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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Capítulo XVIII – O livreto


- Amy? O que houve?

O meu fôlego fugiu de mim. Meus olhos descansaram e eu consegui destravar os meus músculos.

Era a voz de Justin.

Virei para olhá-lo, agora eu me sentia menos perdida.

Não contive o meu alivio, e quando dei por mim já havia colado o meu rosto em seu ombro, com os braços envoltos em seu tronco e os olhos molhando seu sobretudo escuro. Ele demorou cerca de dois segundos para retribuir e me abraçar ternamente. Percebi que ele não esperava algo como aquilo vindo de mim. Eu o havia surpreendido.

- O que aconteceu...?

Sua voz era mansa e preocupada, enquanto eu tentava parar de chorar e soltá-lo, sutilmente.

Não havia o que responder, se tentasse, as palavras surgiriam como pontas soltas, sem rumo, sem motivos. Nenhum dos dois conseguiria entender absolutamente nada e eu ainda ficaria com a maior cara de idiota depois.

...

Consegui tirar os meus braços de seu corpo, agora me mantendo encolhida, com a cabeça baixa e os olhos caídos no asfalto. Justin continuou perto, olhando para mim em busca de respostas. Além da vergonha, eu estava tonta. Zonza. Aos trapos.

Ele chegou perto do meu rosto e sussurrou:

- Vamos, vou te levar pra um lugar seguro.

Justin me fez sentar na calçada enquanto chamava um táxi pelo celular. Eu evitava olhar para ele, mas podia vê-lo me observar oscilante, desviando os olhos para a rua e para mim.

Sabia que o deixava muito mais aflito com o meu silêncio, mas não tinha ânimo e nem energia para contar aquelas coisas a ele. De algum jeito eu devia me manter muda, para não jogar palavras em vão.

O frio penetrava em meus ossos. Me agarrei ao casaco e olhei para o céu.

Menos de três segundos.

...

O siena branco surgiu na rua, Justin fez sinal e ele parou. Depois de cumprimentar o taxista com um aceno de cabeça, Justin foi para perto de mim e se agachou.

Olhou para mim por algum tempo, enquanto eu levantava os olhos para ele.

Foi só um sorriso. Um sorriso consolador a uma garota assustada.

Ele me ergueu a mão e eu a peguei, após hesitar um pouco.

...

Estávamos dentro do táxi, vendo as figuras se distorcerem enquanto passávamos em alta velocidade. Me mantive com a cabeça baixa, sentindo meus cabelos aquecerem minha nuca. Justin olhava para mim, com os olhos fixos e indecifráveis. Talvez esperasse que eu sibilasse algo esclarecedor, que não o fizesse imaginar que a idéia do sal fora uma grande idiotice da sua parte. Talvez ele se sentisse culpado e não conseguisse esperar que eu, enfim, lhe roubasse toda a sensação de culpa, caso estivesse equivocado.

O silêncio instalou-se como uma quarta pessoa.

Perturbador...

...

O estofado era frio e o taxista olhava para nós dois pelo retrovisor interno do veículo. Levemente aturdido, tentando descobrir por que tipo de apuros nós dois estávamos passando. Acredito que milhares de hipóteses surgiram em sua cabeça, olhando tão de perto uma garota abatida, achada numa calçada fria sendo acompanhada por um garoto preocupado.

Suspirei.

O taxista ajeitou o retrovisor.

- Vocês são irmãos?

Olhei furtivamente para Justin, logo depois baixei os olhos e respirei fundo. Era a primeira tentativa de saciar curiosidades. Esperei que meu parceiro de assento nos livrasse de mais perguntas.

Justin tentou descontrair o clima, impondo uma fala mais despojada.

- Somos sim. – olhou para mim em busca de aprovação. Permaneci sem olhar para ele, mesmo vendo perifericamente a sua apreensão mascarada.

O taxista assentiu com a cabeça, um tanto incrédulo. Tamborilou levemente os dedos no volante, desconfiado.

Imaginei que ele fosse ficar em silêncio e não mais falar nada. Justin também, pareceu meio avulso para mentiras, mesmo aquelas mais ridículas e apelativas. Talvez o seu tato estivesse temporariamente inativo. Ele poderia se esforçar e finalmente estragar tudo.

