O mundo tem dentes e pode te morder sempre que quiser....
Seja bem vindo

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Real Imaginário

Quando me recordo do que houve, a primeira coisa que me vem à memória é isto.
O primeiro indício de tudo é esse começo. Este incoerente e confuso começo.
...
O quarto estava completamente empestado de moscas. Eu abanava minhas mãos contra o alto, depois de sentir algumas pousarem em minhas pálpebras. Irritei-me com o zumbido alto e contínuo que elas faziam, enquanto aquelas minúsculas criaturas barulhentas roubavam meu sono.
Ergui-me da cama, olhando a estante e a porta que levava até o corredor. As cortinas balançavam com o ritmo calmo do vento da madrugada, enquanto o clarão da lua penetrava o tecido e me deixava na penumbra.
As moscas continuaram a me rondar, agora muito mais pentelhas do que antes. Tentei espalmar alguma, as mais próximas de mim, porém, aquilo era tão complicado! O zumbido delas ferrava dentro da minha cabeça...
Suspirei, e enfim tentei ver se minha prima Beth estava acordada. Talvez, com mais alguém desperto, eu poderia confessar toda a minha exasperação e pegar no sono novamente. Beth morava naquele fim de mundo há tanto tempo, quem sabe até me daria dicas de como manter as malditas moscas afastadas, bem longe de mim, uma garota da cidade grande.
Olhei para sua cama no canto do quarto, bem onde o clarão da lua era mais forte e então percebi que ela não estava lá. A principio, até esqueci o zumbido das moscas, pensando no motivo de não encontrá-la onde ela deveria estar. Se estivesse no banheiro, a luz fugiria por baixo da porta e o quarto realmente ficaria muito iluminado. Não precisava descer para tomar água, pois eu mesma havia deixado uma jarra e um copo em cima do criado mudo, já que era assustador andar naquela casa a noite.
Então... Onde Beth poderia estar?
...
Estava com aquela sensação estranha a me afligir. Não era dor, não cansaço, não era nada parecido com alguma coisa eu já havia sentido. Era como uma sensação de descontrole, como se eu estivesse prestes a perder a mim mesma. Não entendia, não compreendia o motivo de aquilo me deixar quase em pânico.
As moscas sumiram por alguns segundos. Sentei na beira da cama e finquei meus olhos na porta. À espera de algo... À espera de oxigênio. Passei a mão no rosto... Como estava ficando quente ali! Não! Como era quente ali! Eu não havia me dado conta. Pensei que poderia estar em meu quarto refrigerado, curtindo uma noite sem moscas, bem alto, no vigésimo andar de um prédio.
Mas eu estava ali. Numa cidade que nem ao menos existia no mapa. No lugar onde Judas perdera não somente as botas, mas as calças, as meias, a sua própria identidade. Aquele lugar era uma grande vergonha para a raça humana. E eu o detestei muito naquele momento. Sim. O detestei por que eu tinha medo. Eu morria de medo dele.
Esperei.
Ao menos pensei ter esperado por no máximo alguns segundos. Era ridículo, mas havia percebido que aquela aflição toda sempre me pegava durante à noite. Acreditava ser a péssima condição em que me encontrava, depois de todo o estresse por que passara antes de minhas “adoradas” férias no interior. Eu me sentia mal, tanto física, quanto mentalmente. Sentia meu peito esmorecer apertado. Sabia, mais uma péssima idéia que me ocorrera inconsequentemente.
...
Dakota começou a choramingar.
Ela era uma cadela, filhote de Border Collie, que dormia embaixo do assoalho da casa. Sempre dócil e esperançosa por atenção, podia ouvi-la uivar. Não me veio na cabeça o motivo, afinal, havíamos alimentado-a e brincamos com ela durante toda a tarde.
Estaria acontecendo alguma coisa do lado de fora?
...
Beth não aparecia. Olhei novamente os lençóis bagunçados de sua cama e respirei fundo. A Dakota continuou a chorar; porém, antes que eu tentasse voltar ao meu sono e esquecer o início da sensação de medo, ouvi o que parecia ser um assobio. Um longo e alto assobio que vinha do lado de fora da casa.
Levantei-me, enquanto pensava se era mesmo uma boa idéia espiar o que estava acontecendo. O vento aumentou, fazendo as cortinas dançarem muito próximas de mim, quase a ponto de tapar minha visão. Eu então caminhei com sutileza e encostei meu rosto na lateral da janela, onde eu não pudesse ser vista.
Apesar de estar no segundo andar da casa, pude ver Dakota encolhida, um pouco abaixo da minha janela. Estava voltada para os arbustos extensos, que levavam até a floresta. Não havia mais assobio, ao invés disso, enquanto o vento chacoalhava a copa das arvores e sacudia todos os galhos dos arbustos, numa proeminência de chuva, pude ver o que pareceu ser uma pessoa.
