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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Capítulo XV – Os fatos

Percebi que minhas mãos suavam e que minha boca ficava seca. Nada mais que a falta de palavras certas, mesmo que eu as tivesse todas presas à língua. Foi como se houvessem mexido no acelerador do meu coração... Ele agora se debatia, badalava frenético com os ponteiros desregulados. Uma onda de ácido viajou em minhas veias, todo o meu corpo congelou e paralisou rente àquele quase esquecido veneno.

Eu deveria mesmo respirar fundo, e pela primeira vez colocar aquelas coisas pra fora de mim. Mesmo que elas não tivessem forma concreta quando eu as dissesse ou que sua partida me devolvesse o sossego, tinha certeza que não conseguiria abrigá-las inofensivas dentro do meu ego.

Justin buscou o meu olhar, e era como se fosse a melhor forma de me encorajar a iniciar aquele tipo de tortura. “Ora, pois, é só uma dorzinha...” Odiava todas as formas hipócritas de diminuição da dor. Do medo.

Se era isso?... Enfim, era apenas isso. Sem enganações ultrajantes.

Devia me concentrar, e deixar os obstáculos do nervosismo um pouco de lado.

Um pouco.

...

Devia fazer sair o som. A minha voz.

...

Fechei os punhos por um segundo, logo depois os relaxei.

- Era uma sexta feira. Acordei as seis, fiz o café da manhã do meu pai, ele estava feliz, falava de umas possíveis férias do trabalho... A minha avó tomava chá na sala e ouvia a conversa. – furtei o olhar a Justin – Era sexta e também meu aniversário. – desviei os olhos. – eles não me disseram nada naquela manhã... Nem um ‘parabéns’ ou coisa do tipo. Eu me sentia péssima, claro, mas nunca me achei suficientemente à altura de exigir um tipo de coisa assim... Meu pai devia ter esquecido, lógico, era um dia tão cheio na clínica... E a minha avó...? Bem, ela é tão doente... Eu não me ofenderia mortalmente se caso o dia passasse em branco.

Justin não disse uma só palavra. Gostei do fato de não ser interrompida enquanto falava das coisas inúteis de um dia tão importante para a solução do problema. Foi bom olhar a paciência e a prudência flutuarem dentro daqueles olhos... Eles quase me deixaram vermelha.

Prossegui:

- Na escola não houve nada. Ninguém falou nada. – abanei a cabeça devagar – Nem a Lucy. Deveria desconfiar de alguma coisa, mas eu também não me lembrei disso, tinha tanta equação de matemática pra resolver! Depois eu passei o dia na casa da Lucy... A mãe dela não estava, aí a gente ficou por lá, sem ter o que fazer exatamente... – achei ter ficado realmente vermelha – Eram quase cinco e meia da tarde quando decidi voltar pra casa. A Lucy disse que ia comigo, pra pegar um livro de física, aí ficou me enchendo, me adulando pra irmos só depois da sete. Eu torci o nariz, mas acabei cedendo.

Justin mordeu discretamente o lábio inferior.

Continuei:

- Voltamos de táxi, já era noite. Minha casa estava escura, não havia uma só luz acesa em andar nenhum. Eu estranhei, fiquei parada do lado de fora, olhando pro andar de cima enquanto a Lucy pagava a corrida. Depois senti a mão dela tocar meu ombro e sua voz ficou assustada. Ela parecia amedrontada, disse que deveria ter acontecido alguma coisa ruim. – tomei fôlego – Primeiro eu fiquei rígida, não me movi. Só vi a Lucy dar o primeiro passo, dizendo que ia entrar e ver se estava tudo bem. Ela me pediu pra ficar lá e esperar algum sinal pra entrar depois também. Mal pude impedi-la... Quando dei por mim já estava sozinha, congelando no lado de fora. – Nos olhamos no mesmo instante, até eu desviar novamente os olhos de Justin – Fiquei lá, quieta, até que se passaram dez minutos e eu tive certeza de que alguma coisa ruim devia ter acontecido mesmo. A porta estava semi aberta, eu só empurrei com a mão e já estava do lado de dentro. A sala estava escura, não dava pra ver nada! Fiquei parada no vão da porta e respirei fundo. Depois eu chamei a Lucy e de repente as luzes acenderam...

Tinha falado tão baixo que pensei não ter sido ouvida por Justin.