Eu queria apenas chegar a um consenso comigo mesma. Precisava parar de rodar e rodar em torno dos meus medos. Tinha que achar um equilíbrio entre as coisas que estavam me consumindo.

Respirei fundo e amassei os dedos, dirigindo os olhos para os vidros da janela do carro.

- A mocinha parece assustada...

Eu realmente me assustei quando a voz do taxista me puxou para fora dos meus próprios pensamentos. Virei a cabeça bruscamente para olhar a feição que deveria me fitar através do retrovisor do veículo.

Justin riu amarelo.

- Ela foi roubada...

Olhei para o escuro e duvidoso olhar do taxista. Obriguei-o a acreditar em mim.

Ele assentiu com a cabeça.

- Cidade perigosa...

Justin olhou para mim de soslaio.

- E como.

O homem se calou. Que tipo de pecado terrível nós dois poderíamos ter cometido? Soávamos quase inúteis, quase como esboços de gente. Não tínhamos nenhuma aparência incomum e nem parecíamos perigosos. Justin e eu apenas exalávamos a eloqüente sensação de temor. Perturbação. Qualquer um percebia a nossa aflição.

Não sabia para onde estávamos indo, passamos mais devagar pela frente da igreja, vendo suas portas de vidro colorido fechadas. A princípio, pensei que Justin me levaria para sua casa, mas ele nem ao menos entortou os olhos para vê-la.

Olhei para meu amigo de assento, o que estaria pensando naquele momento?

Dez minutos e Justin se pronunciou:

- Aqui, amigo...

O táxi parou. Olhei para fora, vendo uma semi-iluminada fachada de algo que parecia um restaurante. Uni a sobrancelhas e tentei lembrar se conhecia aquele estranho lugar.

Justin pagou o motorista e abriu a porta. Saindo dos meus raciocínios, destravei a porta do veiculo e saí também, ainda ouvindo o leve “boa noite” do taxista.

Parei cerca de vinte metros em frente ao estranho lugar e o observei.

O táxi cantou pneu atrás de mim. Justin estava parado e quieto ao meu lado.

O vento atravessou meu corpo, enquanto nos víamos totalmente sozinhos.

- Que lugar é este? – sibilei.

Justin virou o rosto para mim e sorriu torto.

- Meu antro particular.

Não havia graça naquilo que me pareceu uma piada.

Continuei olhando para as luzes avermelhadas que formavam o nome “Dik’s” no alto de um prediozinho. Havia um conjunto de caminhos estreitos e limpos que levavam até a entrada do lugar. Era silencioso e um pouco escuro depois de uma porta de vidro. Ao redor, alguns carros sem nitidez jaziam parados, todos sendo fixados por um lume fraco. Havia algumas árvores encolhidas por cima de um gramado aparado e sombrio. Rodei os olhos e não achei uma alma viva por perto. Por mais contraditório que pareça, eu me senti melhor. Me senti quase inteira.

Podia fazer uma cara de choro e não pagar de idiota.

- Antes que você me explique alguma coisa, e você vai me explicar – Justin ficou de frente para mim – A gente vai entrar e você vai comer.

Não respondi. Fiquei olhando para ele, tinha que dizer que não conseguiria comer nada. Não queria comer nada.

- Tá legal?

Continuei muda.

Justin tocou meu ombro, num gesto de cumplicidade.

- Tá legal...? – repetiu.

Demorei, mas assenti com a cabeça.

Caminhamos devagar até a porta, Justin a abriu para que eu entrasse primeiro, mas não tive coragem de encarar o que havia dentro do estabelecimento. Não desejava que as pessoas normais lá dentro se assustassem com a minha fisionomia horrenda, e nem queria me sentir ainda pior com a força violenta de cada olhar. Ele respirou fundo, devia estar me achando muito teimosa por aquele recusa. Por fim, Justin tomou a frente e entrou primeiro. Eu o segui, agarrada ao meu casaco, tentando não parecer tão estarrecida quanto eu já era.

Preparei-me para os cortantes olhares, mas tudo que encontrei foram pessoas acídias e fúnebres como eu, semi-enterradas em cadeiras acolchoadas, sussurrando conversas mornas num burburinho inaudível. Parei e respirei. Ninguém nos enxergou.