Estava escuro, mas eu podia enxergá-la. Entre as folhas e a vegetação, ela estava parada, estática, com uma esvoaçante e longa túnica branca, a olhar para minha janela. A olhar para mim. Não sei dizer se era uma moça, ou uma velha senhora... mas ela estava lá. As moscas voltaram a me atormentar, agora o zumbido era alto, contínuo, parecido com o guinchar de milhares de ratos. Sua petulância também mudara, e era como se ao invés de asinhas pequenas, elas passassem a ter mãos quentes e teimosas. Mãos que estranhamente pegavam em meus braços.
Eu olhava para a penumbra, olhava ao redor, mas não via nada, não poderia ter nada ali. As moscas então se multiplicaram, enquanto eu me sentia desaparecer, cair, despencar de algum lugar alto. Sem um pingo de oxigênio, em pânico.
...
- Amanda...? O quê, você tomou sonífero de novo, foi? Vamos, se levante dessa cama...
Depois de um flash incrivelmente rápido de luz e adrenalina, pude ver Beth debruçada sobre a minha cama, com seu rosto sorridente, me puxando pelos braços. Havia um sol lindo que burlava a janela e os pássaros cantavam alegres uma manhã morna.
- O quê, já amanheceu? – eu me sentei.
- Há horas... – Beth estalou os dedos. – minha mãe disse que era pra deixar você dormir, mas eu já estava cansada de te ver babar – ela riu.
Passei a mão no rosto. Então era isso, eu estava sonhando. Sim... Um daqueles sonhos que pareciam reais...
Mas...
- Beth... – hesitei.
Ela parou para me ouvir.
- Você saiu do quarto esta madrugada?
Ela riu.
- Claro que não. Por que tá perguntando isso?
Abanei a cabeça.
- Nada... – tentei sorrir. – não é nada...
...
...
Você provavelmente não sabe quem sou eu e o que estou fazendo aqui. Podemos dizer que eu gostaria de compartilhar o que aconteceu comigo durante minhas últimas férias. Pretendo ocupar algumas páginas deste diário (que me foi emprestado, aliás) e tentar transpassar a quem estiver lendo, tudo o que aconteceu.
A princípio, naquela noite estranha em que eu vagava desnorteada rente a uma estrada semi-habitada, me perguntava se eu tinha ou não culpa em tudo aquilo. Eu estava quase nua, coberta por aquela túnica suja e empoeirada que conseguira roubar. Apesar de eu saber que ainda poderia estar em perigo, tinha os passos tão exaustos... O cheiro de alguma coisa entorpecente vagava dentro do meu cérebro. O cheiro do éter no algodão.
Percebia que havia um mundo vivo ao meu redor, mas os restos daquele assustador universo que suspirava dentro de mim havia usurpado os meus primordiais sentidos. Eu mal conseguia erguer o meu corpo.
Quando a luz dos faróis acertaram meus olhos e o pajero desacelerou, tentei me proteger do medo com um brusco e trêmulo levantar de mãos. Só queria encobrir meus olhos e não ser devorada pelo brilho ofuscante do meu torpor. Queria pedir que não, que tivessem um pouco de compaixão da minha vida, mas não podia... Havia esquecido como falar.
O carro parou e uma garota de olhar assustado me fitou. Ela era branca e tinha os lábios avermelhados, como se sentisse frio. Consegui prestar atenção nela, por que era como se ela soubesse exatamente do quê e por quê eu estava fugindo. Ao volante, havia também um rapaz, de aparência um pouco mais velha que a garota, que me olhava inexpressivo com um olhar azulado e interrogativo.
A garota abriu a porta do carro com rapidez.
Tentei apressar meus passos, mas eu não tinha muito controle sobre eles, então caí. Agarrei a túnica ao meu corpo para que não sentisse ainda mais vergonha e percebi que eu nada poderia fazer por mim. Ela então se abaixou e fez um esforço enorme para me levantar. Suas mãos eram geladas e ela tinha cheiro de morango.
- Amanda... você se chama Amanda?
Foi quando eu conheci a Amy.
...
Ela me disse algo sobre um grande perigo. Me abraçou pelos ombros e me convenceu – sem muito esforço – a entrar no carro. O rapaz nada falou, mas percebi que olhava cada movimento que fazíamos. Analisava tudo e formulava alguma idéia que eu não imaginava como poderia ser.
Deitei na parte de trás e tentei manter os olhos fixos no teto. Hora e outra via a garota de aspecto assustado olhar para mim com uma curiosa e preocupada fala em seus olhos.
As imagens da fogueira ardiam em minhas pálpebras. Depois senti a sensação de medo, que eu sabia ser um grande e pavoroso medo a me cercar. Rondar-me a dançar... Quando meu coração palpitou com força, percebi que podia respirar sem amarras. Percebi que talvez eu pudesse ter alguma outra chance. Estava dentro do carro de pessoas que logo estenderiam a mão para mim.
E como...? Por que? De que maneira?
Eu descobriria.
...
Respostas para uma segunda página... Não acham?
...
...
  

