e assassino, desejando faminto, consumir o meu medo. O carpete também ia desaparecendo, formando agora um lago negro e perigoso.<br />
Eu não me afogaria nele.<br />
...<br />
Meus olhos com certeza gritavam, tanto que eu podia ouvi-los berrar dentro da minha cabeça. Se em algum momento eu precisei de força, o momento era aquele.<br />
As pontas dos meus dedos doíam muito, mas se eu parasse de tentar abrir a janela, aí nem ao menos eu teria chances de ir embora dali. Claro que se eu conseguisse, havia a possibilidade de eu pisar em uma tábua podre e cair como um bloco de concreto, numa morte lenta ou numa contusão grave.<br />
Não sei exatamente como eu conseguia manter os olhos abertos, estava em pânico, suando frio, mas ainda desperta.<br />
Forcei mais um pouco, enquanto olhava a sombra há menos de um metro e meio dos meus sapatos. Já me preparava para a dor da captura quando subitamente, a janela se moveu para cima.<br />
...<br />
Os vidros embaçados e sujos de gordura ainda se recusaram mais um pouco, porém, não me detive e empurrei com mais força. Logo eu senti o vento fresco e gelado da noite tocar os meus cabelos, numa fresta não muito grande. Estiquei a perna e tentei me equilibrar nas telhas de barro, fazendo um terrível esforço para não cair em cima das pedras amontoadas bem embaixo da minha janela.<br />
Olhei a madeira enegrecida da grade e me agachei. Segurei numa das telhas e desci o pé até achar algo sólido. A sombra já alcançava a janela.<br />
Depois eu achei um ritmo para descer. Uma das ripas da grade rangeu, mas eu fui mais rápida e consegui passar por ela. Enquanto ofegava e tentava manter as mãos firmes, olhei para baixo e agradeci por faltar menos de dois metros.<br />
Acho que quase sorri, se não fossem as lágrimas...<br />
...<br />
Enfim, dei um salto e caí em cima do barro, ao lado da pedreira.<br />
Não sei se as minhas roupas se sujaram, pois quando mal toquei o chão, me lancei a correr para longe da casa. O portão estava aberto, passei por ele e alcancei a estrada de terra.<br />
...<br />
Estava tão apavorada que nem lembrei que havia um carro na garagem, muito menos que eu sabia fazer ligação direta e dar algumas marchas.<br />
Aulas inúteis do verão passado.<br />
...<br />
As árvores eram um show explicito de terror. Bruxuleantes e negras, como monstros escusos no entardecer. O céu escuro, com a lua aprisionada a ele e algumas estrelas cintilantes, me atiçaram a não parar de correr. Eu estava apavorada, mal consegui raciocinar o que estava fazendo, tudo que por ventura surgisse na minha frente, seria atropelado e pisoteado por mim.<br />
Algo uivou no meio do mato...<br />
...<br />
Não parei, acho até que aumentei a velocidade. Não imagino de onde eu tenha tirado tanta rapidez, afinal, eu sempre fui tão lerda! Mas estava indo, não sabia exatamente para onde...<br />
...<br />
Quanto mais eu avançava, mais o medo em mim aumentava. Tanto que eu mal pude notar o buraco no meio da estrada. Acabei enfiando o pé nele e despencando numa queda ridícula e dolorosa. <br />
Não era um buraco grande, mas com certeza era fundo. Ainda com meu rosto colado na terra, mantive os olhos assustados e mariscados de choro. Se eles estivessem perto, conseguiriam me pegar sem problemas. Quis me encolher e esperar por eles, mas eu nem consegui me mover.<br />
Foi uma respiração calma no meio-fio que me tirou da letargia.<br />
Larguei meus olhos vencidos sobre a silhueta sentada e sem graça no canto da estrada. Quem quer que fosse, já me tinha em mãos. Eu acreditei que tinha.<br />
...<br />
Dois olhinhos pequenos não olharam para mim. Não com o medo que eu olhava para eles. Flutuaram até mim como uma pena.<br />
- Você não deveria fugir. <br />
Respirava ofegante, eufórica. Mal juntei as palavras, elas não fizeram sentido nenhum na minha cabeça. Depois os olhinhos se fixaram em mim e me fizeram tremer.<br />
- A saída está perto de casa.<br />
Aquilo me chutou e cuspiu em meu rosto. As palavras e a energia delas. Minhas mãos tremiam enquanto eu assanhava a terra com as pernas. Morrendo de pavor! Evitei gritar, se tivesse feito isso, acho que seria bem mais fácil me descobrirem. Eu só precisava continuar fugindo, fugindo!!<br />
Continuei a fuga, agora tão alerta para a estrada e as folhas que se balançavam com vento, quanto um animal arisco. Meu peito estava apertado e os meus pés doíam. Aquelas sensações todas estavam soltas dentro de mim, sacudiam-se e queimavam o meu estômago.<br />
Meus ouvidos estavam abafados e a minha cabeça doía.<br />
...<br />
Continuei me arrastando pelo meio da estrada, até ouvir alguém chamar minha atenção. Era uma voz fina e praguejante. Uma voz feminina. Como se me perseguisse, sentisse o meu cheiro e o meu medo. Podia senti-la olhar a minha nuca, puxar o meu cabelo e me esbofetear.<br />
Apesar de olhar para trás e não ver ninguém, eu ainda sabia que aquela voz me espreitava. Sabia que estava a poucos passos atrás de mim. Foi estranho eu sentir tanto pavor, quis acreditar que era tudo uma alucinação violenta da minha cabeça.<br />
De alguma forma, porém, tinha certeza de que ela já me conhecia. Sabia que a mulher que chamava o meu nome havia esperado tempo o bastante para me encher de pânico. Havia rondado todo o aquele tempo, escolhendo o momento perfeito para dar o bote.<br />
...<br />
Agora eu podia ver as luzes da rua principal, junto com as silhuetas mecânicas dos carros na penumbra. O meu coração badalava como um pêndulo desconcertado, eufórico e cheio de horror. Pulava e gritava, podia senti-lo doer e tremer. Os meus olhos tentavam achar consolo, algo que brilhasse e pudesse aquecê-los. Algo real e sóbrio.<br />
Estava bem frio, mesmo eu estando dentro do casaco. O vento gelado furava as maçãs do meu rosto.<br />
Meu estômago rodava.<br />
...<br />
Continuei correndo até mais perto da rua, pedindo que conseguisse ter energia para ir além dali, há algum lugar mais seguro e distante. Bobagem, porém, eu sabia. Estava fraca o bastante pra cair morta no asfalto. Poderia dar a eles uma honrosa vitória.<br />
Nós a matamos.<br />
...<br />
Bem, ainda não.<br />
...<br />
Surgi no meio-fio da rua principal, vendo a noite iluminar-se com os postes amarelados e os carros apressados atiçarem uma brisa quente. Puxei as mangas do casaco e tentei olhar o caminho à minha frente. Tinha os olhos perdidos e a mente perturbada. Havia parado de correr tão bruscamente! Nem tomara um pouco de fôlego.<br />
Ia para o lado populoso do Santos Dumont. Devia achar um lugar para organizar as idéias. Tentar achar uma solução temporária.<br />
E talvez, quem sabe eu tivesse coragem de ir até a casa de Justin, olhar para ele implorar por ajuda.<br />
Meu pai, minha avó, aquela casa... Tudo parecia latejar dentro do meu cérebro. Como eles estariam? Será que ainda respiravam?<br />
... <br />
Baixei os olhos e apressei os passos.<br />
Meu corpo arrepiou-se tenebrosamente.<br />
Uma mão gelada tocou o meu ombro<br />
Aflita...<br />
O quê?<br />
Tentei deixar os olhos abertos, tentei continuar presa ao meu corpo.<br />
Não olhei para trás.<br />
Eu nem respirei.<br />
...<br />
...<br />
...Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-43511363033152856702009-09-04T11:27:00.000-07:002009-09-04T11:34:33.459-07:00Capítulo XVI - O sal na porta<p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGxKglfmJ4ylvwpUXXpmhyphenhyphenYlb1iGJg-utW74Puuh0SN_AKoLwWSCto8e_wbotCGtx4huWpwIONxJQEq-pQKEZxGBHm-eaNQe_xwc8UNob4TX77sudmOnRhbtuQSW7L9b0qloe4ExymgtCK/s1600-h/AB8YH9SCAQM8X0UCARVPHO1CAVLIXIQCAGR85FBCA8UY10ECAC0FWG5CAOSND82CAII59JKCA243VTYCAI71LCRCA9BEDHPCAA8KX32CAOOQ8E2CAUXK0PDCAQB0KC2CAIOG060CALAF52ICA06HZHM.jpg"><span style="font-size:130%;"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 131px; FLOAT: left; HEIGHT: 98px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5377680980097420434" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGxKglfmJ4ylvwpUXXpmhyphenhyphenYlb1iGJg-utW74Puuh0SN_AKoLwWSCto8e_wbotCGtx4huWpwIONxJQEq-pQKEZxGBHm-eaNQe_xwc8UNob4TX77sudmOnRhbtuQSW7L9b0qloe4ExymgtCK/s400/AB8YH9SCAQM8X0UCARVPHO1CAVLIXIQCAGR85FBCA8UY10ECAC0FWG5CAOSND82CAII59JKCA243VTYCAI71LCRCA9BEDHPCAA8KX32CAOOQ8E2CAUXK0PDCAQB0KC2CAIOG060CALAF52ICA06HZHM.jpg" /></span></a><span style="font-size:130%;">Foi só o tempo de olhar ao redor. Os arbustos e o muro.</span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;"><span style="font-size:130%;">Adoraria<b style="mso-bidi-font-weight: normal"> </b>ter um relógio para ver as horas. Mas não. Eu não tinha relógio algum.<b style="mso-bidi-font-weight: normal"> <?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></b></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Olhei para o céu e havia uma nuvem sem forma. Por entre o nublado cinzento e os raios do sol. Aquela náusea estridente me consumindo... Sem oportunidades de melhoras aparentes.<b style="mso-bidi-font-weight: normal"> </b>Tentava achar uma maneira de simplificar todo o resto das coisas. Tudo de um jeito que pudessem caber no pouco tempo que nos restava.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Justin movimentou a cabeça para chamar minha atenção. Sabia que logo ele me engoliria com suas perguntas, bem depois que o deixasse satisfeito ou muito bem informado. Comecei a imaginar como ele poderia me ajudar. Como? Tirando a sensação de não estar totalmente largada e invisível no mundo, Justin não fazia grande coisa.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Era uma mão aberta, mas ainda sim um pouco vazia. </span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Eu resumiria as coisas.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- No dia seguinte meu pai não me esperou para tomar café. Eu estranhei, afinal, deveria ouvir um bom sermão. Mas não. Nada. À noite nós jantamos juntos, porém, a única coisa que ele me disse foi estar muito decepcionado comigo. – dei uma pausa, era como se eu estivesse vendo aquele rosto triste olhar para mim de novo. Me olhar sem aquela coisa ruim com a qual ele me enxergava agora. – Acho que essa foi a última vez que... Bom, que ele era ele mesmo. Na escola, a Natasha e a Karen me olhavam diferente, ficavam cochichando. A Natasha queria rir, mas a Karen não. Não nos primeiros dias. Como a Lucy estava de castigo, eu fiquei meio na minha, pra mãe dela não brigar mais com ela por estar na minha companhia. Fiquei observando as duas... Como eu não havia feito o que a Karen havia mandado no dia do cemitério, imaginei o que supostamente aquilo afetaria. Se afetaria. A principio eu me neguei a ir falar com ela, afinal, minha cara estava totalmente jogada no chão, arrastada na lama. Mas depois do primeiro pesadelo, eu acabei tomando coragem e fui. Cheguei dizendo oi. Elas riram de mim. Eu fiquei calada, só consegui falar depois de engolir minha vergonha a seco. Perguntei se Karen sabia o que havia acontecido naquela noite, depois perguntaria se eu havia estragado realmente tudo. Era só o tempo de manter um contato social secundário.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;"><span style="font-size:130%;">Justin estava sério e olhava concentrado para mim.<span style="mso-spacerun: yes"> </span></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Prossegui:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Ela foi bem direta. Disse que eu tava ferrada e simplesmente me deixou plantada no pátio da escola. Achei aquilo um desaforo, fiquei com raiva e também fui embora. Agora eu é que não queria mais pertencer àquele grupo. – uni as sobrancelhas. – ainda não estava com medo. Não totalmente. Só sabia que havia sido uma completa idiota. Grande perda de tempo sacrificar a confiança do meu pai naquela porcaria. – tentei não aumentar meu tom de voz – não levei a sério a resposta de que eu estava ferrada. Aliás, ferrada eu já era, pra mim as coisas não poderiam ficar pior. Eu achei que não poderiam... Bem, depois tudo ficou realmente estranho. Tive pesadelos horríveis nas duas semanas seguintes, acordava assustada e congelando no meio da noite. E sentia medo... Meu pai simplesmente parou de me dirigir a palavra, foi ficando distante, irritado... E os seus olhos mudaram também. A minha avó foi a única que continuou na mesma, mas ela é doente, esclerosada. Nunca me faria mal... eu acho. A maior parte do tempo eu esperava ser surpreendida por um rosto na penumbra do quarto. Um rosto e um grunhido de raiva. Foi quando eu deixei de apagar as luzes do meu quarto.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Me calei, com os olhos presos ao chão. Aquilo já não bastava? Agora ele poderia dizer que havia solução para tudo! Tudo! Ó meu Deus, eu ficaria tão grata a Justin!! Ele poderia acabar com tudo, eu me sentiria mais leve.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ele não falou nada por cerca de dois minutos. E acho que esperava uma melhor resolução dos fatos, uma adequada e mais detalhada explicação. E não. Eu não havia sido muito boa. Sabia que não havia sido, mas esperaria uma pista dele para tentar melhorar. Ou então nada. Ele poderia aceitar aquele lixo. Justin poderia ser gentil.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- E quantas vezes o seu pai bateu em você...?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Quis sorrir. Ao menos não havia escutado um <i style="mso-bidi-font-style: normal">“Pode continuar, Amy”. </i>Aquilo já não era suficiente. A pergunta com certeza caiu melhor. Melhor, eu só precisava respondê-la, depois eu me trancava de novo. De novo.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">A agressão havia sido tão evidente?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Uma. – imaginei o motivo de ele ter convicção ao perguntar.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- O seu rosto ficou bem machucado...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Deu pra ver, foi? – me encolhi.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Justin se encurvou para achar os meus olhos:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Eu percebi.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Assenti com a cabeça. <i style="mso-bidi-font-style: normal">“Alguém percebeu? Nossa, que estranho...”</i> – pensei.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Então é isso: você participou de um ritual e quebrou as regras?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- É...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Depois vieram os pesadelos e o comportamento estranho do seu pai...?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Isso.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Justin assentiu com a cabeça e falou, depois de pensar um pouco:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Visões?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Demorei a entender.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Visões? – repeti.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ele juntou as mãos e explicou:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Você voltou a ver os espíritos outra vez...? Tem tido algum tipo de alucinação?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Estreitei os olhos e apertei levemente os lábios. Confirmar aquilo me colocaria no posto de louca?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- É... Eu acho que sim... – virei-me para frente e passei a mão no cabelo. Constrangida.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ele quase sorriu:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Não precisa ficar com vergonha.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family:Times New Roman;"><span style="font-size:130%;">“Droga! Ele percebeu!”<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Não tô não... – eu realmente fiquei séria.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Justin deteve seu sorriso e desviou os olhos. </span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Sibilou:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Teimosa.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Eu poderia me defender, mas com certeza eu ficaria ainda mais vermelha. Preferi fingir não ter ouvido nada.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ele retomou o interrogatório:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- E como você tem dormido?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Eu diria que bem. Mas ele perguntaria como. E lá surgiriam os remédios. As pílulas avermelhadas.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Tentei escapar pela culatra:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Tenho dormido.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Bem ou mal?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Isso importa?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Eu perguntei primeiro.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Custa responder a minha pergunta?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Por que você não é educada e responde a minha?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Tá bom, chega! – quase berrei – eu tomei uns calmantes pra dormir melhor! Pronto!</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Justin ficou olhando para mim com os olhos meios arregalados e as sobrancelhas levemente arqueadas. Não. Eu não gostei daquele olhar.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Mau sinal.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ah, não! Ele poderia mentir e rir do meu papel ridículo! Por que me deixar com mais medo? Olhei para Justin com o rosto meio contorcido.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- O que significa “mau sinal”?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ele respirou fundo. Desviou os olhos e fitou um arbusto seco perto do muro. Não... Sem contato visual. Isso sim era um mau sinal. Um péssimo sinal. Seria bem pior se eu me movimentasse para olhá-lo, para chamar a sua atenção. Como eu encontraria aqueles olhos? Talvez o susto ou o medo me deixassem completamente sufocada, com adrenalina demais percorrendo o meu corpo.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">A única coisa que fiz foi abraçar o corpo e descansar os olhos nos meus sapatos. Sem girá-los nem deixá-los ficarem aflitos demais. Quieta, eu abrigaria a resposta que ele procurava maneiras de deturpar, até que ela ficasse ao menos leve. Ao menos suportável. Por que tantas formas de diminuição da dor? Ah, mas eu sabia... Sabia que não tinha estômago para tanto. No fundo eu desejava que ele a deixasse muito, muito leve para mim.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Eu não interferiria em seu silêncio.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Você precisa parar de tomá-los.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">A resposta me tirou de um tipo de sono. De olhos fechados e enrijecidos. Como? Bem como se dorme e não se sonha. Pensa-se. Entra nos próprios pensamentos, se enche deles até perceber que perdeu os sentidos. </span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Lancei meu olhar perdido até Justin, vendo-o franzi a testa e olhar na minha direção. Pediria para ele repetir a resposta, mas depois de ouvi-la se desenrolar em minha cabeça, consegui decodificá-la.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">E ela não me deixou nem um pouco satisfeita.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Por que isso é um mau sinal? – indaguei.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ele respirou, não fundo, mas ainda pude ouvir o ar sair de seus pulmões. Esperei uma segunda e mais compensadora resposta. Uma coisa a qual eu pudesse olhar fixamente e aprender a domar. Fosse o que fosse.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Eles só precisam de uma brecha... Uma fenda minúscula pra te derrubar. – Justin não desviou os olhos – Os remédios te deixam fraca e indefesa... Enganam os seus sentidos.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Aquilo foi suficiente. O bastante pra eu me manter calada enquanto o sinal da escola estrondava no pátio. Libertava os alunos. Vi-me levantar com os olhos caídos e os punhos amarrados a uma angústia morosa. Ela apertava, arrastando-se pesadamente entre as folhas dos arbustos. No meio de todos, eu ainda continuava presa e amuada.