A luz fraca, alternando para o vermelho e o marrom, mostravam que quase tudo e todos eram engolidos pelo escuro. O ar frio e ao mesmo tempo acolhedor inebriava com um tipo de sono, puxando corpos cansados a um cantinho reservado e aparentemente seguro. Nunca me senti tão bem num lugar público.

Justin tirou minha atenção.

- Vamos sentar, Amy.

Nos acomodamos. Ainda tentei achar algo que me mostrasse que aquele lugar era só uma alucinação calma da minha cabeça, mas não encontrei nada que comprovasse a minha tese. Não sei se o som que nos circundava era algum tipo de canção, mesmo sentindo que ele me levava a perceber uma melodia. Ainda que meus temores estivesse pesando dentro do meu corpo magro, era como se todos ali fossem exatamente como eu.

Respirei o ar gelado e olhei para Justin, com o rosto sério e as mãos cruzadas sobre a mesa.

- Que lugar é esse? – inclinei meu corpo para frente.

O lume amarelado de uma lâmpada minúscula que pendulava acima do rosto de meu amigo, o deixava assustadoramente com uma feição madura. Seu olhar apelativo buscava as respostas no meu, pairando ainda meio longe da minha pergunta.

O vi levantar a mão e fazer sinal para uma mulher no canto do estabelecimento. Imaginei que Justin não me responderia, que até mesmo estivesse zangado comigo por algum motivo que eu não sabia. Recuei e me mantive calada. Ele olhava de soslaio um simplório menu no centro da mesa.

A mulher que chegou até nós, era extremamente peculiar. Tanto por sua fisionomia oca, tanto pelas cores fortes e soturnas que escureciam seu olhar esverdeado. Os cabelos de um louro branco a fizeram parecer exatamente mais branca que eu. Quase não acreditei. Ela não tinha expressão nenhuma.

- O que vão querer?

Não falei nada.

Justin olhou pra mim. Sabia que não esperava nada mais que meu silêncio.

- Traga um chocolate quente e alguns biscoitos de mel.

A mulher assentiu com a cabeça e se retirou.

Cruzei os braços. Não comeria aquilo, não estava com fome.

- Descobri esse lugar sem querer. – Justin quebrou o gelo – Tinha brigado com meu pai, fiquei andando sem ter pra onde ir... Entrei por curiosidade e acabei gostando.

- É estranho... – demorei pra responder.

Justin se inclinou para frente.

- Pensei que pareceria seguro...


Quis dizer a Justin que parecia realmente muito seguro, mas me mantive calada. Respirava o fôlego cansado dos meus pulmões e olhava seu rosto perante o meu. Ele não desviava os olhos, me dando uma nítida impressão de serenidade.

- Vai me contar o que aconteceu?

A voz dele sempre era calma quando me fazia aquelas perguntas difíceis. Enquanto eu tentava não me contorcer ou acreditar que estava sendo espionada por eles, respirei fundo e me inclinei para a mesa. Minhas mãos começaram a tremer enquanto eu buscava um pouco de indiferença.

“Comece do início e tudo fica mais fácil...”.

Aquele consolo medíocre nunca ajudava.


- Não sei... Não sei o que aconteceu... – passei a mão na testa – quer dizer, eu sei...

- Relaxa Amy...

Olhei pra ele e respirei fundo.

...

...

Justin ficou muito estranho. Agitado quando eu terminei de contar os fatos do capítulo anterior. A mulher dos olhos verdes trouxe o pedido e ele sibilou:

- Você precisa comer...

A aparência dos biscoitos era realmente muito boa. Então meu estômago começou a implorar por eles, quase gritando! Olhei, ainda tentei me negar, mas Justin me fitava, e os olhar me dizia para não criar mais problemas.

Acabei comendo.

- Não imaginei que chegaríamos a esse ponto. – ele cortou o silêncio – o sal sempre funcionou com espíritos ruins...

- Eu acho que eles ficaram mais fortes...

- Ou mais furiosos.

Estremeci.

- Sou uma burra mesmo...

- A culpa não é sua, Amy. Se culpar não adianta nada...

- Você vai me ajudar não vai? – grunhi.

Justin se inclinou para a mesa.

- Vou dar tudo de mim pra te ajudar.

Me senti melhor. Depois o olhar dele me incomodou.

...

- Como a gente começa isso? – perguntei.

Ele respirou fundo.