- Todos gritaram “Surpresa!”. Depois do susto eu me dei conta da quantidade de gente e dos balões. Tinha também um bolo enorme na cozinha e uns cartazes coloridos em cima da janela. A Lucy veio me abraçar e me desejou feliz aniversário, pediu desculpas caso tivesse me assustado muito. Aí eu vi meu pai descendo as escadas e sorrindo pra mim. Ele chegou mais perto e me abraçou... – tentei manter os olhos firmes, para não se dissolverem em algum tipo de líquido – Me desejou felicidades. – funguei pra disfarçar. – Lembro que algumas outras pessoas se aproximaram, e ele gentilmente escorregou para longe, não queria que eu me sentisse constrangida. – sorri triste – Colocaram uma música alegre, vi alguns conhecidos da escola rindo e dançando... Parecia ser uma boa noite. Depois de cumprimentar os convidados, eu escapei para a parte da frente da casa e perguntei a Lucy quem tinha preparado tudo. Ela abriu um sorriso e disse que meu pai havia se empenhado muito para aquilo. Eu me senti contente, nem sabia que merecia tudo aquilo! Foi quando vimos dois faróis no meio da estrada de terra se aproximarem. Nos viramos e quase caímos duras de surpresa. Era o pajeiro preto da sua irmã...

Dei uma pausa e olhei para Justin. Ele continuava mudo e inexpressivo, a não ser pelo leve movimentar das sobrancelhas, o que me indicou ter prendido toda a atenção dele. Senti-me apta a prosseguir.

- Dava pra ouvir os risos de dentro do carro. Vi sair de lá Karen, David, Christofer, Naytan, Eric e a Natasha. Não vi você...

Justin soltou um tipo de gemido irritado, mas continuou indecifrável e silencioso.

- A Natasha chegou perto de mim e riu, perguntou quem era a aniversariante. Eu estava acanhada, não conseguia acreditar que as garotas mais populares da escola, com os caras mais populares e cobiçados estavam na minha festa! Consegui dizer que era eu. Ouvi uns risos de deboche, mas sabia que na frente deles eu não era muita coisa. O Eric perguntou se tinha comida na festa, eu disse que havia na cozinha. Eles entraram e nos deixaram sem mais palavras. A Lucy estava eufórica, nem acreditava que aquilo estava acontecendo! Ela pegou minhas mãos com aflição e agonia, dizendo que nós tínhamos que aproveitar aquela chance. Eu não soube o que responder, mesmo que também concordasse em tentar pertencer àquele grupo... Ficar popular, deixar de ser uma anônima monótona e desconhecida. – revirei os olhos com ironia – A Natasha estava lá, tinha que ser uma possibilidade, uma porta aberta para o “sucesso”. Fui tão idiota... – fiquei vermelha de novo – Nós entramos e tentamos nos enturmar com eles, mas só o que recebemos e vimos foram alguns risos zombeteiros e umas piadas sobre como tudo ali era sem graça. Meu pai se virava tentando servir toda aquela gente, eu nem me movi para ajudá-lo, achei que tinha coisas importantes pra fazer... – olhei para Justin em busca de respostas, afinal, estava falando da irmã dele, do “grupo” que ele pertencia; mas não houve sinal de irritação ou ofensa. – Já era quase onze e meia quando a Natasha se cansou de falar mal da festa e decidiu ir embora. Os amigos dela nos deram as costas e saíram. Eu ia ficar na minha, mas a Lucy me puxou para fora junto com ela, disse que não podíamos deixá-los ir daquele jeito. Eu fui, os encontramos já perto do carro. A Lucy chamou a Natasha e depois de muito gaguejar, perguntou se EU podia ir com eles também, afinal, era meu aniversário. – Me encolhi, constrangida. – Sua irmã buscou o olhar galhofeiro dos outros e ironicamente pediu desculpas, dizendo que eu não pertencia ao grupo dela. – fiz cara de raiva – “E como faço pra pertencer?” – havia usado estas mesmas palavras – Não sei de onde tirei coragem para dizer aquilo, quando vi já tinha falado. A Natasha riu e fez uma cara meio esnobe. Respondeu que pra pertencer ao grupo, eu devia passar por um teste. O Naytan riu e ela mandou ele calar a boca. A Karen olhou torto pra ele também. Caminhei para mais perto e disse que não tinha problema. Faria qualquer coisa.