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Entrevista no Espaço Hugo =D



Oii povo!! Eu tenho andando meio down esses dias (ruim mesmo, pode crer) e o andamento da minha minha história foi afetado -.-' Eu sei que é phoda, mas já já eu conserto essa situação toda. Eu sempre dou um jeito =D
Na verdade, eu não vim aqui pra ficar falando do meu estado de saúde - que afinal não é tao interessante e nem tão alarmante - Queria mesmo falar sobre a entrevista que o Hugo de castro fez comigo.
Primeiro eu quero dizer que foi demais. Sério, eu me senti a própria escritora com as perguntas e tudo mais. O Hugo também se deu bem como entrevistador e acho que e o resultado ficou interessante.
Como todo mundo já deve ter percebido, O Espaço Hugo é parceiro aqui do Secret e tem e contribuido em muitas das minhas empreitadas.
Espero que curtam, de vero.
Daqui apouco eu volto pra te assustar
....
E dessa vez eu vou pegar pesado.... Eu acho...
...
...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Vou assustar vcs de novo... Posso...?? XD


Ano novo, tudo novo!! - Mentira, só o ano é novo, quase tudo continua velho do mesmo jeito. Rsrsrs!! Tá bom, não vou comer muito o tempo de quem estiver lendo, tô passando só pra avisar que apesar de tudo continuar velho, o diário vai mudar!!
AEEEEE!!
A Amy me fez ter um trabalho adorável, amei escrever a história dela e tudo mais - talvez eu dê continuação futuramente - Mas achei que seria muito interessante enganjar um novo projeto. Andei tendo uns sonhos estranhos, ouvindo "causos" sem explicação e por sorte, as idéias parecem simpatizar comigo =D.
Pensei em colocar tudo separadamente, sem construir enredo nem nada, falar das minhas experiências (pq na verdade eu tenho muitas) e depois retomar a Amy e seus dramas, mas parei pra pensar.........
Eu prefiro ter mais trabalho :)
...
Posso adiantar muitos sustos, um delicioso suspense e terríveis calafrios!
...
Então é isso, daqui há alguns dias eu posto o primeiro capítulo da minha nova história.... Depende muito do nível de tormento que me vier à inspiração.......
Enquanto isso...
...
Tenham ótimos sonhos.


......

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Enquanto isso....


Tocava aquela música que era a nossa cara
Quis saber como você estava
Senti a sua falta
Bem que você podia me ligar
Como vai? O que tem feito?
Disfarçaria para não dar nenhuma bandeira
Pra fingir que tá tudo certo
Que a minha vida continua da mesma maneira
Mas o tempo que era tão pouco
Com você por perto
E agora um deserto
Já sei que as flores de plástico não vivem
Deixava aquela música invadir a sala
Pra preencher o espaço que você deixou
Quem sabe você volta
Até a música parar
Como vai? O que tem feito?
Disfarçaria para não dar nenhuma bandeira
Pra fingir que tá tudo certo
Que a minha vida continua da mesma maneira
Mas o tempo que era tão pouco
Com você por perto
E agora um deserto
Já sei que as flores de plástico não vivem
...


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

*Posfácio*


Primeiro, antes de mais nada, eu queria agradecer a todo mundo que visitou meu blog, ao povo que comentou e que teve a paciência de chegar até o final. O Hugo de Castro, com o Espaço Hugo, meu parceirão nessa doideira, e que foi o responsável por eu não ter excluído tudo. ¬¬ >>> Ah, e ao João Bosco também, nino que aturou comigo o segundo ano no Adelaide Tavares (lá é tipo um hospício) e que me deu dicas sinceras e práticas pro blog.
Devo muito a vocês, meus caros =D
Valeu mesmo.
... 
Bom, esse deveria ser o capítulo XXI, mas eu não queria que o diário tivesse vinte e um capítulos. Sei lá, não queria. E também me sinto meio cansada.  Foi ótimo poder compartilhar as minhas experiências escabrosas com algumas poucas pessoas, me senti bem melhor depois de salgar e queimar os ossos do Ben.
Quando fomos embora, ainda tinha a sensação de medo em meu corpo, mas agora era diferente. Eu me sentia diferente. Ajudei Justin a caminhar, pois ele estava dolorido e havia um corte superficial em sua barriga. Não demoramos a encontrar a trilha que nos levava de volta à minha casa, mas agora nos sentíamos livres de um tipo de peso. Olhei meu pulso e percebi que quase não havia marca. Só uns rabiscos marrons e levemente sombreados.
Chegamos em frente a minha casa, sendo tocados pelos raios do sol. Era um dia quente e ensolarado, como há muito tempo não víamos. Nos olhamos, com um sorriso de vitória nos lábios, esperando encontrar palavras para definir nossa satisfação. Não havia nada. Nada que pudéssemos falar.
Meu pai apareceu na porta, passando a mão na cabeça com uma expressão de dor. Nos olhou meio perdido, mas do jeito que MEU pai, aquele que eu sabia ser bom e inofensivo, olhava. Uniu as sobrancelhas.
- Meu Deus, o que houve com vocês?
Justin sorriu e olhou para mim. Agora eu sabia exatamente o que ele estava pensando.
“Você viu? Nós vencemos...”. Sim, nós vencemos Justin. Ele sabia ler os meus olhos.
...
Olhei minha roupa e percebi que estava completamente imunda. Justin também não estava lá muito apresentável, mas tentava manter um ar de que estava realmente tudo bem. Caminhamos aliviados até meu pai e entramos.
Nenhuma pergunta foi respondida, nenhuma outra foi feita. Por mais silenciosos e satisfeitos que estivéssemos, compartilhávamos todos de uma mesma verdade. Meu pai se manteve quieto em sua poltrona na sala, observando os cacos de vidro no chão, o ponteiro do relógio parado, apontando três horas. Seus olhos estavam molhados, havia culpa neles, enfim, ele me olhou e derramou a primeira lágrima. Ele estava lembrando tudo?
- Tudo bem, pai. – eu sorri.
Sentamos na sala de estar, apreciando a calma de não precisar fugir ou manter cautela.
- Quem aqui está com fome?
...
...
As coisas na minha casa melhoraram. Meu pai voltou a ser MEU pai, a escola é de novo a escola, e Justin... Bom, agora somos amigos. Ele ficou bem machucado naquele dia no bosque, por isso meu pai achou melhor levá-lo até um hospital. A Natasha não acreditou que seu irmão havia se metido numa briga de rua (nem eu acreditaria) por isso disse que se empenharia em descobrir o que havia acontecido de fato. Ela voltou a me encarar com aquela cara pintada e aqueles soberbos olhos azulados, mas até fiquei feliz por ela voltar a ser a chata e implicante Natasha. A linda e mais popular garota da escola, na sua habitual e costumeira versão de sempre, sem possessões!!
O Hugo de Castro me perguntou como é que eu postava se estava sem monitor e aqui vai a resposta: Eu usava o note book do Justin. Depois daquele dia, muita coisa mudou. Não o vejo mais como um idiota metido da escola. Claro que às vezes ele é chato, fica enchendo o saco – brincando – mas descobri que ele também é bem companheiro. Não houve facada nas costas e eu não virei piada na escola... Como ele é da minha turma – e incrivelmente manda super bem em física, matéria que eu sou pior que péssima – a gente se juntou pra fazer trabalhos. Contei sobre o blog e sobre o diário que ainda não tinha terminado, então ele me deu liberdade pra fazer tudo da casa dele.
...
Meu pai mandou comprar vidros novos, e como num pedido de desculpas (bem descabido, aliás) disse que compraria um monitor novo pra mim.
A marca em pulso enfim desapareceu. Mal pude acreditar quando vi meu pulso voltar a cor e a textura de origem! Depois de poder respirar aliviada, parei pra pensar em Daniel e no quanto ele foi importante para a solução de todo aquele enlace. Tive vontade de vê-lo e agradecer, coisa que eu não tinha feito.
Aliás, por falar em nosso pequeno ajudante, Justin e eu descobrimos algo sobre ele.
Daniel Freitas de Almeida.