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Justin acompanhava os meus passos, alternando os olhos ora para mim, ora para o caminho ao portão. Ambos pensávamos em silêncio, mas nos mantínhamos ligados por um mesmo intuito. Precisávamos preparar as palavras, após aquele quase interminável julgamento.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Eu imaginava o quanto havia facilitado o meu declínio, olhando quase que de frente, a minha má conduta. Tão inconseqüente... Mas ainda percebia um rascunho de inocência na minha culpa. Havia me destruído, não por completo, apesar de contemplar os meus pedaços indo embora de mim. </span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Não me passa na cabeça o que Justin pensava. Não exatamente. Sabia que eu devia estar no meio, eu e os meus problemas. Dentro do azul dos seus olhos quase frios, soava como uma lamúria, o meu nome. Refletia-se transparente e assombreado a marca em meu pulso.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Não havia nada que eu pudesse falar. Claro que havia palavras vazias que eu poderia colocar para fora. Mas não. Eu não queria gastar energias naquela perda de tempo. Respirei e guardei fôlego. Segui o caminho de casa.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ainda olhando para dentro de mim, em busca de alguma luz acesa, notei os passos de Justin ao meu lado. Foi quase que um susto senti-lo andar rastejante, como um suporte móvel e silencioso. Se eu caísse ou me jogasse do penhasco dos meus medos, com certeza ele estaria lá. Ou para observar a minha idiotice, ou para me abraçar e me levar a um lugar seguro.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">O que as duas coisas tinha em comum?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">As duas sobreviviam por pena.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Dó. Compaixão.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Já estávamos perto da estrada de terra quando tive o impulso de perguntar.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Hesitei, mas consegui:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Por que você tá me acompanhando?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Não percebi alteração nenhuma em Justin, ele continuou com o mesmo humor de sempre.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Primeiro: Por que aqui é um lugar perigoso. Segundo... – ele deu uma curta pausa – Preciso saber como exatamente te ajudar.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Você ainda não faz idéia? – não pude evitar o nervoso em minha voz.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Calma, calma... – Justin abrandou seu tom – Só não quero que nada pior aconteça.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Olhei para frente e continuei andando.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Esperei ser tomada de coragem novamente, para enfim sondá-lo.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Mas você vai me ajudar, não vai?</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Justin virou o pescoço, fitando-me com um sorriso torto e os olhos cheios:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Claro que vou.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Os vinte minutos de caminhada pareceram dez segundos. Logo eu me vi em frente à minha casa, rente a varanda e a tinta descascada da fachada.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Parei e voltei-me para Justin. Enfiei as mãos nos bolsos do casaco e olhei para seu rosto. Pedia que ele me dissesse algo. Uma alternativa, uma saída. Continuei muda.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ele olhou para mim, mas dessa vez havia chances acesas dentro dos seus olhos.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">E sim, eles me deixaram mais calma.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">- Faça exatamente o que eu disser...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Entrei em casa e respirei fundo. Justin já deveria estar passando do portão. Pensei em ir até a janela para olhá-lo, mas não. Eu nem tinha razão para tal coisa. Decidi cumprir seus pedidos, pegar um pouco de sal na cozinha, subir até meu quarto e jogar o sal na linha horizontal do chão, rente à minha porta, pelo lado de fora. Como ele havia dito.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Depois tomaria um demorado banho quente...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">E quem sabe, se eu conseguisse, deitaria em minha cama para um longo cochilo.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">À noite, mais precisamente às sete e meia, eu o esperaria. Ele e o plano; mais alternativas para desfazer as burradas por mim cometidas.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Logo eu achei a cozinha em silêncio. E a comida quente no fogão. Era o dia da Márcia fazer a faxina, com certeza ela deveria ter aprontado o almoço. Na geladeira também deveriam ter potinhos com os dias da semana escritos. Depois algum de nós terminava de preparar. Meu pai ou eu...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Peguei um pires e enchi de sal. Procuraria minha avó, mas seu quarto estava escuro demais. Preferi deixá-la em seu “sono”, sem mesmo ir até mais perto para fechar a porta e ocultar a penumbra dos meus olhos.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Subi para o andar de cima, fazendo uma silenciosa prece.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Neguei-me a aceitar a batida abafada na porta do sótão. Agora que eu parecia tão mais acomodada e segura, sem a dor no pulso ou o enjôo no estômago. Por que logo aquilo? Parei de súbito, mas não me mantive imóvel por mais de três segundos. Apressei os passos até a luz acesa no quarto no fim do corredor, lançando-me para dentro e trancando a porta.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Estava bem cansada, tanto que foi difícil conter a euforia do suor gelado que escorria da minha testa. Ainda olhei para a porta fechada por cerca de dois minutos, esperando ter um pingo de ousadia para abri-la novamente e jogar o sal no lugar dito por Justin.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;"><span style="font-size:130%;">Era tão complicado segurar as pontas sozinha... Mas de qualquer jeito, um dia eu teria que enfrentar aquilo. <i style="mso-bidi-font-style: normal">Eles.</i></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Primeiro e respirei fundo e dei o primeiro passo. Foi um longo tempo até o segundo. Tentei pensar em algo que não combinasse com o medo, e tudo que surgiu na minha cabeça foi a lembrança de quando fui ao parque de diversões pela primeira vez.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Agachei-me, perto do tapete, tentando prender a sensação da lembrança em todas as farpas que se escondiam dentro de mim. Foi infinitamente trabalhoso me concentrar com o aumento das batidas no sótão e ainda mais tendo que deixar meus olhos abaixados, perto do sal e do chão. Era impossível obrigar-me a ficar calma.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Por fim, eu peguei um punhado de sal e saí jogando com leveza na extensão da porta, em horizontal. Justin me dissera que aquilo impediria os espíritos de passarem para a parte de dentro do meu quarto. Pela porta.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ele não me indicaria nada. Nenhuma solução temporária. Só me mandaria ficar em alerta. Bem, mas depois que eu mostrei a ele a marca já quase transparente da mão de Sofia em meu antebraço, suas idéias germinaram com mais otimismo. Pude notar. Era “ruim” mas era “bom”...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family:Times New Roman;"><span style="font-size:130%;">“Faça exatamente o que eu disser...”<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Justin explicou:</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Ruim: era ruim pelo fato de eu tê-los fortalecido tanto, a ponto de criarem energia vital para quase conseguirem se materializar, podendo, assim, machucar-me se desejassem.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Bom: era bom por que agora seria mais difícil se esconderem, ou manterem-se perto demais com tanta energia. Se eu parasse de tomar os remédios, poderia cortar a fonte, deixá-los daquele jeito, sem mais nem menos força. A porta, mesmo trancada, era o meio mais fácil de entrarem e... Bom, você já sabe.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">A chave de tudo eram os remédios. Tinha que deixá-los de lado. Eles já haviam feito o suficiente por mim...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Poderia também, só por mais precaução, colocar sal no rodapé de todo o quarto, assim teria uma maior proteção. Mas não, não daria certo... eles arrumariam um jeito de me atrapalhar. </span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Já havia colocado todo o sal. Foi quando algo rangeu, era o som de uma porta se abrindo.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Eu não fiquei para ver quem era, me joguei para dentro do quarto e tranquei a porta com pressa. Estava jogada no chão e ouvi algo chiar do lado de fora. Pensei em olhar pela fenda em baixo da porta, mas me contive e sentei-me da beira da cama.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Tomei um demorado banho, mergulhando meu corpo na banheira, dentro do calor dos sais e da água. Pensando... Aproveitando a segurança de poder deixar meus olhos fechados por pelo menos dois minutos em paz. </span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Sentei-me na beira da cama e meus olhos pesaram. Estava com muito sono. Foi só o tempo de me deitar e pensar mais um pouco... Não poderia dormir muito. Tinha que estar desperta para quando meu pai chegasse, devia olhar um pouco para ele e tentar protegê-lo também. Mesmo após a tentativa estranha de me envenenar. Mesmo depois de não reconhecê-lo. Sabia que ele ainda estava lá, perdido e assustado dentro de si mesmo. Inconsciente.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Justin me pediu para ficar de olho nele. Como eu, meu pai também poderia estar sendo vítima <i style="mso-bidi-font-style: normal">deles</i>. E bom, eu devia ajudar como pudesse, ainda tendo que preservar a minha vida.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Fechei meus olhos, mas a luz do céu esbranquiçado não me permitiu descansar. Estava ofuscando-me. Cerrei as pálpebras e me levantei. Caminhei até as cortinas e de relance, olhei para o quintal na parte de baixo. Bem ao lado do puteal, era a figura de menininho sem camisa, olhando para minha janela.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Eu estranhei, olhei melhor e percebi que o conhecia. Era o Daniel.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Permaneci olhando para ele por quase vinte segundos. Depois algo bateu com força na porta do meu quarto. Foi quando redirecionei os olhos para a madeira enegrecida e esperei que o pior entrasse e me machucasse.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;"><span style="font-size:130%;">Não veio nada. A batida violenta na porta veio seguida de um silêncio agressivo. Mantive-me enrijecida e muda. Fechei os olhos e respirei fundo: <i style="mso-bidi-font-style: normal">“eles não podem entrar...”.<o:p></o:p></i></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Voltei meus olhos novamente para o puteal na parte de baixo, tentaria manter algum tipo de contato com Daniel, pedir para que ele ficasse longe da minha casa, para sua própria segurança. No entanto, não o encontrei de primeira, meus reflexos que viram uma silhueta pequena e apressada entrando no meio dos arbustos, em direção ao bosque.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Fiquei na janela por mais tempo, ainda pensando...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family:Times New Roman;"><span style="font-size:130%;">“Ele estava fugindo? – Se estava, fugia de quê?.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Depois eu voltei para a cama. Deitei-me e pensei em Justin.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Como ele sabia aquelas coisas sobre o sal? Onde ele ia buscar ajuda durante toda aquela tarde? </span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Meu estômago roncou.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Fome.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Só me veio na cabeça, o gosto do suco de laranja.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">O veneno.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">Apertei os olhos e tentei dormir.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: 21.6pt; MARGIN: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 171.0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:130%;">...</span></p><span style="font-size:130%;"><br /></span><div></div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-83116104803569705992009-09-01T14:57:00.000-07:002009-09-01T15:00:47.359-07:00Breve......Ki tal agumas mudanças???<br />^^<br /><br />Acho que estamos chegando na reta final do diário.......<br />Eu desejo muito que todos que o acompanharam tenham gostado.<br />Agradeço a força dos meus amigos e das pessoas que me ajudaram a fazer isso ir pra frente.<br /><br />AMO todos vcs!!!! ♥Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-91555794616383138952009-08-20T13:47:00.000-07:002009-08-20T13:54:15.240-07:00Capítulo XV – Os fatos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0Zhh_pRigavDVsmU0JXjub552XV3C4g5DcBx48CcDgx-cTyT2zwErJiwZ1bWrAfhgxNZCUorOd2NNW_C7BqP9ug5eZBIMf83zqC-g5_3R3s9vAafSiS6N_8rYJM3jgVMHRdPH9JiO4MZc/s1600-h/asus.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 105px; FLOAT: left; HEIGHT: 118px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5372151246463075522" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0Zhh_pRigavDVsmU0JXjub552XV3C4g5DcBx48CcDgx-cTyT2zwErJiwZ1bWrAfhgxNZCUorOd2NNW_C7BqP9ug5eZBIMf83zqC-g5_3R3s9vAafSiS6N_8rYJM3jgVMHRdPH9JiO4MZc/s400/asus.jpg" /></a> <span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Percebi que minhas mãos suavam e que minha boca ficava seca. Nada mais que a falta de palavras certas, mesmo que eu as tivesse todas presas à língua. Foi como se houvessem mexido no acelerador do meu coração... Ele agora se debatia, badalava frenético com os ponteiros desregulados. Uma onda de ácido viajou em minhas veias, todo o meu corpo congelou e paralisou rente àquele quase esquecido veneno.<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></span></span> <p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Eu deveria mesmo respirar fundo, e pela primeira vez colocar aquelas coisas pra fora de mim. Mesmo que elas não tivessem forma concreta quando eu as dissesse ou que sua partida me devolvesse o sossego, tinha certeza que não conseguiria abrigá-las inofensivas dentro do meu ego.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Justin buscou o meu olhar, e era como se fosse a melhor forma de me encorajar a iniciar aquele tipo de tortura. <i style="mso-bidi-font-style: normal">“Ora, pois, é só uma dorzinha...” </i>Odiava todas as formas hipócritas de diminuição da dor. Do medo.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Se era isso?... Enfim, era apenas isso. Sem enganações ultrajantes.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Devia me concentrar, e deixar os obstáculos do nervosismo um pouco de lado.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Um pouco.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">... <o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Devia<i style="mso-bidi-font-style: normal"> </i>fazer sair o som. A minha voz.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Fechei os punhos por um segundo, logo depois os relaxei.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- Era uma sexta feira. Acordei as seis, fiz o café da manhã do meu pai, ele estava feliz, falava de umas possíveis férias do trabalho... A minha avó tomava chá na sala e ouvia a conversa. – furtei o olhar a Justin – Era sexta e também meu aniversário. – desviei os olhos. – eles não me disseram nada naquela manhã... Nem um ‘parabéns’ ou coisa do tipo. Eu me sentia péssima, claro, mas nunca me achei suficientemente à altura de exigir um tipo de coisa assim... Meu pai devia ter esquecido, lógico, era um dia tão cheio na clínica... E a minha avó...? Bem, ela é tão doente... Eu não me ofenderia mortalmente se caso o dia passasse em branco.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Justin não disse uma só palavra. Gostei do fato de não ser interrompida enquanto falava das coisas inúteis de um dia tão importante para a solução do problema. Foi bom olhar a paciência e a prudência flutuarem dentro daqueles olhos... Eles quase me deixaram vermelha.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Prossegui:<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- Na escola não houve nada. Ninguém falou nada. – abanei a cabeça devagar – Nem a Lucy. Deveria desconfiar de alguma coisa, mas eu também não me lembrei disso, tinha tanta equação de matemática pra resolver! Depois eu passei o dia na casa da Lucy... A mãe dela não estava, aí a gente ficou por lá, sem ter o que fazer exatamente... – achei ter ficado realmente vermelha – Eram quase cinco e meia da tarde quando decidi voltar pra casa. A Lucy disse que ia comigo, pra pegar um livro de física, aí ficou me enchendo, me adulando pra irmos só depois da sete. Eu torci o nariz, mas acabei cedendo.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Justin mordeu discretamente o lábio inferior.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Continuei:<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- Voltamos de táxi, já era noite. Minha casa estava escura, não havia uma só luz acesa em andar nenhum. Eu estranhei, fiquei parada do lado de fora, olhando pro andar de cima enquanto a Lucy pagava a corrida. Depois senti a mão dela tocar meu ombro e sua voz ficou assustada. Ela parecia amedrontada, disse que deveria ter acontecido alguma coisa ruim. – tomei fôlego – Primeiro eu fiquei rígida, não me movi. Só vi a Lucy dar o primeiro passo, dizendo que ia entrar e ver se estava tudo bem. Ela me pediu pra ficar lá e esperar algum sinal pra entrar depois também. Mal pude impedi-la... Quando dei por mim já estava sozinha, congelando no lado de fora. – Nos olhamos no mesmo instante, até eu desviar novamente os olhos de Justin – Fiquei lá, quieta, até que se passaram dez minutos e eu tive certeza de que alguma coisa ruim devia ter acontecido mesmo. A porta estava semi aberta, eu só empurrei com a mão e já estava do lado de dentro. A sala estava escura, não dava pra ver nada! Fiquei parada no vão da porta e respirei fundo. Depois eu chamei a Lucy e de repente as luzes acenderam...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Tinha falado tão baixo que pensei não ter sido ouvida por Justin.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- Todos gritaram “Surpresa!”. Depois do susto eu me dei conta da quantidade de gente e dos balões. Tinha também um bolo enorme na cozinha e uns cartazes coloridos em cima da janela. A Lucy veio me abraçar e me desejou feliz aniversário, pediu desculpas caso tivesse me assustado muito. Aí eu vi meu pai descendo as escadas e sorrindo pra mim. Ele chegou mais perto e me abraçou... – tentei manter os olhos firmes, para não se dissolverem em algum tipo de líquido – Me desejou felicidades. – funguei pra disfarçar. – Lembro que algumas outras pessoas se aproximaram, e ele gentilmente escorregou para longe, não queria que eu me sentisse constrangida. – sorri triste – Colocaram uma música alegre, vi alguns conhecidos da escola rindo e dançando... Parecia ser uma boa noite. Depois de cumprimentar os convidados, eu escapei para a parte da frente da casa e perguntei a Lucy quem tinha preparado tudo. Ela abriu um sorriso e disse que meu pai havia se empenhado muito para aquilo. Eu me senti contente, nem sabia que merecia tudo aquilo! Foi quando vimos dois faróis no meio da estrada de terra se aproximarem. Nos viramos e quase caímos duras de surpresa. Era o <i style="mso-bidi-font-style: normal">pajeiro</i> preto da sua irmã...