- “- Qualquer coisa mesmo?” – Natasha pareceu mais perversa do que nunca. Por que eu simplesmente não desisti ao ver aquele olhar traiçoeiro? – repeti a resposta “Qualquer coisa”. Aí ela me puxou pra dentro do carro, a Lucy veio comigo, depois de eu muito implorar pra ela me acompanhar. Pronto: estávamos dentro do pajeiro, logo eu deixaria minha vidinha inútil pra trás. Alçaria um vôo mais alto! Saí de casa sem dar satisfação a ninguém, sem nem saber se eu voltaria. Confesso que jamais passou em minha cabeça que talvez eu estivesse prestes a fazer algo perigoso. Talvez fosse só um mico, uma coisa insignificante... – uni as sobrancelhas – foram cerca de quinze minutos dentro do carro. – evitei falar a Justin sobre o cheiro de cigarro no estofamento – Paramos, e Natasha me puxou pra fora, a Lucy veio à tira colo. Olhei melhor... Estávamos na frente do cemitério, no bairro da Vitória. Evitei estremecer, mas foi difícil. Perguntei o que faríamos, Natasha riu e disse que profanaríamos um túmulo. Os outros caras riram, vi um deles beijar a Karen e depois dar o primeiro passo até as grades. A Lucy olhou pra mim com um pouco de receio, mas por fim, todos pulamos a grade. Estávamos do lado de dentro. Achei que seríamos expulsos pelo vigia, mas Eric disse que não ficava ninguém por ali à noite. Passamos por algumas lápides, estava escuro mas consegui ver algumas inscrições. Uns nomes. Não sei por que motivos eu os li, acho que era uma forma de sentir menos medo. – quis rir, mas não consegui – David acendeu uma lanterna e focou na minha cara, perguntou se eu estava com medo. Depois de esfregar os olhos e recuperar a visão, respondi que não estava. Ele assentiu com a cabeça e focou o caminho à frente, sem mais palavras. Meu Deus, eu estava morrendo de medo! Tentei não tremer. Paramos por fim, bem nos fundos do cemitério. David iluminou dois túmulos grandes e acimentados ao fundo, ambas com estátuas de anjos armados. Na mesma posição, assustadores e infelizes. A Natasha chegou mais perto das lápides e começou a rir. Eu achei estranho ela não aparentar medo, comecei a temer uma coisa realmente ruim pra mim. Me encolhi e esperei ela dizer o que eu devia fazer, afinal, já havia chegado até ali, não podia desistir feito uma menina chorona. Foi quando o Eric mandou a Natasha se apressar, percebi que ele estava meio afoito com tudo aquilo. Ela olhou feio pra ele, mas não disse nada que o ofendesse. Tomou um ar superior e falou que havia mudado seus planos e que eu não profanaria mais túmulo nenhum... Agora eu teria que tentar conversar com os mortos...

Tentei respirar normalmente, mas foi difícil dizer aquilo sem me arrepiar.

Prossegui:

- Aquilo me deixou meio assustada, apavorada! Olhei para Lucy, mas ela não me encorajou a desistir, só o que fez foi assentir com um leve movimento de cabeça. Me senti obrigada a fazer aquilo, não havia como desistir, havia?! Aí comecei a dizer pra mim mesma que era apenas uma brincadeira idiota de colegial, que seria indolor, rápida e humilhante. Sem mais estragos. A Natasha fez cara de deboche e perguntou se eu ia desistir. Depois de engolir o meu medo, respondi que não. Ela fez uma cara séria e mandou que eu viesse para perto dos dois túmulos. Eu fui. Depois ela levantou o olhar para mim e falou que eu tentaria me comunicar com a mulher e a menina que estavam sepultadas nas duas lápides atrás de nós. Eu concordei com a cabeça, não tinha o que dizer. Estava tonta... Ela deu um sorriso torto e iniciou uma história...

Há quase vinte anos, havia uma família que morava nos fundos desse cemitério.

Um homem magro e pálido; uma mulher bonita e jovem; e uma menina de aproximadamente nove anos, alegre e cheia de vida. O homem chamava-se Ben. A mulher, Elisa. Sofia era o nome da garotinha.

Ben era o coveiro do cemitério.