- Esse assunto sempre me instigou. Antes de conhecer você eu já lia sobre espíritos, possessões, maldiçoes, coisas do tipo. Sempre imaginei que talvez isso pudesse me servir, ou que eu poderia fazer algo com base no que sabia sobre o assunto. Bom, quando vi a marca no seu pulso, pressupôs dois caminhos pra você: Ou você morreria ou então se livraria da maldição. Mas então, você parecia tão assustada, e eu percebi que você não sabia o que fazer.

Ouvia tudo sem piscar.

Ele continuou.

- Foi difícil te convencer, garota. Mas se eu desistisse... Então, depois que você me deixou ajudar, já que isso é o mais importante, fui à biblioteca da escola.

- Na biblioteca da escola?

- É... Por incrível que pareça, eles têm muitos livros sobre bruxaria, atividades paranormais e sobrenaturais. Talvez seja para alguma aula de história mal elaborada, não sei dizer. Sabia que tinha visto a marca no seu pulso, em um dos livros de lá, só não lembrava em qual. Passei a tarde pesquisando, até que eu o encontrei. – Justin puxou de dentro do casaco, um pequeno livro, com uma grossa capa de couro envelhecido. Havia rabiscos confusos e biformes na frente, e umas palavras estranhas no verso.

- Isso é... Latim?

- Algumas palavras sim, mas poucas, consigo entender algumas coisas...

- Você sabe latim?

Ele enrubesceu.

- Um pouco.

Justin abriu o livro e pôs-se a vasculhá-lo. Eu o espreitava, sentindo o ar do Dik’s me abraçar friamente. Olhei para o lado e havia um homem trincado, contemplando o vazio. Logo Justin chamou minha atenção.

- Aqui está! – ofereceu-o a mim.

Puxei a manga do casaco e comparei os desenhos... eram idênticos.

- Então...

- É uma maldição com certeza.

Passei a mão na testa e tentei me manter calma.

- Relaxa Amy...

Ele não tinha outra frase consoladora?

- Aqui diz que alguns espíritos, dependendo de sua força psíquica, podem ferir e até matar pessoas. Marcam o corpo de suas vítimas para que elas não se percam ou tenham a possibilidade de fugir.

- Aí diz o motivo?

- É só cruzar o caminho deles e você já está condenada.

Baixei a cabeça.

Justin olhou para mim por alguns segundos.

- Hei Amy... – olhei para ele – Isso não significa que você seja ruim, ou que mereça morrer... Esses espíritos são movidos por seu ódio cego, onde eles vem em qualquer um o causador de seu sofrimento...

- Eu vou morrer, não vou?

Justin olhou firme pra mim.

- Só se for de velhice.

Acabei rindo.

...

- O sal deveria te manter a salvo deles enquanto eu terminava de pesquisar, mas eles devem estar fortes demais...

- E quanto ao meu pai? O que está havendo com ele?

- Mais uma vítima... É bem provável que eles estejam manipulando seu pai. Brincando com as sensações e com as atitudes dele.

- Acho que ele quer me matar também.

- Ele não quer... Os espíritos que querem.

- Ele corre riscos?

- Todos correm.

...

O relógio se aproximava das nove e quinze da noite.

Justin tinha os olhos colados no livreto.

Eu tentava pegar algo no ar.

- Temos uma chance... – ele sibilou.

- Qual? – acendi os olhos.

- Você sabe onde Ben está enterrado?

Congelei.

As luzes do Dik’s começaram a piscar.
...
...
...

2 comentários:

Hugo Castro disse...

O.o
Num acredito q eles vão salgar e queimar o Bem!!
Caraaaaaaaaaaca!!
agora q vão pra cadeia msm, kk
Tah muito loka a história xD
Parabéns miga!!
+ eu ainda ñ intindí pq a Sofia tbm está assombrando a Amy e a mãe dela ñ (eskeci o nome dela Xp)
Bom, depois agente c fala... EU tive 2 ideias e kero pass-alas pravc.

Kisses 4 U ;D

Amy disse...

huahuauaha
ta meio louco esse diário, mas tudo tem explicaçao ;)
a sofia é um espirito ruim, movido pelo ódio, só quer vingança... o.O
depois eu vou explicar tudinho :)
to super empolgada com o diário outra vez, acho que vou terminá-lo antes da hora :p
a ta, me passa suas idéias aee, to louca pra saber ^^