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Dei uma pausa e olhei para Justin. Ele continuava mudo e inexpressivo, a não ser pelo leve movimentar das sobrancelhas, o que me indicou ter prendido toda a atenção dele. Senti-me apta a prosseguir.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- Dava pra ouvir os risos de dentro do carro. Vi sair de lá Karen, David, Christofer, Naytan, Eric e a Natasha. Não vi você...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Justin soltou um tipo de gemido irritado, mas continuou indecifrável e silencioso.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- A Natasha chegou perto de mim e riu, perguntou quem era a aniversariante. Eu estava acanhada, não conseguia acreditar que as garotas mais populares da escola, com os caras mais populares e cobiçados estavam na minha festa! Consegui dizer que era eu. Ouvi uns risos de deboche, mas sabia que na frente deles eu não era muita coisa. O Eric perguntou se tinha comida na festa, eu disse que havia na cozinha. Eles entraram e nos deixaram sem mais palavras. A Lucy estava eufórica, nem acreditava que aquilo estava acontecendo! Ela pegou minhas mãos com aflição e agonia, dizendo que nós tínhamos que aproveitar aquela chance. Eu não soube o que responder, mesmo que também concordasse em tentar pertencer àquele grupo... Ficar popular, deixar de ser uma anônima monótona e desconhecida. – revirei os olhos com ironia – A Natasha estava lá, tinha que ser uma possibilidade, uma porta aberta para o “sucesso”. Fui tão idiota... – fiquei vermelha de novo – Nós entramos e tentamos nos enturmar com eles, mas só o que recebemos e vimos foram alguns risos zombeteiros e umas piadas sobre como tudo ali era sem graça. Meu pai se virava tentando servir toda aquela gente, eu nem me movi para ajudá-lo, achei que tinha coisas importantes pra fazer... – olhei para Justin em busca de respostas, afinal, estava falando da irmã dele, do “grupo” que ele pertencia; mas não houve sinal de irritação ou ofensa. – Já era quase onze e meia quando a Natasha se cansou de falar mal da festa e decidiu ir embora. Os amigos dela nos deram as costas e saíram. Eu ia ficar na minha, mas a Lucy me puxou para fora junto com ela, disse que não podíamos deixá-los ir daquele jeito. Eu fui, os encontramos já perto do carro. A Lucy chamou a Natasha e depois de muito gaguejar, perguntou se EU podia ir com eles também, afinal, era meu aniversário. – Me encolhi, constrangida. – Sua irmã buscou o olhar galhofeiro dos outros e ironicamente pediu desculpas, dizendo que eu não pertencia ao grupo dela. – fiz cara de raiva – <i style="mso-bidi-font-style: normal">“E como faço pra pertencer?”</i> – havia usado estas mesmas palavras – Não sei de onde tirei coragem para dizer aquilo, quando vi já tinha falado. A Natasha riu e fez uma cara meio esnobe. Respondeu que pra pertencer ao grupo, eu devia passar por um teste. O Naytan riu e ela mandou ele calar a boca. A Karen olhou torto pra ele também. Caminhei para mais perto e disse que não tinha problema. Faria qualquer coisa.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal">“- Qualquer coisa mesmo?”</i> – Natasha pareceu mais perversa do que nunca. Por que eu simplesmente não desisti ao ver aquele olhar traiçoeiro? – repeti a resposta <i style="mso-bidi-font-style: normal">“Qualquer coisa”. </i>Aí ela me puxou pra dentro do carro, a Lucy veio comigo, depois de eu muito implorar pra ela me acompanhar. Pronto: estávamos dentro do <i style="mso-bidi-font-style: normal">pajeiro, </i>logo eu deixaria minha vidinha inútil pra trás. Alçaria um vôo mais alto! Saí de casa sem dar satisfação a ninguém, sem nem saber se eu voltaria. Confesso que jamais passou em minha cabeça que talvez eu estivesse prestes a fazer algo perigoso. Talvez fosse só um mico, uma coisa insignificante... – uni as sobrancelhas – foram cerca de quinze minutos dentro do carro. – evitei falar a Justin sobre o cheiro de cigarro no estofamento – Paramos, e Natasha me puxou pra fora, a Lucy veio à tira colo. Olhei melhor... Estávamos na frente do cemitério, no bairro da Vitória. Evitei estremecer, mas foi difícil. Perguntei o que faríamos, Natasha riu e disse que profanaríamos um túmulo. Os outros caras riram, vi um deles beijar a Karen e depois dar o primeiro passo até as grades. A Lucy olhou pra mim com um pouco de receio, mas por fim, todos pulamos a grade. Estávamos do lado de dentro. Achei que seríamos expulsos pelo vigia, mas Eric disse que não ficava ninguém por ali à noite. Passamos por algumas lápides, estava escuro mas consegui ver algumas inscrições. Uns nomes. Não sei por que motivos eu os li, acho que era uma forma de sentir menos medo. – quis rir, mas não consegui – David acendeu uma lanterna e focou na minha cara, perguntou se eu estava com medo. Depois de esfregar os olhos e recuperar a visão, respondi que não estava. Ele assentiu com a cabeça e focou o caminho à frente, sem mais palavras. Meu Deus, eu estava morrendo de medo! Tentei não tremer. Paramos por fim, bem nos fundos do cemitério. David iluminou dois túmulos grandes e acimentados ao fundo, ambas com estátuas de anjos armados. Na mesma posição, assustadores e infelizes. A Natasha chegou mais perto das lápides e começou a rir. Eu achei estranho ela não aparentar medo, comecei a temer uma coisa realmente ruim pra mim. Me encolhi e esperei ela dizer o que eu devia fazer, afinal, já havia chegado até ali, não podia desistir feito uma menina chorona. Foi quando o Eric mandou a Natasha se apressar, percebi que ele estava meio afoito com tudo aquilo. Ela olhou feio pra ele, mas não disse nada que o ofendesse. Tomou um ar superior e falou que havia mudado seus planos e que eu não profanaria mais túmulo nenhum... Agora eu teria que tentar conversar com os mortos...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Tentei respirar normalmente, mas foi difícil dizer aquilo sem me arrepiar.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Prossegui:<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- Aquilo me deixou meio assustada, apavorada! Olhei para Lucy, mas ela não me encorajou a desistir, só o que fez foi assentir com um leve movimento de cabeça. Me senti obrigada a fazer aquilo, não havia como desistir, havia?! Aí comecei a dizer pra mim mesma que era apenas uma brincadeira idiota de colegial, que seria indolor, rápida e humilhante. Sem mais estragos. A Natasha fez cara de deboche e perguntou se eu ia desistir. Depois de engolir o meu medo, respondi que não. Ela fez uma cara séria e mandou que eu viesse para perto dos dois túmulos. Eu fui. Depois ela levantou o olhar para mim e falou que eu tentaria me comunicar com a mulher e a menina que estavam sepultadas nas duas lápides atrás de nós. Eu concordei com a cabeça, não tinha o que dizer. Estava tonta... Ela deu um sorriso torto e iniciou uma história...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Há quase vinte anos, havia uma família que morava nos fundos desse cemitério.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;"><span style="mso-spacerun: yes"> </span>Um homem magro e pálido; uma mulher bonita e jovem; e uma menina de aproximadamente nove anos, alegre e cheia de vida. O homem chamava-se Ben. A mulher, Elisa. Sofia era o nome da garotinha.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Ben era o coveiro do cemitério.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Tinha o hábito de andar pelo meio dos túmulos à noite.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Todos diziam que ele era corajoso em fazer isso, mas ele não via aquilo como um ato de coragem.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Não dava medo nenhum, todos estavam mortos, como dizia ele.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Mas aí veio um dia...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Um dia em que ele começou a ficar irritado. Em que começou a ter pesadelos horríveis.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">E a perder a paciência.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">A família não entendia o que estava havendo. Ele era sempre tão manso...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Não se dera conta de que Ben havia se tornado um homem mal.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Gradativamente...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Cansado de suas frustrações.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Perturbado por algo que nem ele mesmo sabia dizer o que era.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Foi perdendo-se...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Foi indo... aos braços da loucura.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Foi quando veio aquela ânsia. Aquele desejo maldito... Como uma redenção solene.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">A purificação dos pecados. A única forma de fazer parar aquelas vozes dentro da cabeça.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Formulou tudo...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Começou a cavar duas covas.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Até que chegou o dia.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Esperou que viesse a noite.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">E ela veio.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Estrangulou a mulher que dormia ao seu lado.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Sufocou a filha com um travesseiro quando ela pensou em acordar.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Depois ele parou.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">E as vozes também.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Estava livre!<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Enterrou os corpos e fugiu.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Sem dizer aonde ia.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Se realmente ia.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Mas as pessoas logo descobriram tudo, e foi um choque terrível!<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Uma revolta pública.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Sua mulher e filha... Ben devia estar louco!<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Ninguém o viu por dois meses.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Até o dia em que algo começou a feder perto da casa de um comerciante.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Num lado afastado da cidade.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Algo podre.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Foram os olhos curiosos que acharam o corpo já morto...Transparente e gelado.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Alguns outros olhos ousaram acusar terem visto, sob a pele sem vida, marcas enraivecidas de mãos infantis. Pequenas e delicadas mãozinhas.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Um tipo de sinal.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Logo em seguida constataram os olhos... Ambos furados.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">O homem mal parecia bruscamente castigado.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Torturado insistentemente até a própria morte.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Logo nasceu a idéia da vingança.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Haveria sido uma vertiginosa coincidência do destino? Ou então um acerto de contas?<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">A história da família ficou conhecida, virou uma espécie de lenda urbana da cidade.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">A loucura, a vingança, e enfim, a maldição.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Haveriam de ter cuidado com isso agora.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Com a lembrança dos mortos. Com que se move em seus últimos sentimentos em vida.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Não se sabe a verdade, mas alguns dizem que Ben não teve enterro, que seu corpo foi jogado numa vala. Sem identificação e sem palavras bonitas.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Só um lugar para apodrecer e alcançar as portas do inferno.<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="center"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Parei o olhei o rosto de Justin. Aflita... Sim, eu esperava alguma palavra, alguma outra voz para se sobrepor à minha. Fosse um xingamento ou um “por que você parou?!” Eu não me importava em ouvir desaforos.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Ele olhou para mim por dois segundos, até perceber e enfim tentar me deixar mais calma:<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- Estamos indo bem, Amy.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Eu assenti com a cabeça. Mas não me sentia nem um pouco melhor. Não. Agora eu estava enjoada.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Coloquei os cabelos atrás das orelhas e retomei os fatos:<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- Depois da história, eu fiquei meio em pânico. Eu pensei em correr, mas não dava... Não ia dar. Foi quando a Natasha chamou a Karen e perguntou se ela ainda sabia aqueles mantras. Um daqueles que evocavam os espíritos, que os chamava a um tipo de conversa. A Karen veio para mais perto e sorriu, dizendo que ainda sabia sim.<b style="mso-bidi-font-weight: normal"> </b>Fiquei tentando imaginar quando ela aprendera aquelas coisas, aí me lembrei do tempo em que ela andava de preto com aquela galera soturna. Só poderia ter sido naquela época nefasta. As duas conversaram por algum tempo, meio afastadas de mim. Depois de ouvir alguns risinhos, elas enfim se aproximaram. A Natasha chegou mais perto e disse pra eu fazer tudo que a Karen mandasse. Eu tentei dizer que sim, mas só consegui assentir com a cabeça. A cópia da sua irmã estava bem perto de mim quando me dei conta. Daí a Karen começou a me explicar como iniciar o ritual...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Mordi o lábio inferior e tentei manter o mesmo tom de voz:<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- Ela começou olhando bem firme pra mim. Fez aquilo parecer tão sério... Mantive o controle e prestei atenção ao que ela começou a falar... – cruzei as mãos na frente do corpo e prossegui – Foi super estranho ela dizer aquelas coisas pra mim. Sabe...? Eram umas palavras sem nexo, sem rima, sem forma! A Karen as disse apenas uma vez, mas mandou que eu as repetisse ininterruptamente, até o ritual chegar ao fim. De modo algum, eu não poderia parar de dizê-las um só segundo. Não entendi por que, mas não perguntei também. Aí ela me puxou pra mais perto dos túmulos e ficamos bem no meio dos dois. A Natasha me deu um giz e disse pra eu desenhar um pentagrama entre as lápides. Primeiro eu fiquei sem ação, eu nem sabia o que era pentagrama! A Karen deu um muxoxo e me explicou que era um símbolo que teríamos que usar. Consistia em um círculo com uma estrela dentro. Simples. Eu faria. Me agachei e tentei fazer minha mão parar de tremer! Depois de algumas tentativas de ficar calma, eu terminei o desenho. <i style="mso-bidi-font-style: normal">“Muito bom”,</i> a Natasha falou. Me ergui e busquei o olhar da Lucy... Por incrível que pareça, ela desviou os olhos de mim e baixou a cabeça. Respirei fundo e ouvi a Karen dizer pra eu começar, bem do jeito que ela tinha me ensinado. Daí todo mundo se afastou, aglomerando-se ao meu redor, formaram uma roda. Foi horrível sentir o que eu estava sentindo, dava medo só de pensar em começar! Mas se eu não fizesse, passaria a ser maior piada da escola! Uma fracassada, uma medrosa! Fixei meus olhos no chão e busquei coragem. <i style="mso-bidi-font-style: normal">“Não temos tempo pra desistências... Duas perguntas e fim”</i> A Natasha falou tão baixo... Ainda sim foi como se estivesse gritando! Busquei fôlego e comecei a falar as palavras do mantra. Gaguejando a principio, mas comecei. Sabia que havia vários pares de olhos sobre mim naquele instante, olhando-me de diversas formas, com diferentes intenções. Logo eu sentiria o arrepio dito por Karen e saberia que era a hora de dizer alguma coisa aos espíritos. Enquanto eu repetia as palavras, imaginava se conseguiria fazer sair a minha voz, se conseguiria abrir os olhos e olhar para elas, se nos deixassem vê-las... a menina e a mulher morta. Não sei exatamente por quantos minutos eu fiquei falando aquelas coisas estranhas, mas percebi que aos poucos ia esfriando. O ar tornava-se rarefeito e quase não dava pra respirar. Quis parar de falar e tomar fôlego, mas não podia, a Karen disse que eu não podia parar! Daí continuei. Não vendo a hora de tomar oxigênio. Apertei os olhos e prossegui. Ainda não havia acontecido nada inexplicável ou sobrenatural. As palavras iam saindo... Ficava frio. Até que me senti estranha. Estranha demais. Não parei de falar, até que houve um trovão e eu abri olhos, logo olhei para o céu e vi relampaguear, uma luz clara dentro uma lua nova e obscura. Ainda falava e olhava para o céu, apavorada, assustada! Foi quando senti aquilo... O arrepio! Daí um gemido de criança, de menina... Tomei um grande susto e olhei pra frente. Dava pra ver através dela, da menina!! Foi demais pra mim, foi a coisa mais louca e aberrante que eu já tinha visto! Não consegui dizer mais nada. Nada! Não saía mais nada da minha boca. Fiquei olhando aquilo, com os olhos arregalados. Daí a Karen começou a gritar dizendo que eu não devia ter parado, que eu tinha que retomar o mantra. Não dava pra entender nem pra recomeçar a dizer aquelas palavras de novo. Eu estava em pânico olhando para o meio das lápides, vendo a menina e mais alguma coisa sair detrás de uns arbustos. A Karen continuou berrando, depois foi a vez da Natasha perguntar gritando o que eu estava vendo. As duas estavam meio histéricas, não sei direito! Eu mal conseguia me mover, minhas pernas estavam adormecidas e meus ouvidos começavam a zumbir. Minha consciência me apunhalava com sermões curtos enquanto eu me perguntava o que eu tinha feito. Foi quando ouvi um tipo de grunhido. Horrível e furioso. Olhei melhor e percebi que vinha da menina! Vinha dela! Eu me agoniei e tentei ter forças pra fugir, mas nem ao menos tive chance. Ela veio pra cima de mim com muita raiva, mal eu me dei conta e já estava no chão, meio desacordada, com uma dor horrível no peito. Ainda virei minha cabeça para pedir ajuda, mas percebi que todos corriam para fora do cemitério. Eu estava sozinha! Achei que morreria sozinha! Depois eu apaguei. Desmaiei. Acho que foi o excesso de adrenalina, medo sei lá! Acordei duas horas depois, com a Lucy me abanando e as luzes do carro da polícia. Tinha também um velhinho com a cara feia. Com certeza, o vigia do cemitério. Estava meio tonta, perdida e não sabia dizer se fora um pesadelo ou um delírio... Ainda atordoada. A Lucy pegou na minha mão e disse que ia ficar tudo bem... Disse que não ia me deixar sozinha naquela. Eu tentei sorrir e saber o que significava “aquela”.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Parei pra respirar. <o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Retomei:<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- A gente voltou pra casa no carro da polícia. Era quase três horas da manhã. Meu pai estava sentado na varanda quando viu as luzes vermelhas se aproximarem. Imagino que tenha pensando o pior deve ter se sentido péssimo. Aí paramos e saímos do carro. O policial falou pra ele a história da Lucy. Contou que havíamos entrado no cemitério sem permissão, invadido. Depois de ficarmos com medo, tentamos ir embora, mas eu acabei desmaiado. Só. Sem espíritos ou mantras. O policial olhou meio torto pra mim e disse ter havido uma brincadeira de criança sem danos mais graves. Meu pai ficou sério, cruzou os braços e me mandou entrar. Me despedi da Lucy e subi. Fiquei na janela do meu quarto vendo o policial ir embora com minha amiga. Com certeza ela também levaria uma bronca daquelas de sua mãe.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Depois me calei. Esses eram os fatos. Os fatos escondidos do início da história.