Tinha o hábito de andar pelo meio dos túmulos à noite.

Todos diziam que ele era corajoso em fazer isso, mas ele não via aquilo como um ato de coragem.

Não dava medo nenhum, todos estavam mortos, como dizia ele.

Mas aí veio um dia...

Um dia em que ele começou a ficar irritado. Em que começou a ter pesadelos horríveis.

E a perder a paciência.

A família não entendia o que estava havendo. Ele era sempre tão manso...

Não se dera conta de que Ben havia se tornado um homem mal.

Gradativamente...

Cansado de suas frustrações.

Perturbado por algo que nem ele mesmo sabia dizer o que era.

Foi perdendo-se...

Foi indo... aos braços da loucura.

Foi quando veio aquela ânsia. Aquele desejo maldito... Como uma redenção solene.

A purificação dos pecados. A única forma de fazer parar aquelas vozes dentro da cabeça.

Formulou tudo...

Começou a cavar duas covas.

Até que chegou o dia.

Esperou que viesse a noite.

E ela veio.

...

Estrangulou a mulher que dormia ao seu lado.

Sufocou a filha com um travesseiro quando ela pensou em acordar.

Depois ele parou.

E as vozes também.

Estava livre!

...

Enterrou os corpos e fugiu.

Sem dizer aonde ia.

Se realmente ia.

Mas as pessoas logo descobriram tudo, e foi um choque terrível!

Uma revolta pública.

Sua mulher e filha... Ben devia estar louco!

...

Ninguém o viu por dois meses.

Até o dia em que algo começou a feder perto da casa de um comerciante.

Num lado afastado da cidade.

Algo podre.

Foram os olhos curiosos que acharam o corpo já morto...Transparente e gelado.

Alguns outros olhos ousaram acusar terem visto, sob a pele sem vida, marcas enraivecidas de mãos infantis. Pequenas e delicadas mãozinhas.

Um tipo de sinal.

Logo em seguida constataram os olhos... Ambos furados.

...

O homem mal parecia bruscamente castigado.

Torturado insistentemente até a própria morte.

Logo nasceu a idéia da vingança.

Haveria sido uma vertiginosa coincidência do destino? Ou então um acerto de contas?

A história da família ficou conhecida, virou uma espécie de lenda urbana da cidade.

A loucura, a vingança, e enfim, a maldição.

Haveriam de ter cuidado com isso agora.

Com a lembrança dos mortos. Com que se move em seus últimos sentimentos em vida.

...

Não se sabe a verdade, mas alguns dizem que Ben não teve enterro, que seu corpo foi jogado numa vala. Sem identificação e sem palavras bonitas.

Só um lugar para apodrecer e alcançar as portas do inferno.

...

...

Parei o olhei o rosto de Justin. Aflita... Sim, eu esperava alguma palavra, alguma outra voz para se sobrepor à minha. Fosse um xingamento ou um “por que você parou?!” Eu não me importava em ouvir desaforos.

Ele olhou para mim por dois segundos, até perceber e enfim tentar me deixar mais calma:

- Estamos indo bem, Amy.

Eu assenti com a cabeça. Mas não me sentia nem um pouco melhor. Não. Agora eu estava enjoada.

Coloquei os cabelos atrás das orelhas e retomei os fatos:

- Depois da história, eu fiquei meio em pânico. Eu pensei em correr, mas não dava... Não ia dar. Foi quando a Natasha chamou a Karen e perguntou se ela ainda sabia aqueles mantras. Um daqueles que evocavam os espíritos, que os chamava a um tipo de conversa. A Karen veio para mais perto e sorriu, dizendo que ainda sabia sim. Fiquei tentando imaginar quando ela aprendera aquelas coisas, aí me lembrei do tempo em que ela andava de preto com aquela galera soturna. Só poderia ter sido naquela época nefasta. As duas conversaram por algum tempo, meio afastadas de mim. Depois de ouvir alguns risinhos, elas enfim se aproximaram. A Natasha chegou mais perto e disse pra eu fazer tudo que a Karen mandasse. Eu tentei dizer que sim, mas só consegui assentir com a cabeça. A cópia da sua irmã estava bem perto de mim quando me dei conta. Daí a Karen começou a me explicar como iniciar o ritual...

