O mundo tem dentes e pode te morder sempre que quiser....
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sábado, 25 de julho de 2009

Capítulo XI – Sótão

Obs: Agora tudo parece ter acabado.
Durante todo o tempo em que eu fiquei sem postar nada.
...
Eu não podia... Desculpe, eu não consegui poder. Você vai entender bem como tudo ocorreu. Como aconteceu. No que findou.
Novamente, perdoe-me por ficar todo esse tempo longe. Desculpe.
É que as coisas foram acontecendo, me submergindo a ponto de eu não poder mais fazer o que havia prometido. Tudo começou a desmoronar, as únicas escolhas que eu tive foram agarrar as oportunidades e ter um pouco de fé.
Não me restou tempo para o diário...
Desculpe.

Mas agora retomemos a história de onde eu parei.
Terminarei o que ficou pendente no capítulo passado, e por seguinte, página por página, eu revelo o final. Esperado e conturbado final.
Tudo agora ficará melhor.
Tudo.
Ao gosto dos que esperaram ouvir meus sustos. As minhas detalhadas surpresas
...
O capitulo passado ficou enorme não foi?
Talvez esse seja bem maior.
...
Comecemos com uma breve história. Dentro desta mesmo, acho que posso iniciar.
...
Eu era menininha ainda quando o ganhei. Ele era limpo, cheiroso e macio.
O Ted.
Sempre estava disposto a brincar, sempre estava onde queria que estivesse. A gente se divertia, ficava junto o tempo todo! J Ele era atencioso, era afável... Meu melhor amigo.
Mas aí veio aquele dia de novembro. As compras no supermercado e o caminhão desgovernado na avenida principal. Penso que talvez mamãe e Christine estivessem rindo. Não imagino um motivo, mas penso que sim.
Ninguém nunca me disse como aconteceu. Ou como poderia ter sido evitado. Mas de algum jeito, eu as perdi por isso. As perdi, e não pude dizer que sentiria muito a falta delas. Eles as roubaram de mim, e acho que nem mereci tamanho castigo.
Aos seis anos, vivenciei a morte de minha mãe e minha irmã mais nova.
Ainda lembro bem desse dia.
Vi meu pai chorando no quarto. A minha avó já adoecera, mas daquela vez ela estava tão apavorada... Eu a vi chorar por não conseguir gritar.
Ai eu olhei pro Ted. E ele sorria pra mim.
Que espécie de amigo sorri ao ver o outro triste?
Bobagem por bobagem, aquilo foi não ofensivo!
Rodopiei em meus campos floridos e açucarados. Boba e tola, eu comecei a sentir que podia cair, me sufocar naquele meio todo.
Foi quando eu entendi. Confesso ter sido a primeira vez que uma coisa ficou tão clara pra mim.
Ted pertencia ao mundo da alegria. Da felicidade imatura da infância.
E eu? Bem, agora eu devia ser mais crescida, pra não deixar minha família se dissipar ainda mais. Percebi que estava na hora de deixar as minhas coisas bobas de lado. Esquecer as birras e os pedidos que seriam consentidos por pena e desatenção.
Poderia aprender a me guiar com os próprios pés, talvez eu caísse bem menos, ou nem caísse mais. Era uma tábua de salvação tão cruel... Mas ao menos eu sentiria firmeza em estar sobre aquilo. Sobre meu corpo pequeno de criança.
...
Tinha um pai e uma avó pra cuidar. Não podia ser tão mesquinha e fazê-los se matar por mim. Não podia.
Eles estavam mais dilacerados do que eu?
Achei que estivessem.
...
Pode até soar algo tolo, de veras, pode ter sido. Mas depois daquele dia, do velório e do enterro, só tive mais certeza de que isso era melhor pra todos nós.
Foi quando abandonei o Ted.
...
Poderia dizer que o fato de ele me meter medo agora, é uma conseqüência defensiva da parte dele, por eu tê-lo largado. Os seus olhos quentes e assustadores, o pêlo sintético e gelado, de alguma maneira estavam ligados aos fatos estranhos que aconteceram na minha casa.
Ted. Ted.
Queria queimá-lo e não deixá-lo largado numa prateleira, ou sobre a minha cama.
Queria vê-lo se consumir.
...
Não se sinta iludido por que eu falei falei sobre meu urso de pelúcia. Ou por que agora as coisas estão ficando particularmente no passado. Não. Mas agora eu terei mais tempo para contar os fatos calmamente. Contar sobre o Ted me faz lembrar parte da minha vida. Partes que eu quase tinha abandonado também.