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Esperei Justin explicar o plano e enfim me livrar de tudo aquilo. Havia sido difícil pra mim! Pronto, agora é só esticar a mão e me deixar apertá-la.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Ele olhou para mim por cerca de cinco segundos. <o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Indecifrável.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- Pode continuar, Amy.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Times New Roman;"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-SIZE: 14pt">“Continuar?”</span></i><span style="FONT-SIZE: 14pt"> Pensei. <i style="mso-bidi-font-style: normal">“Eu não havia dito tudo?”.<o:p></o:p></i></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Franzi a testa e perguntei:<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- O resto é importante também?<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Justin deve ter achado minha pergunta engraçada. Deu um sorriso torto e respondeu:<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">- É importante sim.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Assenti com a cabeça e pensei um pouco...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">...<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">Próximo capítulo.<o:p></o:p></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="FONT-SIZE: 14pt"><span style="font-family:Times New Roman;">(=<i style="mso-bidi-font-style: normal"> <o:p></o:p></i></span></span></p><br /><div><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes"><span style="font-family:Times New Roman;"></span></span><o:p></o:p></p></div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-57015661511738705852009-08-05T06:53:00.000-07:002009-08-05T06:57:04.451-07:00Capítulo XIV – A última chance<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTsLEtcGaNM15S7vF0obFmlT_DX-h0PU0sCs0yd9lql1DVfU6d3gNG9L3b_tLBfeUAMy9DUQzEWRLKjP7PAez4AMq_0VhkhynU8ev847cIJbgEWRPgRAiIg6fW6sa8aw8pxiqKNG-Le4yN/s1600-h/images.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5366477938116801490" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 129px; CURSOR: hand; HEIGHT: 129px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTsLEtcGaNM15S7vF0obFmlT_DX-h0PU0sCs0yd9lql1DVfU6d3gNG9L3b_tLBfeUAMy9DUQzEWRLKjP7PAez4AMq_0VhkhynU8ev847cIJbgEWRPgRAiIg6fW6sa8aw8pxiqKNG-Le4yN/s400/images.jpg" border="0" /></a> Não sei se é possível, mas na manhã seguinte eu acordei bem pior.<br />Ao me levantar de cama, fui me olhar no espelho... Havia um rosto pálido com um par de olhos baços e um conjunto de veias finas e arroxeadas, num lindo hematoma.<br />A marca da mão em meu antebraço estava menos visível. Ao menos isso.<br />A do pulso estava ficando mais forte. Tentava não acreditar que sua estranha metamorfose continuava, e que ela passava da cor vermelha, para um cinza quase negro.<br />Não.<br />Respirei fundo e tentei balbuciar alguma coisa. Um palavrão, eu acho...<br />Não saiu nada. Se saiu eu realmente não ouvi.<br />...<br />O café da manhã também foi horrível. Tanto por que meu pai o fizera, quanto por que não trocara uma só palavra comigo. Tive medo de sair sem comer e assim deixá-lo de certa forma com raiva. Sentei-me encolhida na cadeira da cozinha e belisquei um pedaço de torrada. Sem encará-lo, sem respirar direito. Não via a hora de sair pra rua. Ficar longe.<br />...<br />Havia uma jarra com suco de laranja em cima da mesa da cozinha.<br />Obs: Eu odeio laranja.<br />Não ia tomar, mas meu pai serviu um copo e colocou ao lado das minhas torradas roídas. Lançou um olhar meio aflito-psicótico pra mim e virou-se para a pia.<br />Tremi os olhos. Tinha que tomar... Pelo menos temi não engolir aquilo e receber algum tipo de castigo.<br />Hesitante, peguei o copo e deu o primeiro gole.<br />...<br />Quis vomitar o que eu não havia comido.<br />O suco estava com um gosto horrível, meio azedo, meio doce enjoativo. Como água salobra, suja de lodo. Não pude cuspir, então precisei engoli aquilo. Mas só aquilo! Depois recoloquei o copo na mesa e fiz uma careta de nojo.<br />Meu pai veio para perto e falou com os olhos avermelhados:<br />- Tome seu suco.<br />Confesso um pequeno sobressalto.<br />Não respondi.<br />Por que ele estava daquele jeito? Por que eu tinha tanto medo do que ele podia fazer?<br />Meu pai.<br />Ele realmente queria que acontecesse aquilo?<br />...<br />Repensei por cerca de alguns segundos.<br />Para acabar logo com o medo que começava a sentir, deixei-me agir por impulso e engoli todo o liquido amarelo do copo.<br />Depois foi o tempo de o suco querer retornar a boca, mas aí eu o contive com a mão e o pensamento de que seria bem pior se eu vomitasse no carpete da cozinha.<br />Ainda tossi, tentando manter a garganta fechada. Meu pai não fez nada, só passou por trás de mim e subiu para o andar de cima.<br />...<br />Catei minha mochila sobre o sofá e saí sem dizer coisa alguma.<br />Qualquer palavra e...<br />...<br />O primeiro tempo de aula passou. Eu estava lá, ausente. Mumificada, ouvindo o caquético professor de história falar sobre não-lembro-o-quê-exatamente. Tinha muito barulho na sala, mas eu mal conseguia me mover! Tinha os olhos sempre estacionados em algum ponto morto, tentando realmente saber ou ter noção de alguma coisa.<br />Eu parecia uma idiota, perdida e parada.<br />Haveria respostas em algum daqueles lugares em que eu estava?<br />...<br />Sentada em uma carteira, bem no meio da sala. Foi num movimento leve do pescoço que vi Justin me olhar apreensivo.<br />Baixei a cabeça e cerrei as pálpebras.<br />...<br />Veio o terceiro tempo de aula. Aí um homem e uma mulher entraram na sala. O cara era alto, meio gordo, tinha a pele clara e era meio sério; andava com uma mochila estranha em suas costas. A mulher já era menor, com uns cabelos ruivos e uma pele de porcelana. Estava graciosamente dentro de um tailleur marrom.<br />Eles entraram, disseram ‘oi’ pra classe e foram falar com o professor. Ouvi o homem perguntar se aquela era a turma do terceiro ano, depois de o professor dizer que não, eles se retiraram, em passos leves e elegantes.<br />...<br />No intervalo, fugi da Lucy.<br />A vi subir as escadas e perguntar a uma menina se eu havia ido a escola naquele dia.<br />Depois de a tal menina assentir com a cabeça, corri e me esgueirei no corredor vazio que levava ao laboratório.<br />Lucy deveria ter ido até minha sala e me procurado com os olhos.<br />Sem me achar, lógico.<br />Mas bem, o que eu poderia oferecer a ela?<br />Não tínhamos nada em comum ou que pudéssemos partilhar naquele momento de nossas vidas. Os laços que formavam nossa amizade estavam bem comprometidos.<br />Ela nem ao menos acreditara em mim no dia em que contei sobre o que estava havendo comigo. Sobre as coisas estranhas na minha casa!<br />Depois daqueles olhos de suspeita e da legião de assuntos fúteis que Lucy me mostrara, achei bem melhor deixá-la de lado durante aquele tempo.<br />Era seguro e indolor.<br />...<br />Suava frio.<br />Eu estava definhando.<br />...<br />Sentei no chão, escorada na parede do corredor vazio. Dava pra ouvir as vozes dos alunos no corredor ao lado. Se todo mundo gostasse de química, eu teria uma companhia lá, ao menos. Os alunos só andavam naquele corredor quando o professor deixava notas em jogo. Pontos e formulas-não-mágicas.<br />Apertei os olhos e abracei meu corpo. Joguei a cabeça pra trás e esperei algo acontecer comigo. Quem sabe um tipo de anjo pudesse atravessar o teto e lançar uma consoladora brisa em meu rosto. Daí poderia me estender a mão e levar-me da minha própria vida.<br />Por muito e muito tempo.<br />...<br />Foi só a dor que apareceu. Uma fisgada violenta e raivosa nos músculos do punho.<br />Abri os olhos de impulso e afastei a manga do casaco, olhando a marca preta no pulso queimar. Parecia não haver ar em meus pulmões, então comecei a respirar tanto quanto pudesse.<br />E eu quase não pude muito.<br />A continuação da fisgada se estendeu por cerca de dez segundos, quando finalmente foi parando.<br />...<br />Havia sido a fisgada mais dolorosa que já sentira.<br />E eu desejava nunca mais ser tocada por ela. Nunca mais.<br />...<br />...<br />Olhei a marca...<br />Agora eu podia ver... Era um estranho desenho geométrico, que mesmo cheio de lados, parecia muito uma cruz...<br />Passei o dedo sobre ela, senti minha pele áspera e meio quebradiça.<br />Algo terrível estava prestes a acontecer. Era realmente como se algum cerco estivesse se fechando, comigo dentro, ainda por cima!<br />Eu estava péssima, me sentia tonta e enjoada. Passei a mão na barriga, era como se algo estivesse comendo minhas vísceras.<br />Algo queria retornar à boca.<br />...<br />Levantei-me correndo e voltei para o corredor dos alunos, havia acabado de tocar a campainha que findava com nosso intervalo.<br />Ia pra sala, mas estava passando muito mal!<br />Meu estômago se revirava e se contorcia.<br />...<br />Acabei escapando para o banheiro feminino.<br />...<br />Lá estava vazio. E por mais consolador que pudesse parecer, também não havia ninguém chorando. Duas meninas saíram rindo alto lá de dentro. Olharam torto pra mim e se foram.<br />Entrei empurrando com rapidez a porta do banheiro. Era como se estivessem perfurando o meu fígado com uma faca! Doía muito e me tirava o fôlego.<br />...<br />O burburinho dos alunos havia cessado no pátio, só o que ouvi foram os meus pequenos gemidos de dor.<br />...<br />Tranquei-me e enfim tentei expulsar do meu estômago o que estava me afetando.<br />...<br />O que eu havia comido de tão péssimo?<br />...<br />Não comido, mas talvez tomado... Um salobro copo de suco de laranja.<br />...<br />Vomitei tudo.<br />Tudo mesmo.<br />Sentira como se um bolo de espinhos tivesse rasgado minha garganta.<br />...<br />Quando abri os olhos e olhei para o que havia regurgitado, tomei um enorme susto!<br />Era um tipo de massa preta, com umas coisas avermelhadas.<br />Quase caí pra trás!<br />Eu mal havia comido naqueles dias, como podia ter colocado aquilo pra fora??<br />Mal consegui respirar, era como se algo estivesse prendendo o meu ar.<br />...<br />Escorei-me na parede com os olhos arregalados. Por um momento aterrador, pensei:<br />“Meu pai havia tentando me envenenar?”<br />O suco.<br />Sim, O Suco! Só podia ter sido ele, claro!<br />Talvez o gosto horrível se devesse às verdadeiras intenções diluídas nele...<br />...<br />Tapei a boca e tentei conter o choro.<br />...<br />O que eu estava pensando? Não, eu só poderia estar ficando mesmo muito louca! Meu pai, meu próprio pai ter tentado me envenenar?<br />Não. Era cruel demais...<br />Ele teria a coragem de fazer isso com a própria filha? <br />...<br />Ouvi algumas vozes entrarem no banheiro. Sem me demorar mais, enxuguei as lágrimas quentes que escorriam sobre o rosto e abri suavemente a porta da cabina onde eu estava. Ajeitei melhor o meu casaco e olhei para frente.<br />...<br />Estavam no canto do banheiro, o homem e a mulher que mais cedo haviam interrompido o terceiro tempo de aula. Não sei bem o que falavam, eu ainda estava meio atônita com o mundo e com as pessoas. Abracei meu corpo e olhei melhor para o cara alto e claro, ainda recolhida no vão da porta da cabina. Acho que nenhum dos dois me viu.<br />Tive receio em manifestar minha presença, esperaria que eles fossem embora e logo em seguida, sairia também.<br />Mas outra vez, algo estranho aconteceu...<br />...<br />Oscilava entre erguer a cabeça e esperar o momento de ir; Olhei mais as figuras desconhecidas. Sem muito a esperar.<br />Foi super estranho e rápido flagrar o homem tentar puxar a pele abaixo de seu pescoço, como se quisesse tirar do rosto, um tipo de máscara.<br />Assustei-me a ponto de não permanecer em sigilo.<br />Abracei melhor o corpo e corri para fora, quebrando o estranho diálogo entres os estranhos, passando desgovernadamente por uma fenda pequena que sobrara da porta.<br />O homem ainda me chamou, mas eu corri o mais rápido que pude para o segundo andar.<br />...<br />O quê? Agora eu veria alucinações em pessoas desconhecidas também?<br />Meu deus, como eu poderia terminar com aquela tortura?<br />...<br />Subi as escadas, de volta ao corredor dos alunos.<br />Passei pelos vidros da sala de vídeo, pude ver meu rosto sem cor e abatido.<br />Era assim que o medo e o pânico me deixavam?<br />Eu tentaria não desmaiar...<br />Tentaria.<br />...<br />Antes de chegar à classe, Vi Justin.<br />...<br />Ele e eu andávamos no mesmo passo até a porta quinze, da primeira turma do segundo ano. Vínhamos de direções opostas, mas íamos de encontro um ao outro. Involuntariamente. Um garoto de dezessete anos e uma menina de dezesseis. Ele me olhava, eu desviava os olhos e tentava caminhar sem cambalear.<br />Com um cavalheirismo estranho, ele ergueu a mão para girar a maçaneta e abriu um espaço para que eu entrasse primeiro. Ia fazer isso, mas era tão difícil me manter lúcida!<br />Acabei perdendo o equilíbrio por uma vertigem.<br /><br />Se Justin não estivesse tão perto, com certeza eu me estatelaria no chão.<br />Ele me segurou e me levou para um banco perto da escada.<br />Fugiria dele se eu conseguisse me mexer direito, mas naquela hora, eu não podia fazer exatamente nada.<br />...<br />- O que foi, você tá bem? – Justin falava bem perto ao meu rosto. Lembro de sentir um cheiro agradável de menta.<br />- Claro que eu tô! – grunhi baixinho – Me deixa levantar, sai de cima de mim!<br />Justin se moveu quase nada para trás.<br />- Vou te levar pra enfermaria.<br />Ele não perguntou, decretou, praticamente.<br />- Não, não! – fiz o maior esforço pra me erguer – Eu vou embora, vou pra casa!<br />- Amy... – ele fez cara de zangado – Por que você é tão teimosa?!<br />- Ah me esquece! – levantei e sai. Justin não fez nada, ficou só me olhando, parado.<br />Não sei de onde tirei força pra caminhar.<br />Achei realmente incrível!<br />...<br />Desceria e pularia o muro. Ia embora daquela droga! No entanto, lembrei que minha mochila estava dentro da sala, e que lá também estava a professora.<br />- Só faltava essa... – parei no meio da escada.<br />Justin perguntou:<br />- Podemos nos ajudar?<br />...<br />...<br />...<br />O plano era este:<br />Justin apareceria sorrateiramente no vidro da porta da sala e faria sinal a um amigo seu.<br />Este amigo pediria a professora para ir ao banheiro, e encontrando Justin lá fora, seria informado de que teria que tirar a professora de dentro da sala por alguns minutos.<br />Depois que o amigo enrolasse a professora e a fizesse sair, ele nos daria nossas coisas.<br />*Riscos: algum dedo-duro poderia acabar com nossa fuga e nos fazer autografar o livro preto da diretora.<br />*Ganhos: nós estaríamos livres dos dois últimos tempos de aula.<br />Bem, era tudo.<br />Claro que eu poderia ir falar com a pedagoga e contar que eu havia passado mal e que precisava ir para casa, mas aí seria bem mais provável depois ela ligar para o consultório do cardiologista e dizer que sua filha havia se sentido mal durante as aulas.<br />Bem... aí imaginem o que ele faria comigo...<br />...<br />Imaginou?<br />Não, não. Dessa vez haveria lanhos de sangue.<br />Com certeza.<br />...<br />Contudo, acabei por aceitar o plano de Justin.<br />Àquela altura do campeonato, não ligávamos para regra nenhuma.<br />Eu, principalmente. Não as regras da escola.<br />...<br />Só queria ir embora e morrer num lugar sossegado.<br />Justin? Não sei por que ele queria fazer aquilo...<br />Não imagino por que.<br />Seria somente a vontade de não assistir aula?<br />...<br />Não sei.<br />...<br />O amigo dele se chamava Carlos. Era pequeno e ligeirinho. Agraciado com dois olhos claros e sorridentes. Deve ter se assustado quando me viu olhar para ele, com minha cara de marfim velho. Eu nem me importei.<br />Carlos aceitou participar do plano com muito gosto. Entrou rápido na sala e chamou a professora no canto.<br />Corremos para o corredor do laboratório e esperamos cerca de dois minutos.<br />Nesse intervalo de tempo eu imaginava a expressão da professora, com a mentira de que a haviam chamado na sala da pedagoga, por conta das notas não entregues do bimestre anterior.<br />Ela deveria estar inquieta.<br />...<br />Fiquei bem encostada na parede, enquanto Justin espiava calado uma boa ocasião de fugir.<br />...<br />Ficou silêncio por um longo tempo, até ouvi-o grunhir.<br />- Vamos agora!<br />Ele me puxou rápido, quase perdi o equilíbrio outra vez. Não fora indelicado, só rápido.<br />Carlos apareceu na porta e deu-nos nossas mochilas.<br />Depois ele sorriu, maliciosamente, dando uma piscadela para Justin, que a ignorou descaradamente.<br />Só disse um leve ‘obrigado, cara’.<br />...<br />Nos esgueiramos corredor adentro, enquanto eu tentava manter os olhos abertos e os passos coordenados. Justin sabia que a qualquer momento eu podia perder totalmente os sentidos.<br />Estava perto o suficiente para ser prestativo...<br />...<br />Estávamos no térreo.<br />...<br />Após os olhos de espreita e algumas certezas remotas se confirmarem, ganhamos o pátio e logo já estávamos perto da quadra poliesportiva. Depois foi mais fácil, passamos pelos arbustos e surgimos na frente do muro.<br />...<br />Soltei meu braço da mão de Justin e caminhei meio lenta até algo sólido. Encostei-me na parede e respirei fundo. Exausta.<br />Justin deveria estar vendo como pularia a grade, depois de todos aqueles novos e brilhosos arames farpados que se entranhavam nela.<br />Confesso ter desistido antes de rasgar o primeiro pedaço da minha pele.<br />Sem mais ferimentos, por favor...<br />...<br />Obs: A diretora era bem esperta.<br />...<br />Fui escorregando as costas na parede, até perceber que estava sentada, com a mochila sobre o colo. Buscava formas de me sentir bem mais viva, sem aquele peso morto dentro do peito. Todas aquelas coisas estavam afetando a minha saúde. Minha vida agora era uma frágil linha de seda, prestes a ser severamente cortada, separada.<br />Rompida.<br />...<br />Era isso. E depois a força estranha que transformava meu pai, no meu maior e mais vivo inimigo.<br />...<br />Justin desistiu também, cinco minutos depois.<br />...<br />Sentou-se ao meu lado. Em silêncio. Redimido e moroso silêncio.<br />...<br />Achei que ele talvez não quisesse mais oferecer ajudar alguma, nem mais continuar com aquela encenação de quinta. Foi um calmo e quase passivo suspiro de alívio. Enfim, agora eu estava de mãos abanando, afundando sozinha, sem ninguém à tira colo.<br />...<br />Foi estranha uma sensação ruim passar por mim nessa hora...<br />Como se eu realmente me importasse com aquilo.<br />...<br />Justin olhava as mãos.<br />...<br />A sensação de perda. Depois a fisgada maldita em meu pulso.<br />Cruzei os braços e contorci o rosto.<br />Devia aceitar terminar tudo daquele jeito?<br />Como eu era ridícula, perderia sem nem tentar! Mas como eu tentaria lutar contra aquelas coisas? O que eu poderia fazer por mim e por meu pai?<br />...<br />Ah, e eu também havia rejeitado a ajuda. Ou a suposta ajuda.<br />Eu nunca teria certeza. Nunca saberia se era mesmo uma mentira.<br />...<br />Arrependimento. Vontade de estapear eu mesma o meu rosto. Bater a cabeça na parede.<br />Descruzei os braços e os deixei perto do corpo.<br />...<br />- A segunda fuga frustrada. – Justin balbuciou.<br />- É...<br />- Mas não me importo de ficar aqui até as onze e quarenta da manhã...<br />Eu pensei que também não me importava.<br />- É...<br />Ele riu e olhou para mim.<br />- Você só sabe dizer isso...?<br />Sorri.<br />- É.<br />Justin não virou o rosto. Ficou olhando pra mim, estranho e lentamente. Foi deslizando o olhar até a manga do meu casaco, pedindo um tipo de permissão para tocá-la.<br />Eu não me movi ou travei.<br />Depois ele ergueu as mãos e foi afastando com leveza, a manga do casaco da minha pele. Girou meu punho e olhou a marca...<br />Olhamos ao mesmo tempo, pensando coisas não iguais, mas bem parecidas.<br />Tinha certeza disso.<br />Ele tentava disfarçar a inquietude daquilo, mas era difícil, até mesmo para aquela sua cara cínica.<br />- Está quase completo...<br />Quis perguntar por que, mas não disse absolutamente nada. Eu não conseguia.