Nascido em quinze de agosto de mil novecentos e oitenta e oito. Família pobre, filho único, com uma saúde frágil e melindrosa. Natural de Recife, morou lá até seus oito anos, após uma tentativa frustrada de melhoria de vida, conviveu com a pobreza na inóspita cidade de Serra do Campo, indo morar num casebre, no coração de um bosque. Numa noite, dizem que o menino simplesmente sumiu de sua cama. Deram-no como desaparecido, até, depois de alguns poucos dias, acharem seu corpo caído perto de um puteal.
A causa da morte de fato nunca foi descoberta, alguns dizem que congelou até a morte, outros, ao olharem a expressão e os olhos abertos do menino, concluem que morreu mesmo foi de susto.
Após aquele terrível incidente, decidiram encher o bosque de trilhas e placas. Uma criança perdida no bosque poderia mesmo morrer... Descobriram isso tarde demais.
...
Eu sei, isso é horripilante, quase inacreditável, mas é a mais pura verdade. Justin pesquisou nos jornais, na Internet, até achou o casebre onde a família do menino morou, mas este estava abandonado há bastante tempo. Sua morte foi realmente estranha, mas não conseguimos achar um ponto de ligação entre ela e aos espíritos que planejavam a Minha Morte.
Seu corpo morto ao lado do puteal terá sido uma terrível coincidência?
Bom, Daniel nunca mais foi visto, e com sua ausência, a pergunta continuará sem resposta.
...
Mas eu ainda gostaria de agradecê-lo...
...
Justin, a princípio, ficou em choque.
Eu vi esse menino...Mal posso acreditar. – O tempo todo, era ele o quarto espírito.
Sim, era ele.
...
Me perguntaram – e eu não vou dizer quem foi, afinal, é óbvio – Por que salgar e queimar os ossos do Ben consertou toda a minha situação, já que havia mais dois espíritos. Eu agradeço a pergunta, por que eu mesma a fiz pra mim e conseqüentemente para o Justin. A resposta é bem mais simples do que parece:
O centro de tudo era o Ben. Ele não chegou a tocar em mim ou a deixar explicito todo o seu desejo de sangue. Não. Mas foi por culpa dele que a Sofia e a Elisa morreram. Os espíritos delas estavam cheios de ódio e sedentos de vingança por culpa dele (ou da força que roubou o juízo dele). É como um círculo vicioso e sem fim. Alguém as evoca, elas – cegas pela negatividade de suas almas – Enxergam em qualquer um, o rosto de seu próprio assassino.
Salgar e queimar os ossos de Ben, é o mesmo que dar o alívio a corações cansados e pesados de raiva. Foi a chave para destrancar o cadeado das correntes.
É por isso que eu me salvei =D.
...
Agora eu não tenho muito sobre o que me queixar. Nem sobre meu pai ou sobre minha vida social. Encontrei a Lucy na escola, ela acabou puxando o assunto do cemitério e eu disse a ela que eu havia surtado temporariamente, mas que agora já estava melhor.
- Você me assustou com aquela história de “É real...” – ela riu.
Sei que não posso contar a verdade – por que Lucy também não acreditaria em mim – ou sutilmente confessar a ela todo o terror que vivi. Não desejo a ninguém as coisas que passei e prefiro que minha melhor amiga não conheça o que acabei conhecendo...
Eu tento esquecer e sei que um dia consigo.
Justin me chamou para ir ao cinema. Eu acho que vou... Será?
Meu pai disse que eu tenho que me divertir um pouco. Desconfio que ele esteja saindo com alguém... Talvez a Célia, sua secretária e cão de guarda. Quem sabe eu o obedeça... Ou espere um pouco mais.
Não sei.
Também, não posso deixar minha avó sozinha, ela está tão velhinha... Doente.
...
...
Ainda mais agora que ela anda conversando sozinha. Agora que ela fica sem sono e caminha perdida pela casa...
Não posso deixá-la sozinha...
Ou posso?
Minha avó.
Ela continua sentada em sua cozinha, olhando pela janela, o mesmo puteal abandonado. Um daqueles no bosque... Tudo parece igual.
Igual...
A não ser pela vivacidade estranha que brotou em seu olhar.
A não ser por isso...
...
...
...
...
...
Inté?
...
...
ò.Ó
...
Abração =D