Mordi o lábio inferior e tentei manter o mesmo tom de voz:

- Ela começou olhando bem firme pra mim. Fez aquilo parecer tão sério... Mantive o controle e prestei atenção ao que ela começou a falar... – cruzei as mãos na frente do corpo e prossegui – Foi super estranho ela dizer aquelas coisas pra mim. Sabe...? Eram umas palavras sem nexo, sem rima, sem forma! A Karen as disse apenas uma vez, mas mandou que eu as repetisse ininterruptamente, até o ritual chegar ao fim. De modo algum, eu não poderia parar de dizê-las um só segundo. Não entendi por que, mas não perguntei também. Aí ela me puxou pra mais perto dos túmulos e ficamos bem no meio dos dois. A Natasha me deu um giz e disse pra eu desenhar um pentagrama entre as lápides. Primeiro eu fiquei sem ação, eu nem sabia o que era pentagrama! A Karen deu um muxoxo e me explicou que era um símbolo que teríamos que usar. Consistia em um círculo com uma estrela dentro. Simples. Eu faria. Me agachei e tentei fazer minha mão parar de tremer! Depois de algumas tentativas de ficar calma, eu terminei o desenho. “Muito bom”, a Natasha falou. Me ergui e busquei o olhar da Lucy... Por incrível que pareça, ela desviou os olhos de mim e baixou a cabeça. Respirei fundo e ouvi a Karen dizer pra eu começar, bem do jeito que ela tinha me ensinado. Daí todo mundo se afastou, aglomerando-se ao meu redor, formaram uma roda. Foi horrível sentir o que eu estava sentindo, dava medo só de pensar em começar! Mas se eu não fizesse, passaria a ser maior piada da escola! Uma fracassada, uma medrosa! Fixei meus olhos no chão e busquei coragem. “Não temos tempo pra desistências... Duas perguntas e fim” A Natasha falou tão baixo... Ainda sim foi como se estivesse gritando! Busquei fôlego e comecei a falar as palavras do mantra. Gaguejando a principio, mas comecei. Sabia que havia vários pares de olhos sobre mim naquele instante, olhando-me de diversas formas, com diferentes intenções. Logo eu sentiria o arrepio dito por Karen e saberia que era a hora de dizer alguma coisa aos espíritos. Enquanto eu repetia as palavras, imaginava se conseguiria fazer sair a minha voz, se conseguiria abrir os olhos e olhar para elas, se nos deixassem vê-las... a menina e a mulher morta. Não sei exatamente por quantos minutos eu fiquei falando aquelas coisas estranhas, mas percebi que aos poucos ia esfriando. O ar tornava-se rarefeito e quase não dava pra respirar. Quis parar de falar e tomar fôlego, mas não podia, a Karen disse que eu não podia parar! Daí continuei. Não vendo a hora de tomar oxigênio. Apertei os olhos e prossegui. Ainda não havia acontecido nada inexplicável ou sobrenatural. As palavras iam saindo... Ficava frio. Até que me senti estranha. Estranha demais. Não parei de falar, até que houve um trovão e eu abri olhos, logo olhei para o céu e vi relampaguear, uma luz clara dentro uma lua nova e obscura. Ainda falava e olhava para o céu, apavorada, assustada! Foi quando senti aquilo... O arrepio! Daí um gemido de criança, de menina... Tomei um grande susto e olhei pra frente. Dava pra ver através dela, da menina!! Foi demais pra mim, foi a coisa mais louca e aberrante que eu já tinha visto! Não consegui dizer mais nada. Nada! Não saía mais nada da minha boca. Fiquei olhando aquilo, com os olhos arregalados. Daí a Karen começou a gritar dizendo que eu não devia ter parado, que eu tinha que retomar o mantra. Não dava pra entender nem pra recomeçar a dizer aquelas palavras de novo. Eu estava em pânico olhando para o meio das lápides, vendo a menina e mais alguma coisa sair detrás de uns arbustos. A Karen continuou berrando, depois foi a vez da Natasha perguntar gritando o que eu estava vendo. As duas estavam meio histéricas, não sei direito! Eu mal conseguia me mover, minhas pernas estavam adormecidas e meus ouvidos começavam a zumbir. Minha consciência me apunhalava com sermões curtos enquanto eu me perguntava o que eu tinha feito. Foi quando ouvi um tipo de grunhido. Horrível e furioso. Olhei melhor e percebi que vinha da menina! Vinha dela! Eu me agoniei e tentei ter forças pra fugir, mas nem ao menos tive chance. Ela veio pra cima de mim com muita raiva, mal eu me dei conta e já estava no chão, meio desacordada, com uma dor horrível no peito. Ainda virei minha cabeça para pedir ajuda, mas percebi que todos corriam para fora do cemitério. Eu estava sozinha! Achei que morreria sozinha! Depois eu apaguei. Desmaiei. Acho que foi o excesso de adrenalina, medo sei lá! Acordei duas horas depois, com a Lucy me abanando e as luzes do carro da polícia. Tinha também um velhinho com a cara feia. Com certeza, o vigia do cemitério. Estava meio tonta, perdida e não sabia dizer se fora um pesadelo ou um delírio... Ainda atordoada. A Lucy pegou na minha mão e disse que ia ficar tudo bem... Disse que não ia me deixar sozinha naquela. Eu tentei sorrir e saber o que significava “aquela”.