<br />Justin passou o dedo sobre o desenho.<br />Eu devia falar um monte de coisas, mas era como se estivessem trancadas em alguma parte da minha boca. Deveria haver uma chave para abrir a porta e deixá-las respirar um pouco.<br />Outra palavra, quem sabe...?<br />- Essa talvez seja sua última chance...<br />Última chance?<br />Estremeci.<br />- Última chance de quê...?<br />Ele demorou a responder. Tentava manter um contato visual fixo comigo, achar a ligação certa.<br />- De salvar a sua vida, Amy.<br />...<br />Era aquilo. Era a chave. Eu realmente queria salvar minha vida?<br />...<br />Meu rosto entortou-se numa interrogação por quase um minuto.<br />Diria sim. Sim.<br />Eu deveria dizer sim.<br />Justin buscou os meus olhos.<br />Sua voz mansa me estendeu a mão.<br />- Comece me contando tudo... Desde o início.<br />...<br />A ajuda. Eu enfim aceitaria a ajuda. Sem tentar lembrar toda a hora que ela talvez pudesse me apunhalar pelas costas, ou me pregar uma ruidosa peça.<br />Era minha única saída, a única voz inteligível entre os meus gritos.<br />...<br />Olhei para Justin e decidi que contaria.<br />...<br />Respirei fundo.<br />Tudo começou no dia do meu aniversário...<br />...<br />...<br />...<br /><br /><div></div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-35296858745604421692009-07-31T10:35:00.000-07:002009-07-31T10:37:51.787-07:00Isso nao foi um roubo, ta??<br />Mas eu adorei os peixinhos do seu aquário<br />:D<br />rsrsrs<br /><br />EEII<br />Cuidados com seus peixinhos Hugo,<br />Meus carnívoros podem devorá-los....<br /><br />......<br /><br />heheheheAmyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-35659496093518565132009-07-31T09:38:00.002-07:002009-07-31T09:41:39.482-07:00Capítulo XIII – Neblina<img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5364664951121794818" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 150px; CURSOR: hand; HEIGHT: 113px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAks15oe-GioNQWcfZ0QSW3BK4kOLjdljF0HtlLrKMuy4WfGrDiz8hCm7PCp2ydUWPfAC6mgDUUXuzcSpvizwBojpjpXnM2rQR-ycGUm-iyQyK1mHbxw7TAL7UwvSSy36OiP2OR8p6u-64/s400/blog.jpg" border="0" />Era domingo.<br />E naquela manhã, não houve realmente nada que me tirasse da cama. Nem a sensação de dejá-vù que me cercava.<br />Sentia-me totalmente esfacelada. Era como se tivesse dormindo dentro de um triturador de carne. Estava frio. Lembro de olhar no relógio e ver os ponteiros denunciarem as sete e meia da manhã.<br />A casa inteira dormia. Ou então se prostrava de olhos e coração fechados. Deitada em minha cama, podia imaginar o corredor claro, e uma neblina pousar sobre ele. Como um tipo de praga, um gás venenoso e mortífero.<br />Se eu olhasse com mais atenção para a porta fechada, com certeza veria a fumaça esbranquiçada entrar por baixo da madeira. Tinha medo de não conseguir controlar os pés e caminhar até ela, encher meus pulmões dela e finalmente fazer parar a dor.<br />Finalmente acabar com aquilo.<br />Ser vencida pela adulante e cruel covardia.<br />...<br />Cobri-me totalmente com o lençol. Ficaria jogada ali até que pudesse fugir pra algum outro lugar.<br />Quando eu tivesse vitalidade pra isso.<br />...<br />Três horas e quinze minutos depois, lá estava eu, pisando leve e saindo sorrateiramente pela porta dos fundos. Minha avó estava sentada na cozinha, mas tenho plena certeza que ela nem se deu conta de que eu passava bem ao seu lado, com a feição aflita.<br />Tinha medo de encontrar meu pai, e ser vítima de seus punhos outra vez.<br />Levar um empurrão violento de suas perturbações.<br />...<br />Poderia xingá-lo de cavalo, mas o que isso adiantaria?<br />...<br />Eu só queria escapar dali. Ficar sozinha e quieta em algum lugar aquecido do bairro da Vitória, bem escondida entre as ruas lamacentas da cidade de Serra do Campo.<br />Num andar hesitante e assustado, consegui chegar ao portão. Imaginei se meu pai me procurasse no quarto... Mesmo que aquilo pudesse ocasionar uma tragédia, estava quase convicta de que minha ausência não faria a mínima diferença para ele.<br />Agora éramos tão distantes...<br />Não fazia diferença alguma ficarmos afastados.<br />...<br />Dentro de meu casaco marrom, eu me encolhia e andava apressada, com a cabeça voltada para baixo e os olhos quase presos à terra batida do chão. Eu nem sabia para onde estava indo, só sabia que precisava estar longe o bastante dali.<br />Deles.<br />Pensei mudar o caminho e entrar em uma das trilhas do bosque, nos arredores da estrada de terra, mas não o fiz. Havia silêncio demais por entre as árvores.<br />Continuei meu percurso, muda e apreensiva.<br />...<br />Algo estalou levemente bem atrás de mim.<br />Eu logo pensei em correr e não esperar que me alcançasse.<br />Mas eu nem tive tempo para isso... Nem ousadia suficiente.<br />...<br />Permaneci alheia.<br />Era só um garotinho mirrado e franzino.<br />Andava devagar, mas olhava pra frente, sério e apático. Estava sem camisa, descalço, exibindo um peitoral magro e queimado de sol.<br />Sol?<br />Sim, sol.<br />Nossa! Mas estava tão frio...<br />Observei-o com o canto do olho, não disse uma só palavra, mas me perguntei se ele talvez precisasse de ajuda, quem sabe estivesse perdido ou precisasse de algo maior para se proteger das rajadas friorentas do vento.<br />Ouvi-o tossir.<br />Vi-o tropeçar.<br />Repensei...<br />...<br />Eu era realmente tão mesquinha a ponto de ignorá-lo?<br />Bem, eu não poderia ser.<br />...<br />Tentei manter um tom de voz amigável depois de tomar um pouco de coragem.<br />- Você tá perdido, é?<br />Por alguns segundos curtos, o menino olhou pra mim.<br />- Não...<br />Engoli a seco. Mas ainda não havia me dado por satisfeita.<br />- Não está com frio...?<br />O olhar que ele me lançou fora muito constrangedor. Pelo menos pra mim. Percebi o leve arquear de uma de suas sobrancelhas, seguida de uma furtiva idéia que bombeou em minha cabeça. O menino me olhava como se eu fosse uma louca. Eu parecia uma?<br />- Não estou com frio.<br />Fiquei calada. Mas como... Estava com certeza muito frio.<br />Imaginei que ele pudesse estar acanhado comigo, uma completa desconhecida errante sobre uma estrada inóspita. Talvez, se estivesse em seu lugar, também não conversasse muito com estranhos mexeriqueiros. Nem lhe confessasse estar congelando e abrir uma brecha para algum tipo de favor...<br />Mas bem, eu não tinha nenhuma má intenção.<br />Foi isso que me fez continuar as perguntas.<br />...<br />- Você mora por aqui?<br />Agora o menino estava exatamente ao meu lado, andando ao mesmo passo que eu. Ainda muito reservado e sério, não parecia assustado ou afoito. Por alguns segundos achei que estivesse me fazendo companhia e que todas as minhas suposições eram infundadas e sem noção lógica.<br />- Moro.<br />- Engraçado, – forcei um sorriso para ver se recebia outro – Não sabia que tinha vizinhos...<br />O menino não sorriu.<br />- Moro com minha mãe em uma cabana.<br />Tudo bem.<br />- É perto daqui?<br />O menino apontou com o dedo para o lado esquerdo da estrada de terra, perto de algumas castanheiras.<br />- Fica em uma clareira, para lá...<br />Assenti com a cabeça. Não sabia que morava gente naquelas bandas. Quis formular outra pergunta pra matar o tempo, mas estava difícil pensar com aquele vento gelado no rosto.<br />Calei.<br />...<br />Havia saído de casa a exatos vinte minutos. Foi só o que me veio na mente.<br />Depois já estávamos perto da rua principal, enquanto me perguntava para onde eu ia.<br />Uma mão me levaria ao lado populoso do Santos Dumont, onde havia prédios, casas e lojas de roupas caras; poderia achar um botequim aberto por lá e finalmente encher a cara, ou talvez pudesse ir visitar o museu e esquecer um pouco da atualidade que estava vivendo. A outra opção era seguir pela mão contrária, indo em direção ao bairro da Vitória, catar alguém paciente e enchê-lo com a história de que estava perdida e que não sabia voltar pra casa; quem sabe assim eu pudesse ganhar uma cama quente e um copo de leite, seguido de algumas promessas de que uma jovenzinha tão doce e meiga não ficaria sem lar por muito tempo.<br />Era só fazer uma cara de vítima.<br />Suspirei.<br />...<br />O que haveria de bom na Vitória?<br />Casas de tijolos cozidos e um cemitério cheio de más recordações.<br />Senti algo como um soco no estômago.<br />Parei e respirei.<br />...<br />Não. Qualquer outra coisa era melhor. Eu poderia caminhar pelo Santos Dumont e encontrar um lugar para enfim desabar com mais delicadeza, mas calma. Sim. Claro que sim.<br />...<br />O menino não disse mais nada. Parei no meio fio e esperei uma despedida singela.<br />Ia dizer até logo e virar as costas, antes que eu me sentisse bem mais infantil que ele. Porém, quando o disse e não ouvi resposta, tive o impulso de confessar meu nome e perguntar o dele, de supetão.<br />- Ah propósito, me chamo Amy... Qual é o seu nome?<br />O menino olhou para os carros que seguiam até o bairro da Vitória. Num balbucio sem vontade ouvi-o responder:<br />- Daniel.<br />Diria qualquer outra coisa, no curto intervalo de tempo em que baixei meus olhos. No entanto, foi engraçado e irônico não perceber que ele havia me dado as costas sem hesitação. Ainda mexi a boca para soltar uma palavra qualquer enquanto o via ir para longe, mas após me sentir uma idiota, me enfiei melhor no casaco e segui para o lado habitado do bairro em que morava.<br />Ao menos ele me dissera seu nome. Não precisávamos de mais nada.<br />...<br />Lá estava eu.<br />Feito uma barata tonta em uma rua pouco movimentada do Santos Dumont.<br />Onze em ponto.<br />Ainda confusa e precisando de um teto seguro.<br />Pra onde eu ia? Onde eu poderia respirar todo o fôlego que me sufocava?<br />Queria me acalmar e arregalar os olhos, apertar o meu coração e obrigá-lo a agir mais racionalmente. Sim!!<br />Mas até quando?<br />...<br />Meus olhos aflitos acharam uma porta aberta. Uma grande e chamativa porta escancarada.<br />Não enxerguei as poucas pessoas que andavam na calçada, só o que fiz foi obstinar os passos e entrar. Por entre os bancos vazios e polidos da gigantesca igreja, senti-me pequena e abraçada. Ainda perdi uns passos, estava tão mais à vontade pra gemer a agonia do meu peito... Era só fechar os olhos e deixar sair.<br />Mas não. Seria patético demais.<br />Esfreguei as mãos e procurei um lugar para me sentar.<br />...<br />Estava tudo muito vazio por lá, mas dava pra ouvir uma música baixa e sem muito timbre entoar ao fundo. Imaginei haver alguém na sacristia ou no confessionário, sei lá, algo do tipo. Fechei meus olhos e pedi que não me expulsassem dali com a desculpa de que a missa já terminara.<br />Respirei fundo...<br />Tinha os cabelos soltos, numa tentativa de esconder ambos os lados do rosto. Temia alguém perceber o meu hematoma, um dos que eu tinha gravados no corpo. Não. Eu não estava forte o suficiente para responder tais perguntas. Poderiam deixar-me um pouco em paz?<br />Eu responderia isso.<br />...<br />Baixei a cabeça e refleti praticamente nada.<br />Havia olhado pouco ao redor, mesmo notando a claridade no centro do altar. Pensei em fazer uma oração, ia até juntar as mãos e lamuriar alguma coisa, mas senti alguém passar por trás de mim.<br />Ah não...<br />Eu deveria me levantar e fugir?<br />Talvez. Mas não tive força pra me levantar. Seria melhor acabar comigo de uma vez por todas. Ali mesmo, se possível.<br />...<br />Fosse quem fosse, era morno. Podia sentir seu calor sentar-se bem ao lado.<br />“Droga! Tanto lugar pra sentar... Tinha que ser do meu lado?!”<br />Não me movi. Não respirei.<br />Mas ouvi nitidamente a voz baixa e calma do sujeito ao meu lado, próxima ao meu ouvido.<br />- Chegou atrasada pra missa.<br />Raios e trovões!<br />Eu conhecia aquela voz.<br />...<br />Justin não me fez levantar a cabeça ou dar qualquer tipo de sinal de vida.<br />Eu devia?<br />Nós tínhamos obrigações um com o outro?<br />Acho que não.<br />Continuei sem olhá-lo. Mesmo assim, tinha quase a certeza de haver um sorriso torto impresso em seus lábios.<br />Ele era assim.<br />...<br />- Que tal olhar pra mim...?<br />Pergunta importuna pra uma voz mansa.<br />- Que tal você ir embora? – respondi enquanto girava a cabeça e escorava um lado do rosto nas costas de um dos bancos. Ainda sem encará-lo, tentei achar oxigênio pra respirar.<br />Justin se calou por alguns segundos. Haveria se ofendido?<br />Não havia.<br />- Quero ficar aqui.<br />“Que ótimo”. Irônica.<br />Ele poderia rir de mim e ir embora. Convenhamos: era melhor e mais prático.<br />Suspirei alto.<br />- Como você me achou aqui?<br />Por incrível que pareça, ele ouviu o meu sibilar.<br />- Moro na casa em frente... Vi você entrar e...<br />E...<br />Eu já sabia o que vinha depois do E...<br />...<br />Ficamos em silêncio.<br />Não diria nada que pudesse me deixar constrangida ou mortalmente comprometida na cena seguinte. Depois que estivesse um pouco melhor.<br />...<br />Ergui o corpo e olhei reto. Não girei a cabeça nem por alguns centímetros para ver a expressão do rosto dele. Eu não queria criar absolutamente vínculo nenhum com aquele cara. Jamais.<br />Ia apertar os olhos quando senti sua mão tocar em meus cabelos. Tive um leve espasmo e o máximo que consegui fazer foi afastar-me, virar a minha cabeça para o outro lado.<br />Era tarde demais...<br />- Ele machucou você, não foi?<br />Quem era ele?<br />Pergunta tola. Eu sabia quem era.<br />- Percebi que seu pai estava estranho... Meio fora de si. Perguntei por você e ele me disse que você havia ido à escola... – Justin forçou um sorriso – era sábado, ninguém vai à escola no sábado... – Ficou pensativo – Aí vi você na janela...<br />Tudo começou a fazer sentido. Um vago e abstrato sentido.<br />Não soube o que responder. Achei melhor dizer o que pensara antes.<br />- Me deixe em paz.<br />- Isso é estar em paz?<br />Não me contive e olhei firme para seu rosto.<br />- Por que você foi à minha casa? Por quê está aqui fazendo parecer que realmente se importa? – quase falei alto. – Por que não pára de tentar jogar comigo?!<br />- Você já pensou na possibilidade de eu querer te ajudar?<br />Voltei meu rosto para frente novamente. Irritada.<br />- Não vejo motivos lógicos pra isso.<br />- Talvez não exista uma lógica. – percebi-o desviar os olhos furtivamente para o chão e soerguê-los com pressa.<br />Abanei a cabeça. Que papo furado. Que mer...<br />- Eu não tenho certeza de nada quanto a sua vida. Eu também não conheço você direito, mas... Sei que tem algo que não te deixa dormir à noite – Justin olhou certeiro para mim – que faz você sentir um muito, muito medo... Algo que tem machucado você... Foi isso que aconteceu com seu pai, não foi?<br />Não consegui evitar que meus olhos concordassem com ele. Meu rosto se apertava e eu tentava não começar a chorar.<br />Justin continuou:<br />- Deixe-me ajudá-la – ele chegou mais perto e quase sussurrou – Confie em mim...<br />...<br />Não imagino o que Justin faria após aquelas palavras. A única coisa que fiz foi me levantar num pulo e tomar o caminho da rua. Estava paralisada, confusa e angustiada.<br />Mais um pouco e...<br />E...?<br />Eu quase acreditaria nele. Eu quase saberia dizer que cheiro ele tinha.<br />Justin continuou sentado no banco vazio da solitária igreja. Sentia o seu olhar perfurar a minha nuca, e cruelmente me pregar um beijo na face machucada.<br />Um beijo doce e artificial. Um beijo de pena e consolo.<br />Um psicodélico jogo de mentiras e piadas particulares.<br />Era isso que ele insistia em tentar comigo?<br />...<br />A volta para casa foi sem surpresas.<br />Permaneci sozinha todo o caminho, pensando e buscando algum tipo de iluminação no meu juízo. Acreditava ou não? Era mentira ou verdade? Que outras chances eu teria?<br />Contra exatamente o quê eu lutava e apanhava?<br />Muitas vozes gritavam na minha cabeça. Todas assustadas, os meus ecos obscuros.<br />Após entrar escondida pela garagem e engolir as escadas com os pés leves e os olhos em alerta, me tranquei no quarto e esperei ver o dia ir embora.<br />Sem remédios...<br />Sem choro.<br />Vi o céu se escurecer e algumas estrelas lapidadas estacionarem entre as nuvens.<br />Tudo ia pra longe de mim enquanto eu continuava parada... Observando-me estática e entorpecida no canto do quarto.<br />Sugando a neblina que entrava por baixo da porta...<br />Num desesperador e irreal pesadelo.Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-68280401099736170542009-07-28T14:30:00.001-07:002009-07-28T14:31:55.291-07:00Capítulo XII – O castigo da ladra<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSjlDHcYV46A7S7y0u9VkeoXu0WP1-Rgq-OG2Y9CD5LbQ0l6unbgfNYBVjtXGwohSfU_ceR-7UluwrZS4Aeq296XDH1s5HgamBn_jKyc1rDaHfFYln-6MX4uamBcC2lUy1CH8Qw4LshyphenhyphenQ9/s1600-h/images.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5363626750509461570" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 111px; CURSOR: hand; HEIGHT: 124px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSjlDHcYV46A7S7y0u9VkeoXu0WP1-Rgq-OG2Y9CD5LbQ0l6unbgfNYBVjtXGwohSfU_ceR-7UluwrZS4Aeq296XDH1s5HgamBn_jKyc1rDaHfFYln-6MX4uamBcC2lUy1CH8Qw4LshyphenhyphenQ9/s400/images.jpg" border="0" /></a> Eu preciso explicar bem as coisas a partir de agora.<br />E acho que a que devo mais, é o motivo por que eu não postei durante esses dias.<br />Poderia simplificar tudo e passar por cima, mas prefiro mesmo caminhar lentamente sobre isso.<br />Foi o meu pai. Por culpa dele.<br />...<br />Era precisamente cinco e trinta e seis da manhã. Depois que tomei as pílulas avermelhadas e cochilei, foi quase como um despertador ouvir os passos dele no carpete do corredor. Não sei direito por quanto tempo eu apaguei, mas tenho certeza de que foi pouco, pelo menos pra mim. Juro que adoraria dormir dias e dias.<br />Meu pai pisava fundo. E eram passos muito hesitantes, quase que raivosos.<br />Como se quisesse esmagar milimetricamente alguma coisa no chão. Uma coisa asquerosa e horrenda.<br />Eu estava deitada sobre a cama, com os olhos semi abertos na penumbra. Meu corpo doía, a marca no pulso coçava. A do antebraço parecia não existir. Confesso não entender bem isso. Só não doía. Estava lá, mas não doía. Quis me levantar e abrir a porta, mas e se ele visse o monitor em cima da escrivaninha? E se entrasse em meu quarto para se esconder do o que atormentava?<br />Era uma burrice estender a mão, afinal, eu não conseguia proteger a mim mesma!<br />Meu pai não dormia à noite. Ou dormia muito mal.<br />Eu não via motivos práticos pra entendê-lo. Poderia contar alguns, mas não eram muitos, não eram suficientemente perturbadores. Psicóticos como os meus. Assustadores e violentos como os que eu cultivava.<br />Talvez fosse minha avó. Sim. Ela gemia tanto! Tanto quanto qualquer coisa que se lamenta e geme durante a noite. Sua cama inóspita no quartinho do andar de baixo... Era incrível como ela conseguia fazer ranger as molas de seu colchão. Alto. Alto. Ainda sim mais baixo que seu grunhido noturno.<br />O medo agora era como uma corda que me amarrava. Não poderia me soltar e descer para lhe fazer um mísero agrado.<br />Havia também a estranheza de seu fôlego. Meu pai. Ou o zumbi que tomara posse do corpo dele. A forma grotesca de seu movimentar de olhos, do seu soltar de palavras... Tinha algo ruim que o deixava avulso e perdido. Algo que o tomava e digeria.<br />Mas o que era?!<br />Depois os meus olhos estavam arregalados. Senti-me tão impotente!<br />Tão vazia, tão inútil!<br />Virei-me de lado e agarrei-me ao lençol. Quis colocar o travesseiro em meu rosto e gritar o mal alto que pudesse, mas de forma alguma, não sairia nada.<br />Ele continuou andando de um lado para o outro, como um dos “meus” fantasmas. O máximo que consegui fazer foi fechar os olhos com força e pensar em coisas doces, como flocos de chocolate num rio de sangue e ópio.<br />Minha cabeça jorrava trevas.<br />...<br />Algo cutucou meu pé.<br />Gelado e úmido.<br />Logo cedo... Meu deus, logo cedo?!<br />Não abri os olhos. Não respirei.<br />Algo voltou a cutucar meu pé. Com mais delicadeza agora.<br />Ainda era úmido e gelado.<br />Cruelmente eu senti cócegas. E uma vontade imensa de chorar de medo.<br />Depois um pigarro. Vinha de alguma outra parte do quarto. Do canto.