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Atividade Paranormal


Eu e alguns amiguinhos meio loucos, passamos por uma experiência incrivelmente assustadora!! Não, nós não vimos nenhum espírito e nem evocados tais entidades, nós simplesmente fomos assistir Atividade Paranormal no cinema.
Foi engraçado no início, a gente riu das piadas, achou algumas partes meio sem graça, até pensou em ir embora, mas depois... Meu Deus e que DEPOIS!!!
Todo mundo que tava na sala do cinema com gente gritou, um amigo meu abaixou a cabeça e fechou os olhos, quase chorou e um outro se encolheu e berrou que nem um louco.
Foi incrível mesmo, nossa, quase indescritível!
Quando saímos da sala, uma amiga minha mal conseguia falar. Estava assustada, andava olhando para os lados e tals... eu cheguei com ela na boa e perguntei se ela estava com medo. Coitada... Medo era pouco.
Todo mundo que tava com a gente ficou diferente depois do filme. Praticamente todo mundo não dormiu naquela noite, ou disse ter ficado traumatizado.
Eu adorei o filme, tô recomendando pro povo que curte filmes assim.
Atividade paranormal é realmente perturbador!!!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Capítulo XX – Final?



O tempo não precisava mais passar, ou então não existir mais. Eu não me importava. Continuamos sentados em silêncio por quase uma hora, ambos capturados por seus próprios anseios. Como sempre, eu nunca consegui adivinhar o que Justin pensava, mas me sentia péssima. Era como perceber a morte sentada bem ao seu lado, esperando o momento certo de te abater e gentilmente roubar a sua alma. Não tinha medo de morrer, tinha medo da dor que eu poderia sentir e das últimas coisas que eu por acaso veria.
A Natasha havia acabado de ser possuída por um espírito, e a maior culpada de tudo aquilo era eu. A derrota se apoiava em meu ombro e sussurrava “Vamos, se entregue... Pare de lutar. Não adianta, minha cara”. Tive vontade de desistir.

Suspirei.

- Tenho que ir embora.

Justin contraiu a mandíbula.

- Sua casa é perigosa.

- Eu sei – sibilei – Mas não posso passar a noite aqui...

Ele respirou fundo.

- Vou te levar pra casa. Quem sabe o quarto espírito tenta se comunicar de novo...

- Então você acha que o quarto espírito quer nos ajudar?

- ... Não custa nada tentar, não é?

Mordi o lábio.

- Onde Ben estará enterrado?

...

...

Justin e eu saímos depois de levar Natasha até seu quarto. Ela ressonava com um ar cansado e continuava um pouco pálida. Não pude fazer muita coisa, a não ser rezar para que aquilo não acontecesse novamente. Ela era ruim, mas eu era a maior culpada.

Antes de irmos, ele pediu que eu o esperasse apanhar algumas coisas na garagem. Voltou com uma enorme mochila pesada.

Pegamos um táxi e fomos até minha casa.

Estava morrendo de medo, afinal, havia acabado de ver uma garota possuída por um espírito enraivecido e que desejava a minha morte. O pior era saber que esse mesmo espírito, mais alguns outros, havia escolhido minha casa para fazer morada. Temi o que encontraria quando chegasse e se conseguiria preservar minha vida até clarear.

Pensei também em meu pai, então o meu medo só aumentou.

Justin continuou preso em seus pensamentos, tentando passar uma calma que eu sabia não existir mais. Fechei meu rosto com dor de cabeça, começando a imaginar como tudo aconteceria. Como eu morreria.

Chegamos. O táxi nos deixou a poucos metros da porta principal. Justin pagou e disse ao taxista que já poderia ir embora. Estranhei.

- Você... Como você vai embora depois?

- Não vou embora.

Preferi não perguntar mais nada. Na verdade eu me sentia melhor sabendo disso.

Trocávamos olhares semelhantes, como se perguntássemos um ao outro se tínhamos coragem o bastante para prosseguir. Enfim, quando ele deu o primeiro passo, decidi fazer das tripas, coração.

Entramos, a porta estava destrancada e as luzes todas apagadas. O cheiro gelado dos móveis me dava calafrios, mas não tanto como antes.

Andávamos com leveza, enquanto vagarosamente acendíamos todas as luzes. Mal pude acreditar no estado de organização em que minha casa se encontrava, numa aparente calma, como resultado de um cotidiano normal e sem muitas surpresas. Mas eu sabia... Estava tudo muito errado. Era como se nossas vidas estivessem prestes a serem roubadas.  

Vasculhamos todos os cômodos, nos deparando com uma enorme sensação de estupidez. Meu quarto estava do mesmo jeito, não havia mancha em lugar nenhum e as lâmpadas funcionavam perfeitamente. Nos empenhamos em achar meu pai, caído ou perturbado em algum lugar, mas ele havia desaparecido. Pensei então em minha avó, mas ela dormia serenamente em seu quartinho escuro.

- Acha que eles se foram? – perguntei.

Justin caminhava ao meu lado no corredor.

- Querem que você fique sozinha. Por isso estão tão calados.

Peguei o pingente do cordão.

- Eu estou protegida...

Justin olhou de soslaio para mim.

- Talvez não o suficiente.

Estremeci.

Segui Justin até a sala. Nos sentamos sem muitas palavras.