Parei pra respirar.

Retomei:

- A gente voltou pra casa no carro da polícia. Era quase três horas da manhã. Meu pai estava sentado na varanda quando viu as luzes vermelhas se aproximarem. Imagino que tenha pensando o pior deve ter se sentido péssimo. Aí paramos e saímos do carro. O policial falou pra ele a história da Lucy. Contou que havíamos entrado no cemitério sem permissão, invadido. Depois de ficarmos com medo, tentamos ir embora, mas eu acabei desmaiado. Só. Sem espíritos ou mantras. O policial olhou meio torto pra mim e disse ter havido uma brincadeira de criança sem danos mais graves. Meu pai ficou sério, cruzou os braços e me mandou entrar. Me despedi da Lucy e subi. Fiquei na janela do meu quarto vendo o policial ir embora com minha amiga. Com certeza ela também levaria uma bronca daquelas de sua mãe.

...

Depois me calei. Esses eram os fatos. Os fatos escondidos do início da história.

Esperei Justin explicar o plano e enfim me livrar de tudo aquilo. Havia sido difícil pra mim! Pronto, agora é só esticar a mão e me deixar apertá-la.

Ele olhou para mim por cerca de cinco segundos.

Indecifrável.

- Pode continuar, Amy.

“Continuar?” Pensei. “Eu não havia dito tudo?”.

Franzi a testa e perguntei:

- O resto é importante também?

Justin deve ter achado minha pergunta engraçada. Deu um sorriso torto e respondeu:

- É importante sim.

Assenti com a cabeça e pensei um pouco...

...

...

...

Próximo capítulo.

(=



5 comentários:

Hugo Castro disse...

Fikou o máximo XD
Parabéns; vc eh ótima escritora, + eu jah imaginava 1 pouco d cm seria essa postagem...
Mas vc ñ pode eskecer d 2 detálies na próxima:
O q o puteral tem a ver com a história, e d onde a Amy escreve, afial, o pai dela jogou omonitor pela janela...

+ tah ótima...
Parabéns d novu!

amy disse...

hauhauhahuhaa, exatamente, mas se vc obervar melhor uma postagem minha, uma que eu fiz depois de muito tempo sem postar, eu disse que tudo ja havia terminado, que a historia comigo ja havia terminado. A amy (eu) parou de postar mesmo, ta sem monitor, to contando a história já tendo passado pelo final.
entendeu??

se preocupa nao, depois tudo vai fazer sentido
:)

obrigado, agradeço por vc acompanhar meu blog (hugo) e os outros tbem (joao, se ele ainda estiver por aiii) rsrsrs

Obs: eu nao esquecid o puteal....

......

ate o proximo capitulo (=

Hugo Castro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hugo Castro disse...

Ok miga, + eu kero esclarecer aos outrosleitores que PUTEAL ñ temnd a ver com puteiro. puteal eh um tipo de muro baixo feito em volta de um poço, ou algo relacionado a isso, ou pelomenos eh o q o Google disse pq eu tbm ñ sabia :P

OBS: Eu exclui o outro comentário pq escrevi errado '^^

ammy disse...

rsrsrsr, exatamente. vc ta certo. Puteal é isso mesmo. Nao é uma palavra muito conhecida mas... Nossa, que mente poluidaaa

(=

rsrsrrss