<br />Batidas. Batidas leves na parede do meu quarto. Depois do pigarro vieram as batidas.<br />Algo ainda cutucava meu pé.<br />Frio e úmido.<br />As batidas foram ficando mais rápidas e fortes.<br />O toque com delicadeza se tornava áspero e grosseiro.<br />Meus olhos queriam fugir, minhas pálpebras desejavam se rasgar e gritar, mas se eu fizesse isso, com o quê me assustaria?!<br />Não pude me conter...<br />Num movimento ligeiro abracei meus joelhos e colei as costas na cabeceira da cama. Eu estava erguida, e via as mãos da Sofia entre as grades da ponta da cama, com os dedos longos e as unhas roxas, cavoucar o lençol e sujá-lo de sangue.<br />Sorrindo... Bruxuleante, ela sorria.<br />Aí as batidas violentas e furiosas sobre a parede.<br />Sim, girei meus olhos e ele estava lá, no canto do quarto, perto do meu closet. Com suas roupas pretas envelhecidas e o seu chapéu poeirento. Com os braços rijos, lançado a testa na dureza da parede, insanamente ele batia sua cabeça nela. E Sofia se movia para perto, enquanto meus ouvidos zumbiam e os sons se distanciavam. Perto de ver o rosto deformado do homem no canto do quarto e o gracejo assassino da menina do banheiro, consegui me encolher e gritar ininterruptamente.<br />Foi tempo bastante. Foi alto o suficiente para me projetar para fora e contemplar os meus olhos mariscados de água. Choro. Havia algo quebrado e sangrando dentro do meu espírito. Um tipo de trauma, uma facada violenta na sanidade e na sensatez. Um golpe covarde do sobrenatural e do medo.<br />Eu era o medo. Eu era isso.<br />Percebi que tremia. Minhas mãos tremiam enquanto eu abraçava o lençol e chorava. O quarto estava todo claro e não havia mais ninguém nele, ninguém além de mim.<br />...<br />Mas eu estava apavorada! Por que estava acontecendo aquilo? Como, eu estava acordada, estava dormindo?!<br />Olhei no relógio, dez e meia da manhã... COMO????<br />A pouco não era nem seis horas... O que estava havendo comigo?<br />...<br />Confusão consternada e insólita. Um vago e inescrupuloso decair de pensamentos.<br />Ora indo, ora voltando, mas ainda parado na mesma posição ridícula. Com a cabeça em baixo da guilhotina afiada, sem reação pra fugir ou achar motivos claros pra aceitar a própria condenação.<br />Uma espécie de estupor invadiu o meu corpo.<br />Eu deveria aceitar aquilo?<br />Aquela morte horrível?<br />O.O<br />Metáfora assustadora.<br />... <br />Estava calor. E dentro da minha cabeça dançavam imagens.<br />A da Sofia, primeiro. Como ela era perversa... Deixava-me enjoada de tanto medo.<br />Depois a dele... Ben. Ben. O homem no vão da escada, de costas. O homem no canto do quarto, batendo a cabeça na parede, estarrecido e perturbado.<br />...<br />Aí, Eu. A presa patética e fácil.<br />...<br />Passou-se então uma hora.<br />Comia sentada na mesa da cozinha, com cara de dúvida. Envolta em uma camisa de mangas longas, com os cabelos desgrenhados e os olhos caídos. Não ousei encarar meu pai.<br />Era raro vê-lo naqueles trajes leves, de dia de folga. Ele estava em casa, ausente também. Paralisado e apático em seu silêncio. Sentado reto em sua poltrona, sem fazer som algum, apenas olhando a tela hipnótica da televisão. Dava pra vê-lo de onde eu estava.<br />Minha avó ainda dormia. Ou voltara a dormir, eu não sabia ao certo.<br />Só pensava em como eu voltaria para o meu quarto. Em como eu diria aquilo em alguma postagem. Aquelas coisas assustadoras que eu sentia...<br />Terminei de comer.<br />Levantei-me da mesa e fui até a janela. Meu pai também se levantou da poltrona.<br />Não o olhei, não queria olhá-lo. Talvez eu ficasse em pânico com isso.<br />Tinha que parecer calma.<br />...<br />Suava dentro da camisa... Estava quente demais...<br />Motivo pequeno para tirá-la e exibir a linda marca da mão da Sofia em meu antebraço.<br />...<br />Suspirei.<br />Ia para o quarto.<br />Tomei o caminho da escada, em passos relativamente calmos. Subi o segundo degrau, logo em seguida senti uma pressão horrível em meu couro cabeludo, seguida da voz grossa e severa de meu pai, parado e raivoso atrás de mim.<br />O puxão de cabelo me sugou, fazendo-me recuar instantaneamente. Meu pai abriu espaço para que eu caísse no chão, de costas e desprotegida. Logo que bati a costa na madeira do piso, arregalei os olhos e fitei seu semblante sério sobre mim, pisando-me com o olhar.<br />Eu era asquerosa e horrenda para aqueles olhos.<br />- Levante-se!<br />A voz foi muito convicta, seu grito grave fez com que eu me apressasse, e num movimento muito rápido, me erguesse e encostasse as costas na parede. Juntei os braços, enrijeci todos os músculos. De algum jeito eu sabia: haveria mais dor.<br />Esperei.<br />...<br />Ele apertou os punhos e cambaleou a cabeça, confuso, alterado e furioso.<br />Eu o persegui com meus olhos, tive medo. Outra vez.<br />O que ele faria comigo?<br />Ele perdeu alguns passos inúteis. Foi pra frente, foi pra trás... Mas ainda estava perto. Apertava os dedos contra as pálpebras fechadas. O rosto se contraia numa careta de dor e raiva.<br />Ele voava e caia quando planava. Insandecidamente.<br />Vi uma brecha para escapar...<br />Ia correr.<br />No primeiro movimento de fuga, quando eu voltei a pisar no degrau, meu pai puxou minha camisa e me prendeu na parede. Imprensou-me contra ela com força e quase encostou o rosto no meu.<br />Foi a primeira vez em muito tempo que pude olhar bem os seus olhos...<br />Estavam estranhos e obscuros. Fora de controle.<br />Ele quase riu do meu pavor. Enquanto machucava meus braços e as minhas costas.<br />Meu pavor ficava cada vez mais forte e viscoso.<br />- Pai... Papai...<br />Não sei por que aquele balbucio pulou de mim. Quando percebi, ele já havia ganhado a gravidade e afundava como um peso morto entre o pouco espaço entre nós.<br />Meu pai fechou o rosto. Odiou aquelas palavras a ponto de fazer seu nojo por elas ficar explicito. Afastou-se de mim e ficou de costas enquanto sua mente perturbada lhe dizia coisas...<br />Ele abanava o ar e respondia com outros murmúrios.<br />Quase pude ouvir as lamúrias.<br />Quase.<br />...<br />Eu tinha que entender o motivo daquela raiva.<br />Havia feito algo errado?!<br />Me pronunciei. Ou melhor, tentei me pronunciar.<br />- O que aconteceu...?<br />Eu nem pude terminar a frase. Ele se virou para mim e esbravejou:<br />- O que aconteceu?! Você é cínica o bastante pra perguntar?!<br />Encolhi os ombros.<br />- Maldita. – ele veio para mais perto de mim – maldita!<br />Estava compondo minha feição de pânico quando sua mão esbofeteou o lado esquerdo do meu rosto. Foi a coisa mais dura e agressiva que alguém já fizera comigo. A dor foi terrível, o impacto me fez cair por cima dos degraus da escada. Quase desmaiei.<br />Meu pai ainda se agachou e puxou meu cabelo de novo, gritando feito um louco:<br />- Ladra! Ladra Maldita!<br />Eu não tive reação. Recebi tudo sem muita coisa a fazer.<br />Estava fraca e assustada.<br />Ele continuou puxando meu cabelo...<br />...<br />Aí parou.<br />Parou.<br />...<br />Seus olhos se alertaram. E era como se tivesse algo no andar de cima, chamando-o.<br />Respirei oscilante, quase sem fôlego.<br />Seu último movimento foi mexer a mão com rapidez e fazer minha cabeça bater na parede.<br />Depois ele subiu e tudo ficou silêncio.<br />Silêncio.<br />...<br />...<br />Eu fiquei caída na escada, chorando, sentindo um aperto dentro do peito.<br />Logo em seguida veio o susto:<br />O som ruidoso de algo despencando. Caindo direto no gramado do lado de fora.<br />Coloquei a mão sobre a boca.<br />Era aquilo que eu pensava?<br />...<br />Meu pai pisoteou os degraus em sua descida. Quase pisa em mim.<br />Eu me encolhi.<br />- Desobediente.<br />Sua voz foi baixa. Ou então eu estava desmaiando de novo e os sons estavam sumindo como de costume. Sei que ele não olhou mais para mim. Seguiu até a sala, ligou a tevê e sentou-se em sua poltrona.<br />Imóvel e manso.<br />Aparentemente inofensivo.<br />...<br />Imagine como eu estava. Por dentro e por fora.<br />Um lixo.<br />Um pano de chão.<br />Ai sim eu quis morrer.<br />Mas ainda sabia que tinha culpa naquilo.<br />As vozes que o atormentavam foram despertadas por mim.<br />Por mim.<br />Entendi.<br />...<br />Subi a escada me arrastando. Chorando.<br />Sagrando.<br />...<br />Ao chegar em meu quarto, minhas dúvidas se desfizeram.<br />Fui até a janela e olhei para baixo... Lá estava meu monitor, despedaçado entre a grama e as pedras.<br />Suspirei.<br />Estava toda dolorida.<br />Fui até o banheiro jogar água na cara. Olhei-me no espelho... Havia um hematoma no lado esquerdo do meu rosto. Junto com as olheiras e os olhos inchados, contemplei um cadáver vivo, resfolegado e atônito.<br />Eu.<br />Uma voz masculina chamou meu nome. Na parte de baixo... lá fora.<br />Não me importei, mas fui olhar quem era. Morosamente, cheguei aos vidros da janela e vi Justin.<br />Ele olhava para a varanda, pude ouvir meu pai dizer que eu não estava em casa.<br />...<br />Não tive ação para descer e falar com Justin. O aquele mentiroso queria comigo? Por que havia aparecido naquela hora, justo quando eu adoraria encontrar alguém e confessar todo o meu pânico? Quando eu adoraria receber um abraço quente e consolador?<br />Era covarde oferecer água envenenada a uma morta de sede.<br />...<br />Estava cansada. Escorei a testa no vidro e observei-o. Com os olhos semi abertos.<br />O vi assentir com a cabeça a resposta dada por meu pai e quase que por magnetismo, dirigir seus olhos azulados até mim. Justin ficou parado ali por quase dez segundos, enquanto nos examinávamos e pensávamos nos motivos de fazermos aquilo.<br />Talvez ele achasse que eu havia dito ao pai para dispensá-lo, ou se perguntasse por que meu pai não me avisara sobre sua visita.<br />Ainda não sabia.<br />Eu só me questionava sobre as razões de ele simplesmente não esquecer a história da maldição. Desistir de mim.<br />Seria realmente bom brincar comigo e com os meus problemas?<br />Era engraçado zombar e tramar contra uma coisa insignificante e piedosa como eu?<br />...<br />O final do dia é típico.<br />Tomei as pílulas e dormi no tapete do quarto.<br />...<br />...<br />...<br /><div></div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-9865529622589986882009-07-25T10:09:00.000-07:002009-07-25T11:42:40.226-07:00Capítulo XI – Sótão<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrDgYNjJwrHiL_RouuS_SIF99CIdP91UJOQ7FOfO1mM7aDXI7x7g_Qft3Wd2b6dqlO_cFB50m5zOZdTmgnjoV0ApiQGmQiaXZQjNoRxwTbv0Ec7luUx8GZKrCMjkjgMN-Qri3aOwlZ_CHJ/s1600-h/iiiuuu.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5362469728297464530" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 108px; CURSOR: hand; HEIGHT: 143px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrDgYNjJwrHiL_RouuS_SIF99CIdP91UJOQ7FOfO1mM7aDXI7x7g_Qft3Wd2b6dqlO_cFB50m5zOZdTmgnjoV0ApiQGmQiaXZQjNoRxwTbv0Ec7luUx8GZKrCMjkjgMN-Qri3aOwlZ_CHJ/s400/iiiuuu.jpg" border="0" /></a> Obs: Agora tudo parece ter acabado.<br />Durante todo o tempo em que eu fiquei sem postar nada.<br />...<br />Eu não podia... Desculpe, eu não consegui poder. Você vai entender bem como tudo ocorreu. Como aconteceu. No que findou.<br />Novamente, perdoe-me por ficar todo esse tempo longe. Desculpe.<br />É que as coisas foram acontecendo, me submergindo a ponto de eu não poder mais fazer o que havia prometido. Tudo começou a desmoronar, as únicas escolhas que eu tive foram agarrar as oportunidades e ter um pouco de fé.<br />Não me restou tempo para o diário...<br />Desculpe.<br /><br />Mas agora retomemos a história de onde eu parei.<br />Terminarei o que ficou pendente no capítulo passado, e por seguinte, página por página, eu revelo o final. Esperado e conturbado final.<br />Tudo agora ficará melhor.<br />Tudo.<br />Ao gosto dos que esperaram ouvir meus sustos. As minhas detalhadas surpresas<br />...<br />O capitulo passado ficou enorme não foi?<br />Talvez esse seja bem maior.<br />...<br />Comecemos com uma breve história. Dentro desta mesmo, acho que posso iniciar.<br />...<br />Eu era menininha ainda quando o ganhei. Ele era limpo, cheiroso e macio.<br />O Ted.<br />Sempre estava disposto a brincar, sempre estava onde queria que estivesse. A gente se divertia, ficava junto o tempo todo! J Ele era atencioso, era afável... Meu melhor amigo.<br />Mas aí veio aquele dia de novembro. As compras no supermercado e o caminhão desgovernado na avenida principal. Penso que talvez mamãe e Christine estivessem rindo. Não imagino um motivo, mas penso que sim.<br />Ninguém nunca me disse como aconteceu. Ou como poderia ter sido evitado. Mas de algum jeito, eu as perdi por isso. As perdi, e não pude dizer que sentiria muito a falta delas. Eles as roubaram de mim, e acho que nem mereci tamanho castigo.<br />Aos seis anos, vivenciei a morte de minha mãe e minha irmã mais nova.<br />Ainda lembro bem desse dia.<br />Vi meu pai chorando no quarto. A minha avó já adoecera, mas daquela vez ela estava tão apavorada... Eu a vi chorar por não conseguir gritar.<br />Ai eu olhei pro Ted. E ele sorria pra mim.<br />Que espécie de amigo sorri ao ver o outro triste?<br />Bobagem por bobagem, aquilo foi não ofensivo!<br />Rodopiei em meus campos floridos e açucarados. Boba e tola, eu comecei a sentir que podia cair, me sufocar naquele meio todo.<br />Foi quando eu entendi. Confesso ter sido a primeira vez que uma coisa ficou tão clara pra mim.<br />Ted pertencia ao mundo da alegria. Da felicidade imatura da infância.<br />E eu? Bem, agora eu devia ser mais crescida, pra não deixar minha família se dissipar ainda mais. Percebi que estava na hora de deixar as minhas coisas bobas de lado. Esquecer as birras e os pedidos que seriam consentidos por pena e desatenção.<br />Poderia aprender a me guiar com os próprios pés, talvez eu caísse bem menos, ou nem caísse mais. Era uma tábua de salvação tão cruel... Mas ao menos eu sentiria firmeza em estar sobre aquilo. Sobre meu corpo pequeno de criança.<br />...<br />Tinha um pai e uma avó pra cuidar. Não podia ser tão mesquinha e fazê-los se matar por mim. Não podia.<br />Eles estavam mais dilacerados do que eu?<br />Achei que estivessem.<br />...<br />Pode até soar algo tolo, de veras, pode ter sido. Mas depois daquele dia, do velório e do enterro, só tive mais certeza de que isso era melhor pra todos nós.<br />Foi quando abandonei o Ted.<br />...<br />Poderia dizer que o fato de ele me meter medo agora, é uma conseqüência defensiva da parte dele, por eu tê-lo largado. Os seus olhos quentes e assustadores, o pêlo sintético e gelado, de alguma maneira estavam ligados aos fatos estranhos que aconteceram na minha casa.<br />Ted. Ted.<br />Queria queimá-lo e não deixá-lo largado numa prateleira, ou sobre a minha cama.<br />Queria vê-lo se consumir.<br />...<br />Não se sinta iludido por que eu falei falei sobre meu urso de pelúcia. Ou por que agora as coisas estão ficando particularmente no passado. Não. Mas agora eu terei mais tempo para contar os fatos calmamente. Contar sobre o Ted me faz lembrar parte da minha vida. Partes que eu quase tinha abandonado também.<br /><br />Mas não se chateie.<br />Por favor, não se sinta assim J.<br />Mas é que eu achei importante, essencial dizer um pouco sobre ele, afinal, nenhum tipo de repulsa é sem motivo. Nenhum tipo. E depois que ele ficou estranho, senti-me livre para revelar algo sobre ele.<br />Mas basicamente foi isso.<br />Isso.<br />...<br />Ainda é sobre aquela sexta feira que quero falar. Foi nesse dia que tudo começou a andar mais rápido. E mais desgovernadamente para um tipo de abismo.<br />...<br />Bem, você lembra que a Lucy esteve na minha casa, não lembra?<br />Pois é, deve lembrar também que ela foi embora depois de me encontrar ausente.<br />Pois continuemos daí. Após a parte em que eu entrei em casa, decidida a queimar o Ted.<br />...<br />Com certeza eu jogaria álcool em seu pêlo e depois tocaria fogo. Fogo.<br />A casa estava barulhenta quando entrei. Sabe, minha avó martelava alguma coisa na cozinha, mas não me permitir ir ver o que era, não queria, tinha medo de ela trocar o alvo e martelar a minha cabeça.<br />Mas aquele barulho!<br />Barulho!<br />Começou devagar, enquanto eu caminhava pelo corredor na parte de cima. Depois pareceu ter se multiplicado e era como se minha avó martelasse duas coisas ao mesmo tempo, com uma força absurdamente incrível! O som devorava meus ouvidos. Comia os meus tímpanos.<br />Apressei mais os passos, até finalmente parar diante da porta do sótão. Catei a chave certa no molho, e destranquei a fechadura. Por baixo da porta pude sentir que estava frio do lado de dentro.<br />Aí girei a maçaneta e puxei.<br />Não houve movimento.<br />...<br />Tudo bem.<br />Tentei outra vez, afinal, era uma porta velha, poderia emperrar.<br />Mas ela nem ao menos se moveu.<br />Na terceira percebi que havia algo errado.<br />Muito errado.<br />Usei toda a força que tinha para puxar a porta. Não empurrei, só puxei.<br />Ela continuou solidamente inerte.<br />Respirei fundo, dei dois passos para trás, sem deixar de olhar o semblante vazio do pedaço de madeira de cidra à minha frente. Como era escuro naquela parte do corredor... Escuro e frio.<br />Desistir? Pensei nisso.<br />Mas o Ted estava lá, e eu precisava muito vê-lo carbonizado. Como uma vingança particular.<br />Foi nesse instante que me enchi de coragem e voltei a forçar a porta, com toda a determinação e raiva que eu estava sentindo. Em meus movimentos desesperados, não percebi quando ela subitamente se lançou para cima de mim. A porrada foi violenta, tanto que tive o corpo lançado para trás e o rosto machucado.<br />Senti a dor e o sangue escorrer da testa. Enquanto eu estava jogada no chão, passei a mão no corte e olhei para o que a porta deixara oculto. Já não mais havia um sótão cheio de lembranças e brinquedos de criança, mas sim uma garotinha de olhos brancos e pele pálida, agarrada infantilmente ao que um dia fora meu urso de pelúcia.<br />As marteladas de minha avó continuaram no andar de baixo e por isso as culpo por mais ninguém ouvir o grito estarrecedor que Sofia deu ao me ver.<br />Foi horrível.<br />Horrível.<br />Eu estava tremendo, mal conseguia tirar os olhos de cima dela, da garota e do meu urso. Não conseguia mover o meu corpo para cima e sentia que estava prestes a ser devorada pelo meu próprio medo.<br />O que havia acontecido com minhas pernas?! Por que elas não me obedeciam?<br />Comecei a respirar involuntariamente quando Sofia deu o primeiro passo até mim. O estupor que invadia meu corpo simplesmente aumentava e me deixava desprotegida. Nem conseguia me arrastar para longe ou dar um grito agudo e ensurdecedor.<br />Não saia nada. Nada.<br />Sofia continuou vindo. Abraçada ao Ted, com o braço erguido e os olhos espichados para mim. Meu deus, meu deus! Eu estava tão perto dela, tão próxima do seu ódio! Como eu sairia viva?! Como eu fugiria?! Como eu os faria parar?<br />O.O<br />O sangue da testa escorreu para dentro de um dos meus olhos. Mas eu continuava com os dois abertos, vendo-a chegar mais perto. Sentia o pânico me prender a um peso imensurável, jogando-me num lago profundo e turvo. A mão dela estava próxima ao meu rosto, próxima demais. Só pude me cobrir com as mãos e os braços, tinha que evitar aquele toque. Eu precisava.<br />Foi a coisa mais gelada e apavorante do mundo.<br />Os seus dedos frios agarraram meu braço com força e se dispuseram a apertá-lo por alguns segundos, até meu ar acabar e eu deixar de ouvir as marteladas. Tive três segundos para olhá-la, e perceber que minha vista se escurecia.<br />...<br />Foi como estar dentro de uma sala de espera abandonada. Não havia luz, só o ar gelado e os bancos solitários. Enquanto eu gritava dentro de mim para despertar, as paredes tremiam e o teto se jogava para baixo. Estava dentro de algum lugar que eu realmente não sabia existir naquele meio termo. Não sabia se havia saído de dentro do meu próprio corpo.<br />...<br />Abri os olhos e quase fiquei cega com a claridade. Meu quarto estava muito iluminado, todas as cortinas estavam abertas e os abajures amarelados se encontravam acesos. Percebi que estava deitada sobre a cama ainda feita.<br />Deitada... O quê, eu estava dormindo?!<br />De novo a sensação estranha. O pulso voltou a arder.