...

Estava cansada, tanto que depois da primeira hora, minhas pálpebras ficaram pesadas como pedras. Justin vislumbrava o nada, alternando olhares preocupados para o meu silêncio. Havia sentado longe novamente, mas era como estivesse no lugar exato para ficar próximo. Encostei minha cabeça no sofá e fechei os olhos.

- Você parece cansada...

- Não posso dormir... – sibilei ainda de olhos fechados.

Justin então não falou mais nada, pelo menos até eu perder a consciência.

...

Tive um sonho estranho... Tão estranho que parecia real. Abria um pouco os olhos, e via meu pai ao lado de Justin, ambos sentados no sofá. Os dois olhavam para mim, como se vigiassem meu sono. Sim, eu estava dormindo. Então abri melhor os olhos e percebi que apenas Justin me olhava. Tentei me sentar no sofá, mas ele me advertiu.

- Não se preocupe. Pode voltar a dormir.

Ainda abri os lábios para negar, porém, meus olhos pesaram novamente.

Acordei ofegante às três da manhã, até perceber que havia caído do sofá.

Olhei ao redor e me dei conta de que estava sozinha.

O ar era realmente muito frio e meus dentes começaram a ranger. A casa parecia mais escura e tudo havia emudecido. Onde estaria Justin? Me levantei e pensei em esperá-lo. Apertei o pingente do cordão e ouvi algo bater no andar de cima.

- Justin?

A batida continuou.

- Justin, você está aí em cima? – sentia o medo me apunhalar pelas costas!

As batidas continuaram, mas mudaram de direção. Sabia... Elas se direcionavam para a escada, e conseqüentemente para o andar de baixo. Pensei em fugir, mas onde estaria Justin? O que aconteceria com ele? O pingente do cordão começou a pinicar meu pescoço. A marca em meu pulso começou a queimar e o meu coração acelerou, a medida que o incômodo aumentava. Tive vontade de gritar, mas então eu me entregaria finalmente. Decidi suportar aquilo calada e encontrar meu amigo.

Fui em direção às escadas, mas algo um pouco disforme surgiu no vão, em baixo da fluorescente. Como estava um pouco escuro, não identifiquei quem era.

- Justin...?

A Sofia abraçava o Ted, com os olhos sujos de sangue. Ela surgiu na penumbra, precedida de um homem com o rosto deformado, envolto num casacão preto, em baixo de um chapéu. A batida havia parado, enquanto seus passos suaves desciam os degraus, sem pressa, me fazendo tremer.

Quando pensei que enfim eles me matariam, os dois simplesmente pararam. Imóveis e assustadores, com suas fisionomias destruídas e comidas por vermes. Olhando-me sem piedade, sem ânimo, com aquela dor ensurdecedora a gritar nos meus ouvidos.

Algo se mexeu na cozinha.

Eu estava parada, pronta a correr a inúmeras direções inúteis, até minha visão periférica acusar a presença de mais alguém. Pensei em não dar atenção, mas não podia, não conseguia! Caminhei de costas e sutilmente, quase sem tirar os olhos dos dois espíritos parados na minha frente. Mal pude acreditar...

Aquele vestido, aquele cabelo, aquele cheiro... Quantas noites eu esperei por ela? Por algum vestígio da presença dela? E agora eu podia senti-la... Podia vê-la. Não sem cor e cansada num caixão, mas sim como eu me lembrava dela.

Minha mãe.

Escondia-se um pouco no escuro, mas eu quase enxergava seu rosto. Meus olhos se encheram de água, mas era felicidade, não sabia se podia, mas sentia. Ela abriu seus braços para mim, para me proteger... Era ela, o quarto espírito?

- Mamãe...

Sofia e Ben desapareceram. Não havia me dado conta de absolutamente nada. Enquanto eu andava até minha mãe, percebi que o cordão queimava minha pele, a deixava seca, áspera e cheia de escamas. Roubava meu fôlego e pesava demais. Ainda hesitei, mas o puxei com toda a força do meu pescoço.

- Filha...

Ela ainda tinha os braços abertos para mim. A marca em meu pulso estava quente. Muito quente. O cordão ficou caído no chão. Senti-me culpada por isso, mas não conseguia mais suportá-lo.

Estiquei as mãos para tocá-la, até que o rosto cadavérico de outra mulher me tirou a calma.

- Venha para a mamãe.

Aquele deveria ser o rosto de Elisa. Eu havia me enganado. Não. Não! Não era o quarto espírito! Minha mãe nunca esteve lá. Nunca. Aquela voz fina e praguejante assombrava meus tímpanos, suas mãos frias e escabrosas tocaram meu braço, até eu me lançar para fora da cozinha.

Corri desesperada, e então esbarrei em meu pai.

Ele tinha o olhar frio.

- Pai? Pai... – eu o abracei – me ajude pai, preciso sair daqui, preciso fugir!!

Ele segurou meus braços com força.

- Você não vai a lugar algum.

Olhei bem em seus olhos, achando-os enrijecidos por uma espécie de ira. Ele me abraçou apertado por trás, machucando meu corpo e me deixando imobilizada. Me arrastou até a garagem, enquanto grunhia e balbuciava palavras sem sentido. Sua aparência estava horrível, ele parecia um lunático conversando com sua própria sombra. A medida que as coisas avançavam, eu tinha mais certeza de que ele acabaria com a minha vida.