Mas não se chateie.
Por favor, não se sinta assim J.
Mas é que eu achei importante, essencial dizer um pouco sobre ele, afinal, nenhum tipo de repulsa é sem motivo. Nenhum tipo. E depois que ele ficou estranho, senti-me livre para revelar algo sobre ele.
Mas basicamente foi isso.
Isso.
...
Ainda é sobre aquela sexta feira que quero falar. Foi nesse dia que tudo começou a andar mais rápido. E mais desgovernadamente para um tipo de abismo.
...
Bem, você lembra que a Lucy esteve na minha casa, não lembra?
Pois é, deve lembrar também que ela foi embora depois de me encontrar ausente.
Pois continuemos daí. Após a parte em que eu entrei em casa, decidida a queimar o Ted.
...
Com certeza eu jogaria álcool em seu pêlo e depois tocaria fogo. Fogo.
A casa estava barulhenta quando entrei. Sabe, minha avó martelava alguma coisa na cozinha, mas não me permitir ir ver o que era, não queria, tinha medo de ela trocar o alvo e martelar a minha cabeça.
Mas aquele barulho!
Barulho!
Começou devagar, enquanto eu caminhava pelo corredor na parte de cima. Depois pareceu ter se multiplicado e era como se minha avó martelasse duas coisas ao mesmo tempo, com uma força absurdamente incrível! O som devorava meus ouvidos. Comia os meus tímpanos.
Apressei mais os passos, até finalmente parar diante da porta do sótão. Catei a chave certa no molho, e destranquei a fechadura. Por baixo da porta pude sentir que estava frio do lado de dentro.
Aí girei a maçaneta e puxei.
Não houve movimento.
...
Tudo bem.
Tentei outra vez, afinal, era uma porta velha, poderia emperrar.
Mas ela nem ao menos se moveu.
Na terceira percebi que havia algo errado.
Muito errado.
Usei toda a força que tinha para puxar a porta. Não empurrei, só puxei.
Ela continuou solidamente inerte.
Respirei fundo, dei dois passos para trás, sem deixar de olhar o semblante vazio do pedaço de madeira de cidra à minha frente. Como era escuro naquela parte do corredor... Escuro e frio.
Desistir? Pensei nisso.
Mas o Ted estava lá, e eu precisava muito vê-lo carbonizado. Como uma vingança particular.
Foi nesse instante que me enchi de coragem e voltei a forçar a porta, com toda a determinação e raiva que eu estava sentindo. Em meus movimentos desesperados, não percebi quando ela subitamente se lançou para cima de mim. A porrada foi violenta, tanto que tive o corpo lançado para trás e o rosto machucado.
Senti a dor e o sangue escorrer da testa. Enquanto eu estava jogada no chão, passei a mão no corte e olhei para o que a porta deixara oculto. Já não mais havia um sótão cheio de lembranças e brinquedos de criança, mas sim uma garotinha de olhos brancos e pele pálida, agarrada infantilmente ao que um dia fora meu urso de pelúcia.
As marteladas de minha avó continuaram no andar de baixo e por isso as culpo por mais ninguém ouvir o grito estarrecedor que Sofia deu ao me ver.
Foi horrível.
Horrível.
Eu estava tremendo, mal conseguia tirar os olhos de cima dela, da garota e do meu urso. Não conseguia mover o meu corpo para cima e sentia que estava prestes a ser devorada pelo meu próprio medo.
O que havia acontecido com minhas pernas?! Por que elas não me obedeciam?
Comecei a respirar involuntariamente quando Sofia deu o primeiro passo até mim. O estupor que invadia meu corpo simplesmente aumentava e me deixava desprotegida. Nem conseguia me arrastar para longe ou dar um grito agudo e ensurdecedor.
Não saia nada. Nada.
Sofia continuou vindo. Abraçada ao Ted, com o braço erguido e os olhos espichados para mim. Meu deus, meu deus! Eu estava tão perto dela, tão próxima do seu ódio! Como eu sairia viva?! Como eu fugiria?! Como eu os faria parar?