<br />Apalpei o que achei estar machucado em meu corpo, até passar a mão na testa e ver que não havia corte nenhum lá. Meu coração até bateu mais devagar. Cansado, de nunca ter certeza e sempre despencar de suas crenças.<br />A munhequeira preta escondeu de mim a feiúra em que se achava meu pulso, mas definitivamente não me ocultou a horrenda marca impressa em meu antebraço.<br />Era exatamente a marca de uma mão. Não uma mão grande, deveria ser de alguém menor, uma criança, por exemplo.<br />A lembrança da Sofia me assombrou.<br />Pisquei os olhos com força e continuei examinando a marca. Ela era fria e muito, muito roxa.<br />Eu, branca do jeito que era e sou, não conseguiria esconder aquilo dos outros.<br />Devia achar uma forma de controlar tudo, para finalmente por um fim.<br />...<br />Seria realmente difícil fazer aquilo sozinha. Eu devia buscar ajuda em algum outro lugar, fora da minha casa e do meu quarto.<br />Encolhi-me na cama, abracei meus joelhos e pensei. Em tudo, tudo.<br />Primeiro na Sofia. Ela e o meu ursinho... Agora fazia tanto sentido!<br />Ela o tomara para si, não era? Agora Ted pertencia a ela, não pertencia?<br />E as duas marcas em meu corpo. A da maldição e a da mão de um espírito enraivecido.<br />Como eu esconderia aquilo?<br />Por QUÊ eu esconderia aquilo?!<br />O.O<br />Havia uma menininha para brincar com o Ted. Havia ódio suficiente para dar vida a ele.<br />...<br />Puxei para mim o crucifixo em cima do criado mudo. Agarrei-me a ele e respirei fundo.<br />Tinha certeza de duas coisas:<br />A primeira: Eu tinha que começar a agir. Precisava achar uma forma de consertar tudo, sem precisar do Justin. Não acreditava que ele poderia ser útil naquilo. Não. Ele era inútil e mentiroso.<br />A segunda: Havia mais dois espíritos que deveriam (obs: mas não estavam) me assombrar.<br />Só a Sofia fazia o trabalho sujo. Só ela me perseguia por enquanto...<br />...<br />O quarto ficou frio.<br />Seriam eles?<br />...<br />Estava silêncio.<br />Quando eles começariam com a tortura?<br />...............................<br />...............................<br /><br />O resto daquele dia eu nem sei.<br />Fui ao banheiro e tomei as pílulas avermelhadas.<br />Eu precisava dormir...<br />...........................<br /><div> </div><div>:x</div><br /><div>......................... </div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-68448130803814592822009-07-14T12:10:00.002-07:002009-07-14T12:11:56.266-07:00Capítulo X - Vazia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiE7ig1zaduRzoohtUz8ZYGAU2W-aqBPo8w6R1tMIb_UZ82fuY0mN57mUrkFvswepqzxExbv_TBjqsLikaQu5EOj4kFquZh9IdYAJcq1w-Jcdo6JpgVnCXdvS9HJWjJC97n7SLpnGyM3G3/s1600-h/2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5358395557424714082" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 110px; CURSOR: hand; HEIGHT: 118px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiE7ig1zaduRzoohtUz8ZYGAU2W-aqBPo8w6R1tMIb_UZ82fuY0mN57mUrkFvswepqzxExbv_TBjqsLikaQu5EOj4kFquZh9IdYAJcq1w-Jcdo6JpgVnCXdvS9HJWjJC97n7SLpnGyM3G3/s400/2.jpg" border="0" /></a> “- Você tá amaldiçoada...”. Era isso que Justin havia dito pra mim ao ver meu pulso.Não tive coragem de escrever isso no capítulo passado, na verdade eu tive certo receio de digitar essa palavra. Amaldiçoada. Quase morri ao ouvir aquilo.Mas agora eu criei um pouco mais de coragem. Também deveria, afinal, a diretora apareceu e levou a gente pra diretoria. Deveria ao menos preparar uma ótima e convincente mentira, e depois ter coragem de falar sem tremer a cara.E justin?Bem, ele manteve as mãos nos bolso e o semblante sério.Tirando o rosto avermelhado da diretora, poderíamos mesmo aparentar apatia, e sem hesitar, fazer a maior cara de inocentes. Até que consegui controlar tudo que eu estava sentindo, até mesmo o medo do que estava por vir.“Você está amaldiçoada Ammy. Amaldiçoada”.Quis correr e me esconder debaixo da cama. Porém, todos sabem que seria inútil, pois a marca continuaria pregada em meu pulso.Eu deveria achar uma saída bem rápido...............Entramos na sala da diretora. Depois dos muitos olhares de riso sobre nossas caras. Os outros alunos cochichavam alto o suficiente pra nos sentirmos os maiores idiotas do mundo.Sentamos em cadeiras postas uma ao lado da outra, na frente da mesa da diretora Silvia, olhando certeiramente para ela. Logo enfrentaríamos o interrogatório e a sentença.Ela respirou fundo. Eu apertei as mãos. Justin fungou, desinteressado....- Acho que vocês bem conhecem as regras da nossa instituição, não conhecem?Assentimos com a cabeça.- É restritamente proibido permanecer fora da sala de aula, no horário em que houver professor na sala. Mas pelo que eu pude ver, os dois infligiram uma norma.- Me desculpe... – Justin se ajeitou na cadeira e se pronunciou – Sabemos que o que fizemos foi errado, mas nós temos uma boa explicação... – Justin olhou pra mim – Não temos, Ammy...?Gaguejei.- Temos, temos sim... – nós tínhamos?!, indaguei mentalmente.Silvia cruzou os braços.- Eu adoraria ouvi-la.Respirei fundo. As mentiras voaram da minha cabeça como se um espanador acabasse de varrê-las de mim. O que eu falaria?Olhei para Justin, meu deus, ele não poderia contar a história da marca pra diretora! Era loucura, carnificina!Ele calmamente tomou o controle da situação, diplomático e inacreditavelmente cínico.- Na verdade, tudo isso se deve a uma dúvida crucial.- Adoraria saber qual seria. – Silvia ironizou.Justin não se acanhou. Palmas pra ele, seu rosto foi muito convincente.- Claro. – ele sorriu. – O que eu queria dizer é que, bom, Ammy disse que o muro ao lado da quadra possui três metros de altura, sem medir a grade por cima. – Ele não hesitou – Eu não concordava com ela, pois como todos sabemos, o muro tem dois metros e cinqüenta e cinco centímetros, tirando, logicamente, os dois metros de grade – Não sei de onde tirou esses números.A diretora fez cara de desconfiança.Ele prosseguiu.- A senhora bem sabe como é terrível ficar com uma dúvida dessas na cabeça, ainda mais quando se sabe que tem toda a razão. – sorriu gentilmente. – então Ammy e eu decidimos terminar com isso, mesmo eu tendo certeza que venceria a aposta.Silvia começou a ceder.- Prepotente da sua parte.Confesso ter gostado do comentário.Me mantive na mesma e esperei que ele continuasse.- Bem, foi por isso que estávamos fora da sala. Precisávamos muito saber quem estava certo... Claro que foi um erro terrível não assistir à aula, mas é que precisávamos muito resolver a situação. Além de tudo, isso também foi bom pro nosso desenvolvimento visual fotográfico, tipo, saber calcular, não precisamente, mas ter uma noção de quanto mede algo, alguma coisa... O muro foi uma ótima experiência. Acho que tiramos algo pedagógico desta atividade... Extracurricular.Prendi o riso. Fazia tempo que eu não ouvia tanta abobrinha junta! Ao menos, se aquelas lorotas não nos livrassem de uma suspensão, seriam o único motivo de eu ter sorrido no mês inteiro. Haveria outra oportunidade?Ele tinha a obrigação de se sentir ridículo, mas se caso sentisse isso, estava disfarçando perfeitamente bem! Como ele conseguia ser tão frio?!Por favor, ache-o idiota junto comigo.Bem, talvez ele não seja... Mas.......No entanto, o que pode surpreendê-lo (e que me deixou de queixo caído) foi o fato de a diretora ter acreditado na história, e ter proposto uma atividade parecida com a que Justin tinha inventado, com base naquelas porcarias ditas. Desenvolvimento visual fotográfico? Por que ela não pensou na hipótese de nós dois estarmos prestes a pular por cima da grade?Com isso, nossa ida à diretoria terminou com a Silvia sorrindo, toda boba, apertando a mão de Justin e me mandando estudar um pouco de física....Era a hora de voltarmos ao andar de cima, e assistir a lunática da professora de filosofia encher o saco. Fora a minha sensação medonha no estômago, a vista zonza e o pulso em brasa, eu poderia aparentar a minha insolidez de todos os dias.Saímos da sala da diretora, sem trocar uma só palavra. Justin manteve a postura de sempre, enquanto eu procurava uma forma de me esquivar sem que me apanhassem ou descobrissem as minhas pragas. Eu deveria agradecê-lo?Era cedo demais pra tirar conclusões. Ainda não sabia quem ele era....Sorte nossa a professora ter recebido uma ligação e ter corrido da escola. Estávamos livres do quinto tempo de aula. Ainda estava na escada quando alguém da nossa turma nos deu o recado. Depois que o comboio nos ultrapassou, Justin me puxou pro andar de cima, indo na direção contrária ao que os outros alunos iam. Estranhei, mas não tive como me livrar de suas mãos.Quando estávamos perto de um corredor vazio, ele começou:- Sua resposta é sim?Me fiz de desentendida.- Sim, o quê?Ele revirou os olhos.- Quer minha ajuda ou não?Por medo, eu diria sim. Sim, gritaria sim! Mas havia ainda um senso crítico em mim, e ele falava alto demais. O depois me assombrava, a Natasha, sua árvore genealógica... Eu poderia esperar uma violenta facada nas costas! Aí, mais problemas, mais dor, mais medo! Perderia meu respeito, meu resquício de orgulho, por que ele parecia fora de sua redoma de prepotência?Não, eu não perderia nada por uma expressão aparentemente bondosa.- Me deixe em paz, cara.Saí correndo, desci as escadas com toda a pressa. Olhei de canto de olho e percebi que Justin ainda estava no mesmo lugar, parado, vendo-me engolir os degraus. Virei levemente o pescoço, pude vê-lo dizer:- Não demore a mudar de idéia.Sibilei uns palavrões horríveis a ele. Melhor não dizer quais foram....Cheguei em casa bufando, bati a porta do quarto e me sentei no canto da parede, perto da janela. Estava escuro em meu quarto, as cortinas tapavam o sol do meio dia, mesmo que ainda estivesse gelado por dentro. Escondi o rosto, para não deixar cair no chão as minhas angústias, deveria ter ao menos algo dentro de mim. Pra vagar, pra me encher.Involuntariamente, percebi que estava chorando. Doía respirar. O pulso também queimava.Não sei por que eu olhei pra debaixo da cama....Talvez tenha sido sem propósito. Eu só olhei enquanto lagrimava.Droga, droga!A porcaria daquele urso. A merda daquele urso maldito!O peguei com todo o pavor que sentia. No seu pêlo áspero, cravejado de folhas secas, olhei nos olhos cálidos com certa cautela. Sim, eles fumegavam.Mas como ele aparecera ali?Como?!...Agora eu me sentia uma presa absolutamente fácil. Talvez não suculenta, mas muito previsível. E aquela coisa nas minhas mãos, machucando meus dedos... O urso, aquela droga de urso, eu tinha que acabar com aquele medo. Eu tinha de destruí-lo.Foi quando ouvi uma voz gritando meu nome, no andar de baixo.Tudo bem, não era a Sofia.Era Lucy....Estava com Ted entre os dedos. A única maneira de prendê-lo até que eu voltasse era trancá-lo em algum quarto. Pensei... Desceria, falaria com Lucy, depois retornaria para enfim queimá-lo.Faria com muito, muito gosto.Botei a cara na janela e pedi que esperasse. Dava pra ver o portão dos vidros, esse era um ponto forte do meu quarto, eu sempre podia ver quem chegava, sem precisar descer. Só não dava pra abrir a janela com freqüência, ela está emperrada desde os meus cinco anos.Antes de ir, escondi a marca com uma munhequeira.Saí do quarto e fui até o sótão.Ele não ficava muito longe, era só um cômodo minúsculo perto do quarto de despejo.Você pode até achar que é a mesma coisa, mas posso lhe afirmar que não é.A diferença entre o quarto de despejo e o sótão, é que no primeiro, a gente coloca móveis velhos, cobertos por lençóis brancos e poeirentos. Já o sótão não. Lá é o lugar onde papai guarda todas as coisas da mamãe e os brinquedos que foram da Christine. Ele acha isso certo, é como se preservasse a lembrança delas. O sótão é pequeno, meio apertado, e a porta abre pra frente, como as casa do Japão, as quais a gente não gira a maçaneta e empurra, mas sim puxa pra frente.Bem, isso é o básico....Cheguei na porta do sótão, com o urso e o molho de chaves na mão. Não pensei, só destranquei a porta e joguei o Ted lá dentro, sem dó nem piedade....Depois fui ver o que a Lucy queria....Bem, ela falou sobre tudo que eu não estava interessada em ouvir.Das provas que ela tirou zero, das que ela faltou e das festas que foi.Lucy falava ininterruptamente, e era como se estivesse desesperada por um pouco de atenção minha. Seus olhos se arregalavam, ela movia as mãos como se elas falassem, mas Lucy sabia que eu não estava nem aí para suas histórias.Por fim, ela cansou de mendigar meus ouvidos. Encolheu os ombros e se foi.Confesso não ter sentido muita coisa com sua partida......É bem o que se espera de uma garota vazia, sozinha e portadora de uma maldição...........................Depois da dica, eu usei o polvedine* sim. Tinha no armário do meu banheiro.Agradeço a preocupação Hugo, mas não ajudou muito... A marca está ficando pior.Pior.<br />E agora eu não sei o que fazer....<br />O que voce faria se soubesse que um espírito vingativo marcou o seu corpo? E se a pessoa menos confiável no mundo aparentasse ser a única que pudesse te ajudar?!<br /><div>...........</div><br /><div></div><br /><div>Não sei o que fazer... Ainda não sei.</div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-29884982674761589542009-07-12T19:13:00.001-07:002009-07-12T19:16:22.117-07:00Capítulo IX – Fuga frustrada<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo8dcS_PP_za2w5_RJ6vIH0s1Ex1u6c-4WE9NxNhVydd2ZWbY1VOIPjvPDgGyH__Fk1UnjE0s11rSXQsetSOiAlYBHHPQCJiyXUn3QvleH0cReE76kZeNmMxA0U1is1r1Q1AGt9QdzBijs/s1600-h/images.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357762324153387490" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 125px; CURSOR: hand; HEIGHT: 94px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo8dcS_PP_za2w5_RJ6vIH0s1Ex1u6c-4WE9NxNhVydd2ZWbY1VOIPjvPDgGyH__Fk1UnjE0s11rSXQsetSOiAlYBHHPQCJiyXUn3QvleH0cReE76kZeNmMxA0U1is1r1Q1AGt9QdzBijs/s400/images.jpg" border="0" /></a> Esse capítulo é pra falar sobre a sexta feira.<br />Ah, sobre algumas coisas importantes que aconteceram durante este dia.<br />Coisas muito, muito importantes. E ainda mais desesperadoras.<br />Mas... Vocês ainda lembram da Lucy?<br />Eu tenho evitado ela.<br />Mesmo tendo dito que ela era minha única e melhor amiga, achei melhor não manter mais contato com ela. Talvez pelo fato de todas as pessoas que estão ao meu redor e que mantém contato comigo estejam ficando estranhas. Definhando.<br />Eu não quero isso pra Lucy. E também por que percebi que estamos em sintonias diferentes agora. Enquanto eu suspiro atormentada, ela ri sobre a última fofoca do dia.<br />Ainda bem que não somos da mesma classe. Antes eu reclamava por isso, mas hoje percebo que foi o mais prudente que já fizeram por mim.<br />Não sei que tipo de sensação eu despertei na Lucy quando contei a ela o que estava havendo comigo. Quem sabe eu tenha desejado que alguém que eu confiasse me estendesse a mão e me guiasse até a porta de saída.<br />Bem, ela não acreditou em mim.<br />...................<br />Mas ainda quero falar sobre a sexta feira.<br />O meu pulso está piorando.<br />E na sexta eu enxerguei um tipo de arranhão no vermelho do que parecia pele queimada. O arranhão forma um desenho.<br />Estava assistindo o penúltimo tempo de aula quando a marca começou a queimar. Ardia e fazia meu coração palpitar ferozmente. Comecei a suar frio, e a me sentir tonta. Os outros alunos pareciam imagens deformadas e assustadoras. Suas vozes eram como guinchos de ratos. Deixavam-me nauseada.<br />Comecei a sentir pânico.<br />Tentei me manter firme, tinha que suportar aquilo por mais alguns minutos. Porém, sabia que não conseguiria esperar todo aquele tempo.<br />Levantei a mão e pedi ao professor (forçando minha voz a sair) para tomar um pouco de água no térreo. Ele me olhou por cima dos óculos e após ver o quanto eu estava pálida, me deixou descer. <br />Saí voando da sala, com a mochila nas costas e meu grosso livro de literatura nas mãos. Estava tão atônita que desci as escadarias sem olhar os degraus, e acabei tombando em alguém que subia.<br />Só ouvi a voz:<br />- Cuidado mocinha...<br />Levantei a cabeça. Meus olhos deveriam estar transparentes de perturbação. Era justin.<br />- Desculpe-me... – balbuciei tomando de volta os degraus da escada.<br />Ele sorriu com o canto da boca, depois eu não olhei mais, já estava perto da cantina.<br />Respirei fundo, me entupi de água gelada.<br />Fui até o banheiro, molhei o rosto e pulso. Para minha surpresa, a água chiou ao tocar a marca em minha pele.<br />Ia me perguntar por que, mas ouvi alguém chorar dentro do banheiro.<br />Todas as portas estavam abertas, só uma parecia trancada. Calei.<br />Ainda suava frio. A sensação de medo estava latejando dentro do meu peito.<br />.....<br />Agachei-me e resolvi olhar por baixo da porta. Fosse quem fosse, tomaria um grande susto comigo e pararia com aquele choro irritante.<br />Não sei que tipo de tolice me afetou naquele instante.<br />...<br />Agachei e olhei...<br />A Sofia estava jogada no chão do banheiro, no lado de dentro, olhando pra mim. Tinha sangue em seu rosto branco.<br />...<br />Caí pra trás com o susto. Como, que espécie de fantasma maldito era aquele?! E por que ela estava se arrastando para mais perto de mim? Por que seus olhos sangravam tanto?<br />Eu me desesperei. Se gritasse, o que fariam comigo?<br />Minhas pernas não queriam me erguer. Mas eu tinha que fugir!<br />Tomei um impulso gigantesco e me lancei pra fora dali.<br />A Sofia ficou no chão. Morta.<br />Morta.<br />.........<br />Não conseguia respirar. Não conseguia!<br />E também não voltaria pra sala de aula. Eu precisava sair dali.<br />A diretora passeava pelo saguão. Me escondi atrás de um mural abarrotado de cartazes enfeitados para não ser pega. Esperei ela entrar em sua sala e corri para perto da quadra poliesportiva.<br />Havia um muro ao lado, com algumas grades enferrujadas por cima. Eu pularia por ali, e logo estaria fora da escola.<br />Caminhava com pressa até o outro lado, ninguém veria minha evasão escolar, pois havia arbustos demais cobrindo as laterais da quadra. Sorte minha não haver gente jogando vôlei nem matando aula naquelas redondezas.<br />Tentei lembrar a ultima vez que fizera aquele tipo de coisa... Bem, eu devia ter uns doze anos.<br />Estava fria. Mas sentia que por dentro eu me consumia em nervosismo. Um tipo de brasa me queimava e me machucava. Depois de enfrentar as plantas espinhosas, consegui alcançar a parte abandonada da escola, lá onde dava pra pular o muro. Outra surpresa foi encontrar Justin, de pé, olhando para a mesma grade que eu avançaria.<br />Hesitei e pensei em ir embora, mas não. Não. Seria covarde demais.<br />Ele me examinou.<br />A marca começou a arder novamente. A apertei com a outra mão, cerrando os dentes para não demonstrar minha dor. Também não olhei para Justin. Não comprovaria o meu péssimo estado de espírito. Ele se manteve imóvel, com a mochila nas costas e a fisionomia ígnea.<br />Ainda esperei alguns segundos antes de dar o primeiro passo.<br />Justin poderia ir correndo me entregar nas mãos da diretora. Isso seria como um prazer particular. Quase sem sentido ou lógica aparente.<br />Foi estranho ele quebrar o silêncio.<br />- Não conto se você não contar.<br />Eu não tinha o que responder. Eu nem conseguia falar! A imagem da Sofia na minha cabeça, a marca que ardia... Eu precisava sair da frente dele. Apertei mais meu pulso e dei enfim, o primeiro passo em direção à grade.<br />Ele baixou os olhos, sorria com o canto da boca.<br />Ainda tinha o livro de literatura nas mãos, não o soltaria.<br />Tentei subir a grade com ele à tira colo, mas foi impossível. Ainda arrisquei uma última vez, mas acabei roubando uma risada de Justin, seguida de uma frase quase gentil.<br />- Você precisa de ajuda com isso ai?<br />Olhei séria pra ele. Minha respiração oscilava.<br />- Não.<br />Me agachei e resolvi colocar o livro dentro da mochila. Ia ficar super pesado, mas só assim eu conseguiria pular a grade e ir embora.<br />Abri o zíper e o guardei.<br />A marca deu uma pontada violenta, e eu me contorci. Justin veio para mais perto de mim, acho que tentou parecer educado.<br />- Tudo bem?<br />Tentei responder, mas estava doendo muito! Só consegui balançar a cabeça, dizendo um sim sem palavras.