O tempo não precisava mais passar, ou então não existir mais. Mas agora eu me importava. Me sentia plenamente viva, lúcida, com o sangue quente pulsando em minhas veias. Imaginei meu cruel e triste destino, morta pelo próprio pai, sem piedade, culpada também pela morte de um jovem que nada tinha a ver com nada. Era isso. Justin deveria estar morto.

...

Meu pai me atirou contra a parede. Bati a cabeça e caí sem forças no chão. Minha vista ficou meio turva, mas ainda consegui ver que não estávamos sozinhos. No canto da garagem, perto da caixa de ferramentas, Justin jazia inconsciente no chão. Ele ainda respirava, mas sua cabeça estava sangrando. Perguntei-me se realmente sonhara quando o vi sentando ao lado de meu pai... O que poderia ter acontecido? Eu já imaginava.

Meu pai me puxou pelos cabelos.

- Agora você vai pagar... Sua malcriada... – Ele me obrigou a sentar em uma cadeira.

- Pai, não... Não... – Comecei a chorar – Não dê ouvidos a eles... Por favor... Não me faça mal...

Minha garganta estava quase fechada. De nervoso, de pânico! Estranhei meu pai começar a chorar, vendo uma piedade fulgurar em seus olhos secos.

- Eu tenho que ser um bom pai, não tenho – acariciou meu rosto – Tenho que educar minha filha... – Eu não o conhecia. Não à sua perversidade.

- Por favor... – implorei.

Ele esbofeteou meu rosto.

- Cale a boca. – gritou.

Eu estava tremendo. Foi então que percebi que meu pai tinha uma corda em suas mãos. Não... era aquilo, era assim que ficaria? Virei meu pescoço para não vê-lo me amarrar, as lágrimas haviam se apossado dos meus olhos tão rapidamente! Tentei não soluçar alto. Me sentia cada vez mais cansada. Pensei estar tendo alguma alucinação quando vi Justin se movimentar, acordando de um violento nocaute.  De algum jeito, porém, sentia que era tarde demais.

As cordas estavam muito apertadas e eu não sabia o que esperar. Meu pai veio para perto e beijou minha testa.

- Eu te amo.

Suas mãos frias envolveram meu pescoço sem muito esforço. O toque sem vontade se solidificou, até explodir em ódio. Enquanto meu próprio pai me matava enforcada, podia ver sombras nos rodearem. Alguns sorrisos disformes, alguns olhos sujos de linfa, enquanto eu tentava me libertar das cordas e escapar das mãos dele.

“Vamos, se entregue... Pare de lutar. Não adianta, minha cara”. Aquela voz queria roubar o resto das minhas forças e me forçar a dormir entre a dor do sufocamento. Ao lado dele, aquele rosto ruim a me olhar e a se deliciar. Sussurrando aquelas vontades em seus ouvidos... Aquela mulher maldita. Elisa. Minha vista começou a enegrecer. Quis implorar novamente por minha vida, mas ela estava deslizando para fora de mim.

Com os olhos arregalados de desespero, eu o contemplei me encarar. Sim. Essa seria a última coisa que eu veria. O medo, a raiva, o ódio do meu pai. Seus olhos de bicho a me morderem. A vivacidade, enquanto tudo dentro de mim se apagava.

...

Não sabia o que pensar. Não lembrei minha vida e nem nada. Só encontrei sombras. Sombras. E aquela sombra não foi diferente das outras que vagavam perto de mim. Mas aquela sombra tinha olhos azuis e um ar diferente, até eu perceber que ela também possuía força. A força que abateu o meu suposto assassino. Os olhos de ódio perderam o brilho devagar, até as mãos soltarem meu pescoço e eu saber de novo o que era oxigênio.

Ainda entre aquele pesadelo e a realidade, Justin se apressou em desamarrar as cordas que me prendiam. Eu ofegava, sentindo uma dor enorme despedaçar a minha cabeça.

- Amy? Amy, tá tudo bem?!

Eu mal podia falar.

- Tá... – meu rosto se contorceu. – ele ia... – minha voz era rouca.

- Ia sim. Mas não vai mais. – Justin estava nervoso. Era a primeira vez que o via daquele jeito. – Foi um erro virmos para cá, precisamos ir embora agora!

Eu estava livre. Justin me ajudou a caminhar, pois ainda me sentia tonta, então alcançamos a porta que levava até a parte de trás da cozinha. O sangue em sua cabeça havia secado. Saímos, sendo envolvidos por vozes e batidas violentas no andar de cima. Os espíritos deveriam estar furiosos conosco, podíamos sentir a atmosfera pesar sobre nossos ombros.

Justin catou o cordão com o crucifixo no chão e o entregou a mim.

- Isso incomoda por causa da maldição... Não tire de novo ou tudo ficará pior.

Calei e recoloquei o cordão em meu pescoço. Ele formigou e fez meu coração bater mais rápido novamente. Justin pegou sua mochila e nós dois nos dirigimos até a porta.

- Amy! – ouvimos meu pai gritar. Sua silhueta saía desengonçada detrás da porta da cozinha.

Ainda pensei em ver o que aconteceria, mas ele havia acabado de tentar me matar, então nós dois corremos para fora. As vozes e as batidas aumentaram, enquanto um vento gelado e aparentemente forte jogava areia em nossos olhos. O dia estava quase amanhecendo e o céu vermelho dava um ar assustador à minha obscura casa. Olhei para o vidro da janela do meu quarto e avistei Sofia. Ela parecia uma nuvem de fumaça, mas ao abrir a boca, soltou um grito altíssimo que me fez tapar os ouvidos. As folhas das árvores se eriçaram, balançando de lado para o outro como se quisessem escapar. A porta da frente tremia, enquanto que vidros se quebravam bruscamente. Podíamos sentir a força negativa daqueles seres a tentarem nos aprisionar. Uma sensação de cansaço e peso quase nos fez ceder.