O.O
O sangue da testa escorreu para dentro de um dos meus olhos. Mas eu continuava com os dois abertos, vendo-a chegar mais perto. Sentia o pânico me prender a um peso imensurável, jogando-me num lago profundo e turvo. A mão dela estava próxima ao meu rosto, próxima demais. Só pude me cobrir com as mãos e os braços, tinha que evitar aquele toque. Eu precisava.
Foi a coisa mais gelada e apavorante do mundo.
Os seus dedos frios agarraram meu braço com força e se dispuseram a apertá-lo por alguns segundos, até meu ar acabar e eu deixar de ouvir as marteladas. Tive três segundos para olhá-la, e perceber que minha vista se escurecia.
...
Foi como estar dentro de uma sala de espera abandonada. Não havia luz, só o ar gelado e os bancos solitários. Enquanto eu gritava dentro de mim para despertar, as paredes tremiam e o teto se jogava para baixo. Estava dentro de algum lugar que eu realmente não sabia existir naquele meio termo. Não sabia se havia saído de dentro do meu próprio corpo.
...
Abri os olhos e quase fiquei cega com a claridade. Meu quarto estava muito iluminado, todas as cortinas estavam abertas e os abajures amarelados se encontravam acesos. Percebi que estava deitada sobre a cama ainda feita.
Deitada... O quê, eu estava dormindo?!
De novo a sensação estranha. O pulso voltou a arder.
Apalpei o que achei estar machucado em meu corpo, até passar a mão na testa e ver que não havia corte nenhum lá. Meu coração até bateu mais devagar. Cansado, de nunca ter certeza e sempre despencar de suas crenças.
A munhequeira preta escondeu de mim a feiúra em que se achava meu pulso, mas definitivamente não me ocultou a horrenda marca impressa em meu antebraço.
Era exatamente a marca de uma mão. Não uma mão grande, deveria ser de alguém menor, uma criança, por exemplo.
A lembrança da Sofia me assombrou.
Pisquei os olhos com força e continuei examinando a marca. Ela era fria e muito, muito roxa.
Eu, branca do jeito que era e sou, não conseguiria esconder aquilo dos outros.
Devia achar uma forma de controlar tudo, para finalmente por um fim.
...
Seria realmente difícil fazer aquilo sozinha. Eu devia buscar ajuda em algum outro lugar, fora da minha casa e do meu quarto.
Encolhi-me na cama, abracei meus joelhos e pensei. Em tudo, tudo.
Primeiro na Sofia. Ela e o meu ursinho... Agora fazia tanto sentido!
Ela o tomara para si, não era? Agora Ted pertencia a ela, não pertencia?
E as duas marcas em meu corpo. A da maldição e a da mão de um espírito enraivecido.
Como eu esconderia aquilo?
Por QUÊ eu esconderia aquilo?!
O.O
Havia uma menininha para brincar com o Ted. Havia ódio suficiente para dar vida a ele.
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Puxei para mim o crucifixo em cima do criado mudo. Agarrei-me a ele e respirei fundo.
Tinha certeza de duas coisas:
A primeira: Eu tinha que começar a agir. Precisava achar uma forma de consertar tudo, sem precisar do Justin. Não acreditava que ele poderia ser útil naquilo. Não. Ele era inútil e mentiroso.
A segunda: Havia mais dois espíritos que deveriam (obs: mas não estavam) me assombrar.
Só a Sofia fazia o trabalho sujo. Só ela me perseguia por enquanto...
...
O quarto ficou frio.
Seriam eles?
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Estava silêncio.
Quando eles começariam com a tortura?
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O resto daquele dia eu nem sei.
Fui ao banheiro e tomei as pílulas avermelhadas.
Eu precisava dormir...
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:x

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