<br />Não sei o que deu nele para justamente olhar meu pulso, só lembro de vê-lo com a expressão mais sincera e abismada do mundo. Sua mão macia foi se movendo e seus dedos seguraram meu braço com cuidado.<br />- Você tá...<br />Ele só poderia estar louco!<br />- Claro que não, você ficou doido, foi?! – me levantei ofendida.<br />Justin parecia um pouco assustado.<br />- Tá sim... Esse é um símbolo antigo, muito usado por bruxas no século XIX. Marca as pessoas até que um tipo de ciclo que se feche.<br />Senti vontade de gritar. Ele só poderia estar zombando de mim.<br />- Sua mãe não te contou que bruxas não existem? – tentei me manter apática – eu me machuquei em casa, foi só isso.<br />- Olha, você não precisa me dar satisfações ou mentir. Eu só queria...<br />- Fique fora da minha vida. – encerrei.<br />Justin se calou, mas agora estava visivelmente inquieto. Retomei minha tentativa de fuga.<br />Ele fez o favor de se pronunciar novamente, e dessa vez me deixou estremecida.<br />- Não são só as bruxas que utilizam esse sinal, sabia? Espíritos vingativos marcam dessa forma, as pessoas que atiçaram sua ira. Assim eles amaldiçoam a vida de alguém...<br />Parei de escalar a grade. Não tinha força pra continuar.<br />Que tipo de dor penetrou em meu peito?<br />Eu não sei dizer até agora. Só tive vontade de me encolher e pedir consolo. Junto com a sensação mórbida, veio também uma vergonha, eu nunca tinha sido tão patética até aquele devido instante.<br />Desisti de subir. Voltei ao chão, sentando-me desoladamente num canto do muro. Sabia que minhas preocupações estavam pregadas em meu rosto. Continuei muda, mas permitindo que ele falasse ou que risse, eu já não sabia realmente pra onde as coisas iam e me levavam.<br />Justin chegou mais perto.<br />- Com o que você andou brincando...?<br />Se ele não estivesse com o semblante preocupado, eu com certeza daria um chute no joelho dele. Tão estranho Justin disfarçar sua inquietude com aquele tom leve.<br />Por que isso estava acontecendo comigo?<br />Não respondi a pergunta que ele fez. Depois mesmo de pensar o que escrevi acima e olhá-lo por cerca de cinco segundos, deixei só em mim as respostas. Me mantive arisca. De qualquer jeito, eu nunca confiei em ninguém mesmo.<br />Ele sentou ao meu lado.<br />Ficamos em silêncio por um longo tempo, até novamente ouvi-lo falar.<br />- Você pode até ter se machucado em casa, mas seria realmente ótimo se você procurasse ajuda.<br />Talvez eu devesse tentar a sorte. Olhei para justin e contei parte da verdade, tentando enxergar se poderia continuar com ela.<br />- Na verdade, eu não me machuquei em casa... – evitei encará-lo.<br />Ele assentiu com a cabeça e arqueou as sobrancelhas.<br />- O início da história... E lá se foi a primeira mentira. – sorriu.<br />Eu não ri. Não havia nada de engraçado naquilo.<br />- E quê mais? – ele prosseguiu.<br />Não gostei da cara que ele fez. Justin não usaria ironia comigo naquele momento crítico da minha vida.<br />- Não tem mais, melhor ir embora. – tentei me reerguer, mas ele segurou meu braço.<br />- Você é orgulhosa demais pra aceitar ajuda?<br />Olhei séria e fixamente para ele, disfarcei a pontada no pulso.<br />- Quem me ajudaria?<br />- Eu.<br />Quis rir.<br />- Você?!<br />- Sim, eu posso ajudar você. – seu rosto era brando. – Mas acho que só posso fazer alguma coisa, se você quiser que eu faça.<br />Hesitei meus olhos. Claro que eu precisava de ajuda! Mas se eu aceitasse, quem sabe o que justin faria depois? Espalharia pra escola inteira a minha má sorte, inventaria piadinhas pra zombar de mim, ou jogaria aquele favor na minha cara o resto da minha vida?<br />Eu não poderia estar enganada quanto aos meus julgamentos. Não. Aquele era um cara perigoso, ele estava no lado mal da coisa! Natasha, Natasha e seu bando, era só nisso que eu deveria pensar. Justin fazia parte da galera do mal.<br />Neguei com a cabeça e fiquei de frente para o muro.<br />Ele chegou mais, tocou em meu braço e ameaçou falar algo...<br />Só não falou por que a diretora apareceu no meio dos arbustos e exclamou:<br />- Os dois, pra diretoria agora!<br />Que tal continuar no capítulo seguinte?<br />.......................<br /><div></div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-74447382025489586642009-07-10T19:14:00.001-07:002009-07-10T19:19:07.470-07:00AleluiaaaaaaaaaaComentei seu blog Hugoo<br /><br />:D<br /><br />conseguiiiiiiii<br /><br />nao nao, só queria postar isso mesmoo....<br /><br />rsrsrsrsr<br /><br />:pAmyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-56774280576059456262009-07-10T15:29:00.000-07:002009-07-10T15:33:12.189-07:00Capítulo VIII – Pulso’s<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyltM2k1f438oflSbYRd0S5jpI3ksRbvoddHV6AkEP714Ak7fkyUd0PAUBvN-G7wFIqefiwIAQe5chwcervPiWOJoeKSADOul_dbKblTtgZ4Ofl87wo2UhVeWeL2zUp4ouCGhibUSp-Jcl/s1600-h/3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356963075678224546" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 91px; CURSOR: hand; HEIGHT: 130px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyltM2k1f438oflSbYRd0S5jpI3ksRbvoddHV6AkEP714Ak7fkyUd0PAUBvN-G7wFIqefiwIAQe5chwcervPiWOJoeKSADOul_dbKblTtgZ4Ofl87wo2UhVeWeL2zUp4ouCGhibUSp-Jcl/s400/3.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgppb1OnjukSmNVQxMDnM7kojYab6Aag1L2XMZ8giYaZHifiXc8tTlkwY1l5duIwDDRzdzOCrYDJjDsIxQM39PeuhR6eOJ5YFm9BMJ_3FfOOOxwpo6-roZcCGgYjD2HvqKDOVI6IaA7AcTL/s1600-h/pulso.jpg"></a><br /><br /><div>Passaram-se três dias desde a volta à escola.<br />As coisas aqui em casa estão paradas. Tenho evitado zanzar por ela. Só vou onde realmente preciso ir. Descobri também que caminhar de olhos fechados pelo corredor diminui a sensação de ser espionada; Secada. Estudo ouvindo música, meus fones de ouvido sempre estão no último volume. Sempre uma música pesada.<br />Melhor.<br />Faço isso em meu quarto, lógico, mas tenho freqüentado muito a biblioteca da escola durante a tarde. É preciso dizer os tipos de pessoas que encontro lá, até por que fiquei mais sensível para observar as coisas que me cercam e isso tem me deixado meio pensativa.<br />Digamos que é como se elas vivessem todas dentro de suas próprias cabeças. Sim, como se boiassem num tipo de néctar, como num macio contentamento e prazer. Às vezes devagar, às vezes rápido. Há também uma coisa diferente nos olhos; não que eu tenho olhado todos, averiguado, visto de perto, mas eu sei que há. Diria que é uma alusão a milhares de cores distintas, que aleatoriamente mudam, de acordo com o que lêem.<br />Sim, essas pessoas sempre estão lendo.<br />É essa a essência de um mistério? As fases dos olhos?<br />..............<br />Foi a forma mais passiva de me esquivar do pânico. Do meu próprio e incontrolável medo. Pra eu não sair correndo e deixar de responder certas perguntas. As suas e as minhas perguntas. Até que eu saiba onde achar ajuda, se é que eu realmente posso recorrer a algo, ou alguém. Me anular, passivamente. Me distrair e entrar dentro de mim.<br />..............<br />Essa postagem não é apenas pra falar sobre minhas idas à biblioteca ou encher o seu saco falando sobre como eu me sinto. Não. Quer dizer, agora não. Até por que as coisas por aqui têm ficado mais calmas. Talvez não calmas, mas mudas. Não há mais som, nem movimentos estranhos, não desde o domingo em claro. A única coisa que está estranha é a marca em meu pulso.<br />Ah, e claro, o meu pai.<br />Meu pai...?<br />..... Não... Aquele ser estarrecido e pálido com certeza não é meu pai. Nem aqueles olhos arroxeados pertencem a quem um dia me contou histórias pra dormir à noite.<br />É ridículo confessar que sinto que o estou perdendo?<br />Ou é ainda pior sentir que ele pode me machucar a qualquer momento?<br />.........................<br />Isso vai ficar ainda pior. Tenha certeza.<br />.........................<br />Bem, agora sou uma intelectual... Imaginem que isso me roubou um riso idiota e desesperado. Me imaginem sorrindo, do jeito que você pensa que eu sou. Por favor, não esqueçam de pensar em meus olhos... Eles sempre estão aflitos. Deixe-os esmorecidos.<br /><br />A biblioteca. Lá é sossegado, mas há duas coisas que me deixam irritada, sempre que estou enraizada num livro.<br />Duas coisas tiravam minha paz, além das outras que você já sabe quais são.<br />A primeira era a coceira no pulso.<br />Sim, agora incomoda. Coça, irrita, às vezes pinica! É um inferno.<br />Já passei tudo quanto foi de pomada pra alergia, pra todo o tipo de doença de pele, mas parece que não tá fazendo efeito! É angustiante ver essa coisa no pulso, ainda mais por que parece que tá aumentando, está tipo como uma marca feita em brasa.<br />Sabe, não quero parecer mais paranóica do que eu já demonstrei ser, mas acho que ela tá formando algum tipo de sinal. Não sei dizer exatamente que símbolo é, até por que eu não sei quase nada sobre esse assunto.<br />Mas tá em mim, na minha pele!<br />Será que são eles que estão fazendo isso?<br />Será?<br />Ai meu Deus!<br />Como, eu não me lembro, lembraria se os tivesse visto nesses dias, sei que lembraria!<br />: x<br />O que está havendo comigo?! O quê?! O que eles estão fazendo agora?!<br />...........<br />Minha avó tem gemido durante a noite.<br />Eu a escuto antes de tentar dormir.<br />Talvez ela precise de alguma coisa, mas eu não consigo me levantar da cama pra ajudá-la. Morro de medo do corredor e das portas. Ah, e deles, claro.<br />Os dois...<br />Só espero que ELA não apareça.<br />... Tem mais uma sabia?<br />Mais uma. Além da Sofia.<br />..........................................<br />Agora está calado no lado de fora. Só os sapos coaxam. O tempo tá parado e a tevê faz um zumbido. As luzes do quarto estão acesas, eu estou com os cabelos soltos e com o crucifixo nas mãos. É forma de me sentir protegida...<br />............<br />Sabe o Ted?<br />Eu não o queimei Hugo.<br />Até ia fazer isso, mas ele sumiu de novo. Desapareceu... Como da primeira vez.<br />Espero que isso seja uma brincadeira. Outra brincadeira idiota.<br />: x<br />Mas quem brincaria comigo?<br />.....................<br />Meu pai deve estar chegando.<br />Ele ainda não descobriu que eu peguei meu monitor de volta...<br />...Melhor assim.<br /><br />Só quero ver amanhã... O que vai acontecer. Espero estar lúcida pra escrever o resto.<br />De algum jeito aquelas pílulas tem me feito relaxar...<br />Ao menos um pouco eu tenho estado longe.<br /><br />.....<br />Ah, sabe a segunda coisa que me deixa irritada quando vou à biblioteca?<br />Justin sempre está lá. Sério e concentrado.<br />Droga, droga.<br />Pior ele parecer que se importa....<br /><br />Mas isso é assunto para o próximo capítulo.<br />Tomara que a vovó não gema muito alto esta noite... Eu adoraria dormir no silêncio.</div></div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-47198448507697654062009-07-09T11:44:00.000-07:002009-07-09T11:52:35.421-07:00Allooou povo do Blog :)Queria agradecer a todos que acompanham meu blog e que tem a coragem de continuar.<br />:)<br />O doidinhooo do joao bosco :p e tbm o meu mais novo brother de postagem, O hugo de castro.<br />Sinto muito se nao comentei seu blog, é que na verdade eu nao consegui...<br />juro que é verdade man, eu tentei um monte de vezes comentar, mas nao consegui.<br />Prometo tentar mais, afinal, eu tenho muito o que dizer sobre a sua estoria, pois ela é superinteressante e agradavel de ler. É também cheia de aventura, o que é indispensavel em um textooo.<br />Como voce me dá a honra de acompanhar meu blog, vou ter o maior prazer de acompanhar o seu tbem. :)<br /><br />Obrigado pela companhia, de verdade.<br />Só assim eu calo meus proprios fantasmas.....<br /><br />:x<br />Vamos ao capítulo VIII?Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1092403323580833555.post-57555054993684760852009-07-07T21:26:00.000-07:002009-07-07T21:39:07.924-07:00Capítulo VII - De volta à escola<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9EG0RRoePZQ2fm26JyZnPOWOz8RBA8jDZle3gbEIAMxfAXUXGwByCqQBg7AOB3ivgrlZcGnjo3OzQyh0RuTrzIlhvGfOiTeteTCr_1DmmaRGpW_oS54ITg2587IhlWT7kXbGpc9UjLpQ_/s1600-h/2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355941714091876482" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 119px; CURSOR: hand; HEIGHT: 129px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9EG0RRoePZQ2fm26JyZnPOWOz8RBA8jDZle3gbEIAMxfAXUXGwByCqQBg7AOB3ivgrlZcGnjo3OzQyh0RuTrzIlhvGfOiTeteTCr_1DmmaRGpW_oS54ITg2587IhlWT7kXbGpc9UjLpQ_/s400/2.jpg" border="0" /></a><br /><div>Acabaram as férias.<br />E segunda eu fui à escola.<br />A maldita escola.<br />Não cortei caminho pelo bosque, dessa vez enfrentei a estrada de terra e o cheiro de poeira. Saí bem cedo de casa. Antes que meu pai tomasse café da manhã. Talvez ele não me oferecesse carona. Eu também não aceitaria.<br />Fui ao quarto de minha avó para ver se ela estava bem, logo em seguida fiz algumas panquecas para que os dois comessem. Senti ternura ao vê-la de olhos fechados... Sua fisionomia enrugada ainda era tão parecida com a da mamãe...<br />Foi uma noite perturbadora.<br />Só pra constar, passei o domingo inteiro de cama. O dia e a noite.<br />Apesar de sentir ter sonhado, acho que fiquei mesmo o tempo todo desperta.<br />..........................<br />E eu me sentia indisposta. Meus olhos ardiam, estava em farrapos. Com certeza, eu deveria estar sem um pingo de cor nas maçãs do rosto.<br />...<br />Encontrei Lucy há uma quadra da escola. Ela, pelo contrário, sorria e tinha um ar saudável. De fato, sua estadia na casa da tia deveria ter sido boa.<br />Foi só me ver que pareceu lembrar de alguma coisa.<br />- Ammy... O que houve com você?<br />Preferi não entrar em detalhes.<br />- Dormi mal.<br />Ela uniu as sobrancelhas. Fosse o que fosse, Lucy ignorou a preocupação e as supostas perguntas.<br />Puxou um clichê.<br />- E como foi a sua semana? Curtiu as férias?<br />Quis vomitar quando ela perguntou. Eu me sentia tão mal que desejei empurrá-la e ir embora.<br />Não respondi. Baixei os olhos e continuei andando. Já havia alguns alunos caminhando ao nosso lado. Transformei-me numa interrogação.<br />Percebi que Lucy mordia o lábio inferior. Ou seja, ela queria falar outra coisa. Deveria perguntar algo relacionada àquilo. A eles.<br />- Não gosto de te ver com essa cara de enterro. – brincou.<br />Não entrei na brincadeira.<br />- Você não precisa gostar de nada.<br />- Ainda tá bolada quanto aquilo? – a pergunta saiu de supetão. Não soou compreensível ou amigável. Era mais como se ela falasse de algo ridículo. Uma tolice de criança.<br />Encarei-a ofendida.<br />- Defina “aquilo”.<br />- Aquela parada no cemitério... Tipo...<br />- Eu juro que não consigo acreditar, Lucy! Juro que não.<br />- Eu sei que foi assustador, ta legal?! Mas já faz quase um mês, Ammy! Um mês! E era só uma brincadeira de mau gosto. A vadia da Natasha pegou a gente de jeito, foi só isso, não tem nada real naquilo...<br />- Foi real, Lucy. Foi real. – sibilei, olhei fixamente para ela, não podia ser mais explícita, tinha gente demais olhando.<br />Ela esperou um pouco antes de retrucar.<br />- Você ainda tem pesadelos, é isso? Ainda tá impressionada?<br />Apertei o rosto com desaprovação. Neguei com a cabeça, sabia que meus olhos deveriam estar cheios de medo.<br />Lucy estampou uma feição de anseio. Ela estava acreditando em mim? Me perguntei enquanto arrumava as lembranças dos dias anteriores.<br />- A gente não deveria ter ido. – ela ajeitou os cabelos com impaciência – agora você tá com medo.<br />...</div><div>Não respirei.<br />- Tá acontecendo... É real.<br />Minha voz foi como um decreto. Sim, eu fui muito, muito convicta. E com certeza, eu a deixei em alerta. Aquilo era sincero o suficiente.<br />- O que te faz acreditar que aquilo foi real?<br />Olhei bem fundo em seus olhos.<br />- Eles estão atrás de mim agora.<br />............................<br />Nossa conversa foi cortada.<br />O carro da Natasha e seus amiguinhos arruaceiros cantou pneu. Não consigo entender como eles conseguem fazer isso logo de manhã cedo. Ela vinha com as mãos para fora do carro, naquele seu riso debochado e vulgar. Fui idiota em querer pertencer aquele grupo mesquinho. Só agora eu percebo a minha burrice.<br />O grupo dos bonitinhos, dos arrumadinhos, dos cheia da grana. Ah, e claro, o grupo do poder. Se alguém quiser ser importante na escola, tem que ser de lá. O que se ganha com isso? Bem, digamos que você cria valor, acostuma o fígado a se afogar em álcool e se prende a uma infinidade de libertinagens em festinhas barulhentas.<br />Mas, como você compreenderia devidamente o resto dos fatos se eu não os catalogar?<br />O grupo da Natasha tem sete membros.<br />Primeiro duas garotas: Natasha, lógico. Ela é a líder, qualifico-a como a mente diabólica e pervertida da equipe. A outra é a Karen, candidata à cópia da outra, o que a define como um peso morto.<br />O resto são garotos. Fúteis e gays. A única diferença é que eles não gostam realmente de outros garotos.<br />Serei sucinta.<br />O primeiro é o David, o musculoso e retardado; Aí vem o Christofer, o metido a inteligente; Depois o Naytan, mentiroso e trapaceiro. Contamos três. Logo em seguida temos o Eric, que puxa briga com todo mundo e só vive de boné. Por último, mas não menos pior, encontramos o Justin, que é irmão da Natasha. Poderia classificá-lo como um cara de aparências. Você o olha, acha que ele tem conteúdo, pensa que há algo realmente interessante por trás dos misteriosos olhos azuis, quando na verdade, ele é vazio. Um adolescente de dezessete anos, gentil e cruel em suas atitudes.<br />Eu odeio admitir, mas eu já fui fã desse cara.<br />Agora eu o via chegar com a sua turminha. Permaneci olhando enquanto ele saía do carro, dentro de suas roupas de marca e a sua fisionomia instigante. Um zero a esquerda, convenhamos.<br />Nós nunca trocamos uma palavra. Mas eu o detestava. Sim, eu devia isso a ele.<br />Uma menininha de treze anos tem o direito de detestar quem a despreza, não tem?<br />Pode rir. Sei que foi ridículo.<br />................................<br />Mas eu continuava abatida. E com a presença daqueles vândalos, eu me sentiria pior.<br />Antes de Natasha sair do carro com sua trupe, apressei o passo em direção ao laboratório de química. Ela com certeza faria uma brincadeirinha estúpida, todos iam achar engraçado e Natasha sairia por cima. Preferi definhar longe daquele olhar maldoso e soberbo.<br />Eu não suportaria mais aquilo.<br />Ainda vi Lucy me procurar, mas virei as costas e continuei andando. Estava longe o suficiente para fingir não ter percebido nada.<br />................................<br />Foi um dia difícil. Como sempre.<br />Lucy foi para sua classe, no térreo da escola. Subi as escadas para chegar até a minha no segundo andar. Justin vinha logo atrás, lento e rastejante.<br />Eu só queria que o dia terminasse logo. Logo.<br />E que todo o resto também.<br />Já estava saindo da sala quando um garoto passou correndo e esbarrou em mim. Estava tão aérea que acabei deixando meu livro de história cair no chão. Ninguém parou para me ajudar, agachei-me e fiz eu mesma a gentileza. Além dos papéis incontáveis que surgiram, descobri também, algo estranho na minha pele.<br />Franzi a testa.<br />Era como um tipo de queimadura. Estava vermelho, mas não doía nem queimava. Localizava-se precisamente no meu pulso, e tinha quase quatro centímetros, (medi com a régua). Não possuía formato, quer dizer, eu não enxergava coisa nenhuma naquilo. Pensei... Quando eu havia me machucado?<br />SE eu havia me machucado.<br />...<br />Respirei fundo. Não precisava de preocupações a mais.<br />Decidi não dar atenção àquilo, logo estaria sarado, fosse o que fosse.<br />Cheguei em casa já era quase meio dia.<br />Entrei pelo portão e vi algo estranho no meio da grama. Fui mais perto, mexi com o pé... Era o Ted.<br />Você ainda lembra dele?<br />Estava no meio de folhas secas.<br />Não o toquei, na verdade ele me dava nojo!<br />Mas como ele fora parar no quintal?<br />: o<br />Pensei, olhava para os arbustos perto da varanda. Achei mais sensato deixá-lo ali mesmo.<br />O urso inútil.<br />Acho que vou queimá-lo...<br />O que você acha?<br /><br />.......<br />Adoro seus comentários Hugo :)</div><div>Obrigado pela companhia</div>Amyhttp://www.blogger.com/profile/02138419761806895686noreply@blogger.com1