Meu pai abriu a porta com voracidade, tendo nas mãos, uma faca enorme e lustrosa. Vinha meio cambaleante em nossa direção.

- E agora, o que faremos? – perguntei caminhando para trás.

Justin respirava rápido.

- Não sei, não sei!

Senti uma mão gelada tocar aflita na minha. Algo que vinha por trás.

- Amy, por favor, precisa vir comigo.

Ainda estava apavorada com o susto, mas dei atenção ao pequeno Daniel.

- O que houve? É perigoso ficar aqui. – alternava os olhares para ele e para a figura tonta de meu pai que se aproximava.

- Eu sei, eu sei – ele parecia angustiado. – É por isso que você precisa vir comigo... Precisa!

Eu mal conseguia ouvir sua voz. A areia em nossos olhos também não deixava que nos víssemos melhor. Ele então pegou em minha mão e saiu me puxando para o bosque. Tive tempo de olhar Justin e tentar pedir que viesse conosco, mas ele virou o rosto e correu em direção ao meu pai. Por mais idiota que ele me parecesse, agora agia com uma coragem desconcertante.

Daniel tinha força, apesar de ficar cada vez mais gelado. Quando os primeiros raios de sol iluminaram a trilha, ele me puxou para o lado esquerdo, no meio de espinhos e plantas viscosas, escorregamos num declive de folhas lisas e terra preta. Eu estava ficando assustada, pois não sabia onde exatamente ele estava me levando e muito menos por que. Então, quando eu já ofegava e temia o que estaria acontecendo com Justin e meu pai, Daniel me mostrou uma clareira. Era um lugar amplo, um pouco escuro pela abóbada da copa das árvores e de aparência funesta. Ele parou de caminhar e centralizou o olhar para um puteal meio apodrecido. Parecia bastante com aquele atrás da cozinha da minha casa, mas eu não entendia. Havia mais espalhados pelo bosque?

Parei de caminhar, e Daniel sutilmente soltou minha mão. Com o olhar estranhamente pousado sobre aquela espécie de poço, ficamos em silêncio por um longo tempo. De alguma forma, me senti muito sozinha por estar ali. Por mais que o menino estivesse ao meu lado, era como se não houvesse mais ninguém. O medo e o silêncio de seus olhos me fizeram entender... Eu deveria fazer aquilo. Fosse o que fosse.

Respirei fundo e caminhei em direção ao puteal. A terra era fofa no meio da clareira e quase não havia luz do sol. Segui hesitante, até virar o pescoço para ver Daniel. Para minha surpresa, ele havia desaparecido. Agora eu realmente estava sozinha. Cheguei mais perto e senti um cheiro horrível escapar pelas frestas. Por mais que eu tivesse medo, sabia que ali estava a chave de todo o mistério.

- Mas... Como?

Não precisava perguntar ou buscar explicações lógicas. Com a pouca força que tinha, empurrei o enorme bloco de concreto que tapava a o puteal. Depois de muito esforço, consegui movê-lo até a metade, então parei e recuperei o fôlego. Alguns pássaros passaram assustados por sobre a minha cabeça. Recomecei.

O lume do bosque, ferroado pelo fedor que saia lá de dentro, me fizeram saber o que havia lá.

Uma ossada.

Tapei a boca o nariz com as mãos. E agora, o que eu faria? Meu coração acelerou. Algo se mexeu entre os arbusto ao redor da clareira. Eles estavam ali para enfim acabar comigo.

...

Justin sangrava. A principio ele sorriu para mim, mas eu sabia que ele estava ferido. Corri em sua direção, enquanto ele encolhia o tronco, ajeitando a mochila nas costas.
- Meu Deus, tá tudo bem?
Ele esticou a mão para que eu me afastasse.
- Seu pai é forte, mas não é dois. – ele riu.
- Como você chegou até aqui? – silvei.
Justin caminhou com dificuldade para perto do puteal.
- Um menino... Ele disse que você estava me esperando.
Mordi o lábio.
Justin olhou os ossos dentro do vão.
- Então era aqui que dormia o nosso amiguinho?
Sorri com alívio.
- Tomara mesmo...
Percebi algo se mover entre os galhos. Sombras... Ouvimos gemidos.
- Justin... – implorei. Ele tinha que ter uma solução prática. Os espíritos haviam chegado.
Seu rosto ficou sério. Forçando-se a caminhar mais rápido, ele tirou da bolsa que trazia consigo, um vidro médio e uma enorme garrafa, cheia de um liquido amarelado. Enquanto ele se apressava em despejar o sal sobre a ossada, percebi que a clareira ia diminuindo. As sombras iam se adensando, nos prendendo num tipo de armadilha.
- Rápido Justin!!!
Ele destampou a garrafa e jogou toda a gasolina sobre o sal. Quando então as sombras espessas estavam prestes a nos devorar, ele ateou fogo nos ossos, fazendo com que os espectros recuassem, em meio a sussurros e gemidos de dor. Olhamos para as árvores ao redor da clareira, e avistamos Sofia, Ben e Elisa a se consumirem pelas chamas. O bosque ficou em silêncio depois que todos os animais se encolheram de medo.
...
- Estamos salvos?
Justin expirou.
- Eu espero que sim.
...
...
...
...
CURTAM O POSFÁCIL.